• Nenhum resultado encontrado

Para formarmos uma base para nosso estudo sobre a temática da redução da maioridade, faz se necessário descrever a concepção de Adolescente, segundo Mario Volpi (2001), adolescentes são concebidos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção integral.

Um dos assuntos de grande polêmica na atualidade do nosso país, a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, tem como barreiras principais, a questão econômica e sociocultural e a nossa lei maior que é a Constituição Federal Brasileira de 1988, que não traz categoricamente em seu texto a redução da maioridade como sendo uma quebra de uma regra basilar da Constituição vigente, ou seja, clausula pétrea que não pode ser excluída ou modificada por emenda constitucional. Traz assim interpretações divergentes como analisaremos no decorrer deste trabalho acadêmico. O artigo 228 da Constituição Federal traz: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. ” Alguns estudiosos do assunto, juristas, advogados, interpretam este artigo como sendo pertencente ao inciso IV do parágrafo 4º do artigo 60 do texto constitucional que elenca os direitos e garantias individuais. Como justificativa argumentam que os direitos e garantias fundamentais estão distribuído em vários artigos da constituição e que um destes é o artigo 228, pois é direito e garantia do jovem que possua idade de 16 a 18 anos a uma punição mais branda visto que possuem capacidade reduzida para entender a magnitude de seus atos.

Por outro lado, há interpretações de que o artigo 228 da Constituição Federal, quando diz que o menor de 18 anos é inimputável penalmente e deve estar sujeito a uma legislação especial, acaba por retirar do rol de cláusulas pétreas a questão da maioridade penal pois entendem que o artigo se trada de política criminal e não atinge a todos os indivíduos da nossa sociedade.

Como linha de base neste estudo, tem-se que sopesar os contextos sociais, econômicos e culturais que influenciam a nação brasileira, tais contextos, são claros quando analisamos historicamente o quanto nações sul-americanas foram exploradas por outros países, partindo daí o início da política de exploração das classes, dos acordões feitos as margens das regras que existiam naquela época. Assim diz a socióloga Vera Malaguti Batista no livro - A juventude e a questão criminal no Brasil:

Essa história da criminalização da juventude no Ocidente adquire contornos mais dramáticos na nossa margem colonizada.

Nossa República nunca se completou como tal, nunca absorveu plenamente seu povo mestiço. Um dos aspectos dessa incompletude é a incapacidade histórica de construir para nossa infância e adolescência uma escola pública, laica, em tempo integral e com ensino de qualidade, garantindo para todos um protagonismo na construção da nacionalidade. (Batista, 2015, p. 30).

Para além do contexto histórico, do reflexo diretos e indiretos da colonização e exploração histórica que sofreu a nossa nação, mais recentemente na história, vemos através de reprises que há um desinteresse político em resolver os problemas que afetam a maioria da população e claro incluindo nesta conta as crianças e adolescentes que vivem à margem da sociedade pois não recebem o tratamento adequado conforme a própria Constituição Federal garante em seu art. 6º que diz “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” Em contraste com o artigo constitucional citado acima, o que se vê são jovens e crianças vivendo em condições que lhes avivam os mais selvagens dos extintos: o de sobrevivência, pois vivem em favelas, subúrbios, barracos de

madeiras, palafitas, debaixo de pontes e viadutos, sofrendo com as intempéries da vida, dividindo espaço com ratos e baratas. Alinhado a estas condições objetivas em que vivem, há o contexto subjetivo da questão que é a perspectiva da criança e adolescente sobre os valores morais que a sociedade em que vivem lhe ensina na teoria e é claro, o mais importante, na prática. A perspectiva que se passa à criança e ao adolescente no que tange ao seu futuro é a de que é preciso ser esperto para que possa alcançar um futuro prospero, isto é demonstrado a eles através de políticos, empresários, da mídia que além de focar na violência, tem também o foco em instigar as crianças e jovens ao consumismo.

Para José Luiz Quadros de Magalhães, p 33, “Não podemos construir politicas publicas focando a subjetividade do assunto, ou seja, o fato, a violência sendo que objetivamente, a violência emana da desestruturação estatal, dos preconceitos existentes nas sociedades contemporâneas. ” Na mesma toada, ele também defende que o Direito Penal não resolvera o problema da corrupção, sendo este problema localizado na estrutura e nas representação simbólicas de um sistema social, econômico e político que atualmente está inflamado de corrupção, há corrupção no futebol, na fila furada, na propina, nas vantagens indevidas sendo concedidas em vários segmentos da sociedade, e como se não bastasse vê-se políticos, muitas vezes, até sofrendo processos por corrupção ou muitas vezes até já condenados fazendo discursos inflamados sobre moralidade, ética. Há autores que mencionam que em algumas sociedades há uma forma de alienação provocada pelo ente político em conluio com os grandes empresários onde a intenção é de controlar a grande massa populacional não permitindo a estes alcançarem melhorias significativas no que tange a qualidade de vida, melhorias nas condições de trabalho, estudo, saneamento, segurança (neste requisito, trata-se de investimento na prevenção ao crime e não na repressão).

Segundo Rodrigo Vergara, em uma publicação na revista Superinteressante, relata que pesquisas realizadas em alguns países, observaram um índice elevado de delinquência infanto-juvenil, entre as crianças que se sentiram traídas, sem assistência, sem perspectiva de futuro, e claro que esta probabilidade será maior entre as famílias de classe média-baixa e pobres. Ele também menciona que segundo uma das principais correntes da criminologia, há três mecanismos que

mantêm o comportamento dos indivíduos sob controle, é a teoria dos controles. A começar pelo mecanismo do autocontrole, que é a família e a sociedade incentivando a criança e adolescente a aprender a ter autocontrole sobre seus atos quando estes demonstram comportamento agressivo e possessivo. Nesta linha de raciocínio é elementar que a sociedade e a família se comprometa com o papel de estimulador desta conduta de autocontrole. O que vemos no Brasil, é uma política formal e informal, ou seja, entre amigos e familiares e porque não dizer na comunidade, que passa uma visão às suas crianças e jovens de que é bacana ser “esperto” e “levar vantagem” ou se o comportamento ideal é ser “trabalhador” e “honesto”.

Outro contexto que se faz necessário verificar é a maioridade penal em outros países para poder ter um parâmetro do que é ideal ou um modelo a ser seguido, conforme dados divulgado pela pagina /www.pragmatismopolitico.com.br, em 2015, no rank dos 9 paises menos violentos do mundo, alguns possuem em suas Constituições, a maioridade penal apartir dos 18 anos e outros possuem definição da maioridade penal em suas leis com idades acima dos 18 anos.