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Comparação do Desempenho Ambiental dos Tipos de Biodiesel

GORDURA BOVINA VIA ROTA METÍLICA

5.3 Resultados da Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida (AICV) do Biodiesel

5.3.1 Resultados obtidos no estudo BIOACV para a AIC

5.3.1.5 Comparação do Desempenho Ambiental dos Tipos de Biodiesel

Cada tipo de biodiesel foi analisado isoladamente, com o objetivo de investigar quais eram os subsistemas que mais contribuíram para o resultado do perfil ambiental de cada combustível. Uma vez que estas análises foram realizadas, o próximo passo estabelecido para o desenvolvimento do estudo foi a comparação do desempenho ambiental das alternativas.

Para tanto, foi mantida a mesma base de cálculo já citada anteriormente, qual seja: a Unidade Funcional de 1 MJ de biodiesel28.

Inicialmente, a comparação de todas as categorias de impacto ambiental definidas para este estudo será apresentada simultaneamente. Neste caso, os resultados têm como base a Figura 5.9.

Figura 5.9. Comparação dos indicadores de categoria de impacto para cada tipo de biodiesel. Fonte: CENBIO/IEE/USP, 2013.

Conforme pode ser observado na Figura 5.9, para esta comparação, os resultados dos indicadores de cada categoria de impacto foram normalizados entre

28 Vale recordar que as análises tiveram como fluxo de referência a quantidade de 0,0265 kg de

si. Ou seja, atribuiu-se o valor de 100% ao maior valor dentro de uma mesma categoria, de modo que o resultado das outras três alternativas de biodiesel restantes fosse apresentado proporcionalmente.

Um fato que chama a atenção ao analisarmos a Figura 5.9 é a assimetria existente entre os resultados de uma mesma categoria de impacto, na maioria dos casos. Para 5 dos 6 impactos analisados, nota-se uma diferença expressiva em decorrência da matéria-prima considerada.

A única exceção, porém, é o comportamento dos resultados da categoria Tox. Neste caso, observou-se que a diferença entre o maior e o menor valor do indicador de cada tipo de biodiesel foi de apenas 11%.

Entretanto, apesar de se tratar de uma diferença expressiva visualmente, podia se considerar que o resultado fosse esperado. Isto porque no detalhamento do item 5.3.1, era evidente que as etapas iniciais do ciclo de vida das alternativas de biodiesel (seja o cultivo dos grãos de soja ou a atividade pecuária) tinham um papel preponderante para a determinação dos resultados, ou seja, foi observado que entre as rotas não houve grande diferença em relação a contribuição para as categorias de impacto, no entanto quando se comparou as matérias-primas analisadas foram obtidas diferenças significativas entre elas.

Mais detalhes sobre os resultados de cada categoria de impacto, referentes a cada um dos tipos de biodiesel considerados neste estudo, são discutidos a seguir.

5.3.1.5.1 Mudanças Climáticas (MC)

Apesar dos resultados (do subsistema de cultivo dos grãos de soja) contemplarem as emissões de gases de efeito estufa decorrentes da mudança do uso da terra, o estudo concluiu que as emissões associadas à pecuária são cerca de três vezes maiores do que o cultivo de soja.

Esta observação reforça a necessidade de se melhorar a eficiência da pecuária no Brasil, o que terá efeito direto sobre toda a cadeia de valores em que esta atividade está inserida.

5.3.1.5.2 Toxicidade (Tox)

Conforme citado anteriormente, esta foi a única categoria de impacto para a qual os resultados não apresentaram uma variação muito grande. Entretanto, a composição dos indicadores ocorre de maneira particular, de acordo com o tipo de matéria-prima considerada.

Enquanto nos casos em que há utilização de gordura bovina as principais contribuições sejam devidas à produção e transporte dos insumos, nas situações em que há o uso de grãos de soja, é importante a contribuição decorrente do uso dos defensivos.

5.3.1.5.3 Acidificação (Ac)

Inicialmente, vale a pena lembrar que esta categoria é influenciada, basicamente, pelas emissões de NOx e SOx que ocorrem ao longo do ciclo de vida do produto em questão.

Neste caso, pode-se dizer que as principais atividades que contribuem para o impacto de acidificação são: o transporte de insumos (característico das atividades de cultivo da soja e criação dos bovinos) e a queima de biomassa para a geração de vapor.

Também há a contribuição da produção de etanol. Para este insumo, a prática da queima da palha da cana-de-açúcar é apontada como uma importante fonte de NOx e SOx e, por consequência, grande responsável pelo impacto de acidificação, que começou a ser eliminada por lei estadual em São Paulo em 2002 (COELHO &GUARDABASSI, 2014) e que na safra 2008/2009 ainda representava apenas 50% da cana moída no estado29.

5.3.1.5.4 Eutrofização (Eu)

Com relação aos resultados obtidos para a eutrofização, essa é a única categoria de impacto na qual os valores do óleo de soja foram superiores aos valores do da gordura bovina. Essa contribuição elevada foi obtida por conta do cultivo de soja e se deve ao excesso de fertilizantes não assimilados pelas plantas, e que acabam por ser depositados inicialmente no solo, e posteriormente carreados.

Os subsistemas de extração de óleo e abate bovino também contribuem para esta categoria de impacto devido, principalmente, aos valores estabelecidos para a alocação dos produtos. Ainda assim, no geral essa contribuição se dá por conta do cultivo de biomassa para geração de energia e disposição de rejeitos em aterros.

5.3.1.5.5 Ocupação do Solo (Oc)

A partir do resultado é possível identificar que a ocupação do solo se deve basicamente ao cultivo da soja e a criação de bovinos, podendo ser explicada a diferença significativa entre os valores absolutos dessas matérias-primas, principalmente por conta do sistema de criação bovina ser extensivo, o qual demanda uma grande quantidade de terras.

Em sequência aos resultados, apesar de no mínimo 80% da contribuição dos resultados serem por conta das matérias-primas (cultivo de soja e criação bovina) há também a participação na ocupação de terra da cultura de cana-de-açúcar para a produção de etanol utilizado na rota etílica.

Além disso, na rota metílica é há a contribuição das etapas de extração de óleo e abate bovino nos resultados por conta das matérias-primas para geração de energia, sendo essas essencialmente a partir da biomassa. Este fato torna-se representativo também para a etapa de produção de biodiesel pela rota metílica, uma vez que para o processo modelado há o consumo de bagaço de cana-de- açúcar como biomassa na geração de energia, fazendo com que as cargas do cultivo da cana sejam alocadas para essa categoria de impacto.

Para a gordura animal como matéria-prima os valores absolutos são maiores nas etapas de abate e produção de biodiesel, uma vez que essa matéria demanda uma quantidade maior de energia para ser processada.

5.3.1.5.6 Depleção de Combustíveis Fósseis (DCF)

A partir dos resultados obtidos foi possível observar a diferença dos valores absolutos entre as matérias-primas (óleo de soja e gordura), havendo uma significativa contribuição (cerca de 70%) do subsistema de criação bovina, principalmente devido ao transporte dos insumos até a fazenda, com destaque para o calcário.

É possível observar também diferenças quanto às rotas. Apesar de haver o consumo de diesel para as atividades de cultivo e colheita de cana-de-açúcar na produção de cana, o metanol é produzido a partir do gás natural na Venezuela (transportado para o Brasil por cerca de 7.000 km).