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7.1 CATEGORIAS A PRIORI

7.1.3 Algumas reflexões

A análise do “corpus” por meio das categorias a priori evidenciou que a relação treinador-atleta é permeada por um movimento constante do Eu-Tu para o Eu-Isso, confirmando que os desdobramentos destes dois modos de ser no mundo, como diz Buber (2006), são importantes e, ao mesmo tempo, necessários para a aprendizagem e o desempenho esportivo. Portanto, segundo a lógica do autor, não se trata de adotar uma atitude de Eu-Tu ou de Eu-Isso, mas

se trata de duas atitudes vitais que não representam dois tipos de posturas estanques que alguns homens pudessem tomar e outros não. Não são, ademais, dois estados de ser, mas dois modos de ser, de existência pessoal que o homem deve tomar incessantemente, quer uma quer outra, num ritmo constante (ZUBEN, 2006, p. 27).

Os dados mostraram que no modo Eu-Tu será onde o atleta encontra a segurança, o diálogo e a reciprocidade, estabelecendo uma interdependência com o treinador. As falas dos atletas entrevistados trazem a ideia de que o êxito da aprendizagem e do desempenho esportivo está diretamente relacionado ao acolhimento e ao apoio que recebem do treinador, mostrando que a relação pode ultrapassar os limites do esporte. Assim, a figura do treinador aparece como uma referência para o atleta, representando o seu esteio durante a sua trajetória esportiva. Percebe-se, pelos discursos dos entrevistados, que a relação treinador-atleta desdobra-se em muitas outras formas, estando o segundo no círculo das pessoas mais importantes da vida do esportista. As vozes do “corpus” mostraram que, por meio da aproximação, do suporte e do diálogo, o atleta é capaz de superar as dificuldades que perpassam pelo caminho da aprendizagem ao alto rendimento e que sem a presença do treinador seu desempenho não seria o mesmo.

Por outro lado, o Eu-Isso estará também presente nesta relação com a mesma evidência que o Eu-Tu, uma vez que os dados revelaram que elementos como

distanciamento, utilização e objetividade fazem parte do dia-a-dia de quem convive com o esporte de alto rendimento. Deste modo, a rispidez no trato, os xingamentos e as exigências são justificados pela excelência de movimentos, mostrando que os entrevistados percebem que os desdobramentos do Eu-Isso da relação treinador- atleta são necessários para a excelência da performance. As falas dos treinadores e atletas trouxeram a noção de que não existirá resultado esportivo se estes elementos do Eu-Isso não estiverem presentes na convivência diária, evidenciando que em nome do alto desempenho estão dispostos a estabelecer este tipo de relação. Sob a ótica do Eu-Isso, o “corpus” mostrou que treinador e atleta esgotarão as possibilidades de utilização um do outro, no sentido de projeção profissional para o primeiro e aprendizagem e uso do conhecimento técnico do segundo.

Assim sendo, as entrevistas mostraram que a relação treinador-atleta pode flutuar sobre uma gama de significados, que irão atuar diretamente na aprendizagem e proficiência do atleta. Sem dúvida, as vozes do “corpus” expressaram o quão importante e profunda é esta relação tanto para o atleta, quanto para o treinador, não apenas no que diz respeito às questões técnicas, mas também nas questões pessoais. A relação, portanto, assume significados que vão desde a utilização do talento do atleta e do conhecimento do treinador para a obtenção de resultados até a criação de um vínculo como o de pai e filho.

Os depoimentos dos entrevistados evidenciaram que é infrutífera a tentativa de se estabelecer um único significado para a relação entre treinador e atleta, uma vez que a oscilação entre o Eu-Tu e o Eu-Isso empresta uma multiplicidade de sentidos a este vínculo formado pelos principais atores do cenário esportivo. Com isso, a análise dos dados mostrou que a relação entre treinador e atleta tem importância central na aprendizagem e na proficiência esportiva, constituindo o alicerce da jornada esportista do atleta. A magnitude desta relação fica evidente nos diversos significados que pode assumir, sendo atravessada permanentemente por elementos do Eu-Tu e do Eu-Isso. É importante ressaltar, no entanto, que mesmo quando elementos do Eu-Isso, como o distanciamento e a utilização estão presentes, treinadores e atletas não chegam a expressar que os percebem como um mal, mas sim como algo necessário para a performance esportiva, inevitável para o bom desempenho. Seguindo a lógica de Buber (2006) que afirma que o Eu-Isso só será um mal à medida que o indivíduo se deixa subjugar por esta atitude, parece que os treinadores e os atletas que participaram da pesquisa também encaram a relação neste modo desta forma. Cabe

lembrar, nesta mesma direção, que muitos elementos do Eu-Tu significam esta relação, reforçando a ideia de que esta não está sendo pautada unicamente pela atitude do Eu-Isso. Assim, a relação treinador-atleta segue a filosofia de Buber (2006), que entende a necessidade dos dois tipos de relação para os seres humanos e vê que a vida em uma realidade terrena busca recursos para a satisfação das necessidades e desejos, rejeitando o dualismo entre o Eu-Tu e o Eu-Isso e percebendo os dois conceitos como complementares e não excludentes.

Portanto, o “corpus” evidenciou que a relação treinador-atleta pode significar cumplicidade, abertura, encontro e suporte, mas ao mesmo tempo pode se constituir de utilização, distanciamento, experiência e propósito, elementos que sempre terão alguma influência no desempenho esportivo. Convém então pensar que estes elementos podem estar permanentemente se ressignificando e intervindo de formas diferentes na aprendizagem e proficiência do atleta, uma vez que não estão estanques, mas em constante movimento de ir e vir, como as vozes expressaram.

Assim, as aparentes contradições nas falas dos entrevistados, como a noção de que treinadores e atletas gostariam de manter a relação da forma como está, mas ao mesmo tempo apresentam uma série de dificuldades na mesma, evidencia este contínuo movimento e traz a ideia de um ciclo, confirmando a teoria de Buber (2006) que percebe uma tendência da relação Eu-Tu transitar para uma relação Eu-Isso, ao mesmo tempo em que existe sempre a possibilidade do Eu-Isso vir a se transformar em uma relação Eu-Tu.

A convivência diária entre treinador e atleta permite um acúmulo de elementos do Eu-Tu e do Eu-isso, que, com o passar do tempo, podem determinar o tom da relação em distintos momentos. Com isto, a quantidade de elementos acumulados em determinado momento poderá ser o fator determinante para que a relação esteja no modo Eu-Tu ou no modo Eu-Isso, confirmando o que afirma Fonseca Filho (2008, p.58), ao dizer que “a linha de demarcação entre o Tu e o Isso é movediça e flutuante”. Torna-se importante, portanto, que treinadores e atletas reflitam permanentemente sobre a relação que mantêm, no sentido de procurar compreender como a constituem, em que termos a estabelecem e de como entendem a sua influência na aprendizagem e proficiência esportiva. Perceber todos os fatores que interferem nesta relação poderá auxiliar tanto treinadores quanto atletas a também permanentemente significá-la, uma vez que os próprios entrevistados trouxeram em suas falas elementos do Eu-Tu e do Eu-Isso em constante alternância. Entretanto,

apontar estes elementos não indica, necessariamente, uma compreensão profunda de como estarão transitando na relação e do efeito que terão sobre o desempenho esportivo. Somente uma reflexão densa e constante poderá acompanhar este movimento de ir e vir do Eu-Tu e do Eu-Isso.

Por outro lado, sabe-se que a permanência da relação no Eu-Tu, conforme afirma Buber (2006), é utópica, mas caberia talvez pensar que, embora treinadores e atletas vejam o Eu-Isso como necessário para a aprendizagem e a excelência performática, será que não haveria outras formas de trabalho que colocassem a relação em outro modo? O Eu-Isso, na forma como se apresentou nesta pesquisa, é realmente imprescindível para o desempenho esportivo? Será que o Eu-Isso instrumental, da utilização e da objetividade necessita vir realmente em forma de cobranças, brigas e xingamentos? Não bastaria apenas que treinador e atleta, como diz Buber (2006), utilizassem os entes que estão em sua volta para o bem de sua causa?

Estes são alguns questionamentos que, talvez, fossem necessários a treinadores e atletas de alto nível de desempenho esportivo, no sentido de refletirem a forma como o Eu-isso se desdobra na relação que estabelecem. Está claro, pelos depoimentos dos entrevistados, que a aprendizagem e a proficiência esportiva dependem da objetividade e da utilização do Eu-Isso, o que não significa, necessariamente, atritos constantes, gritos e descomposturas que levarão a mágoas e ressentimentos.

As falas das entrevistas deixaram clara a presença do espaço de diálogo entre treinadores e atletas, bem como a reciprocidade e a confiança constituídas entre os dois, quando a relação é analisada do ponto de vista do Eu-Tu. Sem dúvida, a sintonia alcançada entre treinador e atleta dão a esta relação uma profundidade singular, o que irá influenciar de maneira importante a aprendizagem e o desempenho esportivo. Segurança, suporte, confiança e diálogo são alguns dos elementos que apareceram figurando como as características mais importantes da relação no modo Eu-Tu, indicando que a aprendizagem e a proficiência do atleta estão diretamente vinculadas a eles. No entanto, parece importante ressaltar que a transição para o Eu-Isso, inevitável e necessária à performance esportiva, segundo as vozes do “corpus”, traz consigo elementos que vão além da visão utilitária e objetiva da relação neste modo, o que leva aos questionamentos já apresentados.

Assim, parece importante que não somente treinadores e atletas, mas todos os envolvidos com o esporte de alto rendimento, repensem a importância da relação treinador-atleta, observando como os desdobramentos do Eu-Tu e do Eu-Isso podem influenciar a aprendizagem e a proficiência esportiva. Não se quer dizer aqui que a relação deverá permanecer no Eu-Tu, uma vez que a oscilação entre os dois modos de estar no mundo ficou clara nos depoimentos dos entrevistados, mas sim de propor considerações acerca de uma busca implacável pelo resultado, que justifica qualquer tipo de atitude entre treinador e atleta. Avaliar permanentemente se o caminho dos gritos, depreciações, ameaças e disputas é realmente o melhor e como influenciam o desempenho do atleta torna-se tarefa de todos aqueles que trabalham com o esporte e fazem dele este grande espetáculo.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conclusão deste trabalho reporta mais uma vez ao objetivo geral da pesquisa que foi analisar o significado da relação treinador-atleta na aprendizagem e proficiência esportiva do atleta de alto rendimento de modalidades esportivas individuais sob a ótica do Eu-Tu e do Eu-Isso de Buber. Buscou-se, por meio de entrevistas com treinadores e atletas, uma compreensão de como os desdobramentos do Eu-Tu e do Eu-Isso refletem na aprendizagem e no desempenho esportivo, identificando quais os indicadores de aprendizagem e desempenho que emergem destes dois modos de estar no mundo.

A pesquisa foi sistematizada em torno da análise dos depoimentos de 7 atletas de alto nível de desempenho (6 deles com participação olímpica) de diferentes modalidades esportivas individuais e seus respectivos treinadores, seguindo um roteiro semiestruturado de perguntas para as entrevistas. A metodologia utilizada para a análise foi a ATD, proposta por Moraes e Galiazzi (2013), optando-se pela utilização de categorias a priori, com a criação de subcategorias ao longo do processo.

As vozes do “corpus” expressaram em muitos momentos certa contradição ao falar da relação treinador-atleta e das suas influências na aprendizagem e desempenho esportivo, apontando para uma relação aberta e dialógica, mas que, ao mesmo tempo, sofre com pressões, gritos e xingamentos. A interface entre a teoria de Buber (2006) com os depoimentos dos entrevistados permitiu a compreensão de que estas contradições podem representar este permanente transitar do Eu-Tu para o Eu-Isso a que o autor se refere. Com isto, as falas expressaram uma gama de significados atribuída à relação que treinadores e atletas estabelecem, podendo esta mover-se do Eu-Tu para o Eu-Isso a partir de determinada situação ou atitude dos atores envolvidos.

Dos depoimentos dos entrevistados surge também a observação de que, ao longo do tempo, a relação entre treinador e atleta vai se modificando, apresentando características distintas nas fases mais iniciais do treinamento para o alto rendimento. Os discursos trouxeram a ideia de que durante o período de aprendizagem e preparação para o alto nível de desempenho existe menos abertura e menos diálogo na relação, onde a reciprocidade não é vista como nas fases de maior proficiência esportiva. Embora não se ignore os aspectos do Eu-Isso, quando a pressão por resultados pode culminar em gritos, brigas e depreciações, a troca, o suporte e a

aproximação foram elementos que apareceram de maneira clara nas entrevistas dos treinadores e atletas participantes desta pesquisa, evidenciando que, no alto rendimento, o tempo de convivência permite o desenvolvimento de uma sintonia entre os dois, revelando a presença de características do Eu-Tu. Assim, contrariando os resultados de estudos como os de Wylleman et al (2002) e Stirling e Kerr (2013) que defendem que na fase de desenvolvimento dos atletas os treinadores estão mais envolvidos pessoalmente, enquanto no alto rendimento aumentam as exigências e as cobranças sobre a proficiência, esta pesquisa mostrou que, apesar das cobranças permanecerem elevadas em um nível superior de desempenho, o grau de aproximação e reciprocidade tende a aumentar na relação treinador-atleta neste estágio performático.

Considera-se importante também ressaltar que a oscilação Eu-Tu/Eu-Isso estará presente no momento das competições, onde a relação tende a permanecer no modo Eu-Tu, enfatizando o suporte e a aproximação entre treinador e atleta. Assim, uma situação que num momento de treino seria encarada com gritos e brigas, na hora da competição poderá ser resolvida por meio do diálogo e do entendimento, mostrando que a relação no Eu-Tu e no Eu-Isso resultará em diferentes influências na performance esportiva. Portanto, para treinador e atleta o Eu-Isso pode mostrar-se eficiente para um momento específico do treino, onde o objetivo é melhorar a proficiência de determinado movimento, o que não significa que terá o mesmo efeito em um momento emocionalmente complexo como o da competição.

O espaço de diálogo que treinadores e atletas estabelecem dá à relação uma abertura que possibilita a troca não apenas de aspectos concernentes à técnica e ao treinamento, mas também de questões pessoais, marcando a disponibilidade para a escuta do outro. A aproximação entre treinador e atleta, portanto, constitui um contato e uma comunicação que promovem o respeito mútuo e a busca pelo consenso, caracterizando uma relação não hierarquizada. Assim, mesmo não havendo concordância, ouvir o que o outro tem a dizer evidencia a proximidade e o entendimento, o lugar do “entre” da relação Eu-Tu.

Cabe salientar ainda que a reciprocidade e a confiança entre treinador e atleta fundam outra importante característica da relação Eu-Tu, onde o suporte do treinador aparece também como elemento basilar para o desempenho do atleta. A confiança mútua, a afeição, a admiração e o conhecimento profundo do outro elevam a relação treinador-atleta a um patamar que poucas relações conseguem atingir. O apoio

recebido do treinador, principalmente em momentos difíceis como o da lesão, apresenta-se como peça fundamental para a segurança e reabilitação do atleta, sustentando a confiança, o cuidado e a proteção necessários, onde o acolhimento poderá ter papel crucial para a performance. Além disso, a presença do treinador e a motivação que é capaz de dar são significativos não só para o desempenho esportivo, mas para outras questões que permeiam a vida do atleta, tornando a figura do primeiro como uma das mais importantes para o esportista.

Desta forma, a figura do treinador no modo Eu-Tu assume lugar de destaque, sendo inegável a influência deste para o atleta, tanto na parte técnica, quanto em questões pessoais, podendo superar a proximidade até mesmo de pais e familiares. Este vínculo extremamente sólido formado por treinador e atleta, sob a perspectiva do Eu-Tu, representa a presença do Eu encontrando o Tu, onde o Tu exerce e recebe a ação, sendo diferencial nos resultados obtidos. A relação treinador-atleta, com isso, passa a ser comparada a uma relação de pai e filho, transcendendo os limites da técnica e do gesto e tornando-se indispensável para suas trajetórias esportivas. Portanto, ensinar e corrigir movimentos, serão apenas uma das muitas funções desempenhadas pelo treinador, que também será aquele que orienta, educa e forma. Assumindo o papel de educador, o treinador permitirá que, assim como na perspectiva sobre a educação na relação Eu-Tu de Buber, uma pessoa veja o mundo por meio de outra pessoa influenciando a vida do outro com a própria vida.

Mesmo que existam dificuldades, a relação treinador-atleta foi identificada positivamente, mostrando que o nível de intimidade, a abertura, a disponibilidade e o diálogo serão um diferencial no processo de aprendizagem e desempenho esportivo. Entretanto, o Eu-Isso também está presente na relação treinador-atleta e a complexidade que este relacionamento pode alcançar origina obstáculos que extrapolam a técnica e transbordam para a esfera pessoal. As sobrecargas emocionais advindas de cobranças e busca por resultados, com gritos, xingamentos e discussões podem originar sentimentos confusos e contraditórios, o que poderá interferir na relação entre treinador e atleta, afastando-os e suscitando mágoas. Entende-se que quando treinador e atleta não são capazes de aproximarem-se numa relação recíproca, colocando em primeiro plano seus objetivos e a utilização do outro, este afastamento poderá interferir na aprendizagem e no desempenho esportivo. Atritos, desentendimentos e disputas de poder acabam desgastando a relação entre treinador e atleta, transformando-a em uma relação instável e de objetividade.

Qualquer situação ou atitude que possa prejudicar a trajetória para o alcance das metas de um dos atores envolvidos na relação será a fonte de descontentamentos, brigas e discussões, gerando dificuldades que irão refletir na proficiência esportiva.

Por outro lado, em alguns momentos parece que os xingamentos e gritos têm um valor motivacional, sendo entendidos como importantes e necessários para o desempenho do atleta. Nesta mesma lógica, o Eu-Isso em Buber não é percebido como algo ruim ou prejudicial, sendo necessário para a satisfação das necessidades da vida terrena. Assim, as cobranças, os gritos, os xingamentos e os comportamentos explosivos estão justificados por treinadores e atletas pelo vislumbre da excelência na performance, amparando estas atitudes na melhora do desempenho esportivo.

As demonstrações de insatisfação dos treinadores foram trazidas pelos atletas como algo contundente e enfático, colocando a relação no modo Eu-Isso, onde o indivíduo não é capaz de ver do lugar do outro e só consegue perceber seus propósitos. Em contrapartida, as demonstrações de satisfação foram relatadas como escassas e discretas, revelando a produção de uma gama de significados nestas atitudes. Com isso, a maneira econômica de demonstrar satisfação e a ênfase dada à insatisfação mostram como na objetividade do Eu-Isso o desempenho esperado terá um significado distinto da falha ou da derrota, onde a visão voltada ao resultado e à performance impedem que o atleta seja visto na sua alteridade. A insatisfação do treinador é normalmente observada por meio de feedbacks agressivos e gritos, além de ataques de raiva e comportamentos explosivos, mostrando que a forma de comunicação com o atleta e a postura adotada indicarão de maneira clara seu descontentamento, enquanto elogios e incentivos serão restritos e exíguos. Nota-se que existe grande influência dos feedbacks e da forma como ocorre a comunicação do treinador no desempenho do atleta, indicando que o sucesso ou o fracasso na performance está associado à quantidade, maneira e intensidade com que ocorrem. Perspectivas de desempenhos de sucesso não correspondidas normalmente irão originar formas agressivas e hostis de comunicação, entendendo-se que a performance do atleta está atrelada às competências e ao sucesso profissional do treinador, onde treinos e competições mal sucedidos afetarão a relação estabelecida entre os dois. Neste universo das coisas do Eu-Isso, a busca por resultados coloca o foco da relação puramente no desempenho, o que impede o fluxo de ação recíproca e o encontro, afastando treinador e atleta.