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Êita porco bem tratado

No documento INÁCIO RODRIGUES DE OLIVEIRA (páginas 73-83)

É por isso que eu digo: vai buli com caipira, vai... Já vi m uit o cidadão sair m al quando se aventura em tirar farelo com os ditos cuj os.

Tem um causo que foi assim : o coit ado do nosso pequeno sit iant e t ava dando com ida aos porquinhos dele lá no chiqueiro quando de repent e aparece um fiscal, desses que andam pelas fazendas e sít ios olhando se est á t udo dent ro do que m anda a lei agrária e pecuária do país.

FI SCAL Ô caboclo! O que é que você está dando pros seus porcos de alim entação? CABOCLO Uai. Tô dando o que é m ió de bão. Tô dando m ío.

FI SCAL (a fim de gozar com a cara dele) Com o? Ent ão nós t em os t ant o pobre nest e país, t ant a criança precisando de alim ent o e o senhor dá m ilho para os seus porcos? Fique sabendo que com m ilho a gent e pode fazer m uit os t ipos de alim ent os. Tem o fubá, tem a farinha... e tantas out ras coisas. Pois o senhor está m ultado em R$ 50,00!

O fiscal lavra ali m esm o a m ult a e se vai. Passados uns dias, o m esm o fiscal volt a àquele sítio.

FI SCAL ( vendo o m esm o caboclo t rat ar dos porcos) Boa t arde! E hoje? O que é que o senhor está dando para seus porcos?

CABOCLO Hoj e? Ah, hoj e eu escoí um a com ida das boa. Tô dando lavagem . Tudo o que sobra das nossas com ida, arroz véio, feij ão, verdura azeda... t udo. Óia só cum o eles com i gost oso! ! !

FI SCAL ( de novo querendo gozar) Com ida??? Onde se viu? Com t ant a fom e no país, o senhor j oga no chiqueiro com ida da gente? Tá m ultado em R$ 100,00.

Lavra a m ulta e vai em bora. Depois de um a sem ana, o m esm o fiscal volta. Lá está o nosso bom caboclo pert o do chiqueiro a olhar para seus porquinhos. Todos quiet inhos e bem com portados.

FI SCAL ( vendo que o caboclo não t rat ava dos porcos com o de costum e) Boa Tarde! E então? E hoj e o que é que o senhor deu aos seus porcos com o alim entação?

CABOCLO Óia, m oço. Pra falá a verdade, faz dias que eu num dô nada pra m óde eles com ê.

FI SCAL Então eu vou m ultar o senhor, pois assim eles vão m orrer de fom e.

CABOCLO Num m orre não, sêo fiscá. Já resorvi esse probrem a pra m óde num sê m ais m urtado. Num pode cum ê isso, num pode cum ê aquilo outro... intão...

FI SCAL E então o senhor não dá m ais nada pra eles com erem .

CAI PI RA Dô sim , sinhô. Dô um a not a de R$ 5,00 pra cada um e eles que com am im quarqué rest orant e que eles quizé. Tá cheio de com ida por quilo aí afora. Esses m eus porco são m uito insigente...

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OLHAR SEMI ÓTI CO

Êita porco bem t rat ado

O título traz a m arca da oralidade caipira na expressão t ípica Êita, reveladora de adm iração e espant o. O enunciador, instalando-se com o narrador, assum e a voz de caipira para t rat ar do universo rural, figurativizado em um sitiante que cria porcos, im agem que abre a perspectiva de um a oposição: anim al porco versus atividade pecuarista, configurando a int eração do hom em com esse anim al.

Se a figura do porco recebe conot ação disfórica no senso com um , pois seu context o é de suj eira, a pecuária suína m ostra, j á no título, conotação eufórica, na qualificação bem tratado. O j ulgam ento do enunciador, sobre a relação do hom em com o anim al denota um fazer part icular um criador que quer e sabe fazer bem a criação de anim ais.

O tem a faz parte do universo do interiorano e a posição adm irativa do enunciador, que se apresenta com o um conhecedor dessa relação, provoca o int eresse do enunciat ário.

É por isso que eu digo: vai buli com caipira, vai... Já vi m uit o cidadão sair m al quando se aventura em tirar farelo com os ditos cujos.

Tem um causo que foi assim : o coit ado do nosso pequeno sit iant e t ava dando com ida aos porquinhos dele lá no chiqueiro quando de repent e aparece um fiscal, desses que andam pelas fazendas e sít ios olhando se est á t udo dent ro do que m anda a lei agrária e pecuária do país.

A debreagem enunciativa, ao int roduzir o enunciador em prim eira pessoa, aponta um suj eit o confiante em sua onisciência e j ulgam ent os, pois se qualifica com o com petente ao fazer uso da fala, logo, de um poder ( é por isso que eu digo) , ao dem onst rar conhecim ento que lhe possibilita int im idar ( vai buli com caipira, vai) e ao colocar-se com o crítico social ( já

vi muito cidadão sair mal) .

A expressão que inicia a cont ação ( Tem um causo que foi assim ) confirm a que ele tem repert ório variado para exem plificação que com prove o acerto de seu j ulgam ento. Dois at ores são inst alados: o prim eiro, j ulgado coitado e pequeno sitiante, é descrito com o o anti- herói

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que fala no sim ulacro do tem po e do espaço sem iótico da sim plicidade int eriorana; o segundo, descrito com o um fiscal, focalizado no anonim ato de sua condição funcional ( desses que andam pelas fazendas e sítios

olhando) e designado pelo pronom e desses, conot ando que t anto o

enunciador com o o enunciatário não sabem quem eles são, apenas o que fazem , criando o sim ulacro da autoridade do poder público im pessoal. O ant i- herói, ao cont rário, referido por artigo definido, recebe o reconhecim ent o de seu grupo (o coitado do nosso pequeno sit iante) e, apesar de disfórico e pequeno, é com pet ente, pois sabe e pode ter t erra e porcos.

Os papéis tem át icos dão prim azia ao suj eito caboclo, apresentando- o com pet ente pelo seu próprio fazer, pressuposto com o o result ado da aquisição pessoal de um saber e poder ( t er e cuidar de porcos) . Ao fiscal é dada a com petência pragm át ica ( fiscalizar) , delegada por um a inst ituição que restringe sua ação a norm as que devem ser seguidas, o que torna o fiscal apenas um cum pridor da det erm inação de out rem :

Fiscal representante da lei criada por outrem e a quem deve apresentar o result ado de seu t rabalho.

Caboclo figurativizando o trabalhador, dono de t erra e criação de porcos o qual t rabalha por sua própria cont a e sem prest ar result ados a ninguém .

Am bos at uam a part ir de um obj et o valor. Para o caboclo, o cuidado, o trabalho de m anut enção daquilo que lhe é próprio; para o fiscal, represent ar a lei, aplicar m ulta e seguir determ inações, sem nada possuir. Um t em um poder e saber- fazer e tirar benefícios pessoais disso, pois seu trabalho é criativo e eufórico, visto que est á ligado à produt ividade da natureza. O outro tem um poder e saber- ser, sem nenhum benefício pessoal, porque não é criativo, deve apenas seguir regras ( ver se está

tudo dentro do que manda a lei agrária e pecuária do país) .

FI SCAL Ô caboclo! O que é que você está dando pros seus porcos de alim entação? CABOCLO Uai. Tô dando o que é m ió de bão. Tô dando m io.

FI SCAL (a fim de gozar com a cara dele) Com o? Ent ão nós t em os t ant o pobre nest e país, t ant a criança precisando de alim ent o e o senhor dá m ilho para os seus porcos?

68 Fique sabendo que com m ilho a gent e pode fazer m uit os t ipos de alim ent os. Tem o fubá, tem a farinha... e tantas outras coisas. Pois o senhor está m ultado em R$ 50,00!

O fiscal lavra ali m esm o a m ult a e se vai. Passados uns dias, o m esm o fiscal volt a àquele sítio.

FI SCAL ( vendo o m esm o caboclo t rat ar dos porcos) Boa t arde! E hoje? O que é que o senhor est á dando para seus porcos?

CABOCLO Hoj e? Ah, hoj e eu escoí um a com ida das boa. Tô dando lavagem . Tudo o que sobra das nossas com ida, arroz véio, feij ão, verdura azeda... t udo. Óia só cum o eles com i gost oso! ! !

FI SCAL ( de novo querendo gozar) Com ida??? Onde se viu? Com t ant a fom e no país, o senhor j oga no chiqueiro com ida da gente? Tá m ultado em R$ 100,00.

A interlocução dos atores revela o m otivo que pode indicar o paradigm a do conflito: o papel actancial do fiscal não se relaciona ao poder e saber- ser criat ivo, apenas ao dever- ser prescrit ivo, o que const it ui a m at riz da paixão do despeit o.

A coerência da postura do fiscal, fazer gozação ou caçoada, é a m obilização ou a seleção encontrada para neutralizar a paixão do despeit o. O at or fiscal é m ost rado com a consciência dessa int enção ( a fim

de gozar com a cara dele) , m as o caboclo não percebe t al int enção porque

sua respost a m ostra surpresa com a pergunt a, porquanto j ulga que seu procedim ento é correto. A polaridade está no fazer com um de alim entar porcos e sentir orgulho de o fazer bem ( os porcos estão bem tratados) versus ser gozador e fazer incorret o de m ult ar o caboclo.

Os conect ores isot ópicos, os porcos e a lei sanitária, const roem os sim ulacros: o caboclo é, além de suj eit o realizado, pois deve/ quer/ pode/ sabe- fazer o tratam ento adequado dos porcos, suj eit o sancionado, porque sua criação vai bem , t anto que a boa aparência dos porcos suscitou, no fiscal, o despeit o, paixão paralela da invej a. O fiscal tam bém se m ost ra suj eito realizado, j á que sabe e pode- fazer a aut uação do caboclo, caçoar dele e m ult á- lo.

O suj eito fiscal im pede, por função aut orit ária, a realização da ação do suj eito caboclo, ou sej a, dar com ida aos porcos ( Tô dando o que é m ió

de bão) e, portanto, priva estes da aquisição por atribuição a que

sem ioticam ente se cham a dom . A prescrição im plica fazer a disj unção dos porcos com esse dom (m ió) para que as crianças entrem em conj unção com ele. Nesse caso, o dom hom ologa a sit uação de privação, t anto de

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porcos com o de crianças pobres. A sit uação se repet e em outra ocasião, e o dom ( com ida, arroz veio, feij ão, verdura azeda) é considerado out ra vez com o devido aos pobres. Nas duas situações, o dom (alim ent o) para porcos é interdit ado e o dom ( dinheiro da m ult a) para o governo é prescrito para que sej a sancionada a post ura com pet ente de um e de out ro.

Lavra a m ulta e vai em bora. Depois de um a sem ana, o m esm o fiscal volta. Lá está o nosso bom caboclo pert o do chiqueiro a olhar para seus porquinhos. Todos quiet inhos e bem com portados.

FI SCAL ( vendo que o caboclo não t rat ava dos porcos com o de cost um e) Boa t arde! E então? E hoj e o que é que o senhor deu aos seus porcos com o alim ent ação?

CABOCLO Óia, m oço. Pra falá a verdade, faz dias que eu num dô nada pra m óde eles com ê.

FI SCAL Então eu vou m ultar o senhor, pois assim eles vão m orrer de fom e.

CABOCLO Num m orre não, sêo fiscá. Já resorvi esse probrem a pra m óde num sê m ais m urtado. Num pode cum ê isso, num pode cum ê aquilo outro... intão...

FI SCAL E então o senhor não dá m ais nada pra eles com erem .

CAI PI RA Dô sim , sinhô. Dô um a not a de R$ 5,00 pra cada um e eles que com am im quarqué rest orant e que eles quizé. Tá cheio de com ida por quilo aí afora. Esses m eus porco são m uito insigente...

As duas conj unções do dom com o suj eit o da privação,apont am as diferentes int erpret ações das funções cuidar dos porcos e prescrever m ultas, evidenciando sucessivas ( des) configurações do obj et o valor alim ent o. Este passou de alim ento in natura (mio) para alim ent o transform ado pelo hom em e pela passagem do tem po (arroz véio, feij ão e

verdura azeda) , por fim , a não- alim ent o, m as dinheiro.

As duas visitas constit uem a prova a que foi subm et ido o caboclo: a perda de R$50,00 e de m ais R$100,00, perdas correlat as à aquisição de um saber cognit ivo: apropriação da espert eza do fiscal, saber m ost rado no t erceiro episódio e na nova configuração do dom . Assim , nos dois prim eiros sim ulacros de fiscalização, o fiscal sancionou o caboclo disforicam ent e, com duas m ult as, afirm ando sua incom petência cognit iva; ao m esm o tem po, sancionou a si m esm o euforicam ente com o aut oridade fiscal e gozador com petente, porque m ult ou, enganou o outro e se divert iu.

A conj unção dos porcos com o dom , configurado com o obj et os de valor diferenciados (mio e sobra das com idas) , t ransform ou a nat ureza do

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alim ent o, ao coisificá- lo com o dinheiro. O sim ulacro da perda do dom / alim ento e da aquisição do dom / dinheiro hum anizou, contradit ória e pressupostam ent e, os porcos, que entraram em disj unção com a nat ureza de anim al e, recebendo a atribuição de m anipular o dinheiro, transform aram seu fazer irracional em fazer racional e social ( Dô um a

not a de R$ 5,00 pra cada um e eles que com am im quarqué restorante que eles quizé) .

Assim , a visita do fiscal apont a o result ado da prova a que o caboclo foi subm et ido: sua t ransform ação cognit iva, de ingênuo passa a espert o, a transform ação do dom dado aos porcos, de com ida passa a dinheiro, e a aprendizagem da lição e apropriação do fazer cognitivo nos dois encontros. Essas novas situações levam a exam inar as atividades do fiscal: sua com pet ência no m anuseio de m ultas e dinheiro t ornou- o com petente para fazer gozação do caboclo, o que fez aflorar no caboclo a espert eza que levou o fiscal a perder o estatuto de representante da racionalidade e assum ir o da irracionalidade. O dom / dinheiro que ele e os porcos receberam hom ologa a com petência ou função do fiscal à dos porcos, j á que tant o um com o os outros recebem as m esm as at ribuições ou poderes: com er em restaurant e e m ost rar- se igualm ent e muito

insigente.

Confirm a- se a m anipulação por intim idação do enunciador, que anunciara que o que vai contar serviria para fazer refletir m uito cidadão

que se aventura em tirar farelo com os ditos cuj os, os caboclos. Nesse

j ogo de sim ulacros, a at ribuição do fazer social e racional ao porco ( receber dinheiro e com er em restaurante) pressupõe que o fiscal renuncie ao despeit o e gozação, a m enos que ele perca sua condição de civilizado e se aproprie da com pet ência irracional dos porcos.

Tais sim ulacros desenvolveram - se no program a de base, no qual a paixão do despeito ou invej a é o Dest inador que leva o fiscal a im por sua superioridade cognit iva e social ao caboclo, por m eio do program a de uso, no qual t ent a dim inuir a com pet ência do caboclo, m anipulando- o para

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entrar em disj unção com seu saber cuidar dos porcos. Tais program as de uso e o de base, não t iveram sucesso, porque o caboclo foi m ais espert o.

Os sintagm as represent at ivos das t ransform ações apontam que os dois at ores, caboclo e fiscal, em seus papéis act anciais, m anifestam -se, respect ivam ent e com o o ser/ fazer criativo e o ser/ fazer crít ico, explicit ando o nível fundam ent al nat ureza versus cultura e constituindo o paradigm a ou a paixão do despeit o e invej a.

A análise sem iolingüística dest aca a eufem ização de situações sociais ( fiscalizar) e traços pessoais disfóricos ( paixão do despeito e invej a) e a inversão de com pet ências: a superioridade do cit adino e represent ante da lei substit uída pela do caboclo, tendo am bos, porém , o m esm o recurso do discurso irônico na interação. A cena geral é construída em t orno da prova em que o sit iante, confrontando- se com o poder público, m anifesta sua posição diant e do obj et o de valor (condição de subsist ência) do pont o de vista da natureza/ cam po e da cult ura/ cidade, subsistência configurada com o alim ento e dinheiro. Na prova, a esperteza e rapidez cognit iva do caboclo saem vencedoras, estabelecendo t am bém a vit ória da nat ureza/ cam po.

FAZER ARGUMENTATI VO

O ethos do enunciador é o de um suj eit o assertivo e part icipat ivo ( configuração do et hos eunóia) , que agrada pelo fat o de anunciar o procedim ent o a ser seguido frente ao encontro com o suj eit o, tam bém m anifest a um dizer de m odo franco, que assum e um a at it ude frent e a est e dizer ( ethos arethé) .

É por isso que eu digo: vai buli com caipira, vai... Já vi m uit o cidadão sair m al quando se avent ura em t irar farelo com os dit os cujos.

Na argum entação, o vínculo causal m ost ra acont ecim entos distint os, pressupondo que antes da hist ória que será contada outras t antas j á acont eceram e corroboram a afirm ação do enunciador, que por um a boa elaboração hierárquica, revela os efeit os de um invest im ent o errôneo.

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O contador/ enunciador se utiliza de argum ent os que provoquem com passividade ( ... o coitado do sitiant e...) e indignação (a fim de gozar

com a cara dele; de novo querendo gozar; etc) , por parte do auditório.

Assim , a confront ação de um saber prático part e de um saber aplicado do qual result a um com portam ent o e saber poét ico, que resulta num criar e/ ou fazer.

O traço irônico se efetiva na luta entre dois discursos, do fiscal ( a lei, o citadino) e do caboclo ( o int eriorano, o caipira) . Este, ainda que a não assum a um posicionam ento crít ico, os fatos a partir de acordos anteriores, m anifest a um discurso explicat ivo (docere) que convence por sua lógica part icular.

Assim , o ator fiscal é confirm ado argum entat ivam ent e com o antim odelar, por expressões com o ... desses que andam pelas fazendas e

sítios olhando..., a fim de gozar com a cara dele, de novo querendo gozar,

e por atit udes: aplicação das m ultas. Portant o, é possível a com paração de sua postura de pretensa esperteza, sendo realocada na criat ividade do caboclo. A m áxim a ret órica de contra esperteza, esperteza e m eia, sust entada num argum ent o de fundo baseado na Regra de Just iça: se o

outro pode, o eu pode m ais ainda, um a at ualização do dito popular quem ri por último ri melhor.

Efet iva- se, portanto, a const it uição do caboclo ( caipira) com o figura m odelar, a reconfiguração, por outros m eios, do herói alguém que deve ser seguido por sua capacidade de revert er situações inesperadas. Ao m esm o tem po, de form a sutil, coloca o fiscal ( elem ent o figurat ivo do citadino) com o aquele que deve ser e foi vencido. Todos os argum entos convergem para confirm ação de ident idade grupal: o caipira ( caboclo) , o próprio suj eit o exem plar, é aquele a quem não se deve intim idar, pois sua capacidade criadora é m aior de quem o possa afrontar. Constitui-se, assim , a ret órica da dissim et ria ou da diferença.

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DESVENDAR O I MAGI NÁRI O

Segundo o im aginário durandiano, a preocupação do hom em é vencer o Mal, representado pela passagem do tem po que provoca a m orte biológica ou de funções sociais, funcionais ou t ensivas, provocando o surgim ent o de paixões. O exam e de causos m ost ra com o opera o im aginário do enunciador/ contador e, neste, destacar com o reagem os atores que ele im agina serem os represent ant es dos grupos sociais que escolhe com o t em a.

Neste causo, o im aginário é centrado em um obj et ivo bastante claro: m ostrar a superioridade do int eriorano sobre o citadino por figuras que sim bolizam um a condição m ais am pla e profunda, a força superior da nat ureza sobre a cultura. O contador assum e um tom quase pedagógico, tom ando com o atores figuras prototípicas da sociedade brasileira e, a partir da pont uação de seu aspecto disfórico, destaca o eufórico do int eriorano. Os prot ót ipos const ituem , aqui, a m acroim agem que concretiza determ inado Mal e possibilita ao enunciador criar os m eios para m elhor t rat á- lo e vencê- lo.

O prot ót ipo do citadino é a figura do fiscal e a paixão é o despeito, traço que se caracteriza com o m acroim agem cat am orfa, ou sej a, a que represent a a queda de ordem m oral ou com port am ent al. A narrat ividade se organiza para configurar um at or cuj o im aginário está perm eado pela sensação de queda ou de m orte da ilusão de se tornar em preendedor pecuarist a, e de t er, m esm o sendo pequeno sitiant e, sucesso na criação de porcos.

Houaiss ( 2005) refere que a etim ologia do t erm o despeito ( at .

despectus,ús 'vista de alto para baixo, desprezo, desdém ', de despectum,

supn. do v.lat . despicère 'olhar de cim a para baixo, desprezar') aponta o

No documento INÁCIO RODRIGUES DE OLIVEIRA (páginas 73-83)