Tribunal de Contas da União
Dados Materiais:
Acórdão 710/97 - Segunda Câmara - Ata 36/97 Processo TC nº 625.481/96-8
Responsável: Renato Nilo Schossler
Entidade: Caixa Econômica Federal - Superintendência Regional de Porto Alegre
Vinculação: Ministério da Fazenda
Relator: MINISTRO ADHEMAR PALADINI GHISI.
Representante do Ministério Público: Dr. Lucas Rocha Furtado Unidade Técnica: SECEX-RS
Especificação do "quorum":
Ministros presentes: José Antonio Barreto de Macedo (na Presidência), Adhemar Paladini Ghisi (Relator) e o Ministro-Substituto Lincoln Magalhães da Rocha.
Assunto:
Tomada de Contas Especial
Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de Tomada de Contas Especial instaurada pela Caixa Econômica Federal em nome do ex-empregado Renato Nilo Schossler, por irregularidades praticadas no extinto Núcleo de Manutenção e Pagamento de Encargos a várias Administradoras, da também extinta Divisão de Administração e Venda de Imóveis.
Considerando que do exame dos autos restou devidamente caracterizada a prática de irregularidades diversas, a exemplo dos pagamentos de taxas condominiais em duplicidade, do pagamento de taxas condominiais e IPTUs de imóveis não pertencentes à CEF; do crédito em conta corrente do mencionado empregado, a título de ressarcimento, sem que fosse comprovada a realização de despesa correspondente; e da transferência de recursos da CEF para a conta corrente de imobiliária, sob o pretexto de pagamento de IPTUs, que só foram efetivamente liquidados quando decorridos quase trinta dias da transferência dos recursos;
Considerando que todas as operações trouxeram prejuízo à Caixa Econômica Federal;
Considerando que regularmente citado o responsável permaneceu silente, caracterizando a revelia,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, com fulcro nos arts. 1º, I, 16, III, "d", 19, 23, III, 25 e 28, II, todos da Lei nº 8.443/92, em:
a) julgar irregulares as presentes contas e fixar o prazo de 15 (quinze dias), a contar da notificação, para que o Sr. Renato Nilo Schossler comprove, perante este Tribunal (art. 165, III, "a",
do Regimento Interno) o recolhimento, aos cofres da Caixa Econômica Federal, das importâncias a seguir discriminadas, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a contar das respectivas datas, até o efetivo recolhimento, nos termos da legislação em vigor:
Data Valor (Cz$) -Ocorrência
10.01.87 381,66 pagamento em duplicidade 18.12.87 612,76 pagamento em duplicidade 24.03.88 609,50 pagamento em duplicidade 30.03.88 37.078,88 taxa condominial indevida 22.04.88 1.100,00 pagamento em duplicidade 03.05.88 3.923,86 pagamento em duplicidade 03.05.88 799,90 pagamento em duplicidade 03.05.88 1.887,75 pagamento em duplicidade 06.05.88 2.500,00 pagamento em duplicidade 12.05.88 2.500,00 pagamento em duplicidade 12.05.88 1.480,00 pagamento em duplicidade 12.05.88 3.691,80 pagamento em duplicidade 27.05.88 6.601,60 pagamento em duplicidade 27.05.88 5.683,49 pagamento em duplicidade Data Valor (CZ$) Ocorrência
27.05.88 1.952,48 pagamento em duplicidade 13.06.88 2.229,00 pagamento em duplicidade 20.06.88 891,35 taxa condominial indevida 21.06.88 1.957,60 pagamento em duplicidade 22.06.88 4.352,00 pagamento em duplicidade 22.06.88 1.510,00 pagamento em duplicidade 30.06.88 53.465,35 pagamento em duplicidade 30.06.88 39.121,71 pagamento em duplicidade 15.07.88 822,60 taxa condominial indevida 21.07.88 1.770,84 pagamento em duplicidade 21.07.88 1.820,41 pagamento em duplicidade 29.07.88 2.100,00 pagamento em duplicidade 15.08.88 909,90 taxa condominial indevida
31.08.88 30.064,80 pagamento em duplicidade 31.08.88 10.581,85 pagamento em duplicidade 31.08.88 4.378,64 pagamento em duplicidade 01.09.88 27.615,00 pagamento em duplicidade 09.09.88 16.762,86 pagamento em duplicidade 12.09.88 28.240,37 créditos indevidos
12.09.88 60.945,05 pagamento em duplicidade 12.09.88 70.370,16 pagamento em duplicidade 12.09.88 66.042,37 pagamento em duplicidade 12.09.88 66.777,00 pagamento em duplicidade 12.09.88 46.443,64 pagamento em duplicidade 12.09.88 5.115,14 pagamento em duplicidade 22.09.88 1.026,12 taxa condominial indevida 28.09.88 124.219,67 pagamento em duplicidade 30.09.88 1.081.596,50 lucros cessantes
30.09.88 86.053,12 pagamento em duplicidade 11.10.88 32.540,48 pagamento em duplicidade 12.10.88 1.550,00 taxa condominial indevida 12.10.88 2.500,00 pagamento em duplicidade 12.10.88 10.594,00 pagamento em duplicidade 17.10.88 21.761,00 pagamento em duplicidade 18.10.88 300.000,00 pagamento em duplicidade 18.10.88 29.176,00 pagamento em duplicidade 18.10.88 21.267,00 pagamento em duplicidade 04.11.88 45.046,83 crédito indevido
18.11.88 2.292,77 débito a maior contra a CEFER
25.11.88 15.421,70 pagamento em duplicidade 22.12.88 8.614,62 taxa condominial indevida Data Valor (NCz$) Ocorrência
18.01.89 37,29 pagamento em duplicidade 26.01.89 166,81 pagamento em duplicidade 26.01.89 295,86 pagamento em duplicidade 26.01.89 136,66 pagamento em duplicidade Data Valor (NCz$) Ocorrência
26.01.89 245,80 pagamento em duplicidade 01.02.89 8.713,66 lucros cessantes
13.02.89 181,32 pagamento em duplicidade 23.02.89 159,80 pagamento em duplicidade 23.02.89 243,66 pagamento em duplicidade
01.03.89 162,00 pagamento em duplicidade 08.03.89 86,72 pagamento em duplicidade 09.03.89 210,64 pagamento em duplicidade 09.03.89 113,00 pagamento em duplicidade 22.03.89 205,00 pagamento em duplicidade 22.03.89 140,61 pagamento em duplicidade 22.03.89 138,11 pagamento em duplicidade 22.03.89 20,13 pagamento em duplicidade 22.03.89 55,40 pagamento em duplicidade 19.04.89 140,00 pagamento em duplicidade 23.05.89 96,40 pagamento em duplicidade 23.05.89 115,21 pagamento em duplicidade 23.05.89 60,00 pagamento em duplicidade 23.05.89 152,52 pagamento em duplicidade 23.05.89 32,92 pagamento em duplicidade b) autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendida a notificação;
c) remeter cópia dos autos ao Ministério Público da União, nos termos do 3º do art. 16 da Lei nº 8.443/92, para ajuizamento das ações civis e penais cabíveis.
Ementa:
Tomada de Contas Especial. CEF. Irregularidades cometidas por ex-empregado, na área de venda de imóveis retomados pela entidade.
Crédito indevido na conta do responsável a título de ressarcimento.
Pagamento indevido de taxa de condomínio e de IPTU. Crédito indevido na conta de imobiliária. Ausência de controle administrativo. Responsável revel. Contas irregulares. Débito.
Encaminhamento de cópia dos autos ao MPU.
Data DOU:
18/11/1997
Página DOU:
26776
Data da Sessão:
06/11/1997
Relatório do Ministro Relator:
GRUPO I - Classe II - Segunda Câmara TC 625.481/96-8
Natureza: Tomada de Contas Especial Responsável: Renato Nilo Schossler Entidade: Caixa Econômica Federal
Ementa: Tomada de Contas Especial instaurada por irregularidades cometidas por ex-empregado da Caixa Econômica Federal, na área de venda de imóveis retomados pela Entidade. Pagamentos indevidos de taxas condominiais e IPTU. Ressarcimento de despesas não comprovadas. Revelia. Irregularidade das contas, imputação de débito, autorização para cobrança judicial da dívida e remessa de cópia dos autos ao Ministério Público da União.
Cuidam os autos de Tomada de Contas Especial instaurada pela Caixa Econômica Federal em nome do ex-empregado Renato Nilo Schossler, por irregularidades praticadas no extinto Núcleo de Manutenção e Pagamento de Encargos a várias Administradoras, da também extinta Divisão de Administração e Venda de Imóveis.
2. No âmbito da Caixa Econômica Federal, a Comissão de Sindicância criada para apurar os fatos atribuiu ao mencionado ex-empregado responsabilidade pelas seguintes irregularidades, resumidamente:
a) crédito indevidamente efetuado na conta do responsável, a título de ressarcimento;
b) pagamentos indevidos de taxas condominiais;
c) crédito indevido à Imobiliária Adconsul referente a seis apartamentos arrematados pela CEF;
d) pagamentos em duplicidade;
e) débitos para pagamento de IPTU de imóveis arrematados pela CEF, realizados em datas anteriores à efetiva realização dos pagamentos, em período de grande desvalorização monetária, e crédito, nesse interregno, em favor da firma Imobiliária Multicon - Adm. De Bens e Cond. Ltda; e
f) pagamento de condomínios em duplicidade, não ressarcidos à CEF.
3. Regularmente citado no âmbito deste Tribunal, o responsável permaneceu silente, caracterizando a revelia. Assim, a SECEX-RS, em pareceres uniformes, propôs conclusivamente a irregularidade das contas e a imputação de débito ao responsável.
4. O Ministério Público, representado nos autos pelo Dr. Lucas
Rocha Furtado, manifesta-se de acordo com os pareceres da SECEX-RS.
É o Relatório.
Voto do Ministro Relator:
As irregularidades detectadas no período em que o Sr. Renato Nilo Schossler ocupava a gerência do Núcleo de Manutenção e Pagamento, unidade ligada à DIAVI/RS, que tinha a seu cargo a manutenção e pagamento dos encargos relativos aos imóveis retomados pela CEF até que fossem novamente alienados, foram resultado de uma gestão caótica e da completa ausência de controles administrativos. Em tal contexto, se torna inclusive difícil definir se os diversos
procedimentos danosos resultaram de condutas dolosas ou culposas. É incontestável, entretanto, que na qualidade de responsável pelo Núcleo, cabia ao Sr. Renato Nilo Schossler o dever de zelar pela coisa pública.
2. Segundo o Manual de Especificações de Cargos e Funções da Caixa Econômica Federal, o empregado Renato Nilo Schossler, na condição de Gerente de Núcleo, possuía, dentre outras, as seguintes atribuições:
a) organizar, orientar e supervisionar a execução das atividades de sua área de atuação;
b) orientar o cumprimento das disposições regulamentares, gerais e específicas;
c) controlar a execução das atividades específicas da sua área de atuação, observando a proposição dos objetivos, o tempo previsto e o uso dos meios disponíveis;
d) avaliar os resultados das atividades desenvolvidas na sua área de atuação e propor as modificações necessárias;
e) orientar e supervisionar o pessoal sob sua subordinação.
3. Não restam dúvidas de que as atribuições do empregado não foram realizadas a contento. À propósito, registrem-se as observações de Mozar Victor Russomano, ao analisar o art. 462, alínea "e", da Consolidação das Leis do Trabalho:
O empregado tem a obrigação de ser ativo, diligente e interessado nas tarefas que lhe entregam.
A desídia é a violação desse dever: é a negligência, a
imprudência, a má vontade revelada pelo empregado na execução de seus encargos .
4. Exemplifiquemos a situação detectada. Somente no que tange aos pagamentos de taxas condominiais, foram encontradas as
seguintes ocorrências: pagamentos de taxas condominiais em duplicidade, sendo alguns pagos duas vezes pela própria CEF, inclusive no mesmo dia, e outros pagos uma vez pelo morador e outra pela CEF, em total falta de coordenação; pagamentos relativos a imóveis não pertencentes à CEF (alguns dos quais já tinham sido de sua propriedade, porém à época dos pagamentos, já tinham sido vendidos, e outros, por incrível que pareça, nunca foram de sua propriedade); pagamentos de IPTU de imóveis que não pertenciam à CEF.
5. No entanto, não apenas o descontrole foi detectado. A
existência de um crédito em conta corrente do mencionado empregado, em 13.11.88, no valor de Cz$ 8.742,30, a título de ressarcimento, sem que fosse comprovada a realização de qualquer despesa correspondente, possibilita que se conjeture da existência de procedimento doloso. Tal suposição é reforçada quando da análise de operação que consistiu em débito à conta da CEF e crédito correspondente em conta da Imobiliária Multicon, para pagamento de IPTUs diversos, no valor de Cz$ 4.850.000,00, em 30.09.88, sendo que o primeiro dos pagamentos de IPTU efetivamente realizado somente se deu em 24.10.88. Somente os juros (equivalentes ao da poupança) calculados para o período trariam um ganho superior a 3.000 BTNs.
6. Assim, estão sobejamente demonstrados os prejuízos trazidos aos cofres da Caixa Econômica Federal. Isto posto, e considerando a revelia do responsável, aquiesço aos pareceres e VOTO no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto ao Colegiado.
Indexação:
Tomada de Contas Especial; CEF; Venda; Bens Imóveis; Pagamento Indevido; Responsável em Débito; Movimentação de Recursos; Conta Bancária;