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MÁSSICA ENERGÉTICA ECONÔMICA

6. BARREIRAS E PROPOSTAS DE POLÍTICAS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL SUSTENTÁVEL NO PAÍS

6.3 Barreiras Ambientais

Com relação aos aspectos ambientais, a maior justificativa para o uso de biocombustíveis (e do biodiesel em particular) é em relação à redução dos gases de efeito estufa. De acordo com estudos realizados por Sheehan (1998) e Rathmann et. al. (2012), para a utilização do B100 (biodiesel metílico de soja), o percentual de redução de GEE chega a 78,5% em relação ao diesel, para o B20 a redução é de 15,6% e para o B5 o nível de redução é de aproximadamente 3,9%.

Para Mendonça (2007), 40% (B40) é a percentagem de biodiesel em que a entrada e saída de carbono são equilibradas, estabelecendo-se assim a mistura que permite a absorção igual a liberação de CO2 equivalente para o meio ambiente

(RATHMANN et. al., 2012).

Para o transporte urbano, a utilização do biodiesel torna melhor a qualidade do ar das grandes metrópoles, devido à ausência de enxofre na sua composição34, e também à redução de materiais particulados. A tendência de maiores emissões de

33 Este programa do governo federal foi criado pela lei 10836 de 9/1/2004 -

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htm

34 A Resolução ANP Nº 50, DE 23.12.2013 - DOU 24.12.2013, estabelece o teor máximo de enxofre

de dois tipos de diesel:I - Óleo diesel A S10 e B S10: combustíveis com teor de enxofre, máximo, de 10 mg/kg;II - Óleo diesel A S500 e B S500: combustíveis com teor de enxofre, máximo, de 500 mg/kg. Estes valores são na verdade extremamente elevados, quando comparados com valores da Uniao Europeia que limita a 50 ppm

NOx, como em toda combustão de biomassa, é reduzida com o emprego de catalisadores adequados.

O Grupo de Trabalho Interministerial: Biodiesel – GTIB, produziu um relatório em 2003, no qual afirmava que deveria ser priorizada a estratégia de utilização do biodiesel nessas regiões com conglomerados populacionais, pois os motores a diesel são responsáveis por aproximadamente 70% de poluição atmosféricas no país (WEHRMANN, 2006).

Além do uso no transporte, o biodiesel é utilizado em outros setores como geração de energia elétrica em motores estacionários e em navegações, por exemplo, que utilizam óleo de baixa qualidade nas embarcações, diferente de outros mercados que possuem interesse para reduzir emissões.

O potencial do biodiesel em mitigar as mudanças climáticas através da redução de CO2 depende do ciclo de vida dos combustíveis, o que (como foi visto no

BIOACV) não ocorre adequadamente no biodiesel de soja e principalmente no de gordura animal.

Isto significa que são necessários regulamentos para motivar boas práticas agrícolas e industriais, bem como matérias-primas adequadas. Segundo Garcez, (2009), a política da PNPB atualmente não considera suficientemente essas questões, e é necessário que seja modificada de tal forma que os critérios ambientais sejam adicionados ao Selo Combustível Social (GARCEZ, 2009).

De acordo com o Climate Vulnerability Monitor (2012), a agricultura é o setor mais afetado pelas alterações climáticas, enquanto a demanda global por alimentos e produtos agrícolas está crescendo. As alterações climáticas terão um impacto particularmente grave para os agricultores, com possibilidades limitadas de adaptação às mudanças no clima, como por exemplo, com o plantio de diferentes variedades de culturas e implementação de novas técnicas de irrigação.

As mudanças climáticas estão alterando o padrão de precipitação, o que pode tornar-se mais ou menos abundante ou mais irregular. As chuvas podem danificar as plantações e as criações animais, que são menos adequadas para as mudanças do tempo. Quando o clima se afasta das condições ótimas para o crescimento da cultura, pode haver perdas agrícolas, resultando em menor rendimento por hectare (Climate Vulnerability Monitor, 2012).

Uma das poucas vantagens que os pequenos agricultores têm sobre os operadores comerciais de grande porte é a possibilidade de adaptar variedades de

culturas ou experimento mais facilmente com diferentes culturas. Empresas agrícolas que praticam em larga escala o monocultivo podem sofrer grandes perdas se as condições climáticas se deslocarem para a desvantagem das culturas escolhidas (Climate Vulnerability Monitor, 2012).

No Brasil, por exemplo, dias acima de 32 ºC estão crescendo, o que prejudica a agricultura e a pecuária. Diante deste cenário, pode-se destacar a soja, que pode resistir a temperaturas mais elevadas, necessitando de pouca água (precipitações pluviométricas anuais de 700 a 1.200 mm bem distribuídas) quando comparada a outras oleaginosas, como a palma, por exemplo, que necessita de no mínimo 2000 mm/ano, distribuídos durante todos os meses.

Para resultados mais concretos sobre as emissões de GEE, é importante utilizar a ferramenta de análise de ciclo de vida, inserindo dados corretos sobre os sistemas a serem analisados, pois existem muitas divergências quanto ao tipo de matérias-primas utilizadas como sistema de produção, mudança direta e indireta da ocupação do solo, utilização de fertilizantes, pesticidas, entre outras variáveis, que podem alterar a real redução dos GEE, como foi realizado no estudo do BIOACV, revisto e analisado nesta tese em seu Capítulo 5.

Rathmann et. al. (2012), diz que as vantagens da utilização do biodiesel são inúmeras, dentre elas: não possui enxofre, possui boa estabilidade oxidativa, viscosidade e lubrificação, o que torna o biodiesel um substituto ideal para motores a diesel mineral, apesar da variação de algumas das propriedades físicas e químicas entre os dois combustíveis. O biodiesel de soja produzido atualmente, possui um CN cerca de 19% inferior ao do diesel mineral, além de um PCI também abaixo, o que prejudica a combustão completa deste biocombustível. De acordo com Hossain e Davies (2010), o biodiesel obtido a partir de algodão e óleo de palma são os únicos tipos com CN semelhantes ao do diesel mineral (RATHMANN et. al., 2012).

Entretanto, como verificado no BIOACV, o biodiesel de soja e de gordura animal tem significativos impactos ambientais e políticas adequadas para sua substituição (ainda que gradativa) por outras matérias-primas são fundamentais, como discutido a seguir.

6.4 Propostas de Políticas para maior Sustentabilidade na Produção de