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7.1 CATEGORIAS A PRIORI

7.1.1 Eu-Tu

7.1.1.3 Relação treinador-atleta

A análise dos depoimentos sob a perspectiva do Eu-Tu permite também que se faça um olhar sobre a percepção que os atletas e treinadores entrevistados têm acerca da relação que estabelecem. Neste sentido, Jowett e Cockerill (2003) asseguram que uma série de relacionamentos interpessoais com papeis significativos na vida do atleta são formados no esporte, trazendo aquela que se forma entre este e o treinador como uma das relações mais específicas e importantes. Os autores dizem ainda que a relação do atleta com o treinador torna-se fundamental no processo de treinamento, uma vez que pode determinar realizações, satisfações, autoestima e o seu próprio desempenho. Jowett e Cockerill (2003) mostram também a importância desta relação, que muitas vezes pode ter a reciprocidade, a confiança e a honestidade como elementos que vão além de simplesmente ensinar e instruir habilidades, técnicas e táticas.

Neste caminho, o atleta 5 entende que a forma como a relação entre treinador e atleta é estabelecida seja um ponto chave na vida do esportista: “é diferencial, a relação é o diferencial, tipo a maneira como tu trata a coisa, como tu enfrenta a coisa, entendeu?”. Neste sentido, a fala do atleta mostra que é possível pensar que a relação entre treinador e atleta represente o divisor de águas, o ponto fundamental para seu sucesso e bom desempenho. Para o atleta 6, a relação com o treinador ultrapassa os limites do esporte: “a gente extravasa aquela parte de treinador e atleta...[...] Vai muito além do esporte. A gente tem uma relação que vai muito além disso, é vinte e quatro horas.” A relação para além do esporte também é vista na fala da atleta 3, ao defini- la como “ah é ..., é uma sintonia assim que a gente tem, é assim, é... um pouco de tudo, amizade, parceria é.... essa relação não, não é só de técnica e ginasta, técnica ginasta é só a partir do momento em que a gente entra na quadra pra treinar e fora isso é, assim acho que é um pouco de tudo, de mãe e filha, de amiga, de parceira sabe, é... é bem legal a nossa relação.” Para o atleta 4 a relação também é percebida de maneira positiva: “ah, acho que é bem boa na verdade”, assim como para a atleta 2 que a define como “muito boa” e a atleta 7 que diz que “minha relação com ele é supertranquila”.

As declarações dos entrevistados mostram que na concepção dos atletas a relação mantida com os treinadores transcende os limites da técnica e do gesto, sendo uma condição essencial para as suas trajetórias esportivas. Cabe ressaltar também que as falas dos atletas mostram que estes identificam suas relações com os treinadores positivamente, evidenciando que para além do desenvolvimento da técnica, aprendizagem e performance de movimentos, a aproximação entre quem ensina e quem aprende e a disponibilidade para estar presente farão a diferença neste processo.

Com isto, a análise da relação treinador-atleta sob o prisma do pensamento de Buber (2006) possibilita a compreensão de que na integração entre seres humanos perpassam muitos elementos e que a atitude diante da realidade irá determinar em que termos esta relação se estabelece.As falas dos entrevistados evidenciam esta atitude caracterizada como um encontro, segundo Buber (2006, p.57), configurando o Tu que se manifesta “como aquele que simultaneamente exerce e recebe a ação, sem estar no entanto, inserido numa cadeia de causalidades, pois, na sua ação recíproca com o Eu, ele é o princípio e o fim do evento da relação.”

A perspectiva dos treinadores sobre a relação com os atletas também segue esta direção. Os depoimentos dos entrevistados mostram que os treinadores, da mesma forma que os atletas, julgam que a relação será não só o diferencial nos resultados obtidos, mas também representa um elemento fundamental para todos os aspectos da vida do atleta, reforçando a ideia do encontro de Buber, em que o Tu exerce e recebe a ação.

Ao definir sua relação com o atleta, o treinador 6 diz ter “uma relação de amizade, que caracteriza toda aquela relação de pai para filho, sabe? Defesa, proteção, orientação e colocar ele pra aprender com as coisas da vida”. A fala do treinador 6 mostra como a relação com o atleta ganha forma além das questões relacionadas ao esporte, invadindo o espaço pessoal de ambos. Seguindo na mesma direção, o treinador 5 afirma que “a minha relação com ele vai ficar de cuidado”, do mesmo modo que o treinador 4 declara que “ah, é.… acho que é boa, é uma relação boa, tenho uma relação boa com todos, todos os atletas normalmente. Eu tento ter uma relação de...de amizade, mas cobrando sempre o que tem que cobrar”.

No pensamento de Buber (2006, p.48) sempre haverá alguma espécie de amor em uma relação verdadeira, onde “meu Tu atua sobre mim assim como eu atuo sobre ele”. Com isto, Fonseca Filho (2008) diz que Buber não vê o amor como um sentimento ligado ao Eu, que necessita do Tu como conteúdo, mas sim como existindo entre o Eu e o Tu, sendo o milagre da presença exclusiva. Para o autor (p.59), “no amor, um Eu assume a responsabilidade de um Tu”. O amor existente entre treinador e atleta pode ser visto nas falas dos entrevistados, ao trazerem questões como proteção, orientação, cuidado e amizade, onde a responsabilidade referida pelo autor estará presente e será mútua, como mostra a fala do treinador 1: “ela se importa muito comigo, às vezes ela vê que eu tô muito, muito nervoso, ela não gosta que eu fique nervoso”. Esta preocupação mencionada pelo treinador mostra como existe a ideia do cuidado e proteção mútua entre treinador e atleta, assim como o depoimento da treinadora 3 que diz que “isso a gente tem assim, muito forte, de uma preservar a outra”, confirmando as ideias de Buber (2006) de que um Eu sempre assumirá a responsabilidade por um Tu e atuará sobre ele.

“Hoje existe muita informação, muita interação, as diferenças são muito pequenas, né? O que vai fazer e que eu acho que aí substitui, é a relação humana, do treinador com a atleta, esse é um diferencial...”, diz o treinador 7 ao argumentar que tecnicamente os atletas de alto rendimento estão em um nível muito próximo, mas

o que irá distingui-los será a relação que mantêm com seus treinadores. A partir da fala do treinador 7 é possível afirmar que a consolidação da relação entre treinador e atleta parece determinar a performance do segundo, influenciando, inclusive, as questões técnicas.

Embora os sentimentos que atravessam esta relação quando observados do ponto de vista de Buber (2006) ocorrerão entre o Eu e o Tu, é possível perceber que o treinador parece assumir a responsabilidade destes para si, como mostra a fala do treinador 2: “... e eu acho que eu sou o capitão desse sentimento. Às vezes nem sempre tu consegue... hã, envolver o sentimento, mas eu acho que eu tenho uma grande influência sobre isso aí”.

Outro tema interessante a ser abordado na análise da relação treinador-atleta no modo Eu-Tu é a questão do gênero. As falas dos treinadores entrevistados mostram que existe diferença na forma como atletas do gênero masculino e feminino encaram a relação com os técnicos, seja na maneira como percebem seus laços afetivos com os mesmos, como reagem aos feedbacks recebidos, ou ainda como são influenciados por fatores externos ao treinamento. A consciência de que a relação com atletas do gênero feminino será diferente daquela estabelecida com o gênero masculino aparece no depoimento do treinador 2 ao dizer que “ah, com certeza. Com certeza, principalmente de mulher, muitas vezes. Se tá um ambiente bom, no feminino é mais fácil. No masculino, eu acho, ele é mais neutro, é mais competitivo natural assim, agora o feminino precisa mais desse feedback assim”. A fala do treinador 6 também mostra que a aproximação com a atleta do gênero feminino exigirá, muitas vezes, uma abordagem distinta do gênero masculino: “[...] e as coisas que ele fez extra. Isso no outro dia de manhã, já muda o planejamento. Se é mulher, pior ainda, menstruou, ou ela dormiu mal, sabe, o namorado foi um bruto, e aí descarrega toda a mulher, ela vai se recuperar às três e meia da tarde, às vezes”. Fica claro, pelas entrevistas, que a relação com atletas do gênero feminino exigirá ainda mais sensibilidade do treinador, no sentido de compreender a relevância de ver, como Buber (2006) sugere, o ser na sua totalidade, compreendendo que uma série de elementos poderá interferir significativamente no treinamento e desempenho da esportista. Esta sensibilidade parece estar no cotidiano do treinador 5, ao afirmar que “é, eu tento mostrar... pras meninas, principalmente, né? Que é outro mundo, né? Trabalhar com menina e menino é diferente. Eu sinto sempre diferente. Hã...com as meninas é mais difícil...é mais difícil no sentido de...[...] elas acham que eu prefiro

outra, aí a outra...tu prefere ela, tu prefere aquela outra... com a menina tem um pouco mais...é tudo pessoal, tudo é pessoal, os guris, tu vai lá, se xinga e tá, tudo se resolve. Mas as gurias eu acho que é muito pessoal”.

Assim, parece pertinente pensar que questões relacionadas ao gênero poderão levar a relação treinador-atleta a diferentes desdobramentos, determinando como esta será estabelecida. As falas dos entrevistados mostram claramente que, sobretudo nos casos de treinadores e atletas que não pertencem ao mesmo gênero, permanece a necessidade de se analisar todas as dimensões que poderão sofrer influências destas questões. Cabe lembrar, no entanto, que para o treinador pensar em todas estas dimensões exigirá o que Buber (2006) chama de uma verdadeira intenção de estabelecer contato com o outro, reforçando a ideia da necessidade de perceber este outro na sua integralidade.

Além disto, é importante lembrar que a inserção do gênero feminino no esporte, como já abordado nesta pesquisa, perpassa por questões biológicas, sociais, culturais e por construções de estereótipos, o que pode, em alguma medida, justificar a diferença do trabalho com homens e mulheres, percebida pelos treinadores. Segundo Vargas (2006), o gênero no esporte pode confirmar as diferenças para além do biológico, onde as distinções entre o masculino e o feminino parecem continuar servindo como base para explicá-las.

A análise sob a perspectiva do Eu-Tu também encontra fundamentos no exame dos depoimentos de treinadores e atletas que manifestam o desejo de que não haja mudanças na relação, entendendo que ela deverá ser mantida com as características e particularidades que possui. Mesmo que existam dificuldades, o nível de intimidade, a abertura e o diálogo que a relação treinador-atleta pode alcançar aparentam ser os fatores determinantes para que treinadores e atletas entrevistados expressem em suas falas a intenção de manter a relação. “Eu acho que não, eu acho que na realidade se mudasse alguma coisa ia atrapalhar tudo assim.... porque...a gente já se conhece, é.... eu acho que a gente já se conhece muito bem, então....tipo, é....ela sabe exatamente como que ela tem que lidar comigo durante o treino, eu sei como que ela é como técnica, e a gente se dá bem desse jeitinho”, relata a atleta 3, afirmando que o conhecimento recíproco permite que a relação alcance um elevado grau de estabilidade. Da mesma forma, o atleta 6 ao ser questionado sobre possíveis mudanças na relação afirma que “não, eu acho que no momento assim não, acho que... acho que porque a gente tenta... tenta, tenta ter sempre essas coisas,

entendeu? Tenta discutir sempre isso, o que tá bom, o que tá ruim, o que pode melhorar, acho que a gente teve, já teve muitas coisas pra melhorar e que agora chegou num ponto que tá legal, entendeu? Que a gente tem uma relação bem melhor, em que, que tem essa parte positiva sabe? A gente antigamente tinha muitos atritos, muitas coisas pra melhorar, a gente começou a conversar e fazer essas reuniões semanais e tal, ter esse espaço mais aberto de comunicação.... a gente chegou num ponto da relação que é bem legal”. O depoimento do atleta 6 evidencia como a abertura e o diálogo podem fazer com que a relação melhore, aproximando os atores envolvidos, o que vai ao encontro das ideias de Buber (2006) sobre diálogo e reciprocidade. Deste modo, Zuben (2006) entende que Buber acredita na “[...] força geradora do diálogo, a palavra entre os dois estabelecendo o intervalo entre o Eu e o Tu na intimidade e na presença do evento do face-a-face”. Portanto, segundo as falas dos entrevistados, a intimidade e a aproximação entre o treinador e o atleta, alcançada por meio do diálogo, permitirão que a relação atinja um ponto ideal de equilíbrio. Na mesma direção, o atleta 4 declara que não vê a necessidade de mudanças na relação: “não, pra mim assim é bom, não tenho que acrescentar, senão deixa de ser papel de treinador e ser.... sei lá, não vai dar resultado”, enquanto que a atleta 7 diz que “eu acho que eu tenho uma relação super boa, acho que no momento assim pensando... não, acho que não, acho que é tranquilo”. A atleta 2, na mesma linha dos outros entrevistados, afirma sobre a sua relação com o treinador: “eu acho que eu não vejo alguma coisa assim agora, que possa mudar”.

No que diz respeito às mudanças na relação, a visão dos treinadores aproxima- se da visão dos atletas, como pode ser visto na fala da treinadora 3: “não mudaria nada, nada, nem quero mudar. Tô gostando dessa relação. Essa mudança pode ser de ordem técnica, mais repetições, menos repetições, uma música que não tá boa, uma estratégia de artístico, uma competição que a gente não goste, mas mudar a relação entre a pessoa eu acho que fica meio até... artificial. Eu, eu não me sentiria bem, nesse momento que eu vivo com ela, de tá fazendo isso, pode ser que daqui a algum tempo isso tenha que ser necessário, né? Em consonância com a treinadora 3, o treinador 2 também acredita que a relação deve continuar da maneira como está estabelecida ao dizer que “por enquanto eu acho que tá, tá muito boa, não tem... talvez ela, ela às vezes quer sempre, ela gosta de conversar bastante”, assim como o treinador 1 ao ser questionado sobre uma mudança na relação afirma que “acho que não. Acho que é uma relação assim, é porque são muitos anos juntos, né? Muitas

viagens juntos, então acaba é, tendo essa abertura, mas eu acho que não mudaria não”.

Para o treinador 5, a mudança só será necessária no momento em que o atleta julgue que algo precisa ser modificado: “só na medida em que ele achar... que não dá para se impor coisas.... no atleta, eu acho que se...na medida que ele achar...havendo essa necessidade, ele já tem... ele já é um cara de 24 anos, ele tem que ter a maturidade de chegar aqui no clube e bah, eu queria isso, eu queria aquilo, eu queria que tu... e aí eu... ele tem todo, todo o meu respaldo”. A fala do treinador mostra como a possibilidade da abertura para o outro está presente na relação, no curso do que diz Buber (2002) sobre a disponibilidade e o acolhimento, reconhecendo a partir de um princípio dialógico a presença potencial do ser.

Na visão do treinador 4 a estabilidade e a harmonia na relação decorrem também da tolerância e da compreensão de um com o outro, onde a flexibilização do Eu permitirá o equilíbrio: “é, mas, e.... e aí também, talvez é, é muito relativo também de falar, né? Talvez até essa questão dessa flexibilidade é o que faça a relação também ser um pouco mais estável com ele, né?”. Neste sentido, Zuben (2006, p. 24) entende que na filosofia de Buber “a compreensão do ser é tributária desta participação dialogal no eixo Eu-Tu envoltos na vibração recíproca do face-a-face”, confirmando que esta flexibilidade a que se refere o treinador contribui para a essência do diálogo e da reciprocidade.

Por outro lado, o treinador 6 entendendo a importância da sua presença para o atleta, afirma que “eu queria ser mais presente, eu precisava ser mais presente do que eu já sou. Eu procuro ser bastante presente, mas eu poderia ser mais se eu não precisasse de dinheiro, né? Esse é o problema. Se eu tivesse dinheiro, eu não teria problema, eu ficaria o dia inteiro na pista, tu não sabe o que me dói ir numa reunião e o treinamento sair com os caras, isso me dói pra burro porque o meu trabalho está deixando de ser rico, quem sabe ele não estava machucado se eu estivesse lá...”. A mudança sugerida pelo treinador não está na relação propriamente dita, mas segundo ele poderia afetá-la sob vários aspectos, uma vez que a contribuição que sua presença pode trazer é vista como um elemento fundamental para o atleta. Neste caminho, no pensamento de Buber (2006) a presença aparece como uma das principais características do mundo do Tu, sendo na presença e na proximidade que o Eu encontrará o Tu. Ainda na filosofia do autor, o Tu não pode ser representado, visto que o instante único do diálogo é essencialmente a presença, sugerindo que esta

representação, de alguma forma, permita a independência do sujeito com relação ao representado. Assim, o depoimento do treinador expressa esta noção de presença e de como percebe a sua relevância, colocando a relação com o atleta no modo Eu-Tu, que segundo Buber (2006, p.46), se dá “[...] somente quando existe presença, encontro, relação. Somente na medida em que o Tu se torna presente a presença se instaura”.

Na relação treinador-atleta no modo Eu-Tu, a influência da figura do treinador também parece ser uma característica significativa, segundo as falas dos entrevistados. A desconstrução do “corpus” evidenciou que a figura do treinador ocupa um espaço de destaque na vida do atleta, sendo inegável que o primeiro passa a ser uma forte influência para o segundo, seja na parte técnica, ou ainda em questões pessoais, muitas vezes suplantando a ascendência de pais e familiares. Em muitas situações, a figura do treinador passa a ter importância fundamental para o atleta, uma vez que a sua trajetória é acompanhada por ele, das primeiras aprendizagens até os níveis de excelência, formando um vínculo extremamente sólido.

O longo tempo passado junto do atleta, faz com que o treinador venha a assumir papéis para além da prática esportiva, onde o seu comportamento pode também pautar as atitudes do esportista. Por tudo isso, atribui-se ao treinador a função de educador, no sentido de não estar formando apenas a parte técnica do atleta, mas também seu caráter, conforme afirma Bento (2006c, p. 29-30) ao dizer que é inegável a influência do treinador “[...] sobre as atitudes e comportamentos, sobre os princípios, valores, orientações e sentidos de vida dos atletas”. Sob o mesmo ponto de vista, Bortoli, Robazza e Giabardo (1995) trazem a ideia de que o comportamento, as atitudes e a comunicação do treinador têm forte influência na experiência desportiva do atleta, assim como afirmam Souza et al (2009) que nas suas interações, a influência do comportamento do treinador sobre o comportamento do atleta é notável.

Jowett e Cockerill (2003) dizem que atletas olímpicos falam da importância da sua relação com o treinador, indicando-a como algo que vai além de uma relação treinador-atleta. Os autores ainda trazem que para os atletas o treinador é visto como um amigo ou um tipo de figura paterna, definindo a sua relação sublinhada pelo respeito, pelo conhecimento e contribuição para os objetivos um do outro.

Portanto, o treinador passa a desempenhar o papel não só daquele que ensina e corrige movimentos, mas também daquele que orienta, educa e forma. A educação, na perspectiva da relação Eu-Tu sugerida por Buber (2002), significa deixar que uma

pessoa veja o mundo por meio de outra pessoa e que aquele por quem isso ocorre, antes de tudo, faz acontecer através de si mesmo, influenciando a vida do outro com a própria vida. Buber (2002) diz ainda que o professor deve ao mesmo tempo estar lá, na superfície do outro espírito que está sendo influenciado, não em forma de espírito conceitual, artificial, mas todo o tempo em espírito totalmente concreto. Assim, ultrapassando os limites da técnica, o treinador assume o papel de educador e terá, pela lógica de Buber (2002), influência sobre a vida do atleta.

A teoria de Buber pode ser encontrada nas falas dos entrevistados quando se referem à influência do treinador na formação do atleta, conforme afirma o atleta 6 ao dizer “com certeza, vai muito além do esporte. [...] Então e ele tem muita influência, na verdade ele tem muita influência nessa minha formação, né? Porque eu cheguei aqui com dezesseis anos, então e eu não tinha assim, uma figura paterna muito forte assim, então ele adquiriu essa minha figura paterna, na verdade então a gente tem uma relação que vai muito além disso, é vinte e quatro horas, é o que que eu faço, o