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INÁCIO RODRIGUES DE OLIVEIRA

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Academic year: 2019

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I NÁCI O RODRI GUES DE OLI VEI RA

GÊNERO CAUSO:

NARRATIVIDADE E TIPOLOGIA

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I NÁCI O RODRI GUES DE OLI VEI RA

GÊNERO CAUSO:

NARRATIVIDADE E TIPOLOGIA

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Paulo 2006

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BANCA EXAMINADORA

Profª Drª . Maria Thereza Queiroz Guim arães St rongoli Orient adora

Profª Drª . Edna Maria Fernandes dos Sant os Nascim ent o Unesp/ SP

Profª Drª . Dina Maria Mart ins Ferreira Mackenzie/ SP

Prof. Dr. Luiz Ant onio Ferreira PUC/ SP

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Agradecimentos

À profª drª . Maria Thereza Q.G. St rôngoli, pelas horas laboriosas e agradáveis de orient ação, pela leit ura crit eriosa da t ese e pelo afet o com que m e conduziu pelo universo do fazer científico.

À profª drª Edna Maria Fernandes S. Nascim ent o, pelas sugest ões e orient ações benfazej as que reorganizaram a estrutura do trabalho.

À profª drª Dina Maria Mart ins Ferreira, pela preocupação com os cam inhos da t ese, pela alegria e com panheirism o.

Ao prof. dr. Luiz Ant onio Ferreira, pela leit ura crít ica do t rabalho e por t er m e iniciado nos ritos do universo acadêm ico.

Ao prof. dr. Jarbas Vargas Nascim ent o, pela am izade, seriedade e t rabalhos part ilhados ao longo do processo.

Aos cont adores Chico Lu e Carlos Sereno, de São Paulo, Geraldo Tart aruga e Ditão Virgílio, de São Luiz do Parait inga (com abraço a Jô Am ado e Alice do Rest aurant e Sol Nascente), Rolando Boldrin, cuj os causos são a alm a dest e t rabalho e, por extensão, a todos os contadores do Brasil.

Aos pesquisadores do NUPLI N ( Núcleo de Pesquisas em Língua, I m aginário e Narrat ividade) , entre eles: Júlio, Geraldo e Edvânia, Kelly, Rosana, Vera e Eunice.

Aos professores, colegas e secret ária do Program a de Estudos Pós Graduados em Língua Portuguesa da PUC/ SP.

Aos colegas do I P/ PUC I nstituto de Pesquisas Lingüísticas, em especial à Sandra Alves.

Aos Fam iliares e a m eu irm ão Renato pelo longo tem po de espera e ausências. Aos am igos de toda vida pelo estím ulo à perseverança e pela com preensão.

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5 À

Mariana e I ara, Razões de tudo

I nspiração e am or

Mirian Mayum i,

Com panheira de cam inhada

Sustentáculo de todas as horas

Meus pais, José e Maria de Lourdes, Form adores do caráter

Da coragem para a vida

Qui amant ipsi sibi somnia figunt

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6

RESUMO

A análise desenvolve- se na área de Análise do Discuso, e focaliza as estruturas sem iolingüísticas de cont adores de "causos" no Est ado de São Paulo. Seu objetivo é exam inar com o se const roem a t em át ica, a argum ent at ividade e as est rut uras discursivas que m anifest am o im aginário dos enunciadores e possibilit am o reconhecim ento de categorias que pontuem as particularidades do gênero "causo".

A metodologia dos trabalhos recorre à int erdisciplinaridade, cent rando-se em post ulados: da sem iót ica discursiva, desenvolvida por Algirdas J. Greim as; da retórica, at ualizada por Chaim Perelm an; e da ant ropologia do im aginário, fundam ent ada em Gilbert Durand.

A const it uição do corpus result ou de dois m om ent os: exam e de m aterial

publicado e pesquisa de cam po realizada em regiões int erioranas paulist as a fim de entrevistar contadores, e gravar seus causos.

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7

ABSTRACT

This analysis has been developed according t o Discourse Analysis principles and focuses on t he sem io- linguistic st ructures of story- tellers 1 in the State of São Paulo. The obj ect ive is to exam ine the way t hem atic cont ent, argum ent s and discursive struct ures are com posed and how they reveal t he im aginary of ut terers, m aking it possible t o recognize the cat egories t hat ident ify t he part icularit ies of t his gender.

The m ethodology of this work is inter- disciplinary, cent ering itself in post ulates of discursive sem iotics, developed by Algirdas J. Greim as; the rhetoric, brought up to date by Chaim Perelm an; and t he anthropology of t he im aginary, based on Gilbert Durand.

The const it ut ion of t he corpus result ed from t wo m om ent s: exam inat ion of published m aterial and field research, carried t hrough in São Paulo countryside regions in order t o int erview story- tellers and to record t heir t ales.

The analysis has com e to t he following conclusions: this kind of tale constit utes a gender wit h definite discursive and them at ic charact eristics as well as specific sem io- linguist ic st ruct ures. These have been enough for the const itution of four cat egories: playful, t hat explores t he laugh; critical, t hat is based on t he irony; vengeance replies, that evidences the revenge; and t errifying, t hat awakes fear.

1 Story-tellers (

contadores de causos in portuguese) are citizens usually from the countryside who are famous for

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8

SUMÁRIO

I NTRODUÇÃO

01

PRI MEI RA PARTE PRESSUPOSTOS TEÓRI COS

11

O olhar sem iót ico

12

Os Procedim ent os Ret óricos

19

A Perspect iva do I m aginário

26

Gênero e Processos I nt erat ivos

32

SEGUNDA PARTE ANÁLI SES

39

Preâm bulo

40

Análise do Causo 1

42

Análise do Causo 2

52

Análise do Causo 3

62

Análise do Causo 4

73

Análise do Causo 5

86

Caract erização do Gênero Causo

100

Tipologia dos Causos

111

TERCEI RA PARTE

116

Considerações Finais

117

Referências Bibliográficas

120

Dicionários

125

Bibliografia Consult ada

126

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1

Quem conta um conto aumenta um ponto

Ditado popular

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2

om o qualquer criança de cidade interiorana, m inha m em ória est á cheia de contos e de pontos ouvidos durant e a infância, sobret udo, quando viaj ava com m eus pais pelo int erior dos Est ados de São Paulo e Minas Gerais, em visita a parent es e am igos da fam ília. Tenho, ainda, presente a im agem do m enino sent ado ao redor do fogão a lenha, a ouvir as hist órias cont adas pelos avós e t ios, no am bient e m ágico e lúdico de inesquecíveis serões em que palavras, gest os e olhares faziam com que todos entrassem na história, fosse esta do sert ão, de avent uras, de m edo ou de algum livro de Mont eiro Lobat o, I rm ãos Grim m , La Fontaine, Andersen ou outros. Além dessas hist órias, escutava inúm eras vezes as cont adas em disco vinil com pact o e colorido que recebia, com o toda criança na época, de present e para fazer a descoberta m aravilhosa que j unt ava fant asia e m úsica.

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3

Essa diversidade m otivou, naquele t em po, as primeiras questões: havia um a t ext ualidade própria do universo infant il, com o o conto de fadas, e out ra própria do público adulto? O m undo adult o era configurado diferent em ent e para ou pelas crianças?

A única constatação, naquele m om ento, era que cont ar histórias, qualquer fosse seu form at o, est rutura ou m esm o sua finalidade, parecia-m e atividade rica eparecia-m sua função linguageira, devido a seus usos e recursos serem m ais elaborados que as conversas do cotidiano, ainda que ( ou por isso) as frases fossem construídas sobre estrut uras arquetípicas e tivessem com o ponto de apoio um a m ensagem que transitava pelo verbal e não-verbal. Notava com o ocorria o aj uste da voz do contador com seu corpo, assim com o sua busca de int eração com os ouvintes, com o se houvesse necessidade da co- presença destes. Observava que as referências t extuais eram m últiplas: vinculavam - se tanto à pessoa do narrador, quant o às personagens e, m uit as vezes, aos ouvint es.

Ao observar tal relação dos adultos com as histórias, passei a entender que est as, além de refletirem o pensam ento daqueles, apont avam sem pre sua int enção de form ar o caráter não som ente de nós, adolescent es, m as do grupo social, com o se as hist órias t ivessem norm as de condut a referentes à int eração dos hom ens entre si, com a cultura e com a própria natureza hum ana, j á que pareciam buscar a harm onização de suas lim it ações com o m eio am bient e.

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4

Houaiss ( 2005), ao apresentar o verbete causo, classifica- o com o substantivo m asculino, de uso inform al e m arca do regionalism o brasileiro, cuj a etim ologia é proveniente do cruzam ento de caso e causa; e duas de suas quat ro definições sint et izam o t erm o:

- o que aconteceu; acontecido, caso, ocorrido

Ex: < foi assim que se deu o causo> .< é um causo de m uitos anos>

- narração geralm ente falada, relat ivam ente curt a, que t rat a de um acontecim ento real; caso, história, conto.

Ex: < quase t odos gost am de ouvir um causo> .< cont ador de causos de assom bração>

Mais tarde, j á inserido no grupo dos que t rabalham na área da com unicação, volt ei- m e para o exam e das form as de registro e das m odalidades usadas para dar sent ido a essas hist órias e percebi quant o tais causos se aproxim am da com édia, do chist e, da brincadeira, do absurdo, revelando- se, quase sem pre, hipérbole das hipérboles, posto que, com o afirm am os próprios cont adores, o contador não m ent e num causo, só exagera um bucadim....

Hoj e, norteado por referenciais teóricos, aprofundo as questões

que m e m obilizaram outrora: o que é o causo, que form as específicas caract erizam sua com unicação? Diferencia-se do conto? Const it ui um gênero próprio?

Tais quest ões levaram - m e a trabalho de cam po no interior de São Paulo para resgatar um universo de m anifest ação discursiva oral, m ais recorrent e em espaços rurais e ligados às t radições regionalizadas.

O contato com contadores dem onstrou que o causo se articula com inúm eras m anifestações que vêm sendo resgat adas de diversas m aneiras: celebração de fest as, receitas da culinária regional, t rabalhos art esanais, exploração de seus t em as em escolas e program as educacionais, com o danças, art es circenses e pesquisas acadêm icas.

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5

m anifest a de diversas m aneiras: na educação das crianças, construção e reparo de casas e igrej as, preparo de festas ou de velórios, execução de tarefas m ais pesadas, o que m ot iva reuniões e, principalm ente, a hora de cont ar causos. Nos dias atuais, é cada vez m ais raro e diferent e, m as a aj uda m út ua ainda persist e nos pequenos agrupam ent os urbanos.

À pesquisa de cam po sobre os causos sucedeu out ra: a que se aprofundou na noção de cultura, m orm ent e na reconhecida com o característ ica das experiências do int eriorano. Ant ônio Cândido (1971) cham a o conj unto dessas características de cult ura caipira. Prefere o term o caipira à denom inação cabocla para evit ar um a possível conot ação racial em but ida nest e últ im o t erm o. Para o aut or,

o t erm o caipira t em a vant agem de não ser am bíguo, exprim indo desde sem pre um m odo- de-ser, um t ipo de vida, nunca um t ipo racial, e a desvant agem de rest ringir-se quase apenas, pelo seu uso invet erado, à área de influência paulist a ( op. cit.: 22)

O aparecim ento dessa cult ura pode ser com preendida com o a fusão dos costum es port ugueses, trazidos pelo colonizador, com os dos nativos da t erra, o que acabou m arcando o carát er do paulist a.

Segundo Ribeiro ( 1997: 272) , ligadas às origens ét nicas e raciais, surgiram cinco ident idades cult urais distint as: Brasil crioulo, no nordest e; Brasil caboclo, na região am azônica; Brasil sertanej o no centro-oest e; Brasil Sulino, em Sant a Cat arina e Rio Grande do Sul; e Brasil caipira, que com preende o Paraná, São Paulo e part e do Mato Grosso, Mat o Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Tais regiões caract erizam - se

pela cult ura caipira, da população das áreas de ocupação dos m am elucos paulist as, const it uída, prim eiro, at ravés das at ividades de preia de índios para a venda, depois, da m ineração de ouro e diam ant es e, m ais tarde, com as grandes fazendas de café e a industrialização ( ibidem )

(14)

6 Essa cult ura t ransm it e com vigor e possivelm ent e t am bém gera desem penhos rit ualíst icos ou est ilizados, na recreação ou em form a de prot est o. É at é possível que a m obilidade geográfica, j unt am ente com a crescent e alfabet ização, t enha am pliado a gam a dessas form as e as tenha dist ribuído am plam ent e.

Alfredo Bosi ( 2003: 78) , focalizando a cult ura popular brasileira, explicit a:

Há out ros casam entos, m ais recentes, de cult uras m igrant es, quer ext ernas (it aliana, alem ã, síria, judaica, j aponesa...), quer int ernas ( nordest ina, paulist a, gaúcha...), que penet raram fundo em nosso cot idiano m at erial e m oral. Sem esquecer a presença nort e- am ericana, que vem represent ando, desde a Segunda Guerra Mundial, um a font e privilegiada no m ercado de bens sim bólicos.

O t erm o caipira, segundo o Novo Dicionário Aurélio ( 1999), pode ter se originado da língua t upi (kai pira) , m as seu significado não é explicado no idiom a indígena. Cascudo ( 1988) j ulga que t alvez sej a derivado do t upi

caapora, cuj a t radução é habitador do mato. Para Am aral ( 1920: 106) ,

com o t odas as palavras de aspect o indígena, real ou aparent e, t em fornecido largo past o à im aginação dos et im ologist as. Uns derivam - na de curupira , sem se dar ao t rabalho de explicar a t ransform ação; out ros, de caapora , o que é ainda m ais ext ravagant e, se é possível.

Para o autor, a palavra é um a ligeira alt eração de caapira , que significa m ondador de m at o ( lim pador do m ato) . Segundo Ant ônio Cândido, o term o abrange os aspectos culturais dos descendentes dos antigos m oradores da zona rural do Est ado de São Paulo que se est ende até o sul de Minas Gerais, região próxim a à influência do com port am ent o cult ural do caipira. Para Queiroz ( 1973) , os traços distint ivos da cult ura caipira apontam a form a m ais ant iga de civilização e cult ura da classe rural brasileira, desde os prim eiros t em pos da colonização.

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7

Essa cert eza m otivou a acrescentar, às questões elaboradas no início da pesquisa, outras: por que se contam causos? Que ethos norteia as escolhas discursivas? Que práxis sem iolingüíst ica caract eriza sua discursividade narrativa? Tal discursividade possibilita o reconhecim ento de um a t ipologia?

Para responder a t ais quest ões, buscou- se referencial t eórico em quatro cam pos: sem iótica discursiva, retórica, antropologia do im aginário e t eorias sobre o gênero, estabelecendo a seguint e hipótese: os causos const it uem um gênero textual/ discursivo particular, com est rutura própria, obj etivos específicos e passíveis de ser organizados segundo um a t ipologia.

Assim , a pesquisa t em os objetivos:

1 analisar os processos sem iolingüísticos referent es à construção do

ethos dos atores e com o est es interagem entre si, com o espaço e com o t em po;

2 verificar com o as recorrências t em áticas m anifestam estereotipias ou t raços que possibilitam a eufem ização de problem as psico-sociocognit ivos do hom em e seus grupos sociais;

3 descrever os procedim ent os enunciat ivos e argum ent at ivos que pont uam as caract eríst icas gerais do causo, obj et ivando estabelecer sua t ipologia.

A com posição do corpus ocorreu pela pesquisa de cam po que fixou

a sim ultaneidade do discurso oral e visual pela câm era de vídeo, a espont aneidade das cenas dos contadores em suas casas, na lavoura ou em m esa de bar entre am igos. A int enção foi observar com o são criados tais text os com o obj etivo não sim plesm ent e de diferenciá- los, m as de m elhor com preendê- los e caracterizá- los, acreditando, com Zum t hor ( 1990), que oral não significa popular, t anto quanto escrito não significa

erudito

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8 freqüent em ent e) no int erior de um m esm o grupo, até no com port am ent o e na m entalidade do m esm o indivíduo ( p. 124)

As cenas film adas serviram para m elhor com preender o cont exto discursivo que nort eou a análise dos text os, orais e escritos, e para a com posição final dos 10 causos do corpus. Nest e, incluem -se quatro ext raídos de um a obra j á editada e seis de gravação feita por m im j unt o a quat ro contadores. A opção por ut ilizar as duas m odalidades discursivas, escrit a e oral, não visou a com parar suas form as e estruturas, som ente à classificação dos t em as e suas isot opias.

Dentre os com piladores específicos de causos destacam - se Cornélio Pires2 ( 1921) , da cidade de Tietê, e Rolando Boldrin, ( 2001) , de São

Joaquim da Barra, cuj a atuação com o contador chegou à t elevisão e à I nternet. Da obra dest e últim o, Cont ando causos, ret irou- se o m at erial escrit o para a análise.

Os out ros seis causos foram t ranscrit os de gravações. Em bora não tenham obedecido rigorosam ent e a critérios da análise sociológica, os textos foram coletados em situação na qual m e coloquei com o observador part icipant e. A escolha dos contadores foi definida a part ir dos crit érios: fossem todos de um a m esm a faixa etária, nascidos no Est ado de São Paulo e reconhecidos na com unidade com o contadores por excelência. Por essa razão, escolheu- se a cidade de São Luiz do Parait inga, considerada pelos seus habit antes com o o últ im o reduto caipira do Estado. Lá foram ouvidos dois contadores, bast ant e conhecidos t am bém na Capital, onde têm feit o apresentações de causos. Para dar m ais legitim idade à observação da t ipologia e am pliar o corpus, optou-se por procurar na cidade de São Paulo cont adores de causos e estudar a criação de suas narrat ivas. Dessa form a, selecionaram -se t rês causos de um habitante de São Paulo, m as nascido e criado em Marília ( SP) , e um causo de um cont ador, nascido e resident e na Grande São Paulo ( Sant o André) .

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t ranscrit os entre o final de 2005 e o início de 2006. Com o interessava à análise som ent e o conteúdo tem ático- discursivo e não a estrut ura da língua oral, as t ranscrições para o código escrito não seguem as norm as preconizadas para o est udo da expressão oral. Ao cont rário, m uit as vezes, as variações dos falant es são, na transcrição, aproxim adas do registro escrit o, em bora se indiquem , em caracteres diferenciados, recursos visuais, os gestos m ais significativos, e audit ivos, alt ura ou alt eração de voz, rit m o et c.

A análise do corpus privilegiou, com o referencial t eórico, abordagens desenvolvidas em quatro áreas. A sem iótica discursiva de A. J. Greim as e seus discípulos, m orm ent e Denis Bertrand, norteou a configuração dos sentidos, a organização dos tem as e processos enunciativos; a descrição das figuras e dos papéis t em áticos que sust entam as isot opias; as m odalizações que regem os suj eit os de est ado e seus papéis actanciais, assim com o as m anipulações que possibilit am a esses suj eit os adquirirem com pet ência para ent rar em conj unção com o obj et o- de-valor e receber sanção.

A ret órica arist ot élica, descrit a por Chaim Perelm an e com ent ada por Olivier Reboul, forneceu os recursos que orient aram a descrição da lógica e dos processos utilizados pelo enunciador, na criação do ethos dos atores discursivos, nas at ividades de argum ent ação e na relação interativa dos at ores ent re si e com o audit ório ou grupo social.

A ant ropologia do im aginário, aplicada conform e as est ruturas das im agens propost as por Gilbert Durand e interpret adas por Maria Thereza St rongoli, presidiu o exam e da recorrência de problem as de ordem psico-cognit ivo- social e com o estes se organizam em regim es de im agens que, recorrendo a traços m ít icos, arquetípicos ou prot ot ípicos, t ornam m ais com preensivas as polaridades axiológicas do nível fundam ental do percurso gerat ivo de sent ido da sem iót ica.

2 Sua obra mais conhecida é

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10

A noção de gênero na visão dos estudos sócio- interativos, defendida por Charles Bazerm an e com plem entada por Luiz Antonio Marcuschi, auxiliou no exam e da abordagem das regularidades e recorrências tem áticas, sem ânt icas e lingüísticas das narrativas, apontando as form as de interação da obj et ividade do m undo com a subj etividade do aspecto ont ológico do hom em .

A análise do discurso pressupõe estudos int erdisciplinares a fim de dar m aior relevância à pesquisa e m ais profundidade ao est udo da com preensão do hom em em suas relações com seus iguais, com os valores sociocult urais, ou com a nat ureza que o cerca.

Esses elem entos teóricos não esgotam todos os recursos ou possibilidades operatórias, pois delim itam - se à descrição dos fatos discursivos que pont uam os traços form adores da t ipologia geral dos causos do pont o de vist a da tem ática, não da expressão lingüíst ica. A análise do ethos do cont ador e dos at ores discursivos pode aj udar a com preender t ant o as particularidades do hom em brasileiro, com o sua articulação com a im agem m ult iculturalista. A interação de aspectos do local ou do particular com o global pode auxiliar na com preensão do outro e t ornar-se um m ecanism o est rat égico cont ra a intolerância e o preconceit o.

As análises serão, assim , perpassadas por t rês orient ações:

a) de caráter descritivo desenvolvim ent o processual das narrat ivas, cuj o t raj et o é m ais ext ensivo;

b) de carát er interpret at ivo

critérios de êxito e eficácia discursiva, com procedim ent os m ais sint ét icos;

c) de carát er explicat ivo perspectiva ontológica, para observar o gradient e ent re ext ensão e sínt ese.

(19)

11

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12

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

P

R

I

M

E

I

R

A

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O Olhar Semiótico

Nihil est in intellectu quod non fuerit prius in sensu

Nada há no intelecto que não tenha estado antes nos sentidos São Tomás de Aquino

ncorado na at ividade cognit iva do com preender e do explicar, est e est udo fundam enta- se na Sem iót ica Discursiva e busca estudar as condições da t ransform ação dos sentidos, para revelar o que, quem e com o o t exto diz o que diz,

com o recom enda Greim as.

O processo de const rução de sentido resulta de um dispositivo estruturado de regras, de relações e de correspondências que se m anifest am em um nível superficial e em um nível profundo, que im plicam que se exam ine a enunciação e o cont exto social em que ela se processa. O fator básico que garante a com unicação, assim com o a int erdiscursividade ent re os enunciadores, é o pleno aj ust e ent re o enunciado e as condições de produção, ent re as quais dest aca-se o j ogo de correspondências e valores que sustent am a construção de um verdadeiro percurso gerador de sent idos que se m anifest a em t rês níveis.

(22)

14

ponto de vist a de um det erm inado suj eit o enunciador, a sucessão e encadeam ento dos estados e das transform ações. O nível discursivo aponta as escolhas e as com binações feitas pelo suj eit o para proceder ao encadeam ento das figuras, espaço e t em po, para constit uir a isotopia e configurar os at ores.

Dessa form a, a sintaxe do nível discursivo busca regulam ent ar a inst ância da enunciação, m esm o que esta sej a supost a, e o faz pelo processo de act orialização, t em poralização e espacialização, cuj os traços recursivos constroem isotopicam ent e os at ores da narrat iva, as m arcas que delim itam o tem po da enunciação e det erm inação do tipo de ação enunciat iva.

Bertrand ( 2003) dist ingue at or de act ant e, pois est e é um a pura figura sintáxica, para com por os papéis tem áticos e preencher um lugar no program a narrat ivo no qual se subm eterá a t ransform ações. O ator, figura m ais com plexa, é constituído, ao m esm o tem po, de com ponentes sem ânticos, que lhe dão vida, corpo e aspect o, e de com ponentes sint áxicos, as m odalidades que det erm inam as form as de int eração com o obj et o-valor e suas m udanças, podendo assum ir vários papéis act anciais, com o Destinador, suj eito da ação e suj eito de estado, o que sofre a ação. O processo de actorialização funda- se em duas operações: debreagem e em breagem , que possibilitam const it uir os at ores do discurso e seu papel act ancial a partir da disj unção do suj eit o do processo enunciativo. A debreagem ocorre na inst alação do narrador, a em breagem , quando o suj eito int erno ao processo enunciativo ret om a a palavra. As sucessivas m udanças são classificadas com o enunciativa (prim eira pessoa) ou enunciva ( t erceira pessoa) .

(23)

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espacial, interpret áveis pelas operações de em breagem e debreagem ( enunciat iva/ aqui e enunciva/ alhures) efet ivadas pelo enunciador.

Do ponto de vista da sem ânt ica, o nível discursivo cont ém os com ponentes que levam à abst ração t em ática, no processo de figurat ivização e nas recorrências que apont am a isot opia narrativa criada pelos revest im ent os figurat ivos que dão os efeit os de realidade ao t ext o.

A narrat ividade, segundo Greim as ( 1983: 166) , "revelou-se um princípio organizador de todo e qualquer discurso", ou sej a, sucessão de estados e t ransform ações responsáveis pelo fazer ou ser do suj eito. As transform ações atualizam - se por conj unção ou por disj unção com um obj et o-valor, pela perform ance, que pressupõe um suj eito denom inado a princípio de est ado e, após, suj eit o operador ou realizado.

Dist inguem -se dois tipos de obj et os: o obj eto- valor e o obj eto m odal. O prim eiro m otiva ou m obiliza o suj eit o para a ação que o leva à transform ação, por conj unção ou por disj unção do obj eto- valor; o segundo é o que esse suj eit o precisa ter para realizar tal ação. O obj et o m odal determ ina, portanto, o m odo de existência, perform ativo ou não, de qualquer enunciado, pois m odifica-o conform e o sent ido indicado por sua condição sem ânt ica m odalizante. Mesm o que não est ej a presente no text o, ele est á pressuposto com o o que possibilita a ocorrência da ação, pois é a condição necessária para o predicado do enunciado at ualizar o sent ido que m anifest a.

Os obj etos m odais são tam bém cham ados m odalidades, m odalizadores ou, ainda, verbos m odais, pois são tam bém verbos, e têm grande força sem ântica para predicar ou m odificar outros verbos. São eles:

m odo virt ualizado, que caract eriza o querer e o dever;

m odo pot encializado, que apont a as duas variedades do crer; m odo at ualizado, que m anifest a o saber e o poder;

(24)

16

Est e últim o m odo da série não é propriam ent e um a m odalidade no sent ido restrito, pois os enunciados do fazer e do ser não qualificam out ros verbos, m as são predicados por eles, pois, na ocorrência do ser ou do fazer, é fácil deduzir que há um saber, um poder e um querer ou um

dever subj acent es, com o m ost ra o Quadro 1:

Relações com o real Modo virtualizado Modo potencializado Modo atualizado

Motivações Crenças Atitudes

Endógenas- interior Querer Crer Saber

Exógenas-ext erior Dever Aderir Poder

Fontanille ( 1998: 170)

O quadro dem onst ra que o discurso é sem ant icam ent e com plexo, replet o de significados e aberto à const rução de novos sent idos. Assim , as condições de produção e os efeitos de sentido resultam da relação entre sociedade, história e suj eit o, relação que preside aos com ponentes canônicos da construção da narrat ividade: m anipulação, com petência, perform ance e sanção.

Do pont o de vista da narratividade, a m anipulação ( persuasão) e a sanção ( int erpret ação) part icipam da dim ensão cognit iva; a com pet ência e a perform ance, da dim ensão pragm ática. Toda narrat iva se desenvolve em t orno da transform ação dos estados por m eio de um plano de operação e aquisição de com pet ência ( fazer- ser) ou de m anipulação ( fazer- fazer) , seguido de sanção ( prêm io ou castigo) . No caso da perform ance, dist inguem - se duas sit uações, conform e o Quadro 2:

AQUI SI ÇÃO PRI VAÇÃO

PROVA apropriação perda da posse

DOM atribuição renúncia

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Na sintaxe fundam ent al ou no nível profundo, encont ra- se a relação de contrariedade no discurso, descort inando o conj unt o de valores, ou sej a, a polaridade axiológica. Nesse nível, a sem ântica destaca a im portância da cat egoria tím ica que se articula em euforia/ disforia, sendo seu term o neut ro a aforia. As polaridades axiológicas, instituídas com o valores negativos e positivos, procuram ident ificar as relações de cont radição, cont rariedade e im plicação que geram as m últiplas leit uras de um text o, ou sej a, situações de negação, com plem entaridade, reciprocidade, verdade et c. Greim as ( 1979: 364) , inovando a concepção binária da cat egoria sem ânt ica im post a pela t radição lingüíst ica, inst it uiu o quadrado sem iót ico de represent ação, o qual explora o j ogo de sent idos que possibilita distinguir, no interior de um paradigm a, cat egorias sem ânt icas baseadas na isot opia.

Assim , pode- se exam inar nas narrativas a produtividade das confront ações m odais e definir a com pet ência do(s) suj eito( s) , a identidade m odal dos act antes, apreendidos em um det erm inado ponto de seu percurso, porquanto a organização m odal apresenta-se em flut uação cont ínua. Os act ant es vêem sua carga e definição m odais sem pre m odificadas, enriquecidas ou alt eradas, dem onst rando que a organização sint agm át ica é responsável pela form a evolutiva do actante ao longo do seu ou dos seus percursos, pela m odificação de sua ident idade, segundo a perspect iva ut ilizada.

Greim as & Court ès ( 1979: 290) consideram m ot ivo

com o um a unidade do t ipo figurat ivo, que possui, port ant o, um sent ido independent e de sua significação funcional em relação ao conj unt o da narrat iva em que se encont ra. Se a est rut ura da narrat iva com seus percursos narrat ivos é considerada com o invariant e, os m ot ivos se apresent am , ent ão, com o variáveis e vice- versa: daí a possibilidade de est udá-los em si m esm os, considerando-os com o um nível est rut ural autônom o e paralelo às articulações narrativas.

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atores e suas funções, ou sej a, seu processo de criação de efeit os de sent ido.

Bertrand (1993) cham a a at enção para um aspect o fundam ent al: os m ecanism os sensoriais que int ervêm na int eração do enunciat ário com o text o, por m eio da percepção sensorial dos obj et os e seus valores, levam -no a se conscientizar do espaço e a com preender m elhor não som ent e o obj et o, m as a si próprio. Sugere que se estabeleça um eixo de relações que, de form a diferenciada, pode com eçar pelo fazer perceptivo sensorial do observador. No caso dos sabores, por exem plo, há m arcadores sociocult urais que denot am valores ideológicos na escolha enunciativa dos text os, a qual pode m anifestar a relação social em que se encontra o suj eito. Dessa form a, os veículos sensoriais t êm a função de aj udar a constit uir, aliado a outros elem entos, o espaço tópico em que ocorrerá a transform ação do suj eito, inclusive no que tange à paixão, pois os sent idos podem provocar ou dem onst rar estados passionais, sobret udo aqueles ligados ao querer e ao crer.

Para Bertrand, os fazeres perceptivos de espaço, apesar de com plexos, difusos e m ult idirecionais, contribuem à investigação dos invest im ent os feitos pelo actante observador e seu funcionam ent o est á vinculado a duas form as de expressão: substit uição e transferência icônica.

A figuratividade espacial ( caract eríst ica de t ais narrativas, pois im plica o público e a ação do enunciat ário) , sem iot icam ent e, apont a que

o espaço de represent ação pode conter diversos t ipos de figuras e possibilit ar grande variação de art iculação de seus part icipant es ent re si ou com a cena na qual são represent ados, suscit ando, port ant o, reações diferenciadas no observador. ( Strôngoli, 2003: 17) .

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relação da espacialidade text ual com a condição sociocultural do indivíduo é at ividade cot idiana.

Juntam ente com a sensorialidade e a noção de espaço, a sem iótica tem se dedicado ult im am ent e às paixões. Afirm am Fontanille & Zilberberg ( 1998: 297) :

Um a paixão é antes de m ais nada um a configuração discursiva, caract erizada ao m esm o t em po por suas propriedades sint áxicas é um sist em a discursivo e pela diversidade dos com ponent es que reúne: m odalidade, aspect ualidade, t em poralidade. Com as paixões, a sem iót ica deve obt er m eios de t rat ar de conj unt os het erogêneos e de dar cont a da sua coerência.

Se todo discurso articula- se linguisticam ent e à form ação social, por m eio da enunciação, as escolhas enunciat ivas denot am a form a de constit uição dos indivíduos e do grupo social que os cerca, apontando a int egração da linguagem e da ideologia à sociedade que o em prega. As paixões configuram -se em um plano em que as correlações são ao m esm o tem po inteligíveis e sensíveis. Com plem ent am Fontanille & Zilberberg ( ibid.: 299) :

De cert o m odo, vivenciar um a paixão seria m esm o conform ar-se a um a ident idade cult ural e buscar significação de nossas em oções e afet os na sua m aior ou m enor conform idade às t axionom ias acum uladas em nossa própria cultura.

As condições sócio- hist óricas, as coerções lingüístico- discursivas e a atividade responsiva do enunciatário interferem no processo textual, que se conform a ao gênero e a sem iótica pode desvendar os processos dessa conform ação.

Assim , nest e trabalho privilegiam -se, além do nível discursivo, a relação do suj eito de est ado com o obj eto-valor segundo a m anipulação de um Destinador, confront ando- se as axiologias com as paixões e os m ot ivos que podem se reportar às estrut uras do im aginário. Esse ponto de vista sust ent a o sent ido que se dá à análise sem iolingüíst ica que, conform e Bert rand ( 2000: 24) é o processo que busca:

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Os Procedimentos da Retórica

Pectus est enim quod disertos facit

Na verdade é o coração que torna eloqüente Quintiliano

st udar a linguagem , na perspectiva de sua int eração social, im plica am pliar o leque de possibilidades int erpret at ivas dos causos.

O olhar sem iótico possibilit a descrever alguns m ecanism os de m anifest ação discursiva present es nos textos, a ret órica, interpretá-los pragm at icam ent e e reconhecer os procedim entos argum entativos específicos de que se valem os contadores de causos para at ingir seus obj et ivos e os recursos ut ilizados para a const rução dos sent idos.

As figuras e const ruções argum entat ivas são recursos para prender a at enção do ouvint e aos elem ent os articulados no discurso, redefinindo o cam po de inform ação.

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O procedim ent o argum ent at ivo é relevant e para a produção de um discurso de convencim ent o, m esm o que, fundam ent alm ent e, para despertar o riso ou m edo. Assim , o enunciador encam inha a seu audit ório um a retórica integrada, ou sej a, um a orientação interna dos enunciados para det erm inados t ipos de conclusão. Um a estrat égia capaz de proporcionar ao enunciat ário um deleite, divert ir e alegrar, assust ar e transgredir, rom pendo com as expectativas t radicionais da est rutura narrat iva, dando ao ouvinte a possibilidade de não só dar a part ida , m as tam bém de am arrar a história, diferenciando- se sutilm ente de outros elem entos do discurso lúdico/ polêm ico, que t êm sua lógica, repassam propositalm ent e ideologias, doutrinas et c., pois se inscrevem num tem po e num a sit uação determ inada, é a constit uição de um ethos próprio para cada personagem . Segundo Maingueneau ( 1990),

... posições est ét icas e gêneros lit erários condicionam o et hos da m esm a form a que as idéias t ransm it idas: não se poderá colocar qualquer hierarquia ent re o que é dit o e a m aneira de dizê- lo. O et hos não é, port ant o, um procedim ent o int em poral; com o as out ras dim ensões de um a criação, inscreve as obras num a conj untura histórica det erm inada. ( p. 144)

Os causos, enraizados no m undo m ítico, t ransgridem a lógica do real, locando- se no tem po e lugar da pretensão t em ática as m ais variadas possíveis: o velho forte, o caipira ingênuo e esperto, os hom ens zoom orfizados, os anim ais antropom orfizados, a autoridade sem lei, o lut o festivo, a m ulher m achona etc. O ethos será focado em qualquer est ereót ipo e a qualquer m om ent o.

Há estereótipos tradicionais, com o aqueles em que o caipira é vist o com o suj eito pacífico, quase apalerm ado, um a noção espaço/ tem poral fora de foco, um a configuração j á há m uito sub- rept ícia, com o ilustra a piada:

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m ais duas horas, um out ro pegou e m eio levant ando assim , falou: É, eu vou- me embora, que eu não gost o de discussão.

Out ro olhar, m ais próxim o da realidade de grupo, pode perceber a existência de um ethos previam ente construído e solidificado, que se traduz na voz do cont ador: alguém capaz de difundir um a idéia, um gracej o, um sust o, um riso por sua condição de autor e conhecedor das expectativas do ouvinte. Assim , sua enunciação é o elem ento cent ral da relação discursiva.

O et os est á, dessa m aneira, vinculado ao exercício da palavra, ao papel que corresponde a seu discurso, e não ao indivíduo real , apreendido independent em ent e de seu desem penho orat ório: é, port ant o, o sujeit o de enunciação enquant o est á enunciando que est á em j ogo aqui. ( Maingueneau, 1990: 138)

Pode- se im aginar que a m arca argum entativa desse discurso é o convencim ent o, pois valoriza o cont ador na relação de t roca do fat o raro, do insubst it uível, do excepcional, do fantástico.

Assim , o est abelecim ento do ethos do contador, com o elem ento de um costum e, apont a um m ovim ento dialógico, num a relação de t roca de turnos de fala, um j ogo de interlocuções que se dinam iza e convive com signos m ais abert os. Não há verdades absolut as, nem im perat ivos, m as sua crença.

Nesse caso, o signo ganha um a dim ensão m últ ipla, plural, de fort e polissem ia: os sent idos se est ilhaçam , expondo as riquezas de novos sent idos. Os signos se abrem e revelam a poesia da descobert a; a avent ura dos significados passa a t er o sabor do encont ro de out ros significados. (Citelli, 1991: 38)

O ethos, que revela o m odo de expressão dos cont adores, com o os gestos, a entonação e, principalm ente, a força das palavras, t em por obj et ivo fundam ent al convencer as pessoas da exatidão e prat icidade de sua m ensagem . Se o papel do suj eito do discurso é fundam ental, a autoridade discursiva deve ser considerada e, m uit as vezes, revelada para m aior percepção das propost as cont idas no discurso.

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quando escrito, o text o é sustentado por um a voz a de um suj eito sit uado além -t ext o.

São, em geral, grandes contadores de causos, por suas andanças e possibilidade de troca de novas hist órias, os viaj antes; os idosos, pela experiência, tem po e resgat e de causos arquivados na lem brança, e os professores e líderes com unitários, com o ferram ent a de trabalho ou de aproxim ação.

A adapt ação do t ext o ao ouvint e se produz, m ais facilm ent e, no curso da perform ance. O int érprete varia espont aneam ent e o t om ou o gest o, m odula a enunciação, segundo a expect at iva que ele percebe; ou, de m odo deliberado, m odifica m ais ou m enos o próprio enunciado... ainda que os cost um es reinant es lhe favoreçam de m odo desigual as alt erações. ( Zum t hor, 1990: 246)

Para que a adapt ação obt enha êxit o, é preciso que o cont ador faça a dist inção aspectual de sua perform ance: atitude ponderada, locução cont rolada, tentando dem onstrar sobriedade, atitude m ais obj etiva, franca, leveza e descont ração, ou sej a, um ethos condizente com as int enções com unicativas. O cont ador, diferentem ente dos m eios de com unicação de m assa, dá voz a seus ouvint es, o que, t alvez, sej a o m ot ivo da cont inuação das relações ent re cont adores e audiência.

A preocupação em agradar ( a const rução de um ethos eunóia) não im pede, por necessidade argum ent ativa, recorrer a um a atitude de hom em franco (et hos arethé) , ou, m ais raram ente, aspecto de um a pessoa ponderada (et hos phrônesis)3. A pessoa do contador ( enunciador) é fundam ental para dar ao discurso um direcionam ento, um conceito de valor e/ ou um a opinião em relação a um a proposição.

A contação de causos precisa de um público. Assim , é im portant e com preender o que leva o suj eito a querer ouvir ou ler um a narrat iva, ou sej a, aderir às investidas orais ou escritas dos contadores. Causo pressupõe encont ro, t roca de t urnos discursivos, interação in presentia do enunciador com seu enunciat ário. Se o contador constit ui um a im agem de

3 Termos de origem grega, cujos significados são: Arethé = virtude (pode, também, significar verdade); Eunóia

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si na relação com o out ro, que se torna o responsável pela reação a ser desencadeada. A retórica e a sem iótica reconhecem a const it uição de um

pathos ( ou m ovim entação patêm ica) , nos vários graus de em oção, com o fundam ent o da m anipulação.

O Pathos exige não est ar em lugar de, m as com, ou sej a, não apenas sent ir, colocar- se no lugar hipot ét ico na tram a, um distanciam ento calculado no evento discursivo, em que o enunciador é o único responsável pelas sensações, m as, participação criativa e interventora na cont ação, o que configura o co-enunciador. Est e é parte constituint e da perform ance da contação de causos, e, m esm o, da deflagração da hist ória, um a vez que participa at ivam ent e dessa prática oral. Não há cont ação sem audit ório.

A com ponent e fundam ent al da recepção é assim a ação do ouvint e, recriando, de acordo com seu próprio uso a suas próprias configurações int eriores, o universo significant e que lhe é t ransm it ido. As m arcas que est a re-criação im prim e nele pertencem a sua vida ínt im a e não se ext eriorizam necessária e im ediat am ent e. Mas pode ocorrer que elas se ext eriorizem em nova perform ance: o ouvint e t orna- se por seu t urno int érprete, e, em sua boca, em seu gest o, o poem a se m odifica de form a, quem sabe, radical. (Zum t hor, 1990: 241)

O causo estabelece um diálogo ent re seu form ato obj etivo a narrat iva, e as ressonâncias subj etivas que desencadeia a narrat ividade, produzindo um efeito particular sobre cada ouvinte. Cada im agem despertada pelo causo revela ou suscita um universo de im agens int ernas que dão form a e sent ido às experiências da pessoa no m undo.

A at it ude dos ouvint es é de silêncio e respeito, enquant o o cont ador fala, sem int errupção. Eventualm ent e, ele pode ser ajudado por alguns ouvint es se, por acaso, se perder no desenvolvim ent o da est ória, o que dem onst ra que m uit os dos que as ouvem já as conhecem bem . Ent ret ant o, se o narrador j unt a episódios de est órias diferent es, com o acont eceu algum as vezes, ninguém o int errom pe para o corrigir, pois ele saberá levar sua est ória at é o final, residindo nessa com binação de episódios de est órias diferentes a dem onstração de habilidade do contador.

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Na perspectiva de sua int eração social é preciso observar os procedim entos argum ent at ivos de que se valem os contadores de causos para at ingir seus obj etivos e recursos utilizados para a construção dos sent idos.

A ret órica aristot élica divide os discursos em gêneros. O causo popular aproxim a- se do gênero dem onstrativo, pois preocupa- se em agradar, atender ao gost o, num a relação interat iva, e um a narração

apertis verbis.

Todo discurso é um a construção retórica. Nesse aspect o, com preender os sentidos no texto requer a habilidade de interpret ar suas técnicas persuasivas ou de convencim ento. O essencial, na retórica, é a habilidade de discernir o que pode convencer o indivíduo, o que envolve valores, e não verdades, nas trocas discursivas. Os gêneros têm com o elem ent os centrais as int encionalidades dos enunciados e de seus enunciadores. Já o gênero causo visa despert ar o gost o e sua estrat égia discursiva pode ser revelada pela análise retórica. Daí a recom endação de Krist eva de que qualquer transformação social seja acompanhada por uma transform ação ret órica, que qualquer transform ação social sej a num certo sentido e muito profundamente uma mutação retórica. ( 1969: 323)

As técnicas argum ent ativas fazem valer um a proposição, idéia, oposição et c., para constit uir um a perspectiva de realidade. No ent anto, as t écnicas não funcionam isoladam ente, são intercam biáveis, um a com pletando ou intensificando a outra. No causo há m ais de um a possibilidade de leit ura dos aspectos argum entativos que constituem o efeit o de real.

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Tais ligações, de acordo com Perelm an ( 1988), podem ser observadas por sucessão, que têm a finalidade de unir um fenôm eno a suas conseqüências ou causas. Ligações de coexistência servem para unir a pessoa ou um grupo de indivíduos a seus at os.

Esquem as argum entativos próxim os ao pensam ento form al têm por obj etivo validar um a proposição a partir de seu aspect o racional, porém , diferentem ente dos princípios de dem onst ração, podem ser refutados ou quest ionados. Eles necessit am de um a est rut ura espacializada do real.

A argum entação cham ada por Perelm an ( op. cit.) de quase- lógica, t em form a m ais ou m enos explícita. Ora o orador designa os raciocínios form ais aos quais se refere, prevalecendo- se do prestígio do pensam ento lógico, ora estes constituem apenas um a t ram a subj acente. Não há correlação necessária entre o grau de explicit ação dos esquem as form ais aos quais o orador se refere e as reduções exigidas para lhes subm eter a argum ent ação.

O aut or considera os esquem as quase- lógicos im portant es técnicas no processo argum entat ivo, um a vez que buscam estabelecer a com patibilidade entre enunciados díspares, assim com o apresentá-los com o incom patíveis, dependendo das condições de aplicabilidade. A argum ent ação quase-lógica ocorre por variadas técnicas que dem onstram sua ut ilidade e eficácia no convencim ent o ou persuasão.

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A Perspectiva do Imaginário

Nascimur uno modo, multis morimur

Nascemos de um só modo, de muitos morremos Sêneca

estudo do im aginário, segundo a ant ropologia de Durand, em As estruturas antropológicas do im aginário ( 1960) , possibilit a o resgat e e a com preensão dos sentidos dos m it os na form ação da cultura ocidental, cultura que não som ent e os tem reproduzido com o renovado continuam ent e suas configurações icônicas e m anifest ações discursivas conform e as principais t endências da Hist ória.

Os term os im aginação e im aginário t êm sido m uitas vezes usados em sentido am plo. A antropologia durandiana, cont udo, define a im aginação com o a faculdade de o hom em traduzir suas sensações em im agens m ent ais e reproduzi- las por m eio de palavras, gest os, artes, vestuário, gast ronom ia e outras form as de com unicação cult ural. O im aginário é o m odo part icular de o indivíduo dinam izar os processos de percepção e, est rut urando as im agens, pôr ordem em seu caos int erior.

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O estudo com parat ivo das im agens, no plano diacrônico e sincrônico, levou Durand a concluir que a m orte, e t udo o que possa significá- la, é o centro do grande conflit o hum ano, o m otivo m aior de t oda angústia e tem or. Para o autor, a confrontação com o sent ido e a realidade da m ort e é fonte de núm ero incont ável de m anifestações sim bólicas. Maffesoli ( 1979) , discípulo de Durand, afirm a que os sofrim ent os conflit uosos m otivados pela m orte são um dado antropológico que leva à busca do ilim itado, irreprim ível anseio de viver int ensam ente, ao desej o const ant e de progresso ou perfeição.

A produção im aginária, conclui Durand ( op. cit .) , ainda que de form a lúgubre, com o ocorre em m uitos causos, é um a reação contra a certeza brut al da m ort e, ou sej a, a criat ividade do hom em é a t ent at iva at ualizada pelo im aginário de enfrentar sua condição de m ort al, seu direcionam ento nat ural para a m ort e, sua incapacidade de ser t ranst em poral. É esse m edo da passagem inexorável do Tem po, figurado diferentem ent e em cada indivíduo pelas etapas ou cont extos vividos, que dinam iza o im aginário e nort eia a narrat ividade. Assim , toda produção do hom em visa vencer a m ort e e a estruturação das im agens nada m ais é que a busca, pelos vários processos de racionalização, de vencer as lim it ações. Durand afirm a que a im agem é a m at riz do pensam ent o racionalizado, pois sua organização norteia-se por est a razão: vencer o m edo da m ort e e da passagem do t em po sej a a m ort e biológica, social, afet iva ou funcional. As im agens são portadoras de um sentido que não deve ser procurado fora da significação im aginária. Ela não é um sím bolo arbitrário, m as int rinsecam ent e m ot ivado, sem pre sím bolo.

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Gast on Bachelard (1938) preconiza a criação de um novo espírito cient ífico fundam entado em suas pesquisas sobre as im agens prim ordiais, água, t erra, fogo e ar. Durand faz um a classificação das im agens que se relacionam a estas observa que as im agens articulam - se constant em ente um as às outras, constituindo feixes de sentido que se inclinam para um sent ido m aior, cuj os reflexos sem ânt icos possibilit am a organização de grande núm ero de im agens. A esses grupos denom inou Regime, apont ando, ainda, subgrupos hom ologados por reações que se nort eiam por part icularidades, que se classificam com o conj untos de im agens com funções diferenciadas. A tais conj untos, m arcados por funções próprias, cham ou de est rut uras.

St rôngoli ( 1997) m ant ém a descrição funcional das estruturas, porém as reorganiza não em dois (Diurno e Noturno) , com o propõe Durand, m as em t rês regim es (Diurno, Not urno e Crepuscular) , tendo cada regim e t rês t ipos de est ruturas. Considerando que toda dinam ização das im agens é um a respost a aos anseios de um grupo, denom inou- as

Macroimagens do Mal, com post as por t rês est rut uras, com a função de dar um a im agem concret a à sensação causada pelo Mal, ou sej a, o m edo das várias m ort es.

As m acroim agens são as form as concretas da percepção do Mal, post o que o obj etivo do im aginário é pôr ordem nos tem ores e anseios, configurando- o com as form as do m undo concreto a fim de t orná- lo m ais fácil de ser com bat ido e vencido. As t rês m acroim agens e sua descrição são:

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de antropom orfização do anim al const ituem o eixo narrativo, cuj o poder arquetípico dado pela cult ura aproxim a o referent e sim bólico do grupo social.

Nictomorfas: o Mal, a angústia e o m edo são represent ados sob as form as da noite, das som bras, do escuro ou das trevas, posto que a noit e constitui o prim eiro sím bolo do tem po. Nessa esteira sim bólica, encont ra- se a cegueira, a t ranslucidez cega, o espelho e a água, o prim eiro espelho do hom em ; por isso, a água noturna apresenta aspect ualm ente as lágrim as. A noit e é o m elhor m om ento para contar hist órias ou causos, pois o exagero, a ironia e o riso eufem izam o m edo.

Catamorfas: as diferentes form as de queda, perda, decadência e hum ilhação configuram o m edo e a angúst ia.

Regim e, ao cont rário das m acroim agens, que são figurat ivizações, liga- se à idéia de agrupam ento geral. Estrut ura, denom inação de suas divisões, é em pregado com o sentido de algo transform ável, exercendo o papel de protocolo m otivador para os agrupam ent os de im agens, do regim e noturno, diurno ou crepuscular. Os regim es são, então, o espaço dinâm ico onde se m ovim entam as im agens em três const elações represent ativas de gestos que presentificam as reações do hom em diante do Mal. Assim , após o reconhecim ent o e a figurativização desse Mal por m eio dos três tipos de m icroim agens, o indivíduo arm a-se de m ecanism os sim bólicos para vencê- lo.

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im aginário é fascinado pelo gest o de acolher, hom ogeneizar, harm onizar e apaziguar, pelas situações de int im idade, abrigo e contat o com a nat ureza, pelo princípio da analogia e sim ilitude e pela dom inant e sensorial da nut rição.

O Regim e Diurno contém as im agens que figurativizam a at it ude heróica ou polêm ica, que viabilizam vencer as sit uações de angústia, m edo ou adversidade pelo gesto de se erguer, afrontar, desafiar o perigo e lutar sem tem or. Enfatiza o uso de im agens ascensionais, lum inosas, dist intas, sim ét ricas e precisas, j á que os recursos de distanciam ento, gigant ism o e organização dierética criam a ilusão de livrar o indivíduo do Mal. Por essa razão, as im agens diurnas valorizam o raciocínio, a lógica, a antítese e os princípios de exclusão, cont radição e identidade. Suas form as de expressão dão prim azia a frases curt as, à sinédoque, a verbos m ais que adj etivos ou qualificativos e a situações que configurem separação ou purificação.

O Regim e Crepuscular ut iliza as est rut uras dos dois regim es, m as de form a conscient em ente equilibrada, subst ituindo as situações de j unção ou disj unção pela sistem atização de um ou outro, form ulações conceit uais m ot ivadoras de condut as que se guiam por reflexões ponderadas em term os de espaço, t em po e pessoa. Seu gest o é equilibrar, ponderar, sistem at izar, com o fazem as religiões, a filosofia, as seitas. Seu princípio é a causalidade e seus processos, sincrônicos e diacrônicos, desenvolvem a dialét ica do t em po e do espaço e prom ovem deslocam entos de pont os de vista, proporcionando progressões t em áticas ou argum ent ativas. Suas im agens privilegiam o aspecto cíclico ( ligado aos fenôm enos da natureza) ou rít m ico ( art iculado à cult ura) e obj et ivam m ovim entos em um crescendo para instaurar o m ito do progresso ou estrut uras m essiânicas para dar a ilusão de dom inar o Mal.

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int eração com as im postas por seu cont ext o, observando, sobretudo, quais traços m íticos sust ent am seus tem as, que configurações revestem os t raços de seus atores e com o se caract eriza sua narrativa, pensam ento e fazer no cot idiano da vida brasileira.

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Os Gêneros e Processos Interativos

Dominar gêneros é agir politicamente

L. A. Marcuschi (2004)

questão do gênero tem , ultim am ente, suscitado bastant e int eresse e, m esm o, controvérsias, em bora sej a t em a bast ante antigo. Os gregos perceberam sua problem ática quando celebravam os heróis ( gênero épico e epidíctico) , procuravam entender os enigm as ( m itos) e fazer poesia, form alizando os gêneros épico, lírico e dram át ico. Bakht in ( 1965: 282) com ent a:

A vont ade discursiva do falant e se realiza ant es de t udo na escolha de um cert o gênero de discurso. Essa escolha é determ inada pela especificidade de um dado cam po da com unicação discursiva, por considerações sem ântico- obj et ais ( t em át icas) , pela sit uação concret a da com unicação discursiva, pela com posição pessoal dos seus part icipant es, et c. A int enção discursiva do falant e, com t oda a sua individualidade e subjet ividade, é em seguida aplicada e adapt ada ao gênero escolhido, const it ui- se e desenvolve-se em um a determ inada form a de gênero. Tais gêneros existem ant es de t udo em t odos os gêneros m ais m ult iform es da com unicação oral cot idiana, inclusive do gênero m ais fam iliar e do m ais ínt im o.

Falam os apenas at ravés de det erm inados gêneros do discurso, ist o é, os nossos enunciados possuem form a relat ivam ent e est áveis e t ípicas de construção do todo. Dispom os de um rico repertório de gêneros de discurso orais ( e escrit os) . Em t erm os prát icos, nós os em pregam os de form a segura e habilidosa, m as em t erm os t eóricos podem os desconhecer int eiram ent e a sua existência4.

Bazerm an ( 2004) com preende o gênero não com o cristalização form al num determ inado t em po, tam pouco com o conj unt o de traços text uais, um a vez que, assim , não levariam em conta o papel prim ordial dos indivíduos no uso e construção de sentidos. Há diferenças de

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percepção e com preensão e o uso criativo da com unicação visa sat isfazer novas necessidades de acordo com a dinâm ica social. Os gêneros são t ipificações dinâm icas, interat ivas e hist óricas, fenôm enos de reconhecim ent o psicossocial e partes de processos socialm ent e organizados.

Assim , na visão socioint erat iva, os fat os sociais que se refletem nos gêneros

são as coisas que as pessoas acredit am que sejam verdadeiras e, assim , afet am o m odo com o elas definem um a sit uação. As pessoas, ent ão, agem com o se esses fatos fossem verdadeiros ( Bazerm an, ibid.: 23) .

As situações que geram os fatos são definidas pelas pessoas que as vivenciam , os fat os sociais estão associados int ertext ualm ente aos t em as que são m atéria fundam ent al da com preensão social, pois afetam as palavras que se falam ou escrevem , bem com o a força que tais enunciados possuem .

As referências int ert extuais criam a com preensão com part ilhada, com alusão ao que foi dito e à situação atual. A intert ext ualidade est abelece os fat os sociais sobre os quais o cont ador t ent a fazer um a nova afirm ação. Se est es forem realizados apropriadam ent e, as palavras serão consideradas com o at os com plet os e reconhecidos no gênero. Para que os at os de fala na cont ação coordenem as int enções do falant e, torna- se necessário que sej am pronunciados ou descritos de m odo t ípico, para rápido reconhecim ent o dos int erlocut ores na prát ica com unicat iva.

Tal tipificação segue padrões com unicat ivos com form as reconhecíveis e padronizadas, não apenas sua m anifest ação text ual com o t am bém as sit uações de produção e os gêneros.

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36 Os gêneros t ipificam m uit as coisas além da form a t extual. São part e do m odo com o os seres hum anos dão form a às at ividades sociais. ( Bazerm an, ibid.: 31)

O gênero particular serve com o expressão de identidade e dá sent ido ou assent am ento à vida diária. No causo, bastant e preso aos ditam es do texto falado, fortem ente m arcado pela oralidade, há preocupação com as habilidades lingüíst icas e perform áticas que criam e reconst roem o event o narrado.

É com um , nas contações, iniciar o texto incitando à crença na verdade do fat o narrado, pois o próprio contador parece confiar nele. O parecer real é um pilar de sust ent ação da narrat iva, para o hum or ou para o m edo, e um de seus prim eiros elem ent os é a confirm ação da procedência do fat o m ot ivador do causo.

Para Todorov ( 1970) , apesar de se aproxim ar de out ros gêneros, com o o conto de fadas, a narrativa fantástica não se volt a para um int erlocut or infant il: seu audit ório não são as crianças. Para o autor, o fant ást ico caract eriza- se pela hesitação do suj eit o que só conhece as leis naturais, diante de um acontecim ent o sobrenat ural. Seu conceit o está baseado nas dicotom ias real/ im aginário, nat ural/ sobrenatural. O fant ást ico, nut rindo- se de t al hesitação, está no lim ite de dois gêneros : o estranho e o m aravilhoso. O prim eiro refere- se a acontecim ent os que podem ser explicados pelas leis da lógica, pela razão, m as que, de um a form a ou de outra, são incríveis, ext raordinários, insólitos, pois se ligam a sent im ent os, em oções e não a um acontecim ent o concreto que desafie a razão. O fantástico- est ranho dom ina t odo o cont exto e é solucionado com um a explicação racional.

No cont o m aravilhoso puro, o sobrenatural não provoca qualquer surpresa, com o nos contos de fada, pois se refere a personagens explicitam ente não verdadeiras, cuj o est ado sobrenatural é aceito nat uralm ent e.

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cantigas de ninar que as m ães cant am para o filho dorm ir (Tutu marambá, Boi da cara preta...) . O m edo povoa rom ances, peças teat rais, film es, quadrinhos, folclore e séries de TV, sem se prender a um ou outro fenôm eno. Circulando em um gradient e narrat ivo, reflet e os elem entos do plano m etafísico, as incom preensões e aflições do suj eito em relação aos seus lim it es e ao desconhecido.

O riso é a m anifestação m ais cont undente do plano físico, incorporando aspectos ligeiros, irônicos ou sarcást icos da cot idianidade, dos prazeres da vida e beleza da natureza e do m undo. A opção pelo hum or, ou pelo risível, não é exclusividade de determ inado gênero, pois, desde a Ant igüidade clássica, o riso foi ent endido com o int egrante da concepção do m undo, força capaz de propiciar a cura e o renascim ent o, privilégio da espécie hum ana, j á que o hom em é o único ser vivente que ri, com o assevera Arist ót eles, cit ado por Bakt hin ( 1965) .

O Medievo expurgou o riso da ideologia oficial e vinculou- o à cult ura popular, o que originou a necessidade de dem arcar o território do côm ico, sobret udo em um cont exto em que os hom ens são sufocados pela rigidez cristã. Com o apont a Bakhtin ( op. cit .) , o riso t orna- se sacralizado pela cristianização de fest as pagãs e celebração de ritos públicos ligados à m at erialidade e à corporalidade, instituindo- se com o fator de equilíbrio social, paradoxalm ente alcançado pela inversão burlesca de valores no im aginário popular sonho de um m undo perm eado de renovação e irresignação libert adora. Assim , para Bakt hin ( ibidem .: 57) ,

( ...) o riso t em um profundo valor de concepção do m undo, é um a das form as capit ais pelas quais se exprim e a verdade sobre o m undo na sua t ot alidade, sobre a hist ória, sobre o hom em ; é um pont o de vist a part icular e universal sobre o m undo, que percebe de form a diferent e, em bora não m enos im port ant e ( t alvez m ais) do que o sério; por isso a grande lit erat ura ( que coloca por out ro lado problem as universais) deve adm it i- lo da m esm a form a que ao sério: som ente o riso, com efeit o, pode ter acesso a cert os aspect os ext rem am ente im portantes do m undo.

Referências

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