• Nenhum resultado encontrado

Por se tratar de uma pesquisa de opinião pública, que segundo a resolução nº 510 de 2016 (p.3) é definida como uma “consulta verbal ou escrita de caráter pontual, [...] através da qual o participante é convidado a expressar sua preferência, avaliação ou o sentido que atribui a temas, atuação de pessoas e organizações, [...]”,o instrumento que melhor possibilitou a coleta de informações foi a entrevista.

Foram realizadas entrevistas com os atletas e seus respectivos treinadores, dando liberdade para que falassem a respeito do tema sugerido. As entrevistas seguiram um roteiro semi-estruturado que articula duas modalidades de entrevista, situando-se entre a entrevista aberta ou não-estruturada, onde o tema proposto é abordado livremente, e a estruturada, que exigirá perguntas previamente formuladas. Para Minayo (2002) a entrevista aparece como um procedimento bastante usual no trabalho de campo, onde o pesquisador procura obter informações contidas na fala dos atores sociais. A autora afirma que a entrevista não pode ser considerada uma conversa despretensiosa e neutra, pois servirá como meio para a coleta dos fatos relatados pelos atores da pesquisa.

Com isto, justifica-se a escolha pela entrevista semi-estruturada como instrumento de coleta de dados por entender-se que este procedimento seja o mais adequado para esta investigação, pois permite amplas e profundas respostas dos entrevistados. Portanto, a riqueza de elementos que poderão emergir a partir dos discursos diferencia a entrevista de outros instrumentos que limitam as respostas e não são capazes de dar a liberdade para a “[...] conversação efetuada face a face” (MARCONI e LAKATOS, 2003, p.196). Além disto, segundo as autoras, a entrevista possibilita a averiguação de fatos e a determinação das opiniões sobre os mesmos, a determinação de sentimentos, a descoberta de planos de ação, a conduta atual ou do passado e os motivos conscientes para opiniões, sentimentos, sistemas ou condutas. Deste modo, a partir da proposta deste estudo a entrevista aparece como o instrumento capaz de fornecer as informações necessárias para responder aos objetivos propostos.

As entrevistas da pesquisa foram feitas de forma individual, em um ambiente adequado para que o entrevistado tivesse liberdade para responder às perguntas sem distrações e a influência de fatores externos. Para os atletas e treinadores que não residem em Porto Alegre as entrevistas foram realizadas por meio de chamada de áudio e vídeo da rede social Whats Up. Todas as entrevistas foram gravadas em gravador digital (Awesome Voice Recorder) e transcritas conservando a fidedignidade das falas dos entrevistados, sem haver qualquer alteração dos discursos. Foram preservadas as identidades dos sujeitos, mantendo-se o anonimato dos mesmos com a substituição dos nomes dos participantes da pesquisa por números. O material coletado está salvo em arquivo privado, onde apenas a pesquisadora e o orientador da pesquisa têm acesso, seguindo os Princípios Éticos das Pesquisas em Ciências

Humanas e Sociais, da Resolução nº 510 de 2016 (p.5), que garante a “confidencialidade das informações, da privacidade dos participantes e da proteção de sua identidade, inclusive do uso de sua imagem e voz”.

As transcrições das entrevistas foram analisadas, tendo como base a técnica de análise textual discursiva, que consiste em uma metodologia para análise de dados qualitativos, procurando novos sentidos e significados sobre fenômenos e/ou discursos e, segundo Moraes e Galiazzi (2006, p.118) “transita entre duas formas consagradas de análise na pesquisa qualitativa que são a análise de conteúdo e a análise de discurso”. O processo da análise textual discursiva, segundo os autores, começa pela etapa da unitarização, examinando os textos e separando-os por unidade de significado, seguido do processo de categorização, no que se constituem relações entre as unidades de significado semelhante, podendo originar várias categorias de análise. O próximo passo é a produção de significados, a partir de uma interpretação e argumentação, que gera o meta-texto, resultante de uma compreensão constituída ao longo dos processos anteriores. A impregnação, condição fundamental para a análise, surge a partir de um envolvimento aprofundado do pesquisador com o “corpus” e, por meio dela, se cria “condições de emergência auto-organizada das novas compreensões” (op.cit.p.121).

Auto-organização e emergência são processos intuitivos, inconscientes, não diretamente comandados pelos sujeitos, e cujos resultados não são previsíveis. São eles, todavia, que possibilitam os resultados mais significativos e criativos de uma análise textual (MORAES e GALIAZZI, 2013, p.134).

Para Moraes e Galiazzi (2013) a metodologia da análise textual discursiva começa pelo processo de desconstrução e unitarização dos textos. É considerado o primeiro elemento do ciclo de análise a desmontagem dos textos, em que se faz uma imersão no “significado da leitura e sobre os diversos sentidos que esta permite construir a partir do mesmo texto” (p. 13). Segundo os autores, é a partir desse ponto que o pesquisador é capaz de se movimentar para ocupar-se do “corpus”, examinando os textos de forma detalhada e fragmentando-os com o intuito de chegar a novas unidades constituintes. A fragmentação deverá ter sempre como referência o todo, ou seja, o fenômeno investigado necessita ser visto em sua globalidade, dando enfoque ao conjunto na sua totalidade por meio das partes.

Para tanto, se faz necessário que o pesquisador passe pelo processo de envolvimento e impregnação dos textos analisados, possibilitando assim, a

emergência de novos significados e entendimentos do fenômeno estudado. Isso exigirá um processo de construção e reconstrução permanente, significando um novo olhar, uma nova forma de analisar o que já havia sido feito. A impregnação, portanto, exigirá do pesquisador leituras e releituras de forma aprofundada dos textos, permitindo a exploração de uma gama diversa de significados. Contudo, segundo Moraes e Galiazzi (2013), por maior que seja a diversidade de sentidos encontrados, sempre haverá outros não evidenciados.

A impregnação persistente nas informações dos documentos do “corpus” passa por um processo de desorganização e desconstrução, antes que se possa atingir novas compreensões. É preciso desestabilizar a ordem estabelecida, desorganizando o conhecimento existente (MORAES e GALIAZZI, 2013, p.21).

A partir daí o pesquisador é capaz de reescrever cada unidade, fazendo com que assuma um significado. A atribuição de um título ou nome para cada uma das unidades produzidas é o passo seguinte dento da etapa da unitarização.

A categorização constitui o segundo momento do processo de análise textual discursiva e é considerada por Moraes e Galiazzi (2013) o aspecto central dessa metodologia. Para os autores, “a categorização é um processo de comparação constante entre as unidades de análise, levando a agrupamentos de elementos semelhantes” (p.22). Os autores ainda descrevem as categorias como “subconjuntos de um todo maior”, que parte da “classificação das unidades de análise produzidas a partir do ‘corpus’” (p.116).

Assim, a etapa de categorização se dá por meio de um processo de síntese e de um retorno permanente aos mesmos elementos, originando primeiramente categorias pouco abrangentes e depois as reduzindo em número, chegando a categorias de maior amplitude, delimitadas com maior exatidão e precisão. Com isso, o processo de categorização pode se constituir por diferentes níveis, a princípio assumindo estágios iniciais, partindo das unidades de sentido, passando para as categorias intermediárias, para, por último, chegar às categorias finais, mais abrangentes e de menor número.

Para Moraes e Galiazzi (2013) as categorias também podem se constituir a partir de distintas metodologias, que se caracterizam por meio de diferentes propriedades e trazem implícitos diferentes pressupostos. Para os autores, “a escolha de métodos para a categorização sempre trará junto com ela um conjunto de pressupostos teóricos e paradigmáticos” (p.25).

São destacados dois métodos de construção de sistemas de categorias, em que no primeiro se trabalha com categorias a priori e no segundo com categorias emergentes. No primeiro processo, o pesquisador estabelece as categorias antes de ir a campo e de classificar as unidades de significado, partindo de seus pressupostos teóricos. A constituição de categorias a priori faz parte de um método dedutivo, sendo, conforme Moraes e Galiazzi (2013) um processo mais fácil de conduzir, com a desvantagem de só permitir ao pesquisador enxergar significados que possam se enquadrar nas categorias previamente determinadas. O segundo processo permite que os fenômenos estudados se manifestem, possibilitando que o pesquisador constitua suas categorias de análise a partir das unidades construídas no “corpus”, ou seja, o método possibilita que se organize categorias com base nas vozes emergentes dos textos analisados. A utilização do método de categorias emergentes implica em um processo indutivo, sendo, normalmente, mais trabalhoso, pois exige do pesquisador a convivência com incertezas e inseguranças que podem se originar das infinitas possibilidades de percursos.As características pessoais do pesquisador, bem como a ideia de não se ter um caminho definido com precisão desde o início podem ser fatores de inseguranças e angústias.

Ainda para os autores é necessário que as categorias de análise sejam válidas ou pertinentes aos objetivos e ao objeto de análise, devendo essas ser um conjunto homogêneo constituído a partir dos mesmos princípios e conceitos. É preciso lembrar também que a teoria assume papel importante nesse processo, representando o ponto de partida para a construção do conjunto de categorias.

Pesquisar e teorizar passam a significar construir compreensão, compreender esse nunca completo, mas atingido por meio de um processo recursivo de explicitação de inter-relações recíprocas entre as categorias, superando a causalidade linear e possibilitando uma aproximação de entendimentos mais complexos. (MORAES e GALIAZZI, 2013,p. 30)

Os autores apontam para a construção de um argumento aglutinador, partindo de argumentos parciais de cada categoria, no sentido de fazer uma relação e uma costura entre as mesmas. O momento seguinte a esse processo de organização e relação, no qual se produz uma nova ordem, é aquele em que se elabora um novo texto, gerado a partir do material do “corpus”, chamado pelos autores de metatexto, Nessa etapa serão expressas a compreensão e interpretação do pesquisador acerca dos sentidos e significados gerados pelos textos originais. Conforme Moraes e Galiazzi (2013, p. 37)

A produção de um metatexto, combinando descrição e interpretação, uma das formas de caracterizar a análise textual discursiva, constitui-se num esforço para expressar intuições e entendimentos atingidos a partir da impregnação intensa com o “corpus” da análise.

Para tanto, é a interlocução da teoria com os textos do “corpus” que dará condições ao pesquisador de interpretar e construir novos sentidos, mais aprofundados, permitindo, assim, originar novas teorias. Para Moraes e Galiazzi (2013) a construção do metatexto não se resume a uma simples montagem organizada a partir das unidades de significado e das categorias, mas é o resultado de um processo auto organizado e intuitivo, constituindo-se “a partir de algo importante que o pesquisador tem a dizer sobre o fenômeno que investigou [...]” (p.40). A elaboração do metatexto exigirá do pesquisador um movimento constante de busca de uma nova ordem, formada a partir da desordem e do caos, em um processo onde é necessário estar permanentemente atento a emergência do novo. Com isso, Moraes e Galiazzi (2013, p.44) afirmam que “é importante compreender que a construção do metatexto é um processo reiterativo de reconstrução”. Os autores também chamam a atenção para a qualidade do texto, em que cada categoria ou parte possa estar completamente integrada num todo, sendo necessário haver uma tese ou argumento central que permita essa conexão.

Foram elaborados dois roteiros de entrevista para esta pesquisa, um para os atletas e outro para os treinadores, contendo perguntas abertas e apresentando também um cabeçalho para ser completado com informações gerais sobre o entrevistado.

Os anos de experiência como atleta e posteriormente como treinadora, deram a base para a concepção e elaboração das perguntas. As vivências diárias como atleta e como treinadora originaram uma profunda e longa reflexão e serviram para suscitar questionamentos acerca da relação treinador-atleta. Neste sentido, a percepção de que este relacionamento chega a pontos extremos e muitas vezes opostos, auxiliou na criação do conjunto de perguntas. Além disto, o roteiro das entrevistas foi pensado a partir dos objetivos definidos para este estudo, tendo também como suporte o referencial teórico apresentado, que ajudou a ampliar ainda mais a reflexão sobre o tema. Assim, uma série de questões foram elencadas sem nenhum tipo de restrição, para que em um segundo momento se fizesse outra leitura e se iniciasse o processo de organização. Desta forma, na sequência do processo de elaboração, algumas perguntas foram aglutinadas, por abordarem a mesma temática, outras foram

reformuladas, para uma melhor compreensão e ainda algumas foram descartadas, por se entender que não estavam adequadas ao contexto. Finalmente, chegou-se aos roteiros, permitindo a organização de níveis de análise das perguntas. Três níveis de análise foram formados, para cada um dos roteiros, como mostra o quadro a seguir:

Quadro 1 – Organização dos níveis de análise

Roteiro Nível 1 Nível 2 Nível 3

Treinador

Formação e

trajetória profissional

Relação com o atleta Atitudes e postura como treinador

Atleta

Trajetória e formação como atleta

Relação com o treinador Postura e atitudes do treinador Fonte: A autora (2016)

Foi realizado um piloto das entrevistas, com uma treinadora e uma atleta, que cumpriam os critérios de seleção para o estudo (atleta: ter entre 18 e 30 anos, alto nível de rendimento/desempenho olímpico, mínimo de oito anos de prática dentro da modalidade em questão, participar de seis a dez sessões de treinamentos semanais e seu treinador).

O intuito deste piloto foi ter a real dimensão do alcance das perguntas, bem como da compreensão das mesmas por parte do entrevistado. Ademais, a profundidade e a qualidade das respostas também foram analisadas, no sentido de qualificar o instrumento para a possibilidade de uma análise ampla e com quantidade suficiente de informações.

As entrevistas piloto também foram importantes na perspectiva de mostrar que algumas perguntas, por serem mais extensas, deveriam ser feitas em etapas para um melhor entendimento do entrevistado. Outro ponto a destacar do piloto é o fato de que este favoreceu a manipulação do instrumento e evidenciou a possibilidade de outras perguntas serem inseridas ao longo da entrevista, a partir das próprias respostas dos entrevistados. Assim, alguns temas que poderiam ser mais desenvolvidos ou que haviam sido desviados para outra direção tiveram uma complementação com a adição de novas perguntas.

Uma análise preliminar dos dados obtidos com a entrevista piloto mostra que o instrumento está adequado à pesquisa, sendo capaz de fornecer as informações necessárias para a investigação proposta e seus objetivos. Além disto, as respostas dadas nas entrevistas estão de acordo com o referencial teórico apresentado, o que permitirá uma discussão rica e abrangente com a literatura utilizada. O trecho da

entrevista, apresentado a seguir, mostra como a sua experiência negativa na relação treinador-atleta influencia as atitudes da treinadora, tema abordado neste estudo:

“Na realidade isso é uma coisa que tem me chamado à atenção, esse....essa pesquisa que tu fez, que é uma coisa que eu penso muito em mim, essa relação treinador-atleta, o que eu tento passar, o que muitas vezes acontece, o que às vezes eu consigo fazer e o que eu deixo de fazer, e.... como eu citei lá no início da pesquisa, a coisa que eu mais tento fazer é não repetir o erro que a minha técnica teve comigo, quando eu tinha a idade das minhas alunas e que eu desisti de fazer ginástica naquela época por causa dela e isso me trouxe um trauma muito grande, eu saí da ginástica, eu tentei procurar outro clube, mas acabei desistindo, eu tentei negar muito tempo a ginástica e a educação física, por causa desse trauma que eu tive, mas graças a Deus foi uma coisa que venceu e eu tô trabalhando e sou muito feliz com isso, mas realmente eu me policio para não cometer o mesmo erro.”

Outro exemplo da aproximação das respostas obtidas com a literatura apresentada é o trecho que segue, onde na entrevista da atleta a temática da comunicação do técnico e dos feedbacks recebidos, abordada anteriormente no referencial teórico, está clara:

“Aquelas palavras de incentivo, de bah, isso aí, vai, continua, tá bom, eu acho que isso dá muito incentivo sim, eu acho que na hora que a gente tá entrando na quadra a... é sempre bom ouvir que vai dar tudo certo, que confia, que treinou bem para isso, então com certeza isso motiva e...e é necessário pra ti entrar com confiança numa competição e mesmo no treino, aquele técnico que elogia que...que tá sempre em cima dizendo não, isso tá bom, isso faz com que a gente fique com vontade de treinar e vê que aquilo vai melhorar e que tá dando certo.”

Por sugestão dos avaliadores durante a banca de qualificação, o roteiro de entrevista foi adaptado e o número de perguntas iniciais reduzido, com o objetivo de permitir uma maior liberdade ao entrevistado para as respostas. Assim, algumas questões passaram a ter uma abrangência maior, mantendo-se a possibilidade de novas perguntas serem inseridas ao longo da entrevista.

Com isto, cada um dos roteiros (APÊNDICE A e APÊNDICE B) passou a apresentar cinco perguntas para o entrevistado, tendo ainda um cabeçalho denominado Pre-interview questionaire, com perguntas objetivas, como mostra o quadro abaixo:

Quadro 2: Pre-interview questionaire

Roteiro Pre-interview questionaire

Treinador

Idade Gênero Formação

Principal resultado na carreira Tempo de trabalho na modalidade Experiência como atleta

Atleta

Idade Gênero

Principal resultado na carreira Tempo de prática na modalidade Número de horas semanais de treino Idade de ingresso na modalidade Fonte: A Autora (2017)

Para esta pesquisa, optou-se pela adoção de categorias a priori, as quais são apresentadas no capítulo de análise e discussão, tendo estas a emergência de subcategorias, originadas durante o processo de análise. Com isso, a criação destas subcategorias, induzidas dos dados analisados, representa, segundo Moraes e Galiazzi (2013, p.86), “a parte aberta do processo”.

Assim, a discussão das informações coletadas por meio das entrevistas tem como base o referencial teórico e faz a interface com os principais autores estudados, buscando responder aos objetivos propostos e aproximando-se o máximo possível da resposta ao problema apresentado, ancorada na ideia de que pode a conclusão de uma pesquisa se constituir em aberto para que novas propostas e estudos possam ser instigados.