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Referencial de Formação Cidadania e Diversidade Cultural nas Práticas Profissionais ENTIDADES CONCEPTORAS

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(2)

ENTIDADES CONCEPTORAS

• ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas

• CIDAC – Centro de Informação para o Desenvolvimento Amílcar Cabral

• CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego

• DGACCP – Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas (Entidade Interlocutora)

(3)

Referencial de Formação

“Cidadania e Diversidade Cultural nas

Práticas Profissionais”

(4)

ÍNDICE

Página

1. Apresentação 8

2. Enquadramento 12

2.1 – O mundo está em mudança 12

2.2 – A resposta do Direito 13

2.3 – A resposta da Educação Não-Formal 15 o 2.3.1 – O que é a Educação Não-Formal 16

o 2.3.2 - Educação Formal e Informal 16

o 2.3.3 – A educação não-formal 17

3. Finalidade 19

4. Destinatários/as da formação 20

5. Itinerário pedagógico 22

6. Modelo formativo 25

 6.1 - Módulo “Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social”

27

 6.2 - Módulo “Mobilidade Humana e Comunidades Culturais: 30 - 6.2.1 - Legislação portuguesa relativa a nacionais no

estrangeiro

31

- 6.2.2 - Legislação portuguesa relativa a pessoas estrangeiras em Portugal

32

 6.3 - Módulo “Interculturalidade” 33

(5)

- 6.3.2 - Variante B 38

 6.4 - Módulo “Intervenção para a Cidadania: Inclusão nos Contextos Profissional, Organizacional e Local”

40

7. Competências básicas de formadores e formadoras 42 8. Objectivos, Competências a adquirir, Estrutura programática,

Desenvolvimento de conteúdos e Metodologias

43

 8.1 - Módulo “Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social”

44

 8.2 - Módulo “Mobilidade Humana e Comunidades Culturais: 58 - 8.2.1 - Legislação portuguesa relativa a nacionais no

estrangeiro

58

- 8.2.2 - Legislação portuguesa relativa a pessoas estrangeiras em Portugal

6.3

 8.3 - Módulo “Interculturalidade” 67

- 8.3.1 - Variante A 68

- 8.3.2 - Variante B 71

 8.4 - Módulo “Intervenção para a Cidadania: Inclusão nos Contextos Profissional, Organizacional e Local”

77

9. Recursos técnico-pedagógicos 80

 9.1 - Módulo “Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social”

81

o Ficha de Actividade 1 – Direitos Humanos e Não Discriminação

82

 Anexo I – Principais normas e compromissos políticos sobre Direitos Humanos, incluindo não discriminação

87

 Anexo II – Normas anti-discriminação na legislação nacional

93

(6)

da União Europeia

 Anexo IV - Normas anti-discriminação no direito internacional

102 o Ficha de Actividade 2 – Situação de Homens e mulheres

na esfera pública e na esfera privada

103

 Anexo I – Segregação profissional 107

 Anexo II – “Existem profissões para homens e profissões para mulheres”?

106

 Anexo III – Anúncio de oferta de emprego 110 o Ficha de Actividade 3 – Sexo e Género 112

 Anexo I – Justiça e assimetria de género 115

 Anexo II – Exercício “Pares de palavras” 116

 Anexo III – Definições do dicionário: “Homem” e “Mulher”

118

 Anexo IV – Exercício “Sexo e Género” 120

 Anexo V – O Universal 121

o Ficha de Actividade 4 - Linguagem 122

 Anexos I – Recomendação do Conselho da Europa sobre sexismo na linguagem

125

 Anexo II - Guia e Síntese de Boas práticas para a Igualdade de Género na Linguagem

130

 Anexo III – Texto de opinião 138

o Ficha de Actividade 5 – Direito da Igualdade de Género 143 o Ficha de Actividade 5 – Direito da Igualdade de Género

 Anexo I – Normas e compromissos políticos sobre igualdade de género

147

 Anexo II - ‘Igualdade de homens e mulheres – Casos concretos de aplicação do direito’

166

 Anexo III – Hipóteses reais de aplicação do direito 181

 Anexo IV - Síntese 183

o Ficha de Actividade 6 – Mobilidade Humana, Nacionalidade e Migrações Internacionais

185 o Nacionalidade e Migrações Internacionais

 Anexo I – Dados estatísticos sobre as migrações internacionais

190

 Anexo II – Relatórios da Comissão Europeia com referências a Mulheres Migrantes

196 o Ficha de Actividade 7 – Direito da Mobilidade Humana,

da Nacionalidade e das Migrações Internacionais

197

 Anexo I – Normas e compromissos políticos sobre da Mobilidade Humana, da Nacionalidade e das Migrações Internacionais

201

o Ficha de Actividade 8 – Diversidade Cultural e Relativismo Cultural

212

(7)

 Anexo II - Extractos do Relatório de

Desenvolvimento Humano de 2004 - PNUD

219 o Ficha de Actividade 9 - Cidadania Global e Coesão Social 221

 Anexo I – Cidadania Global 224

 Anexo II – Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

227

 Anexo III – União Europeia: Inclusão Social 228 o Ficha de Actividade 10 – Outros debates no âmbito dos

Direitos Humanos

230

 9.2 - Módulo “Mobilidade Humana e Comunidades Culturais: 233 - 9.2.1 - Legislação portuguesa relativa a nacionais no

estrangeiro

233

o Ficha de Actividade 1 - A Emigração e o apoio do Estado a nacionais no estrangeiro

234

 Anexo I – Enquadramento estatístico 236

 Anexo II – Quadro legal 238

 Anexo III – Benefícios fiscais 240

 Anexo IV – Arrendamento para habitação: especificidades para senhorio/a emigrante

242

 Anexo V – Síntese dos principais programas desenvolvidos pela DGACCP

245 o Ficha de Actividade 2 – Trabalhar no Estrangeiro 253

 Anexo I – Quadro legal para o trabalho no estrangeiro

255

 Anexo II – Convenções de Segurança Social 257

 Anexo III – Acordos para evitar a dupla tributação 259 - 9.2.2 - Legislação portuguesa relativa a pessoas

estrangeiras em Portugal

262

o Ficha de Actividade 1 – A imigração e o apoio do Estado a estrangeiros em Portugal

263

 Anexo I – Enquadramento estatístico 265

 Anexo II – Quadro legal 270

 9.3 - Módulo “Interculturalidade” 288

- 9.3.1 - Variante A 290

o Ficha de Actividade 1 – Quebra –gelos 291 o Ficha de Actividade 2 – A Bússola 293

 Anexo I – Bússola 295

(8)

o Ficha de Actividade 4 – A sopa 298 o Ficha de Actividade 5 – Línguas e culturas 300 o Ficha de Actividade 6 – Identidade(s)? 302 o Ficha de Actividade 7 – Identidades / pertenças múltiplas 304 o Ficha de Actividade 8 – A sala de orações 307 o Ficha de Actividade 9 – Choque cultural 311 o Ficha de Actividade 10 – Adaptação/Integração – Quando

e Como?

314 o Ficha de Actividade 11 – Ser imigrante 319 o Ficha de Actividade 12 – Estilos de comunicação 323 o Ficha de Actividade 13 – Comunidade de Prática 327

- 9.3.2 - Variante B 340

o Ficha de Actividade 2 – Vizinhos/as apresentam-se 342 o Ficha de Actividade 3 – Estação das Expectativas 343 o Ficha de Actividade 4 – Preferências de Aprendizagem 345 o Ficha de Actividade 5 – Programa e Metodologia 349 o Ficha de Actividade 6 – Cebola da Identidade 355 o Ficha de Actividade 7 – Icebergue da Cultura 357 o Ficha de Actividade 8 – Quis: Todos Diferentes, Todos

Iguais

364 o Ficha de Actividade 9 – Zara, Beto & Vicente 366 o Ficha de Actividade 10 – Aprendizagem Intercultural –

Síntese e Conceitos 1

369 o Ficha de Actividade 11 – Nove Pontos 372 o Ficha de Actividade 12 – Adergas – Jogo de Cartas 374 o Ficha de Actividade 13 – Aprendizagem Intercultural –

Síntese e Conceitos 2

378 o Ficha de Actividade 14 – Obstáculos, Estratégias e

Potencialidades de AI

383 o Ficha de Actividade 15 – Jogo da Mudança 385 o Ficha de Actividade 16 – Perceber os Mecanismos da

Mudança

387 o Ficha de Actividade 17 – Pequenas Práticas 389

 9.4 - Módulo “Intervenção para a Cidadania: Inclusão nos Contextos Profissional, Organizacional e Local”

391

o Anexo I – Velhas e Novas Geografias da Imigração em Portugal

392

(9)

 10.1 - Módulo “Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social”

397

 10.2 - Módulo “Interculturalidade” 405

 10.3 - Módulo “Mobilidade Humana e Comunidades Culturais”

410

11.Avaliação da aprendizagem 411

 Questionário de Avaliação Global (para formandos/as) 415

 Questionário de Avaliação Modular (para formadores/as) 429

Acrónimos

ACIME – Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas

ADAPT – Iniciativa comunitária de adaptação da mão-de-obra às mutações industriais CE – Comissão Europeia

CIRS – Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego

DGACCP – Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas EQUAL – Iniciativa Comunitária que actua ao nível da promoção da igualdade e do combate à discriminação no emprego

ESPERE – Engagement du service public d´emploi pour restaurer l´égalité IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional

IRS - Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico OIM – Organização Internacional para as Migrações

OIT – Organização Internacional do Trabalho ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PD – Parceria de Desenvolvimento

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RAU – Regime de Arrendamento Urbano

RTP – Recurso Técnico-Pegadógico SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras

(10)

1. Apresentação

O presente referencial foi concebido e testado no âmbito do projecto EQUAL “Migrações e Desenvolvimento”, cuja finalidade era a “promoção de uma cultura de convivência e de diálogo intercultural entre as pessoas, facilitadora da não discriminação e da inserção sócio-económica da população migrante e dos grupos étnicos e culturais existentes na sociedade portuguesa”. Para o efeito e entre outros objectivos e correspondentes actividades, a Parceria de Desenvolvimento (PD) visou a formação de agentes que de forma directa ou indirecta trabalham com aqueles públicos. Pretendia-se também dar continuidade e aprofundar o trabalho desenvolvido no âmbito de um outro projecto apoiado pela Iniciativa Comunitária ADAPT também promovido pela Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas e designado “Saber Viver numa Europa Multicultural”, cujo objectivo principal era o de “contribuir para a sustentabilidade social nas sociedades multiculturais na Europa dos nossos dias”.

Ora a “necessidade, para nacionais e estrangeiros, da compreensão das diferenças e o saber viver com elas” que já existia ao tempo daquele projecto, é actualmente reforçada com a crescente mobilidade internacional das pessoas e com o estabelecimento cada vez mais diversificado de nacionais de origens também cada vez mais variadas que a globalização induz. Trata-se da presença de outras vivências culturais nas localidades onde habitamos, de estilos de vida trazidos por portugueses/as que viveram e trabalharam no estrangeiro e regressaram ao País. Mas trata-se também de uma cada vez maior exigência em matéria de direitos humanos e de concretização da cidadania global de homens e de mulheres– tanto na esfera pública (através da participação cívica e política, ou da cidadania no trabalho, com rejeição da redução de trabalhadores e trabalhadoras a um mero factor de produção), como da esfera privada (através da participação equilibrada de homens e mulheres no trabalho de cuidado não pago). Este conceito de cidadania global, que atravessa todo o projecto “Migrações e Desenvolvimento” corresponde à abordagem extensiva da cidadania tal como a perspectiva o Conselho da Europa, neste Ano de 2005 em que encoraja à reflexão e à acção para a Cidadania pela Educação, ou seja, cobrindo todos os aspectos

da vida numa sociedade democrática1. Verifica-se assim o aprofundamento do conceito realizado pelo próprio Conselho da Europa. Com efeito, o Centro Norte-Sul – Centro Europeu para a Interdependência e a Solidariedade Mundiais – refere-se-lhe do seguinte modo:

As pessoas cidadãs da Europa são também cidadãs globais. Inquéritos à opinião pública em Países Europeus mostram um forte apoio público à solidariedade internacional, mas níveis fracos de conhecimento e apropriação pelo público.

1

(11)

A educação global é a chave para uma progressiva apropriação crítica pelo público das políticas de solidariedade internacional.

A educação global é aquela que abre os olhos das pessoas para as realidades do mundo e as acorda para a necessidade de o tornar num mundo mais justo e de direitos humanos para todas as pessoas.

A educação global é entendida de modo a compatibilizar a educação para o Desenvolvimento, a Educação para os Direitos Humanos, a Educação para a Sustentabilidade, a Educação para a Paz e a Prevenção de Conflitos, e a Educação Intercultural – a dimensão global da Educação para a Cidadania2.

Só que, como se constata, a dimensão da esfera privada carece de explicitação para que se possa verdadeiramente falar de uma cidadania que cubra, na realidade, todos os

aspectos da vida numa sociedade democrática. E o mesmo Conselho da Europa

considera a igualdade de homens e mulheres com um critério fundamental da democracia3. Nesta linha vai a União Europeia ao considerar tanto a participação equilibrada de homens e mulheres nos processos de decisão como a participação equilibrada de homens e mulheres na actividade profissional e na vida familiar, como pressupostos da igualdade de homens e mulheres, nos termos da Resolução do Conselho e dos ministros do Emprego e da Política Social, reunidos no seio do Conselho de 29 de Junho de 2000 relativa à participação equilibrada das mulheres e dos homens na actividade profissional e na vida familiar (2000/C 218/02) nº 1 a)4. Como já se defendeu5 e a fim de tornar mais claro que não há direitos e deveres ‘inerentes’ a homens e ou mulheres, o que corresponderia à consagração legal da discriminação em função do sexo, importaria promover, no âmbito dos direitos humanos universais, o reconhecimento do direito fundamental ao cuidado e do dever fundamental de cuidar. Entende-se, assim, que a Educação/Formação para a Cidadania Global implica quanto às pessoas:

- Desenvolvimento cognitivo – conhecimento sobre os temas relevantes, como: - direitos humanos (conteúdo e formas de exercício)

- democracia

- desenvolvimento humano

- Desenvolvimento de atitudes - competências – chave: - coerência com os valores

- participação activa

- comunicação igualitária entre mulheres e homens

- comunicação intercultural para saber viver em paz em sociedades plurais cultural, religiosa e linguisticamente

2 http://www.coe.int/T/E/North-South_Centre/Programmes/3_Global_Education/a_Presentation/ 3 http://www.coe.int/T/E/Human_Rights/Equality/PDF_MEG-4%281997%2918_E.pdf 4 http://europa.eu.int/smartapi/cgi/sga_doc?smartapi!celexapi!prod!CELEXnumdoc&lg=PT&numdoc=320 00Y0731(02)&model=guichett 5

(12)

Daí que a proposta formativa apresentada neste referencial vise atingir os objectivos de desenvolvimento cognitivo e de atitudes inerentes à cidadania global dos homens e das mulheres.

Trata-se, com efeito, de transversalizar e promover a dimensão da igualdade de género. Trata-se de assegurar uma inclusão social respeitadora das diversas vulnerabilidades das pessoas destinatárias da acção dos serviços, com vista à dignificação e ao empoderamento desses públicos, através do reforço das competências (capacidade de contextualização e de ajustamento comportamental) dos/as profissionais intervenientes, no domínio da cidadania, das relações interculturais de qualidade e de desenvolvimento sustentável. Trata-se assim também e ainda que indirectamente, de requalificar a acção das instituições prestadoras de serviços, tenham natureza pública ou privada.

Se esta realidade exige de todos e todas nós, enquanto indivíduos em comunidade, competências novas na gestão do quotidiano, por maioria de razão os/as agentes da administração pública, a nível central, regional e local, e das instituições privadas, que de modo generalizado têm no seu público utente realidades culturais heterogéneas, carecem de novas aprendizagens, de novos conhecimentos e de novas competências para desempenhos profissionais de qualidade.

Entendeu-se assim, não só evidenciar a centralidade da dimensão da cidadania global na formação a desenvolver pelo projecto, mas também conceber o referencial a partir da Reflexão sobre as Práticas dos/as Agentes das Instituições Públicas e Privadas, numa lógica de reforço da sua autonomia e de ligação da formação com a intervenção social.

Em Abril de 2004, a Parceria propôs uma oferta formativa nas áreas-piloto do projecto – Seixal e Odivelas, com um referencial de base, que testou com dois grupos em cada concelho. A avaliação desta experiência ditou a necessidade de ajustamento, pelo que se melhorou o referencial, designadamente a partir das sugestões apresentadas pelos/as próprios/as participantes6, e da incorporação de elementos de programas de formação em matéria de combate à discriminação concebidos e experimentados no âmbito do Projecto EQUAL ‘ESPERE’, desenvolvido pela parceria francesa do ‘Migrações e Desenvolvimento’. Assim, a partir deNovembro de 2004, a Parceria testou o referencial reformulado. A avaliação daí decorrente, bem como os resultados dos respectivos

follow-up e a reflexão do Grupo de Trabalho que desenvolveu esta experiência, a que se

juntou a de especialistas nas diferentes áreas do programa, levaram a novos ajustamentos econduziram ao referencial que ora se apresenta e que foi validado por especialistas, no âmbito da Rede Temática 2 da EQUAL, em Julho de 2005.

6

Estes participantes eram técnicos de projectos de intervenção local integrados em serviços públicos, autarquias e associações locais.

(13)

De salientar que o facto das experiências-piloto terem tido lugar no Seixal e em Odivelas, se revestiu de uma importante mais valia para o trabalho a desenvolver, permitindo incorporar experiências fundamentais à compreensão das especificidades inerentes aos diferentes contextos, públicos e agentes, envolvendo e mobilizando diferentes actores locais, incluindo elementos das comunidades culturais minoritárias, para atitudes e práticas não discriminatórias que promovem e valorizam a interculturalidade, a igualdade de homens e mulheres, a solidariedade e a cidadania activa.

Estas razões, a transversalidade das matérias, o olhar as migrações internacionais de pessoas numa lógica de mobilidade de cidadãos que umas vezes saem da sua terra em busca de melhor vida e outras vezes recebem na sua terra quem nela vê a esperança e o futuro, a perspectiva de tratamento conjunto de ‘comunidade nacional’ e ‘comunidades estrangeiras’ como ‘comunidades culturais’ de valor igual sem prejuízo da respectiva dimensão ou das questões de soberania e ordem pública à luz dos direitos humanos num Estado de direito, a abordagem holística da cultura democrática, considerando a sua dimensão nacional, europeia e internacional numa óptica de aprendizagem ao longo da vida, vêm acrescentar inovação aos instrumentos conhecidos. Até porque os recursos de formação que se conhecem neste domínio não tratam todas as áreas temáticas que este abrange e consequentemente também não apresentam a visão integrada que este propõe, com cargas horárias relativamente reduzidas. Daí que este referencial seja um produto de fácil integração e adequação a outros contextos formativos com potencialidades para interessar largo número de operadores/as, de conceptores/as e de gestores/as de formação.

Acresce, que os elementos contidos no mesmo referencial permitem o desdobramento deste, de modo a constituir-se um pacote formativo integrado na fase da divulgação, o que constituirá garantia suplementar de que a formação futura neste domínio obedecerá aos critérios e ao programa resultantes deste Projecto ‘Migrações e Desenvolvimento’. O pacote a que se alude poderá incluir, para além do referencial em sentido estrito, também um guia de apoio ao/à formando/a (contendo para além de uma apresentação, a finalidade, os objectivos gerais, as competências a adquirir e a documentação de apoio passível de se compatibilizar com o factor surpresa inerente a muitas metodologias activas) e um manual do/a formador/a (contendo para além de uma apresentação, a finalidade, os objectivos gerais, as competências a adquirir, sugestões de plano de sessão passíveis de se compatibilizarem com o factor surpresa inerente a muitas metodologias activas, o itinerário pedagógico e a avaliação). Ao alargar a formandos/as e formadores/as o público a que o produto poderá interessar, completa-se o ciclo de todos/as os/as interventores/as na formação e multiplica-se o número de potenciais clientes, na Administração Pública e nas outras organizações.

(14)

2. Enquadramento

2.1 O mundo está em mudança

Falar de multiculturalidade tornou-se um lugar comum nos dias de hoje. Uma problemática olhada com animosidade pelos que desejam o regresso a um passado que nunca existiu, com indiferença pelos que, de olhos vendados, pensam poder escapar ao que os rodeia, ou com paixão pelos que compreendem ou intuem a diversidade como valor sinónimo de vida e de sociedade.

É este último ponto de vista que preside à construção deste referencial. O reconhecimento de que a sociedade só é viável na sua diversidade e que o indivíduo só se realiza como ser plenamente humano por e na cultura (Morin, 2002): a pessoa como “local” de realização de cultura, simultaneamente capaz de se conhecer e de se reconhecer enquanto indivíduo, de conhecer e reconhecer a alteridade, de transformar e de se transformar com o outro, assumindo a diferença, o conflito e a sua gestão

permanente no quotidiano como matriz de evolução.

“ O nosso modelo de socialização tinha como paradigma o monoculturalismo; a prática da educação intercultural implica uma mudança de paradigma que considera “ o outro e

o diferente como ponto de partida” ( Perotti, 1997)

Num crescendo em espiral, este novo paradigma tem de incluir também as culturas organizacionais e institucionais, tornando-as mais abertas, flexíveis e capazes de responder às novas dinâmicas de uma sociedade em mudança. É nesta perspectiva que se alicerça uma concepção da Cidade, como espaço de encontro plural, de troca, de aprendizagem e participação de todos na construção de uma cidadania mais inclusiva e integradora, ou seja, abrangendo todas as esferas da vida, e a que chamamos cidadania global.

À convicção da unicidade do ser humano nas suas inúmeras especificidades culturais, alia-se a emergência do que nos é comum, do fazer em conjunto, garantindo a coesão das sociedades contemporâneas, cosmopolitas, multiculturais e interdependentes em termos planetários.

Como refere o Manual de integração para decisores políticos e profissionais, da CE, a propósito desta dimensão nas migrações internacionais:

“Esta abordagem estimula a necessidade de integrar os imigrantes em todos os aspectos da sociedade, incluindo os campos cívico, cultural e político. Mais ainda, conceber a integração como um processo recíproco leva-nos a focar a nossa atenção nas atitudes das sociedades de acolhimento, e também nos seus cidadãos, estruturas e organizações. As diferentes dimensões da integração estão interrelacionadas e os resultados obtidos num campo reforçam os outros.”

(15)

(...) “A sociedade e as suas instituições devem agir no sentido de se abrirem aos imigrantes. Não cabe apenas aos imigrantes desenvolver e adquirir competências, mas cabe também aos governos e aos actores sociais assegurarem que existem vastas oportunidades de participação na base da igualdade e da não discriminação. Atingir o equilíbrio ideal das responsabilidades é crucial para a criação de políticas de integração justas e eficazes”.

“A integração é uma responsabilidade partilhada e muitos agentes trabalham em conjunto para desenvolver boas políticas e resultados.

(...) Os governos local e regional, os parceiros sociais, ONGs – Organização Não Governamental e associações de migrantes fazem todos parte do “nexo de integração”, juntamente com o Estado e com os migrantes individuais que comporta.”7

2.2 A resposta do Direito

O presente referencial enquadra-se num contexto nacional, comunitário e internacional que visa promover o respeito pela dignidade de todo e qualquer ser humano e desenvolver competências de cidadania individual e institucional tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

Há que ter sistematicamente presente, designadamente nas práticas profissionais de qualquer agente, e de modo mais exigente se se tratar de agente público, o artigo 1º da Constituição, nos termos da qual

“Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”

Acresce que em Portugal,

“os princípios e valores da Declaração Universal dos Direitos Humanos são parte essencial da ideia de Direito à luz da qual todas as normas constitucionais – e, por conseguinte, toda a ordem jurídica portuguesa – têm que ser pensadas e postas em prática“8.

É sabido que os direitos humanos fundamentais são direitos de toda e qualquer pessoa, logo também de todos os migrantes, incluindo os indocumentados, tal como indica

7

“Manual de integração para decisores políticos e profissionais”, CE, 2004

8

Miranda, Jorge Manual de Direito Constitucional – Tomo IV – Direitos Fundamentais, 3ª edição, Coimbra, 2000, pg. 156

(16)

designadamente o Documento Final da Conferência das Nações Unidas sobre População e Desenvolvimento, que teve lugar no Cairo em 19949.

Mas as práticas individuais e profissionais – tanto na perspectiva dos países de origem como na dos países de acolhimento – continuam na maioria dos casos a pressupor que os ‘estrangeiros’ são ‘diferentes’ e a diferença perturba e ameaça. Este referencial visa contribuir para a aprendizagem de um viver sem medo do ‘diferente’ num mundo globalizado, que é multicultural, propondo a aquisição de competências novas, para perceber as nossas diferenças, para aprender a relativizar mais, para encontrar pontos comuns, para evitar reacções primárias nas nossas atitudes do quotidiano.

O quadro constitucional que vincula qualquer pessoa em Portugal neste domínio é matéria de Direitos, Liberdades e Garantias e tem efeito directo10.

A matéria está expressamente prevista no Programa do XVII Governo e a concretização de acções de formação com base neste referencial contribuirá para o concretizar.

No que se refere à União Europeia, a exigência de não discriminação, designadamente nas condições de trabalho, está nos tratados e em diversas directivas, na Estratégia de Lisboa11, na Estratégia Europeia para o Emprego, na Estratégia Europeia para a Inclusão – de que decorrem a nível interno o Plano Nacional de Emprego e o Plano Nacional para a Inclusão cujas metas quantificadas e calendarizadas visam a convergência social. A nível internacional, há que dar cumprimento a todo o sistema de protecção dos direitos humanos, da democracia e do Estado de direito, aproveitando o impulso da Declaração de Varsóvia12, para além da reflexão, das convenções e das recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Conselho da Europa, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), bem como cumprir as metas fixadas pelos Objectivos do Milénio, tendo presente que depende dos Estados, das organizações internacionais, das organizações não governamentais, mas também de cada um e de cada uma de nós - nas nossas múltiplas qualidades de intervenção privada, cívica, profissional ou política - que a inclusão social se concretize no quotidiano, onde quer que vivamos, e constitua uma linguagem universal da nossa era.

9

Os países deverão garantir a todos os migrantes todos os direitos humanos fundamentais que integram a Declaração Universal dos Direitos Humanos’ - Programa de Acção da Conferência

Mundial sobre População e Desenvolvimento – ONU, Cairo, 1994

(12º Princípio)

10

Designadamente artigos 9º - h), 12º, 13º, 14º, 15º, 16º, 17º, 18º, 20º, 21º, 22º, 25º, 26º, 33º, 35º, 41º, 42º, 43º, 44º, 45º, 46º.

11

A Estratégia de Lisboa quer que a União Europeia ganhe em 10 anos a competição mundial do desenvolvimento sustentável, compatibilizando integrada e coerentemente as dimensões económica, humana, social e ambiental, pelo que todas as políticas pertinentes devem concorrer para este objectivo.

12

Declaração dos Chefes de Estado e Governo dos Estados reunidos na Terceira Cimeira do Conselho da Europa em Varsóvia, em Maio de 2005

(17)

Por outro lado, são conhecidas as assimetrias no desenvolvimento humano entre grupos maioritários e minoritários numa dada sociedade. Mas porque em qualquer destes grupos o desequilíbrio dos indicadores persiste quando se compara a situação das mulheres e dos homens, concluímos que a desigualdade de género é estrutural, impede que se viva a liberdade e que se alcance a democracia13, e só poderá ser abolida com medidas de natureza estrutural, que reorganizem de modo integrado o modo como vivemos.

É este o quadro da formação que este referencial propõe. O qual ao ter como fio condutor os direitos humanos e a sua universalidade, com aprofundamentos no domínio da igualdade de género, da mobilidade internacional do ser humano e da interculturalidade, numa perspectiva de formação ao longo da vida abrangendo a

Educação Não-Formal, também pretende ser um contributo efectivo para que se

alcancem as metas do Ano Europeu da Cidadania pela Educação, que decorre em 2005 sob a égide do Conselho da Europa.

2.3 A resposta da Educação Não-Formal

Não é ainda frequente em Portugal o (re)conhecimento e operacionalização do conceito de Educação Não-Formal. No entanto, ele tem estado no centro de variados debates sobre questões educativas um pouco por todo o mundo e em particular no seio do Conselho da Europa e da União Europeia.

A Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, em 2000, adoptava a recomendação 1437 sobre Educação Não-Formal, “incitando todos aqueles que dão forma às políticas educativas a tomar conhecimento da educação não-formal como parte essencial do processo educativo...” e “interpelando os governos e outras autoridades competentes dos Estados-Membro a reconhecer a educação não-formal como um parceiro de facto no processo de aprendizagem ao longo da vida...”.

Em 2003, o Comité de Ministros do Conselho da Europa “… recomenda aos Estados pertencentes à Convenção Cultural Europeia a:

1) reafirmar que a educação/aprendizagem não-formal constitui hoje em dia uma dimensão fundamental do processo de aprendizagem ao longo da vida e, por isso, trabalhar para o desenvolvimento de padrões de reconhecimento efectivo da educação/aprendizagem não-formal como parte essencial da educação em geral e da formação vocacional em particular e, neste sentido, para:

13

‘A igualdade entre as mulheres e os homens é um critério fundamental da democracia’ Conferência de Ministros do Conselho da Europa, Istambul, 1997

(18)

- a qualificação dos profissionais e voluntários encarregados das ofertas de educação/aprendizagem não-formal,

- a qualidade da aprendizagem proporcionada, propriamente dita,

- a monitorização do progresso na aprendizagem feito pelos participantes em programas de educação/aprendizagem não-formal, tanto individualmente, como integrados num grupo mais alargado.”

Em Portugal, podemos identificar um número infindável de práticas educativas associadas à educação não-formal. São maioritariamente levadas a cabo organizações da sociedade civil e assumem as mais diversas formas, desde seminários de formação a

workshops temáticos ou trabalhos/visitas de campo. Apesar desta prática existente, o

conceito de educação não-formal propriamente dito é raramente apreendido e essas mesmas práticas quase nunca reconhecidas enquanto tal.

Por outro lado, existe também um número significativo de pesquisas e investigações sobre a educação não-formal (ou sobre a aprendizagem extra-curricular), um conjunto de “políticas” ou iniciativas conceptualizadas, mas sem um retorno operacional e prático

a-posteriori.

2.3.1O QUE É A EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL?

Não conhecemos hoje em dia uma definição única ou consensual de “educação não-formal” (ou de “aprendizagem não-não-formal”). Estes termos são ainda objecto de interpretações diferentes de acordo com as diferentes culturas, tradições nacionais ou contextos político-educativos de cada país ou região.

Nas últimas décadas, “Educação Não-Formal" tornou-se a noção sumária para aquilo que, no passado, se designava por "educação fora da escola". Assumimos hoje, de facto, que a educação não-formal se distingue da educação formal (ou ensino tradicional) em termos de estruturas, da forma como é organizada e do tipo de reconhecimento e qualificações que este tipo de aprendizagem confere. No entanto, a educação

não-formal é vista como complementar - e não contraditória ou alternativa - ao sistema de

educação formal e deve, pois, ser desenvolvida em articulação permanente quer com a

educação formal, quer com a educação informal.

2.3.2 EDUCAÇÃO FORMAL E INFORMAL

Ao longo dos últimos anos, a necessidade de formação permanente - ao longo da vida - mostrou-nos que o desenvolvimento de competências variadas pode ser conseguido através da aprendizagem em contextos quer formais, quer não-formais ou informais, sendo essa aprendizagem mais eficiente porventura nuns do que noutros.

(19)

É pois frequente querermos identificar ou compreender a educação não-formal a partir da (ou em comparação com) educação formal ou informal.

Hoje em dia, é no entanto difícil encontrarmos modelos puros de educação formal e de educação não-formal. Os conteúdos, as metodologias e os princípios pedagógicos que as caracterizam são (felizmente) cada vez mais partilhados de forma sinérgica e complementar. Para definir conceitos teremos pois que recorrer a exemplos extremos, ditos “tradicionais” ou “mais frequentes” destas diferentes vias educativas. Como qualquer outra classificação, esta é também uma tentativa de classificação artificial... É fácil compreendermos o conceito de educação formal se a ele associarmos aquilo que comummente conhecemos como as escolas e as universidades, enquanto instituições de ensino “tradicionais”, chamemos-lhe assim, centradas nas figuras do professor e do aluno. Ao sistema educativo formal estão normalmente associadas várias etapas de desenvolvimento (anos académicos), devidamente graduadas e avaliadas quantitativamente; estes anos académicos organizam-se por disciplinas e a cada uma delas estão associados programas curriculares gerais aprovados e reconhecidos pelos órgãos competentes. Até um determinado nível, a educação formal (o ensino) é obrigatório.

A educação informal, ao invés, pode definir-se como tudo o que aprendemos mais ou menos espontaneamente a partir do meio em que vivemos: das pessoas com quem nos relacionamos informalmente, dos livros que lemos ou da televisão que vemos, da multiplicidade de experiências que vivemos quotidianamente com mais ou menos intencionalidade em relação ao seu potencial de aprendizagem. A educação informal não é necessariamente organizada ou sequer orientada.

2.3.3A EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL

Enquanto a educação formal tem lugar nas escola, colégios e instituições de ensino superior, tem currículos e regras de certificação claramente definidos, a educação não-formal é acima de tudo um processo de aprendizagem social, centrado na pessoa educanda, através de actividades que têm lugar fora do sistema de ensino formal e sendo complementar deste.

A educação não-formal baseia-se na motivação intrínseca do/a formando/a e é voluntária e não-hierárquica por natureza. Enquanto um sistema de aprendizagem, vem sendo prática comum sobretudo no âmbito do trabalho comunitário, social ou juvenil, serviço voluntário, actividade de organizações não-governamentais ao nível local, nacional e internacional, abrangendo uma larga variedade de espaços de aprendizagem: das associações às empresas e às instituições públicas, do sector juvenil ao meio profissional, ao voluntariado e às actividades recreativas.

A educação não-formal tem formatos altamente diferenciados em termos de tempo e localização, número e tipo de participantes (formandos), equipas de formação,

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dimensões de aprendizagem e aplicação dos seus resultados. É importante sublinhar, no entanto, que o facto de não ter um currículo único não significa que não seja um processo de aprendizagem estruturado, baseado na identificação de objectivos educativos, com formatos de avaliação efectivos e actividades preparadas e implementadas por educadores altamente qualificados. É, aliás, neste sentido que a educação não-formal se distingue mais fortemente da educação informal.

Em educação não-formal, os resultados da aprendizagem individual não são julgados. Isso não significa, no entanto, que não haja avaliação. Ela é regra geral inerente ao próprio processo de desenvolvimento e integrada no programa de actividades. Assume vários formatos e é participada por todos: formadores e formandos no sentido de aferir progresso ou reconhecer necessidades suplementares. Do ponto de vista externo ao processo pedagógico propriamente dito, a eficácia dos mecanismos de aprendizagem em eduicação não-formal pode ser apreciada e avaliada pela investigação social e educacional com o mesmo grau de credibilidade que a educação formal.

O conceito de educação não-formal envolve, como uma parte integrante do desenvolvimento de saberes e competências, um vasto conjunto valores sociais e éticos tais como os direitos humanos, a tolerância, a promoção da paz, a solidariedade e a justiça social, o diálogo inter-geracional, a igualdade de homens e mulheres, a igualdade de oportunidades, a cidadania democrática e a aprendizagem intercultural, entre outros. Para além disto (e em função disto mesmo), a educação não-formal coloca a tónica no desenvolvimento de métodos de aprendizagem participativos, baseados na experiência, na autonomia e na responsabilidade de cada formando. É habitual dizer-se que, em educação não-formal, a forma é conteúdo.

Os objectivos e as metodologias próprias de um esquema de aprendizagem não formal têm fortemente em conta o desenvolvimento e a experiência pessoal do/a educando/a no seu todo. Por isso, a educação não-formal procura propiciar o enquadramento adequado para responder às aspirações e necessidades específicas do educando bem como para desenvolver as suas competências pessoais potenciando a sua criatividade. Ao desenvolver esta reserva de potencialidades, competências e experiência em cada indivíduo, a educação não-formal vai também de encontro àquelas que são hoje em dia as necessidades específicas, as exigências e as expectativas do mercado de trabalho e em particular dos empregadores. De facto, tendo em conta os desenvolvimentos recentes no mundo do trabalho em contexto de globalização, as entidades empregadoras procuram cada vez mais trabalhadores/as que tenham participado em actividades extra-curriculares, que tenham viajado e vivido no estrangeiro, que falem várias línguas e que sejam capazes de trabalhar em contextos cada vez mais multiculturais, que sejam capazes de ouvir criticamente e interpretar, de liderar e coordenar, com um alto índice de mobilidade e adaptabilidade, entre outros.

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3. Finalidade

O referencial de formação “Cidadania e Diversidade Cultural nas Práticas Profissionais” deve ser entendido como uma matriz de formação generalizável, a adaptar a diversos sectores e áreas de intervenção, a diversos níveis de aprofundamento, com o objectivo de contribuir para a aquisição de novas competências pessoais e profissionais no domínio da cidadania global por parte dos/as agentes que, de forma directa ou indirecta, trabalham com homens e mulheres imigrantes e grupos culturais, bem como para a promoção de alterações qualitativas ao nível dos comportamentos, das respostas e do funcionamento dos serviços.

Ao contribuir para intervenções técnicas mais qualificadas e adequadas, considera-se que o presente referencial poderá ser um meio de prevenir e reduzir os obstáculos à integração sócio-profissional dos públicos–alvo e uma forma de promover mudanças de atitudes e comportamentos dos actores sócio-económicos (nomeadamente as entidades empregadoras), no sentido da prevenção das desigualdades de género e das discriminações no acesso ao emprego e no local de trabalho. Mas também se pretende que ele possa ser utilizado como um novo instrumento de aprendizagem da cidadania democrática, que se espera possa contribuir para um novo paradigma de serviço público assumido ele próprio como prestação cidadã.

Na linha dos objectivos do Projecto “Migrações e Desenvolvimento”, o presente referencial procura responder à necessidade que todos e todas, como pessoas e como profissionais, temos de saber mais, de aprofundar a nossa capacidade de questionamento enquanto sujeitos de direito, enquanto agentes sociais e enquanto membros activos de comunidades humanas e, bem assim, de assegurar que as nossas relações interpessoais promovem entendimentos de qualidade. Não nos chega dominar línguas estrangeiras ou conhecer com mais ou menos profundidade – ou de modo mais ou menos estereotipado - os ‘traços’ desta ou daquela cultura. Temos que deter uma capacidade real de comunicar, uma atitude sustentada de respeito pela igual dignidade de todas as pessoas e pelos seus direitos fundamentais enquanto seres humanos, temos que saber criar condições de empoderamento e assim de real disponibilidade para a partilha de poder – qualquer que seja a natureza e a dimensão daquele de que se trate – de recusa de estratificação dos indivíduos em categorias fixas, de espírito aberto quer ao reconhecimento e adequada ponderação dos interesses alheios, quer à aprendizagem permanente que a diversidade proporciona e que nem sempre estamos disponíveis para aproveitar.

O presente referencial quer ser um instrumento de apoio ao desenvolvimento destas novas competências para a vida nas sociedades cosmopolitas em que vivemos, tendo como objectivo importante criar condições para a melhoria das práticas profissionais de agentes sociais no sector público ou no sector privado.

(22)

4 – Destinatários/as da formação

A experiência de aplicação do referencial demonstrou que o modelo de formação que se propõe implica maturidade individual e experiência profissional por parte de formandas e formandos.

Acresce, que ficou provada a pertinência para os objectivos do projecto de constituir grupos com agentes sociais do sector público e do sector privado e com representantes/líderes das associações de migrantes e dos grupos culturais. Esta multiculturalidade concretizada, que põe em presença e faz interagir ‘de igual para igual’ diferentes culturas de organização – o sector público e o sector privado – e diferentes culturas de origem – pessoas e comunidades portuguesas e pessoas e comunidades estrangeiras em Portugal - é fundamental para a aprendizagem intercultural que esta formação visa. Com efeito, entende-se particularmente importante reconhecer e tratar as comunidades de nacionais e de estrangeiros como comunidades culturais, numa lógica cosmopolita do igual valor das culturas e da mobilidade das pessoas que as adoptam, sem prejuízo das questões de soberania em matéria de direitos humanos, de democracia e de Estado de direito. Consequentemente, este entendimento rejeita sem equívocos visões paternalistas sobre migrantes e assume que a interculturalidade é uma competência igualmente indispensável para agentes sociais e para as mulheres e os homens que integram a população qualquer que seja a respectiva nacionalidade.

O mesmo olhar está, aliás, também patente, na busca de coerência evidenciada pelo referencial quando trata, no mesmo módulo – o Módulo 2 – designado ‘comunidades culturais’, as políticas públicas de apoio às pessoas e comunidades portuguesas no estrangeiro e às pessoas estrangeiras e suas comunidades em Portugal, apresentando as migrações internacionais na sua dimensão de mobilidade humana, olhando os homens e as mulheres migrantes como sujeitos de direitos e obrigações quer face ao Estado de origem quer face ao Estado de acolhimento e assumindo com clareza a posição de um país com cerca de 4 milhões e meio de nacionais e suas famílias no estrangeiro.

Esta Formação é, assim, dirigida a todas as pessoas que queiram aprofundar e actualizar a sua reflexão em torno dos direitos humanos, da cidadania, da igualdade, da inclusão e da aprendizagem intercultural. No entanto, ela aponta particularmente para indivíduos activos em contextos de trabalho multiculturais. Daí que se entenda desejável uma entrevista prévia ou, pelo menos, uma apresentação detalhada no início do primeiro módulo com a participação de todos/as os/as formadores/as que também se apresentariam em conjunto.

Quem participa deve, em qualquer dos casos:

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dinâmico e inter-activo;

- estar disponível para participar na totalidade das sessões, uma vez que esta proposta assenta em actividades em que o envolvimento de cada pessoa vai crescendo em espiral e na interacção do grupo;

- ter presente que o mundo crescentemente multicultural em que vivemos coloca novos desafios e torna premente o repensar das nossas práticas.

Tendo em conta estes pressupostos, bem como as necessidades dos vários módulos que integram a proposta formativa, consideramos que o número ideal de formandos/as por grupo será de 16.

(24)

5. Itinerário pedagógico

Após a experimentação e tendo sempre presente que nem as organizações nem as pessoas dispõem de muito tempo para dedicar à formação, chegou-se a uma proposta de formação que, para além da Introdução ao curso e enquadramento no projecto e da Avaliação, compreende quatro módulos:

Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social – 18h

Mobilidade Humana e Comunidades Culturais – 6h

– Legislação portuguesa relativa a nacionais no estrangeiro – 3h – Legislação portuguesa relativa a estrangeiros – 3h

Interculturalidade – Variante A – 12h – Variante B – 18h

Intervenção para a Cidadania: Inclusão nos contextos Profissional, Organizacional e Local – 6h

De salientar que a equipa responsável pela experimentação do referencial, no âmbito do projecto "Migrações e Desenvolvimento", organizou e implementou acções de formação que tiveram por base diferentes itinerários pedagógicos. O que o presente referencial fixa obedece à seguinte lógica:

Parece fazer mais sentido iniciar o itinerário com o módulo "Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social", uma vez que são os direitos humanos e a respectiva concretização nos domínios da igualdade de género, das migrações internacionais e no diálogo intercultural a estrutura desta proposta formativa. Tratado o tema na generalidade e com enfoque mais detalhado no direito comunitário e no direito internacional, deverá seguir-se o módulo jurídico de especialidade, designado “Mobilidade humana e comunidades culturais”, isto é o que trata dos principais aspectos da legislação portuguesa aplicável a estrangeiros em Portugal e a portugueses no estrangeiro.

Vem então o módulo sobre “Interculturalidade” eminentemente questionador de atitudes e práticas e facilitador de mudança para melhoria da qualidade de vida.

(25)

O último módulo,“Intervenção para a Cidadania: Inclusão nos contextos Profissional, Organizacional e Local” visa a aplicação prática do que foi a formação, exigindo a evidência das novas competências adquiridas.

Pretendemos também dar conta que, em termos de dinâmica de grupo e quando os grupos tinham menos conhecimentos ou menos prática de trabalho com populações muito heterogéneas, surtiu mais efeito introduzir o módulo da "Interculturalidade" em primeiro lugar. Daí que, também por este motivo, se recomende o conhecimento prévio e tão detalhado quanto possível do grupo de formação. De qualquer modo, ambas as opções mereceram a avaliação favorável dos/as formandos/as envolvidos/as no processo.

Independentemente porém da opção que se aplique, há que ter em conta que, embora distintos, tanto nos conteúdos como nas abordagens metodológicas, os quatro módulos alicerçam a sua coerência e a sua interligação estruturante no fio condutor comum da aprendizagem e do exercício da cidadania.

A experiência de concretização do referencial em acções de formação quer para formadores/as de formadores/as quer para agentes e as inerentes avaliações evidenciaram a importância de que a equipa formativa sublinhasse, tão precocemente quanto possível, a coerência daquele fio condutor, independentemente das metodologias – que são diversificadas - adoptadas em cada um dos módulos. Com efeito, todas as temáticas pretendem promover o desenvolvimento de competências cidadãs crescentemente reconhecidas como indispensáveis no contexto das sociedades contemporâneas, independentemente da idade, estrato social ou académico ou ocupação profissional. Assim:

• A Aprendizagem Intercultural incide sobretudo ao nível das percepções e atitudes, ou seja, dimensões relacionais individuais, fundamentais para capitalizar o potencial positivo da multiculturalidade crescente das sociedades contemporâneas.

• O módulo Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social convida ao aprofundamento do olhar sobre a realidade e, na sequência da reflexão sobre ela, apresenta o direito nacional e comunitário neste domínio numa perspectiva não só de empoderamento individual e institucional, mas também como resposta da intervenção jurídica para o equilíbrio de recursos, de poderes e de responsabilidades entre pessoas e Estados, indispensável ao bem estar, ao desenvolvimento sustentável e à paz.

• O módulo da Mobilidade Humana e Comunidades Culturais desenvolve o tema das migrações internacionais já abordado no módulo anterior com o olhar de um País como Portugal que conhece bem a emigração de nacionais e o estabelecimento das suas comunidades em todo o mundo e que, por isso, pretende tratar coerentemente os estrangeiros e as suas famílias que agora o procuram para trabalhar e residir. Daí que o módulo apresente numa primeira parte a legislação e os apoios aplicáveis aos portugueses/as que vão trabalhar para ou residem no estrangeiro e suas famílias, e, numa segunda parte, a legislação e os apoios aplicáveis aos/às estrangeiros/as que vêm trabalhar para Portugal e suas famílias.

(26)

• O quarto módulo visa a operacionalização das competências entretanto adquiridas em articulação com os desafios concretos dos diversos contextos, profissionais e pessoais dos/as participantes.

O desenvolvimento desta acção de formação implica a compreensão por parte dos/as participantes das interligações e complementaridades das diversas dimensões de cidadania que constituem os quatro módulos formativos. Por esta razão, recomenda-se que o acolhimento da primeira sessão constitua o acolhimento do curso e não só do primeiro módulo e seja participado por todos/as os/as formadores/as. Haveria assim um momento específico de introdução ao curso de modo a permitir a partilha desta reflexão e a enfatizar as linhas de continuidade e complementaridade temática e metodológica existentes. Recomenda-se também o enquadramento do curso no contexto do Projecto Equal que lhe deu origem, o “Migrações e Desenvolvimento”.

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6. Modelo formativo

Como orientação metodológica de carácter geral e no quadro da educação não-formal preconiza-se:

• O encorajamento à participação activa e equilibrada de formandos e formandas, como meio de empoderamento e de apropriação de saberes e competências;

• O recurso a metodologias activas e diversificadas que ‘prendam’ o grupo, com técnicas variadas e escolha criteriosa de exercícios e exemplos, ajustando-os às necessidades, interesses e expectativas do grupo, sem no entanto se perder o objectivo da formação;

• A análise da realidade e o questionamento crítico sobre ela como metodologia para a mudança de atitudes;

• A referência sistemática à Declaração Universal dos Direitos Humanos, designadamente em matéria de deveres e de limites aos direitos, como modo de evidenciar que é no equilíbrio dos vários direitos e interesses em presença e da respectiva importância relativa em cada situação que se pode atingir a justiça nos casos concretos;

• A transversalização permanente da dimensão da igualdade de género nas relações de trabalho e nas relações interpessoais, designadamente através

• do recurso a uma linguagem comum a todas as pessoas intervenientes na formação, para evitar mensagens contraditórias, que seja verdadeira e não aparentemente neutra contemplando formas gramaticais masculinas e femininas e garantindo a igual visibilidade dos dois sexos e não a sua hierarquização,

• da escolha de exemplos, casos práticos ou episódios não agressivos ou discriminatórios, do respeito pelas socializações de género,

• da evidência dos limites, das injustiças e das ilegalidades a que conduzem os papéis sociais de género;

• O diálogo permanente da equipa de formadores/as quer entre si, quer com a coordenação da formação.

Na construção desta proposta de formação, procurou-se ter em conta um conjunto de princípios que orientam a prática da formação de adultos:

- Reforça-se a importância e a centralidade da experiência da pessoa adulta, incluindo a do próprio/a formador/a, enquanto contexto e principal recurso de aprendizagem;

- Propõe-se a estruturação dos conteúdos de aprendizagem em função dos contextos, interesses, necessidades e estádios de conhecimento individuais das pessoas adultas em formação, nomeadamente através da identificação de experiências significativas que impliquem o processo de tomada de consciência e de auto-reflexão sobre a experiência;

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- Sugere-se uma abordagem auto-reflexiva e de questionamento da acção que facilite a adopção de novas perspectivas de aprendizagem e a aquisição de um quadro de competências que permitam encarar as questões relativas à diversidade, ao novo relacionamento de homens e mulheres com base na igualdade, à mudança e à incerteza, de forma próactiva;

- Propõe-se a utilização de métodos activos e participativos, que estimulam e valorizam as dimensões de organização e de sociabilização, enquanto factores estruturantes e integradores no contexto da aprendizagem situada, ou seja, em inter-acção social.

(29)

6.1

Direitos Humanos, Igualdade de Género, Migrações Internacionais e Coesão Social

IDEIAS CHAVE

OS DIREITOS HUMANOS SÃO DIREITOS DE HOMENS E MULHERES QUALQUER QUE SEJA A SUA SITUAÇÃO OU CIRCUNSTÂNCIA, DEVEM SER EXERCIDOS EM IGUALDADE E GERAR RESULTADOS EQUILIBRADOS NO DESENVOLVIMENTO HUMANO.

A MOBILIDADE É UM DIREITO HUMANO DOS HOMENS E DAS MULHERES.

Metodologia

Privilegia-se a reflexão a partir do próprio trabalho dos/as formandas/as individualmente e em grupo.

Procura-se interpretar a rotina.

Oferecem-se múltiplas possibilidades de acesso ao direito aplicável, cujo conhecimento é indispensável ao empoderamento do/a agente e do/a seu/sua cliente.

Recusa-se a exemplificação com casos pessoais a fim de evitar constrangimentos em sala por eventuais soluções que tenham sido menos conseguidas.

Percurso formativo

Neste módulo começa-se por evidenciar que havendo necessidades básicas comuns a qualquer ser humano, também há direitos – a que correspondem deveres – comuns a todas as pessoas onde quer que se encontrem e quaisquer que sejam as suas circunstâncias. Tem assim início a criação de condições para que o debate sobre o relativismo cultural possa vir a ter lugar num contexto mais informado, mais desanuviado e mais aberto.

A dimensão do género é introduzida a partir da reflexão de que homens e mulheres são sujeitos de direitos humanos em igualdade.

Esta parte da formação segue o modelo já testado com êxito no quadro do Projecto Delfim desenvolvido pela CITE no âmbito da Iniciativa Comunitária ADAPT e de que

(30)

resultou um manual de formação14 e ajustado à formação de formadores/as conforme referencial do IEFP15.

O percurso formativo que aqui se propõe desenrola-se em três momentos:

1º - Conhecer a realidade – saber olhar e ver como é a situação das mulheres e dos homens em todas as esferas da vida partindo de cenas do quotidiano, comparar os vários indicadores do desenvolvimento humano e apreciar os resultados;

2º - Reflectir sobre a realidade – questionar o que sempre foi óbvio, identificar as razões das assimetrias, perceber a falsidade do universal neutro, entender as razões para mudar as práticas, designadamente a utilização da linguagem sem respeito pela igualdade de género, perceber que a normatividade social é contrária ao direito;

3º - Intervir sobre a realidade – assumir a igual cidadania das mulheres e dos homens e as suas consequências na participação equilibrada de homens e mulheres em todas as esferas da vida, conhecer as fontes do direito nacional, internacional e comunitário em matéria de igualdade de género para fundamentar o encaminhamento e até o aconselhamento em casos mais comuns, entender que todas as pessoas têm a liberdade de fazer escolhas que respeitem a igualdade de género, independentemente das responsabilidades de intervenção estrutural por parte do Estado ou da actividade económica.

A situação dos homens e das mulheres migrantes na União Europeia, na linha do relatório apresentado pela Comissão Europeia ao Conselho Europeu da Primavera de Março de 2005, introduz o tema das migrações internacionais, recordando que a emigração é um dos Direitos Humanos. Procura-se aqui evidenciar que a mobilidade na busca de uma vida melhor é inerente ao ser humano, que tem sido constante ao longo da história, designadamente na história de Portugal, e que está presente em todos os Países do mundo. Na desconstrução de estereótipos sobre o fenómeno, apresenta-se uma panorâmica a nível mundial e a nível da OCDE, demonstrando entre outros aspectos, que países considerados muito desenvolvidos e que recebem muitos imigrantes têm também largas comunidades de nacionais no estrangeiro. A experiência da emigração portuguesa, as garantias constitucionais de defesa dos direitos de nacionais no estrangeiro e as políticas públicas de apoio às comunidades portuguesas são apontadas também para que se entenda melhor a necessidade de coerência no tratar as pessoas estrangeiras em Portugal como entendemos que os/as nacionais devem ser tratados/as no estrangeiro. Ainda neste âmbito fornecem-se elementos para a relativização de perspectivas e para ajudar o grupo a colocar-se em diversos ângulos de apreciação. Apresentam-se então alguns aspectos sobre as políticas públicas e legislação de suporte a nível nacional, internacional e comunitário que visam eliminar a discriminação.

14

Manual de Formação de Formadores/as em igualdade entre Mulheres e Homens, CITE,

Lisboa, 2003.

15

Colecção: Referenciais de Formação Pedagógica Contínua de Formadores/as. Titulo:

Referencial de Formação Pedagógica Contínua de Formadores/as - Para uma Cidadania Activa: A Igualdade de Homens e Mulheres, CENTRO NACIOANAL DE FORMAÇÃO DE

(31)

Procede-se em seguida à análise do conceito de cidadania, estabelecendo-se as diferenças com o de nacionalidade, já que muitas vezes são usados como sinónimos. A importância desta distinção é ajudar a perceber quando é que se está perante uma verdadeira situação de discriminação relativamente ao núcleo duro dos direitos humanos de que qualquer pessoa é sujeito, ou perante um caso de diferenciação legítima entre o estatuto de um/a nacional e o de um/a estrangeiro/a. Algum aprofundamento desta temática é decisivo, quando se pretende abordar o tema da discriminação, designadamente no mercado de trabalho ou na disponibilização de serviços básicos a migrantes indocumentados ou membros das suas famílias.

A sessão deve concluir com exercícios susceptíveis de permitir a avaliação das competências adquiridas pelos/as formandos/as para desempenhos profissionais que tenham em conta a igualdade de género, a não discriminação em função de situações de migração internacional e os direitos humanos em geral.

(32)

6.2

Mobilidade Humana e Comunidades Culturais – 6h (3h + 3h) – Legislação portuguesa relativa a nacionais no estrangeiro

– Legislação portuguesa relativa a pessoas estrangeiras em Portugal

IDEIAS CHAVE

AS MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS SÃO UM REFLEXO DA MOBILIDADE HUMANA

A EMIGRAÇÃO E O REGRESSO AO PRÓPRIO PAÍS SÃO DIREITOS HUMANOS MAS A

SOBERANIA DOS ESTADOS PERMITE-LHES REGULAR A IMIGRAÇÃO E O ESTABELECIMENTO DE ESTRANGEIROS

PORTUGAL É UM PAÍS DE EMIGRAÇÃO, COM COMUNIDADES CULTURAIS NO

ESTRANGEIRO E UM PAÍS DE IMIGRAÇÃO, COM COMUNIDADES CULTURAIS ESTRANGEIRAS NO SEU TERRITÓRIO

Este módulo foi pensado como uma dimensão de especialidade face ao direito internacional, comunitário e constitucional nas matérias conexas com as migrações internacionais abordadas no Módulo anterior, e desenvolvendo algumas áreas da legislação portuguesa no domínio da mobilidade humana: num primeiro momento, a imigração, num segundo momento a emigração.

A estrutura adoptada é também ela estratégica e inovadora, por um lado, porque apresenta o direito como resposta à pessoa que migra, banalizando a sua circunstância de entrada ou de saída, e por outro, porque assume um olhar ‘de igual para igual’ face às comunidades de migrantes no país de acolhimento sublinhando a sua dimensão cultural e pressupondo assim a diversidade, quer se esses migrantes são pessoas estrangeiras em Portugal, quer se são portuguesas no estrangeiro.

Metodologia

Tendo em conta os seus objectivos, os sub-módulos têm uma natureza basicamente expositiva apoiada em projecção de slides (power-point) ainda que ilustrada com a apresentação e análise de casos práticos.

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