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6 COMPREENDENDO AS CONCEPÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM

6.1 À GUISA DE CONTEXTUALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS

A UFPE é uma instituição de ensino superior pública federal brasileira, mantida pelo Governo Federal e situada no estado de Pernambuco. Atualmente, a universidade possui 105 cursos de graduação distribuídos nos seus três campi. Dentre esses, 26 cursos de graduação são destinados a licenciaturas em Ciências biológicas, Ciências Sociais, Educação Física, Filosofia, Física, Letras, Matemática, Música, Química, Artes Visuais, Dança, Expressão Gráfica, Espanhol, Francês, Inglês, Libras, e Teatro.

A principal referência temporal de criação da Universidade Federal de Pernambuco é o 11 de agosto de 1946, data de fundação da Universidade do Recife (UR). Criada por meio do Decreto-Lei da Presidência da República nº 9.388, a UR reunia um conjunto de escolas de nível superior existentes em Pernambuco: Faculdade de Direito do Recife (1827); Escola de Engenharia de Pernambuco (1895); Escola de Farmácia (1903); Escola de Odontologia (1913); Faculdade de Medicina do Recife (1915); Escola de Belas Artes de Pernambuco (1932); Faculdade de Filosofia do Recife (1940).

O principal articulador da nova instituição (e seu primeiro reitor) foi o professor Joaquim Amazonas, que foi além da ideia de um centro acadêmico e, de forma precursora, conclamou seus professores, gestores, técnicos e estudantes para participarem do projeto de uma verdadeira Cidade Universitária, acarretando, em 1948, no início da construção do Campus do Recife em um terreno do bairro do Engenho do Meio. Em 1967, a UR foi integrada ao grupo de instituições federais do novo sistema de educação do País, recebendo a denominação de Universidade Federal de Pernambuco, autarquia vinculada ao Ministério da Educação.

Inicialmente, a UFPE teve as suas atividades centradas no Campus do Recife, estendendo essa condição até a primeira década do século atual. Com a política de expansão universitária estimulada pelo MEC e o apoio financeiro do Governo Federal, em 2006, foram inaugurados dois novos campis nos municípios de Vitória de Santo Antão e de Caruaru. Essa iniciativa ampliou o campo de atuação da UFPE e permitiu a interiorização das suas atividades no estado de Pernambuco. Além disso, de modo geral, foram criados novos cursos no âmbito da UFPE e ampliadas o número de vagas em seus cursos tradicionais.

No período de 2005 a 2016, mais de 30 cursos foram implantados no âmbito da UFPE, entre eles Cinema, Arqueologia, Museologia, Dança, Sistemas de Informação, Engenharia de Materiais, Engenharia de Energia e Engenharia Naval. Nesse mesmo período, mais de 2.500 vagas foram criadas em cursos de graduação. O aumento dos números de vagas e de cursos, bem como o movimento de interiorização no campo institucional da UFPE, decorrem, principalmente, de dois programas do MEC: o de Restruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) e o de interiorização do Ensino Superior.

Esse momento também marcou o investimento da instituição, por meio da CAPES/MEC, em iniciativas e programas de apoio aos discentes dos cursos de graduação e pós-graduação. Nesse contexto, o PIBID desponta justificado por sua importância na concessão de bolsas e, sobretudo, pelo propósito de criar enlaces entre a universidade e escolas públicas, tendo em vista o incentivo e a qualificação de professores para a educação básica.

A UFPE aderiu ao PIBID desde a sua edição do ano de 2007 e passou a fomentar atividades didático-pedagógicas pelo Programa a partir de 2009. De modo a corroborar as suas diretrizes centrais, o PIBID foi institucionalizado na UFPE através dos seguintes objetivos: a qualificação progressiva da formação inicial; a inovação educacional e a

integração interinstitucional entre a UFPE e a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco (SEE-PE), atuando nas escolas com baixo IDEB. Nessa conjuntura de institucionalização:

A UFPE entendeu que o PIBID possibilitava corrigir a falta de integração entre a formação pedagógica e a formação específica, ao permitir que se consertasse a fragmentação do conhecimento, a qual deriva em perda para a formação pedagógica; além de estabelecer a característica dimensão reflexiva que lhe é própria. Assim, desde o primeiro edital, de forma inédita no país, ainda no reitorado do Prof. Amaro Henrique Pessoa Lins e em consonância com a PROACAD, a UFPE institucionalizou o PIBID, provendo recursos financeiros do Reuni para o programa de bolsas e o custeio dos subprojetos que não foram priorizados pela CAPES, naquela ocasião (FREIRE, et al., 2016, p. 8)

O PIBID foi iniciado na instituição contemplando cinco licenciaturas: Biologia, Ciências, Física, Matemática e Química. Intencionando o engendramento das atividades no escopo do Programa, formou-se um grupo articulado pelos seguintes profissionais: o Magnífico Reitor Prof. Dr. Amaro Henrique Pessoa Lins, a Pró-Reitora Acadêmica Profa. Dra. Ana Maria Santos Cabral, o Coordenador Geral Prof. Dr. José Luis Simões (também atuava como Coordenador Geral das Licenciaturas) e a Vice-Coordenadora , que também era a coordenadora do Subprojeto PIBID/Biologia, Profa. Dra. Isaíras Pereira Padovan.

No âmbito dos subprojetos pertinentes as áreas específicas, foram admitidos inicialmente cinco coordenadores, quinze supervisores e respectivos bolsistas. Nesse contexto, o primeiro subprojeto para a área de biologia foi implementado no Campus Recife, contando com a adesão de uma professora coordenadora, três professores supervisores e onze alunos da licenciatura em Ciências Biológicas, atuando em três escolas da educação básica, situadas no município do Recife.

Esses grupos foram responsáveis pelo início das atividades administrativas, didáticas e pedagógicas nos primeiros anos de implemento do PIBID na UFPE. À medida que se fez necessário o lançamento de novas edições, o grupo de forma geral passou por processos de modificação e de ampliação em termos quantitativos, expandindo-se no campo institucional da UFPE.

No ano de 2012, com o Magnífico Reitor Anísio Brasileiro de Freitas Dourado já empossado do cargo, ocorreu o movimento significativo de ampliação do PIBID/UFPE,

reverberando a estruturação e a consolidação do processo de interiorização das atividades do Programa no âmbito institucional da universidade:

O plano de trabalho desenhado primou pela qualificação, inovação e integração das 19 licenciaturas que compunham o projeto. Considerou,

portanto, o sentido da transversalidade, interdisciplinaridade e

contextualização do projeto institucional primário, em convergência com os eixos apontados pelo CNE. Desta feita, contribuiu para balizar os desníveis educacionais regionais; incrementando a qualificação das Políticas Públicas para Formação de professores (FREIRE, et al., 2016, p. 9)

Nessa mesma circunstância, o movimento de interiorização das atividades do Programa na UFPE viabilizou condições financeiras e estruturais para a criação de mais um subprojeto para a área de Biologia, sendo esse implementado no Campus de Vitória de Santo Antão e inicialmente composto por um professor coordenador, um professor supervisor e cinco licenciandos atuando em uma escola da educação básica.

Com a edificação do segundo subprojeto, ampliou-se a produção e o fomento de atividades didático-pedagógicas pertinentes ao campo disciplinar da biologia no contexto do PIBID/UFPE. Esse processo de ampliação continuou até o ano de 2014, em decorrência do investimento geral da CAPES no quantitativo de pessoas conveniadas ao PIBID da instituição. Para a área de biologia, os investimentos não suscitaram a criação de novos subprojetos, antes sim, foram concentrados nos dois subprojetos então existentes.

No quadro que segue, tecemos a relação dos anos de início do fomento e de atualizações de cada edição de ambos os subprojetos da área de biologia com os seus respectivos quantitativos de vagas para licenciandos, professores coordenadores, professores supervisores e escolas públicas, a propósito de oportunizar ao leitor uma visão ampla e potencialmente comparativa das transformações numéricas ocorridas. Convém dizer que os quantitativos destacados abaixo correspondem ao número de vagas disponibilizadas e ocupadas durante a vigência de cada edição dos subprojetos e não ao número total de pessoas que fizeram parte dos grupos, isto porque ocorreram fluxos de entrada e saída de licenciandos e de coordenares a partir das demandas e necessidades específicas de cada momento.

Subprojeto Vitória

Ano Escola Professor formador Licenciando Professor supervisor

2012 1 1 5 1

2014 5 2 30 5

Subprojeto Recife

Ano Escola Professor

formador Licenciando Professor supervisor 2009 3 1 11 3 2012 3 1 15 3 2013 5 1 25 5 2014 5 2 25 5 2016 6 2 41 6

Quadro 15 - Relação dos quantitativos de vagas de professores preenchidas por ano de fomento e de

atualização dos Subprojetos PIBID/Biologia da UFPE.

A partir desse arranjo, foi possível a realização das atividades didático-pedagógicas na universidade e nas escolas conveniadas aos subprojetos. O investimento gradativo no aumento do número de pessoas possibilitou que as práticas fossem expandidas para um número maior de escolas públicas do estado, alcançando, até o presente momento, o quantitativo de 11 instituições nas quais turmas do Enisno Médio são assistidas.

As atividades didático-pedagógicas dos dois subprojetos são atualmente coordenadas por uma dupla de professores formadores para cada grupo, fato que se afigura enquanto uma das mudanças decorrentes do aumento das demandas. Os professores formadores que coordenam os grupos pertencentes aos subprojetos são todos docentes da UFPE, com vínculo efetivo, atuando principalmente em disciplinas dos cursos de licenciatura e bacharelado em biologia e em pesquisas no campo do ensino das ciências e/ou no contexto específico de subáreas da biologia.

Até o ano de 2014, os licenciandos e os supervisores que atuavam nesses contextos eram coordenados por um professor formador para cada equipe. Devido à expansão das atividades e ao consequente aumento do quantitativo de alunos de licenciatura e de professores supervisores, fez-se necessário à incorporação de mais um coordenador para cada subprojeto.

Concernente à forma de organização das equipes, os acompanhamentos das atividades nas escolas e as reuniões de orientação por parte dos dois professores coordenadores do

Subprojeto Recife ocorrem de forma separada, ficando cada um responsável por coordenar um grupo composto por licenciandos e supervisores que se distribuem em três subgrupos para atuarem em três escolas públicas do município de Recife. Essa divisão de grupos decorre de uma decisão interna deliberada pelos dois coordenadores. Nos primeiros meses de coordenação da dupla, as atividades de orientação eram realizadas de forma conjunta através de um único grupo que, mais tarde, foi dividido em duas equipes formadas por um quantitativo menor de licenciandos e supervisores.

Já as atividades da dupla de professores coordenadores do Subprojeto do Campus Vitória, como reuniões de orientação e discussões de temas do ensino e da disciplina de biologia, são realizadas conjuntamente mediante a reunião de apenas um grupo, que se subdivide em grupos menores para a realização de atividades práticas em escolas públicas dos municípios de Vitória e de Gravatá.

No que tange a produção e utilização de materiais didáticos nos âmbitos desses subprojetos, há nuanças significativas a se destacarem. No ano de 2016, a consolidação de dois grupos nos domínios do Subprojeto do Campus Recife trouxe implicações diretas para o contexto de produção e de utilização dos seus materiais didáticos, isto porque, ao ser formado esse novo cenário, cada grupo encarregou-se de suas próprias produções a partir das propostas internas e das demandas existentes nas escolas assistidas.

Com isso, as confecções de materiais didáticos que, antes, por vezes, eram realizadas de maneira unificada, reverberando em formas padronizadas de construção e uso de recursos (como os livros e o guias de aulas práticas confeccionados e utilizados de forma obrigatória por professores de todas as escolas conveniadas), passaram a ser efetuadas por dois grupos que atuam de forma independente pelo subprojeto. Por essa condição, na situação atual, não há mais a pretensão de produção e uso de materiais didáticos em sentido amplo. Essa responsabilidade agora é atribuúda invariavelmente aos subgrupos ligados as escolas, que atuam de forma independente na confecção de planos, roteiros, slides e outros materiais utilizados como recurso para a realização das práticas.

No âmbito do Subprojeto do Campus de Vitória, não obstante aconteça semanalmente reuniões conjuntas de todo grupo, os materiais didáticos (slides, planos, roteiros de aula etc.) são elaborados pelos subgrupos formados para assistir as escolas conveniadas e a partir das próprias demandas oriundas desses contextos. Esse movimento é recorrente desde a fundação

do Subprojeto e expandiu-se a partir do aumento do quantitativo de licenciandos e de escolas públicas conveniadas.

Nesses contextos, foram produzidos e utilizados os materiais didáticos selecionados para constituir o nosso corpus empírico, formado pela reunião de 16 propostas e 4 planos de atividades práticas e de 3 conjuntos de slides de aulas teóricas. Com essa formação, empreendemos a identificação e a caracterização das orientações metodológicas, das formas de apresentação dos conhecimentos e dos tipos de avaliações propostos, intencionando compreender as concepções sobre o que é ensinar e o que é aprender que permeiam as proposições dos materiais didáticos.

Dito isso, doravante, inciaremos o nosso decurso analítico subsidiados pela formação temática que possibilitou a representação simplificada do corpus empírico da pesquisa:

EIXOS TEMÁTICOS ÍNDICES

PROPOSTA DE ATIVIDADE Agrupam-se os tipos de propostas de atividades

identificadas e seus elementos metodológicos

ABORDAGEM DO CONHECIMENTO Reúnem-se elementos didático-pedagógicos

utilizados nas abordagens dos temas de estudo que realçam as formas como o conhecimento

científico foi concebido

MODO DE AVALIAÇÃO Agrupam-se elementos utilizados a propósito de

avaliar o rendimento dos participantes nas propostas de atividades. Estes elementos são reveladores das formas avaliativas e dos seus objetivos, mediante o contexto das propostas de

atividade

Quadro 16 - Eixos temáticos associados aos seus referentes índices

A partir dos temas reunidos nos eixos ora apresentados, empreendemos movimentos de correlação entre os elementos temáticos, os objetivos da pesquisa e interpretações e inferências embasadas à luz dos nossos referenciais teóricos. Através desse processo, desvelamos a concepção de ensino-aprendizagem que estava latente nas proposições dos materiais didáticos e tecemos considerações acerca do seu lugar no processo de inovação da experiência de ensino.

Ademais disso, por uma questão de ética de pesquisa, não iremos associar os nossos apontamentos acerca dos materiais analisados à identidade de professores e/ou dos subprojetos de onde são oriundos. A propósito de preservar os professores e os seus trabalhos didático, pedagógico e formativo nos domínios do PIBID/Biologia da UFPE, iremos aqui

denominar os dois contextos de produção e de utilização dos materiais analisados de “Subprojeto I” e “Subprojeto II”. Essa escolha não irá prejudicar o nosso decurso analítico, isto porque tivemos por foco compreender a concepção de ensino-aprendizagem que permeia os materiais didáticos. Nesse caminho, não se faz necessário à exposição de nomes de pessoas e/ou de grupos.