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Breve comparação entre a atuação do advogado e o membro do Ministério Público com foco no artigo 6º do Estatuto da OAB (Lei 8.906/94).

NO CENÁRIO JURÍDICO BRASILEIRO

3. Breve comparação entre a atuação do advogado e o membro do Ministério Público com foco no artigo 6º do Estatuto da OAB (Lei 8.906/94).

Expostas as regras da atuação preliminar do advogado em sua busca pela Justiça, há de se observar que há uma forma de atuação preliminar que fora possibilitada ao Ministério Público antes mesmo que ao Advogado, onde aquele órgão elabora um Procedimento Investigatório Criminal, também chamado de PIC. Foi com a Resolução 181 de 07 de agosto de 2017 que o Conselho Federal do Ministério Público estipulou a existência desta ferramenta ministerial.

Com tal mecanismo o Ministério Público instaura e tramita uma investigação preliminar, embasado, segundo a própria resolução, no artigo 127, da Constituição Federal da República e também no artigo 26 da Lei Orgânica do Ministério Público (Lei 8.625/1993), visando buscar a Justiça e a ordem, como bem lhe é atribuído. Vejamos que a Constituição Federal traz que instituição ministerial é “instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (Artigo 127 da CF/88).

Além disso, vejamos o que nos traz o referido artigo 26 da Lei Orgânica do Ministério Público:

Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá:

I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los:

a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;

b) requisitar informações, exames periciais e documentos de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autoridades, órgãos e entidades a que se refere a alínea anterior;

Portanto, com base nestas apreciações legislativas acerca do Ministério Público, faz-se necessário apreciar o que trouxe a Resolução 181/2017. Deste modo, logo ao se iniciar uma leitura sobre tal resolução, ainda em seu preâmbulo, há de se mencionar que o Conselho Nacional do Ministério Público se preocupou em garantir uma atuação de seus agentes com a produção de PIC’s em prol da celeridade, fazendo com que haja uma evolução no sistema investigatório, agilizando investigações por haver mais material humano trabalhando em seu favor, além de buscar reduzir o atraso na busca pela Justiça às pessoas.

Logo no primeiro artigo, há um ponto extremamente importante que, assim como abordado na investigação defensiva, faz com que o procedimento apure “a ocorrência de infrações penais de iniciativa pública, servindo de preparação e embasamento para o juízo...”. Assim, com o PIC o magistrado terá mais elementos para formar sua convicção, fazendo com que haja mais aspectos a serem observados. Bem menciona, ainda, o parágrafo primeiro deste artigo, que o procedimento investigatório do Ministério Público não é condição de procedibilidade ou pressuposto do processo.

O artigo 2º menciona que o Ministério Público poderá tomar várias medidas assim que tiver em mãos quaisquer peças de informação. Dentre estas medidas, observa-se a possibilidade, então, da instauração de um procedimento investigatório criminal. Vejamos:

Art. 2º Em poder de quaisquer peças de informação, o membro do Ministério Público poderá:

I – promover a ação penal cabível;

II – instaurar procedimento investigatório criminal;

III – encaminhar as peças para o Juizado Especial Criminal, caso a infração seja de menor potencial ofensivo;

IV – promover fundamentadamente o respectivo arquivamento; V – requisitar a instauração de inquérito policial, indicando, sempre que possível, as diligências necessárias à elucidação dos fatos, sem prejuízo daquelas que vierem a ser realizadas por iniciativa da autoridade policial competente.

Outrossim, há a possibilidade de o membro do Parquet requisitar a instauração de inquérito policial. Todavia, o artigo 3º da resolução em epígrafe garante ao promotor/procurador a instauração de ofício, fato que como bem menciona Maria Helena Diniz, em seu Dicionário Jurídico Universitário, “(...) ato levado a efeito, pelo juiz ou por uma autoridade administrativa, por dever, em razão de cargo ou função, independentemente de requerimento ou pedido do interessado.” (DINIZ, 2013, p.198). Desta forma observemos o que intelige o referido artigo:

Art. 3.º O procedimento investigatório criminal poderá ser instaurado de ofício, por membro do Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao tomar conhecimento de infração penal de iniciativa pública, por qualquer meio, ainda que informal, ou mediante provocação.

O membro ministerial, portanto, ao receber uma informação acerca de infração de iniciativa pública, por dever de ofício, possui o direito, segundo seu Conselho Nacional, de instaurar um procedimento investigatório, atuando, assim, na busca pela garantia da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, constitucionalmente imposto como função do Ministério Público.

O artigo 7º menciona algumas garantias de atuações por parte do representante do Ministério Público na elaboração do PIC, com bastantes similaridades com a atuação da polícia investigativa, bem como as possibilidades garantidas ao advogado no tocante à investigação defensiva. Vejamos:

Art. 7º O membro do Ministério Público, observadas as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e sem prejuízo de outras providências inerentes a sua atribuição funcional, poderá: (Redação dada pela Resolução n° 183, de 24 de janeiro de 2018)

I – fazer ou determinar vistorias, inspeções e quaisquer outras diligências, inclusive em organizações militares;

II – requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades, órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

III – requisitar informações e documentos de entidades privadas, inclusive de natureza cadastral;

IV – notificar testemunhas e vítimas e requisitar sua condução coercitiva, nos casos de ausência injustificada, ressalvadas as prerrogativas legais;

V – acompanhar buscas e apreensões deferidas pela autoridade judiciária;

VI – acompanhar cumprimento de mandados de prisão preventiva ou temporária deferidas pela autoridade judiciária; VII – expedir notificações e intimações necessárias;

VIII – realizar oitivas para colheita de informações e esclarecimentos; IX – ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caráter público ou relativo a serviço de relevância pública;

X – requisitar auxílio de força policial.

Além do mais, seu parágrafo primeiro menciona que: “Nenhuma autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de função pública poderá opor ao Ministério Público, sob qualquer pretexto, a exceção de sigilo (...)”.

Há, segundo o artigo 9º, a garantia de acompanhamento por parte do defensor do acusado e, segundo o artigo 18 a possibilidade de um Acordo de Não Persecução Penal quando cumpridos os requisitos. No que pese a indiscutível relevância deste último tema, por se tratar de matéria diversa da abordada no presente, faz-se necessário momento oportuno para sua abrangência.

Ao término do procedimento, uma vez convencido da inexistência de fundamento para propor ação penal, de acordo com o artigo 19, caput e parágrafo primeiro, o membro do Parquet promoverá o arquivamento, devendo apresentar a promoção ao juízo competente, podendo, no entanto, reabrir as investigações no caso de surgimento de nova provas (artigo 20).

Ao nos aproximarmos do fim da resolução, faz-se necessário observar que o Conselho Nacional do Ministério Público deixou claro que durante a constância de um PIC serão respeitados os direitos e garantias constitucionalmente regrados, respeitando as demais regras processuais (artigo 21).

Ante o exposto, verifica-se que fora dado ao Ministério Público uma possibilidade de atuação no âmbito investigatório, fazendo com que este busque alterar os elementos de convicção do magistrado, bem como buscar maior esfera de provas para fundamentar suas proposituras de ações.

Com relação à atuação do advogado na investigação defensiva, há de se ressaltar que ambos atuam em prol do Poder Judiciário Brasileiro, buscando, acima de tudo, a Justiça e observar direitos fundamentais da população. Além disso, é com extrema relevância que se deve mencionar o artigo 6º do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, uma vez que este dispositivo, de forma bastante oportuna, determina o seguinte: “Não há hierarquia nem subordinação entre advogados, magistrados e membros do Ministério Público, devendo todos tratar-se com consideração e respeito recíprocos.”.

Vejamos: o Conselho Nacional do Ministério Público garantiu a seus membros a possibilidade de angariar provas por meio de um procedimento investigatório extrajudicial. Com este procedimento, somado às forças policiais, o órgão terá maior gama de fundamentação para amparar a propositura de suas ações e, com isso, maiores chances de alterar o convencimento magistral acerca da materialidade e autoria do delito.

Portanto, convém, neste momento, demonstrar a atual necessidade do Provimento 188 do Conselho Federal da OAB, vindo a calhar neste momento oportuno. Como visto no capítulo anterior, o advogado poderá atuar de modo a produzir seu próprio conjunto de provas, visando os interesses de seu cliente, bem como a concretização da Justiça.

É com o Inquérito Defensivo que o advogado estará em paridade de armas contra um órgão acusatório que também possui novo armamento. Deste modo, com uma disputa párea, ambos os lados buscarão garantir a prosperidade de seus apontamentos, de garantir a vitória na disputa processual e, sendo o que a sociedade espera, garantir a tão esperada JUSTIÇA.

REFERÊNCIAS

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XV ERIC – (ISSN 2526-4230)