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Em relação a uma concepção minimalista ou subminimalista, para alguns (Mainwaring, Brinks e Pérez-Liñán, 2001), da democracia, e a forma como tal concepção acaba sendo adotada pelos estudos em torno das principais instituições da democracia brasileira, o que deve ser destacado já de início é que, perpassa na grande maioria desses trabalhos um tipo de visão que está amplamente ancorada nos aspectos definidos pela abordagem shumpeteriana. Esta por sua vez, conforme já fora mencionado anteriormente, tende a compreender a democracia, principalmente embora não exclusivamente, enquanto um jogo sobre regras – um método competitivo – que permite a escolha de governantes dentre as elites disponíveis, e onde se privilegia os aspectos relacionados a realização das eleições sobre quaisquer outras dimensões da democracia (SCHUMPETER, 1984).

Todavia, o que acaba sendo mais emblemático em termos de uma visão minimalista é a ideia de que a democracia não prescinde de qualquer pré-

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requisito senão os de natureza institucional. Logo, mesmo considerando-se que alguns aspectos como igualdade econômica, modernização, diversificação social, cultura nacional democrática, possam ter alguma relação com os resultados alcançados em regimes democráticos, seriam considerados dispensáveis do ponto de vista da manutenção e sobrevivência da democracia.

Se as principais instituições da democracia conseguem garantir a ocorrência de eleições e funcionam da forma esperada quanto à geração de

accountability, responsividade e governabilidade, então, ótimo!

Não por acaso, nesse tipo de interpretação qualquer possibilidade de conexão de sentido, em se tratando do funcionamento dos procedimentos democráticos e a solução de conflitos societários, é considerada dispensável. Nem tão pouco, a institucionalização dos procedimentos democráticos remonta a construção de um consenso normativo, mas as vantagens reais e imediatas que esse processo pode gerar para as lideranças políticas, quando considerado, por exemplo, o contexto dos países que vivenciaram processos de transição. Segundo esse ponto de vista “não se escolhe a democracia para erradicar eventuais impedimentos à realização da “coexistência” como valor; a preferência pelas regras democráticas é instrumental” (MOISÉS, 1995, p. 53).

É bem verdade que, a tais considerações pode ser atribuído algum tipo de vantagem, ao considerar-se a discussão sobre a democracia, já que em último caso, esse tipo de abordagem acaba por minimizar as exigências para a ocorrência de democracias, tornando assim a mesma uma aspiração sempre possível. No entanto, o reducionismo que se torna característico dessa abordagem pode conduzir a determinadas implicações quando da análise sobre o fenômeno democrático.

Primeiramente, uma vez que privilegia uma visão instrumental da democracia e de suas instituições, o faz em detrimento do fato de que ao lado de supostas razões instrumentais, existem também, quanto às escolhas dos atores políticos pela democracia, motivações normativas e simbólicas. E esse é um aspecto muito importante.

Também, existe aí outra questão e a qual remonta ao problema mais geral da própria ideia de aprimoramento da democrática. Quanto a essa questão, seria necessário destacar a necessidade de se ir além do simples pacto em torno das normas democráticas e de sua suposta aceitação, embora

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obviamente, esse seja um fator de extrema relevância. Entretanto, talvez fosse necessário pensar que a consolidação da democracia envolve também mudanças em termos do comportamento dos atores, que passam a reconhecer as instituições democráticas como único meio possível para a resolução de problemas.

Por essa razão, alguns autores chamam a atenção para a necessidade de se observar que certas condições econômicas, sociais e culturais identificadas com a democracia, embora sem que necessariamente sejam vistas como fatores determinantes, são indispensáveis para a viabilidade e manutenção das democracias.

Todavia, tais fatores têm sido normalmente desconsiderados quando realizada uma análise mais cuidadosa sobre os principais trabalhos que enfatizam a preocupação com a dimensão institucional da democracia brasileira a despeito de quaisquer outros aspectos. Mas, é preciso considerar que esse tipo de privilégio quanto à ênfase em uma visão minimalista da democracia acaba por ser reforçada quando se pensa os elementos teóricos que também respaldam tais reflexões. É preciso então, pensar essa questão em sua relação com a utilização dos pressupostos da teoria da escolha racional e do novo institucionalismo na ciência política.

3.2. “A Teoria da Escolha Racional como Teoria Social e Política"11

A escolha por utilizar o título do livro do Bruno Carvalho (2008) como subtítulo do presente capítulo se justifica, na medida em que o mesmo da conta de toda a dimensão que é representativa da extensão ocupada pela teoria da escolha racional no âmbito das ciências sociais contemporâneas, sobretudo, na ciência política e na sociologia.

Basicamente, a teoria da escolha racional propõe uma concepção singular de compreensão das relações que se dão entre a estrutura social e a agência individual, a partir inclusive, de uma disputa direta, em termos da

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Título da obra de Bruno Sciberras de Carvalho publicada no ano de 2008 e intitulado A Escolha Racional Como Teoria Social e Política: uma interpretação crítica.

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busca pela legitimidade dos postulados por ela definidos, com outras tradições teóricas. De acordo com Carvalho (2008, p. 19 e 20):

A demarcação das linhas gerais dessa vertente teórica coube aos precursores Kenneth Arrow, Anthony Downs, William Riker, James Buchanan, Gordon Tullock e Mancur Olson. Estes autores ressaltam, primeiramente, as falhas das análises que não levam em conta o que denominam „microfundamentos‟, ou seja, as ações individuais que estruturam a sociedade e são caracterizadas por seus traços distintivos de maximização. De acordo com a nova teoria, a ação humana é resultante da reflexão pessoal que relaciona de modo eficiente meios escassos com fins construídos autonomamente. A noção de racionalidade passa a ser vinculada à idéia de consumidor da teoria econômica. Tal como assevera resumidamente Downs, a racionalidade se refere à cognição pessoal que intenta três elementos básicos: riqueza, prestígio e poder. Ainda que não seja representada exatamente a personalidade real dos homens, o pressuposto é que os agentes se dirigem “para toda situação com um olho nos ganhos a serem feitos, o outro nos custos, uma delicada habilidade em balanceá-los, e um forte desejo em seguir o que a racionalidade apontar”12

.

E continua:

A partir do conhecimento desses elementos comportamentais, a escolha racional aponta a possibilidade de previsão das ações que os sujeitos racionais tomam em sua situação de escolha. Por sua vez, a antecipação das condutas torna factível uma metodologia “positiva” que separa os fatores fundamentais das ações dos fatores secundários. Segundo Buchanam, o filósofo da sociedade deve tentar descrever o comportamento das pessoas no estado puro, ainda que imaginário, no qual podem ser removidas muitas das características não essenciais do processo social que são notadas em uma observação direta e não controlada. O estabelecimento de padrões predeterminados de ação conduz a teoria da escolha racional a abandonar postulados que abrangem valores ou crenças diversas.

Nesse sentido, a teoria da escolha racional se define a partir de dois pilares fundamentais, os quais sejam: o individualismo metodológico e o emprego do pressuposto da racionalidade. Assim, os autores da teoria da escolha racional acabam por ressaltar “o padrão da agência instrumental como hipótese central da conduta humana” (CARVALHO, 2008, p. 33). Logo,

A correspondência eficiente entre meios e fins e a atitude de maximização de interesses são os traços que definiriam o âmago das relações sociais, de modo que a teoria presume que as decisões são feitas racionalmente, mesmo que hajam outras dimensões presentes. A concepção de racionalidade se articula com uma metodologia que procura simplificar o ambiente da ação, tornando possível a previsão das decisões a serem tomadas em interação (CARVALHO, 2008, p. 34).

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O que acaba acontecendo, portanto, no âmbito das análises baseadas nos pressupostos da teoria da escolha racional é uma tendência à desconsideração dos contextos socioestruturais, já que estes não teriam importância no processo de fundamentação das ações individuais. É o que se pode chamar de “desubstancialização da pessoa” (CARVALHO, 2008). Segundo esse argumento, os indivíduos se apresentam como desprovidos de qualquer matéria simbólica e são interpretados como uma “entidade” encerrada em si mesma e desprovida de qualquer dimensão cultural ou social.

Isso se justifica, uma vez que, o que se busca é a padronização analítica da realidade social, reduzida em suas características mais essenciais ao comportamento racional e instrumental dos agentes. Não é por acaso que se assume, de forma recorrente, uma postura “positivista” em detrimento de outra de teor mais “normativo”. Tentando estabelecer uma fronteira clara entre a busca pelo conhecimento do que “é”, em contraposição a discussão de critérios sobre o que “deve ser”. Nessa perspectiva,

No caso específico do conceito de racionalidade, a consequência é a transformação de um mero valor circunstancial de pesquisa em uma forma comportamental exemplar que passa a ser o fundamento de um julgamento da realidade (CARVALHO, 2008, p. 61).

Ou ainda,

O objetivo é a definição de uma “Física Social” e de um determinismo preditivo assentados em conceitos de ferramentas do modelo matemático, de forma a se alcançar a legitimidade analítica das Ciências Exatas. Devido à suposição de que os objetos de investigação se comportam de modo a maximizar ou minimizar certas variáveis e a constituir certo equilíbrio, segue a compreensão de que os fatos sociais necessitam ser quantificados, e, por conseguinte, distanciados da complexidade descartável da realidade. Por outro lado, a regularidade do modelo descreve a necessidade de o mundo concreto tornar-se previsível, de modo que a vida ordinária se aproxime da teoria dos átomos individuais, que é mensurável, otimizada, estável e produtiva (CARVALHO, 2008, p. 65).

Pensando o contexto mais específico da inserção da teoria da escolha racional no âmbito das ciências sociais, merece destaque o fato de que, em relação à Sociologia, observa-se tal inserção como uma forte reação a uma tendência que durante muito tempo foi observada na mesma e que atribuiu

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demasiada importância as estruturas sociais em detrimento dos indivíduos e sua faculdade de escolha, uma vez que as ações destes últimos seriam em última análise, determinadas pelas primeiras. Tendência que Boudon (1977), chama de sociologismo.

Essa tendência analítica teria acabado por impor a disciplina alguns custos de caráter proibitivos, já que a mesma acabaria tendo dificuldades em explicar, ou mesmo, melhor compreender aspectos importantes da dinâmica da vida social como os relacionados aos conflitos e mudanças sociais, por exemplo.

Não é por acaso que, o principal objetivo da teoria sociológica da escolha racional é entender as relações sociais a partir da ideia de que na verdade, estas se apresentam enquanto “um jogo dependente das práticas racionais” (CARVALHO, 2008, p. 130). Isso se baseia obviamente na consideração de que os indivíduos participam livremente e ativamente da constituição estrutural da sociedade, esta última vista como algo que representa “um conjunto de regras que limitam, mas não constituem as interações” (Ibid.). Assim,

O sistema social é visto como um sistema de trocas, de modo que as normas e os valores se tornam contingentes às preferências individuais. Por sua vez, a sociedade é o resultado do somatório de várias ações racionais desconexas. As práticas instrumentais constituem os microfundamentos dessa teoria sociológica, que se contrapõe às perspectivas que não ressaltam os interesses autônomos dos indivíduos em todas as situações (CARVALHO, 2008, p. 131).

Por conseguinte, as regras sociais são interpretadas como vinculadas a agência individual que seria anterior às suas próprias regulamentações. Por isso, as normas sociais são sempre circunstanciais, sendo desprovidas de qualquer autonomia e acionadas apenas quando estão de acordo com a aquisição estratégica de bens e serviços. O que leva a percepção das normas e valores de modo a-histórico e contingente.

Todavia, é preciso ressaltar que esse processo não representou uma efetiva substituição do homosociologicus passivo pelo homoeconomicus racional, como ator fundamental das explicações sociológicas. Mesmo porque, este último não poderia servir de paradigma geral para a sociologia.

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Em relação à ciência política, o que se verificou é que, o conceito de racionalidade presente na teoria da escolha racional, uma vez que possui fundamentação na economia neoclássica, acabou por subordinar a política à economia. Ou seja, a esfera pública passou a ser definida a partir dos mesmos aspectos de ordem teóricos, utilizados para analisar a economia de mercado. O que conduz a noção complementar de que o espaço público deve ser percebido como um lugar de coordenação de diferentes indivíduos que buscam a maximização de recursos escassos, os quais estão disponíveis no “mercado político”. Por essa razão é que até mesmo a democracia passa a ser percebida enquanto “um jogo em equilíbrio”. E mais uma vez o que se visa é a padronização dos agentes, bem como suas subjetividades, a um paradigma quantificável.

De modo a entender melhor o processo de aproximação ocorrido entre a ciência política e a teoria da escolha racional, é preciso considerar o que Almond (1996) denominou de “curva de desenvolvimento científico do campo da ciência política”, ressaltando a ocorrência de três grandes transformações ocorridas no cenário dos estudos da política.

Primeiramente, observou-se a criação e organização de programas de pesquisa empírica, cuja uma das principais preocupações era a construção de modelos interpretativos de forte teor psicológico, tendo como foco a quantificação dos fenômenos políticos. Em um segundo momento, verifica-se a expansão de uma ciência política comportamentalista (behavioral political

science) para vários países do mundo. E por fim, destaca-se a adoção, por

parte da ciência política, de métodos dedutivos e matemáticos.

Todos esses fatores, conjuntamente, contribuíram para a aproximação da ciência política dos pressupostos da racionalidade e do compromisso com uma ciência dedutiva.

Com base no que foi exposto, muito embora o que foi exposto não tenha a pretensão de esgotar a discussão em torno da teoria da escolha racional, muitos questionamentos têm sido apresentados em relação aos pressupostos da teoria da escolha racional. Principalmente, em termos de uma reflexão sobre o cumprimento das pretensões a que se propõe a teoria.

Do ponto de vista mais geral, o primeiro aspecto que pode ser ressaltado com relação aos trabalhos que se baseiam nos pressupostos da teoria da

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escolha racional é que, existe certa dificuldade em relação a identificação de uma definição “exata” do que se entende por ação racional. A verdade é que, mesmo que a maioria dos trabalhos e pesquisas realizados a luz do enfoque da teoria racional, destaquem a centralidade da cognição individual no processo de explicação dos fenômenos sociais, não se pode falar da existência de uma ideia precisa daquilo que se entende ou se caracteriza como uma conduta racional. Não por acaso, alguns consideram a existência de perspectivas que enfatizam o uso de uma concepção “fraca” de racionalidade e outros que falam de uma ação racional “forte”. Nas palavras de Carvalho (2008, p. 74),

A fim de procurar explicar tanto a agência individual quanto a estrutura de um ambiente social complexo, os trabalhos da escolha racional tendem a apresentar o conceito de racionalidade de forma dúbia, sem resolver as ambigüidades das definições forte e fraca. Na medida em que não indica claramente o que deve ser tomado como ação racional, a teoria passa a admitir qualquer ação em seu arcabouço, tornando questionável seu poder de explicação. Na maior parte das vezes, as análises pressupõem interesses específicos – dinheiro, prestígio e poder – definidos em oposição a sentimentos ou valores sociais. Entretanto, quando examinam fenômenos diversificados e contrários à atitude egoísta, o conceito de racionalidade passa a significar a simples busca coerente de preferências pessoais, efetuada por meio de um relacionamento eficiente entre meios e fins. Na verdade, a idéia de racionalidade fraca parece ser um instrumento a ser utilizado quando as noções dedutivas do comportamento egoísta não dão conta dos fatos empíricos.

E muito embora, esses elementos possam ser referendados como de extrema importância para pensar os limites do alcance da teoria da escolha racional, no sentido da aplicabilidade da própria noção de ação racional. É essa mesma indefinição de ordem conceitual que garante a teoria sua “utopia de um mundo previsível”. Ainda assim, o problema principal é que o modelo se torna tão maleável como a própria realidade que se propõe analisar.

Outro aspecto importante e que também remonta aos limites explicativos da teoria da escolha racional, diz respeito a negligência da mesma em relação à dimensão social. A grande maioria dos estudiosos não se dá conta de que “mesmo incorporadas ao conceito [de racionalidade] somente as noções de cálculo de custos e benefícios e de relação coerente entre meios e fins, não há como restringir a racionalidade a características subjetivas e egoístas” (CARVALHO, 2008, p. 78). É fato que tais noções podem ser definidas por

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escolhas que estão vinculadas a uma dimensão social e a qual não é controlada pela ação individual. É preciso perceber que

a conexão das normas sociais com um tipo de razão que é distanciada da esfera restrita das preferências pessoais. Contudo, a teoria da ação da escolha racional tende a se limitar a um solipsismo que não prevê a dimensão das relações sociais que perpassa todas as coletividades. Uma questão que funda, afinal, a análise sociológica. Não se trata aqui de não observar a importância do comportamento maximizador na modernidade, mas de chamar atenção para a necessidade de uma perspectiva teórica que examine tanto os seus fundamentos sociais quanto a sua inscrição em uma conjuntura histórica que lhe dá suporte. Por outro lado, isto requer notar a centralidade das interações sociais que são constituídas pelos indivíduos, o que, por sua vez, permite explicar de modo satisfatório a emergência e a mobilização de organizações coletivas que suplantam interesses exclusivamente individuais. Por outro lado, essa perspectiva permite observar as conjunturas sociopolíticas às quais os indivíduos estão vinculados e que guiam e circunscrevem as suas ações, facilitando ou problematizando as perspectivas de ação (CARVALHO, 2008, p. 78).

O que é importante ressaltar aqui é a identificação da interdependência entre a atitude instrumental e a orientação por valores, entre a agência e a estrutura social. Ou seja, a ação não pode ser definida apenas por suas consequências pessoais, mas por seus resultados sociais abrangentes e mesmo circunstanciais formados pelos processos históricos. Logo,

Torna-se necessário examinar os interesses pessoais em uma perspectiva que não os define a priori, ressaltando os processos interativos e simbólicos criados historicamente que fixam certas “disposições”, ou seja, inclinações específicas para ações ancoradas em normas e rotinas coletivas provenientes das propriedades de um sistema social (CARVALHO, 2008, p. 168).

Já em relação à análise política, existe também um conjunto particular de críticas que remontam as análises da teoria da escolha racional. A primeira refere-se à proposição de existência de uma dada igualdade de recursos entre os agentes quando efetuam transações no mercado político, não enfatizando a dimensão estrutural do poder social. Já a segunda crítica, esta por sua vez, se volta para o caráter normativo da teoria, que exclui certos processos de identificação social ou dinâmicas desvinculadas das propriedades comportamentais instrumentais.

Outra questão da teoria política da escolha racional diz respeito ao fato de que são normalmente desconsideradas as manifestações sociais ou

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públicas que não estão vinculadas a maximização pessoal. Assim, uma vez que a teoria postula que os indivíduos agem de forma autônoma, sem qualquer tipo de ligação com o ambiente externo, e que qualquer restrição social é considerada como algo que contraria a natureza humana, acaba-se gerando certa dificuldade, por parte da teoria, em lidar com as possíveis relações existentes entre preferências individuais e escolhas sociais. Já que, um sistema político só se torna coerente, quando é pensando como resultante de certo pluralismo de interesses divergentes e antagônicos.

Desse modo, a partir do momento em que a teoria da escolha racional tende a privilegiar os fins da eficácia econômica, o qual se baseia no livre exercício da racionalidade, a política torna-se um mero instrumento de escolhas dos meios mais eficientes para o alcance de objetivos. Por conseguinte, é como se a esfera pública se transformasse em algo que não mais reflete a legitimidade e abertura da representação política, rejeitando-se inclusive a noção de soberania que fundamenta as concepções tradicionais da