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GORDURA BOVINA VIA ROTA METÍLICA

3.2 Principais Álcoois Utilizados no Processo de Produção do Biodiesel

3.2.2 Álcool Etílico (Etanol)

O etanol produzido no Brasil possui principalmente como matéria-prima a cana- de-açúcar. Atualmente já existem empresas iniciando a produção de etanol a partir do milho e de sorgo sacarino, apesar de pequena escala ainda.

Na safra 2012/2013 foram produzidos cerca de 590 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, ocupando uma área plantada de aproximadamente 9 milhões de

hectares, sendo o terceiro cultivo mais importante no país, em superfície ocupada, depois da soja e do milho (MAPA, 2014c; UNICA, 2011; ). De acordo com o MAPA (2014c) a estimativa para a safra de 2013/14 é que sejam produzidas cerca de 657 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

A produção brasileira é direcionada para a produção de açúcar e de álcool em proporção aproximada de 50% para cada produto final, de forma que se pode estimar que aproximadamente 4,5 milhões de hectares são usados para a produção de etanol.

Há tradicionalmente dois períodos distintos de colheita, variando de acordo com o regime de chuvas (para otimização de operações de corte e transporte, bem como melhor ponto de maturação da cana); na região Norte-Nordeste a safra vai de setembro a março e na região Centro-Sul, de maio a novembro (BNDES e CGEE, 2008 apud GRISOLI 2011).

A região Centro-Sul concentra a maior parcela da produção nacional de cana- de-açúcar, e, consequentemente, as maiores unidades produtoras de etanol do país. Apesar de ter recuperado um pouco a produção de etanol, a região Norte- Nordeste tem priorizado a produção de açúcar devido à existência de cotas preferenciais para o mercado americano e pela maior proximidade dos mercados importadores (NOVA CANA, 2013). A Figura 3.17 apresenta as áreas onde se concentram as plantações e usinas produtoras de açúcar e álcool e a Tabela 3.13 apresenta o número de plantas e a capacidade de produção de etanol autorizada por Estado.

Figura 3.17. Concentração das plantações e usinas de açúcar e álcool. Fonte: UNICA, 2014.

Tabela 3.13. Número de plantas e a capacidade de produção de etanol autorizada por Estado13. UF Etanol Anidro (m3/d) Etanol Hidratado (m3/d) Número de Plantas AC 0 140 1 AM 0 100 1 PA 260 340 1 RO 300 300 1 TO 750 1500 1 PR 5613 12630 30 RS 0 61 2 AL 4598 6265 21 BA 1132 1714 6 CE 0 233 1 MA 1360 1550 4 PB 1400 2720 7 PE 2490 3470 15 PI 240 264 1 RN 480 893 3 SE 690 1445 6 GO 10000 28155 36 MS 6800 17554 23 MT 5456 7228 9 ES 1570 2217 6 MG 11481 18378 39 RJ 0 1080 4 SP 50201 96954 165 TOTAL 104821 205191 383 Fonte: ANP, 2014.

Quanto ao perfil de produção, as usinas brasileiras podem ser classificadas em três tipos de instalações: as usinas açucareiras, que produzem exclusivamente açúcar, as usinas de açúcar com destilarias anexas (usinas mistas), que produzem açúcar e etanol e as instalações que só produzem etanol, chamadas destilarias autônomas. A grande maioria das instalações é formada por usinas de açúcar com destilarias anexas (GRISOLI, 2011 apud BNDES e CGEE, 2008).

O álcool produzido pelo setor sucroalcooleiro do Brasil pode ser classificado em 3 categorias: o álcool etílico anidro carburante, sendo o etanol anidro composto por um teor alcoólico mínimo de 99,3° INPM 14 e utilizado como aditivo aos

combustíveis, enquanto que o etanol hidratado (com teor alcoólico mínimo de 92,6° INPM) é utilizado diretamente nos carros movidos a álcool ou flex fuel, e o álcool

13 Esta tabela inclui as plantas com ratificação de titularidade e as autorizadas para operação. 14 Quantidade em gramas de álcool absoluto contida em 100 gramas de mistura hidro-alcoólica. Um

neutro (em menor quantidade) que é utilizado na fabricação de bebidas, cosméticos, produtos químicos e farmacêuticos (PIACENTE, 2006).

O uso de etanol em veículos leves pode ocorrer tanto na forma pura (etanol hidratado - 96% em volume), quanto em mistura com a gasolina (no Brasil, de 20 a 25% de etanol anidro - 99,5% em volume); pode ainda ser usado em misturas de qualquer porcentagem com a gasolina, em carros bicombustíveis ou flex fuel (ANFAVEA, 2010 apud GRISOLI, 2011).

No Brasil, além do açúcar e do melaço, um subproduto da produção do açúcar, o caldo da cana é utilizado também na produção de álcool. De acordo com Paoliello (2006), a produção de etanol, quando realizada em destilarias autônomas segue as seguintes etapas: extração do caldo; tratamento do caldo; fermentação; destilação/retificação/desidratação.

Maiores detalhes sobre a produção de etanol serão apresentados no Anexo F, referente ao estudo de ACV descrito no Capítulo 5.

Atualmente, os usineiros e produtores de cana-de-açúcar estão enfrentando uma das piores crises do setor. Os motivos apontados para esta crise são a estiagem do verão e problemas financeiros enfrentados pelo setor, pois o preço da cana e, consequentemente dos seus subprodutos, não acompanharam o aumento dos custos de produção (NOVA CANA, 2014; FOLHA DE SÃO PAULO, 2014).

O Brasil possui 389 usinas de produção de açúcar e álcool e só neste ano (2014) 12 usinas não irão operar. Estima-se que desde 2008, 44 usinas já deixaram de operar (NOVA CANA, 2014).

A Figura 3.18 apresenta a série histórica da produção de cana-de-açúcar e a Figura 3.19 apresenta a série histórica da produção de etanol desde

Figura 3.18. Série histórica da produção de cana-de-açúcar (103 t) entre 2000/2001 e 2012/2013.

Fonte: Adaptado de UNICA, 2013.

Figura 3.19. Série histórica da produção de etanol anidro e hidratado (1000 m3) entre 2004/2005 e 2012/2013.

Fonte: Adaptado de UNICA, 2013.

Diante das Figuras apresentadas, pode-se observar que desde a safra 2010/2011 houve um declínio na produção de cana-de-açúcar e, consequentemente, na produção de etanol. Já a exportação de etanol começou a declinar após ter atingido um pico em 2008/2009, voltou a subir em 2012 e declinou novamente em 2013. A Figura 3.20 apresenta as exportações de etanol entre janeiro de 2000 e abril de 2014, onde se pode verificar a enorme variação nas

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000

Região Centro-Sul

Região Norte-Nordeste

Brasil

0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 Anidro Hidratado

quantidades exportadas, o que é um sinal claro das dificuldades e incertezas existentes no setor.

Figura 3.20. Exportação de etanol entre jan/2000 e abril/2014. Fonte: Adaptado de UNICA, 2014.

Na verdade, a situação atual do setor sucroalcooleiro e das exportações de etanol é altamente dependente das políticas do governo devido ao controle indireto de preços dos derivados nos postos de combustíveis. A Petrobras, nas suas distribuidoras, não tem autorização para aumentar os preços da gasolina (para um controle aparente da inflação) e, como o preço do álcool deve ser no máximo 70% do preço da gasolina, ocorre que os preços do álcool ficam indiretamente controlados. Esta falta de atratividade econômica faz com que o setor reduza a oferta de álcool hidratado no Brasil, preferindo exportar (quando há excedentes).

Há também a questão do ICMS nos estados; na maioria dos estados brasileiros o ICMS para o etanol hidratado é igual ou até maior do que o ICMS da gasolina, o que também não contribui para incentivar o seu uso.

No caso do etanol anidro a situação é diferente, pois o mesmo é adicionado à gasolina e tem, portanto um mercado cativo. Entretanto quando não há oferta suficiente, há necessidade de se reduzir a % de mistura de álcool anidro na gasolina como ocorreu até recentemente. Até o início de 2013 a mistura era de 20% de álcool anidro, o que obrigava a Petrobras a importar mais gasolina (além do aumento no consumo da gasolina pela não competitividade do álcool hidratado, há o aumento no consumo pela menor porcentagem de álcool adicionado).

Assim, com o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina para 25% no primeiro semestre de 2014, as importações de gasolina caíram 45% em relação ao mesmo período de 2013. Até junho, o país importou cerca de 975 mil toneladas de gasolina, enquanto no mesmo período em 2013 foram 1,78 milhões de toneladas (REUTERS, 2014).

Assim, um dos fatores que contribuem com a queda acentuada nas importações da gasolina é este maior uso do etanol, devido ao aumento da mistura do biocombustível na gasolina, que passou de 20 para 25% a partir de maio de 2013 (REUTERS, 2014). Infelizmente o outro fator seria o consumo de etanol hidratado nos automóveis flex, o que nem sempre é viável economicamente pelos motivos analisados acima.

Em resumo, esta situação instável prejudica a oferta de etanol, inclusive, para a produção de biodiesel. Este é um dos motivos do etanol ainda ser mais caro que o metanol.

Uma análise mais detalhada desta situação foge ao escopo deste trabalho mas estas considerações permitem a compreensão da situação atual conjuntural do setor sucroalcooleiro, o que também não colabora para a viabilidade da sua utilização para a produção de biodiesel.