Todos os sujeitos que fizeram parte da investigação assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C), em que tomaram consciência dos objetivos e procedimentos da pesquisa, tendo a oportunidade de esclarecer dúvidas e dispondo do tempo necessário para decidir de forma autônoma sua participação no estudo. O Termo de Consentimento é definido na resolução nº 510 de 07 de abril de 2016 como a “anuência do participante da pesquisa ou de seu representante legal, livre de simulação, fraude, erro ou intimidação, após esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, sua justificativa, seus objetivos, métodos, potenciais benefícios e riscos” (p.2).
A resolução citada dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais e considera, ainda, que estas ciências têm especificidades nas suas concepções e práticas de pesquisa e que lidam “[...] com atribuições de significado, práticas e representações, sem intervenção direta no corpo humano, com natureza e grau de risco específico” (p.1).
Por caracterizar-se como uma pesquisa de opinião pública este estudo não foi submetido ao sistema CEP/CONEP, uma vez que a resolução nº 510, de 07 de abril de 2016, isenta este tipo de estudo do registro no Comitê de Ética em Pesquisa. Assim sendo, pelo amparo legal que a resolução nº 510 empresta, as coletas de dados foram iniciadas a partir da liberação da Comissão Científica da Escola de Humanidades da PUCRS, sem haver a necessidade da apreciação do Comitê de Ética.
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO
As discussões acerca do vínculo estabelecido por treinadores e atletas têm tido um papel significativo no contexto esportivo, sobretudo por esta relação formar a base do treinamento de alto rendimento. Diversos estudos já abordaram a relação treinador-atleta, no entanto a investigação deste tema sob a ótica da teoria das relações Eu-Tu e Eu-Isso de Martin Buber (2006) ainda não foi explorada. Assim, os pressupostos teóricos da filosofia de Buber, em que o Eu-Tu e o Eu-Isso estarão sempre presentes e oscilarão permanentemente, em interface com as informações obtidas por meio das entrevistas, permitiram a análise do significado desta relação na aprendizagem e proficiência esportiva de alto nível de desempenho de modalidades individuais.
Inicialmente, duas categorias a priori foram estabelecidas antes de ir a campo, organizadas a partir do referencial teórico: Eu-Tu e Eu-Isso. Este processo de categorização é considerado fechado e dedutivo, uma vez que as categorias pré- determinadas são deduzidas, segundo Mores e Galiazzi (2013), das teorias que fundamentam a pesquisa. Ao contrário do que os autores defendem como riscos deste método no sentido de “perda de dados significativos que não têm categorias para enquadrá-los” (p.87), as categorias a priori desta pesquisa permitiram que a ampla gama de dados coletados coincidisse com as mesmas, assim como oportunizaram desdobramentos que possibilitaram a emergência de subcategorias suscitadas pelos elementos originados dos dados analisados. Assim, o processo de análise permitiu novas formas de ver o “corpus” com a criação das subcategorias Espaço de diálogo, Reciprocidade e confiança entre treinador e atleta e Relação treinador-atleta para a categoria a priori Eu-Tu e das subcategorias Treinador e atleta: perfil e atitudes, A autoridade na relação treinador-atleta e Dificuldades na relação treinador-atleta para a categoria a priori Eu-Isso, como mostra o quadro abaixo:
Quadro 3 – Categorias a priori e subcategorias
Categorias a priori Subcategorias
Eu-Tu
Espaço de diálogo
Reciprocidade e confiança entre treinador e atleta Relação treinador-atleta
Eu-Isso
Treinador e atleta: perfil e atitudes A autoridade na relação treinador-atleta Dificuldades na relação treinador-atleta Fonte: A autora (2017).
Foi realizado também um Pre-intervew questionaire com perguntas objetivas para cada um dos roteiros de entrevista com a intenção de estabelecer algumas características dos entrevistados. Para o roteiro do treinador abordou-se o perfil profissional, histórico como atleta, influências profissionais, resultados profissionais e relação com o atleta. O roteiro do atleta apresenta o ingresso no esporte, tempo de prática, gênero, características do treinamento e principais resultados como atleta.
Para facilitar a visualização destas características, os dados são apresentados de forma resumida por meio de quadros, como segue:
Quadro 4 – Perfil profissional do treinador
Fonte: A autora (2017).
Idade Tempo de trabalho
na modalidade
Formação acadêmica
Gênero dos atletas que trabalha
Treinador 1 30 anos 7 anos sim Masculino/Feminino
Treinador 2 40 anos 20 anos sim Masculino/Feminino
Treinador 3 53 anos 32 anos sim Feminino
Treinador 4 50 anos 27 anos sim Masculino/Feminino
Treinador 5 47 anos 25 anos sim Masculino/Feminino
Treinador 6 60 anos 41 anos não Masculino/Feminino
Treinador 7 49 anos 32 anos sim Masculino/Feminino
Quadro 5 – Histórico como atleta e influências profissionais
Fonte: A autora (2017).
Quadro 6 – Resultados profissionais e relação com o atleta
Fonte: A autora (2017). Carreira como atleta Relação com o treinador Influência do treinador na atuação Repetição das atitudes do treinador
Treinador 1 sim 5 anos boa sim sim
Treinador 2 sim 20 anos boa não sim
Treinador 3 não - - - -
Treinador 4 sim 21 anos boa sim sim
Treinador 5 sim 8 anos boa sim não
Treinador 6 sim 6 anos boa sim sim
Treinador 7 sim 12 anos boa sim sim
Principal resultado da carreira Com atleta da pesquisa Tempo de trabalho atleta da pesquisa Características do atleta que mais chamam a atenção Treinador 1 Medalha campeonato mundial
Participação Olímpica sim 7 anos
Força física e velocidade Treinador 2 6º lugar campeonato mundial não 6 meses Alto astral Treinador 3 Campeã Pan-americana não 16 anos Estratégia Treinador 4 Finalista Olímpico sim 7 anos Talento físico
Treinador 5 Finalista Olímpico sim 15 anos Ousadia
Treinador 6 Prata Pan-americana
4 participações Olímpicas não 7 anos
Positiva: eclético Negativa: instável Treinador 7 4 medalhas Olímpicas
Quadro 7 – Ingresso, tempo de prática e gênero
Fonte: A autora (2017).
Quadro 8 – Características do treinamento e principais resultados como atleta
Fonte: A autora (2017).
Os quadros organizados a partir do Pre-interview questionaire esclarecem alguns itens sobre a trajetória de treinadores e atletas dentro do esporte, o que poderá dar um suporte para uma melhor compreensão do que será discutido na sequência desta pesquisa. Seguindo a definição de alto nível de desempenho proposta por
Idade Idade de ingresso Tempo de prática Gênero
Atleta 1 26 anos 13 anos 14 anos Feminino
Atleta 2 25 anos 12 anos 13 anos Feminino
Atleta 3 24 anos 6 anos 18 anos Feminino
Atleta 4 25 anos 17 anos 8 anos Masculino
Atleta 5 24 anos 8 anos 17 anos Masculino
Atleta 6 23 anos 14 anos 9 anos Masculino
Atleta 7 29 anos 9 anos 20 anos Feminino
Média 25,1 anos 11,2 anos 14,1 anos -
Horas de treino semanal
Número de treinadores
Tempo de treino com treinador atual
Principal resultado da carreira
Atleta 1 21 horas 2 7 anos
3º Lugar campeonato mundial Participação Olímpica Atleta 2 30 horas 3 6 meses 2 Participações Olímpicas
Atleta 3 30 horas 2 15 anos Campeã Pan-americana
Participação Olímpica
Atleta 4 24 horas 1 7 anos Finalista Olímpico
Atleta 5 30 horas 4 17 anos Finalista Olímpico
Atleta 6 24 horas 3 7 anos Campeão Sul-americano
7ª melhor marca do mundo
Atleta 7 20 horas 6 6 anos Bi-campeã mundial Militar
Participação Olímpica
Swann, Moran e Piggott (2015), os quadros mostram que os atletas que constituíram a amostra apresentam tempo de prática, volume de treino, experiência e profissionalismo dentro dos padrões estabelecidos pelos autores, bem como nível competitivo olímpico e expressivos resultados esportivos.