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Instituições e política brasileira: uma variável determinante

Considerando todos os aspectos até aqui analisados e que têm como principal preocupação a reflexão em torno do desempenho da democracia brasileira, com ênfase nos efeitos gerados pela adoção de um determinado arranjo institucional e conforme apresentado no Quadro 3. O que se percebe de fato é o papel privilegiado que possuem as instituições no âmbito dessas análises, como principal variável explicativa – variável independente. Não por acaso, pensar a própria melhoria da democracia brasileira passa quase que exclusivamente, por uma reflexão em relação a uma mudança na estrutura institucional do sistema político. Em detrimento inclusive, da necessidade de reflexão sobre os aspectos mais gerais relacionados com o regime.

Quando uma instituição ou instituições geram externalidades negativas que se tornam intoleráveis, a remodelagem é a solução. O cerne da questão é definir quando as externalidades se tornam tão negativas a ponto de justificar mudanças. Evidentemente, as externalidades negativas devem ser pensadas juntamente com as positivas e a razão entre as duas que provoca

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a mudança institucional não é uma constante no tempo e no espaço (SOARES e RENNÓ, 2006, p. 09).

No entanto, como será possível perceber, embora esse tipo de prioridade tenha trazido e ainda traga excelentes contribuições no campo das reflexões sobre a democracia brasileira, isso não exime tais concepções de serem consideradas a partir de um olhar crítico, considerando as implicações que resultam desse processo.

QUADRO 3: QUADRO ANALÍTICO A PARTIR DAS ABORDAGENS

INSTITUCIONALISTAS

PRINCIPAIS AUTORES

TRABALHADOS PRESSUPOSTO BÁSICO ARGUMENTO 12. Abranches (1988); 13. 14. Figueiredo e Limongi (1999); 15. 16. Santos (2003); 17. 18. Amorin Neto (2004, 2006); 19. 20. Mainwaring (2001); 21. 22. Ames (2003); 23. As instituições são consideradas como as variáveis primordiais na determinação da adoção, funcionamento e do grau de aprimoramento da democracia brasileira;

24. 1. É possível dizer muito mais sobre o funcionamento da democracia brasileira e os resultados políticos que por ela são gerados, se observado apenas as instituições adotadas pelo país Executivo, Legislativo, Sistema Partidário, Sistema Eleitoral –, bem como a forma como essas instituições acabam desenvolvendo, entre si, padrões de interação e de influência mutua;

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CAPÍTULO 3

Análises hegemônicas e o papel das

instituições no cenário político nacional:

considerações sobre um dado modelo

de abordagem

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O esforço que será realizado a partir do presente momento, não tem como interesse principal negar ou mesmo desconsiderar todas as contribuições, do ponto de vista analítico, oriundas dos estudos realizados pelos autores e trabalhos mencionados no capítulo anterior e que têm como foco central de suas análises os aspectos institucionais da democracia brasileira.

Adotando uma postura completamente oposta, faz-se necessário que se registre o quanto tais estudos foram importantes do ponto de vista da própria profissionalização da ciência política brasileira e do amadurecimento das reflexões que vinham sendo realizadas tendo como foco a política nacional. Inicialmente, em se tratando do contexto brasileiro, a maioria dos estudos era realizada, muito mais, a partir do ponto de vista de uma sociologia política, de uma história das idéias políticas, de uma história das instituições políticas ou até mesmo de uma história da própria política brasileira do que em termos de uma reflexão propriamente de ciência política.

Conforme relatado por Forjaz (1997):

[...] durante muito tempo a política foi encarada naquele país como um "ramo" da ciência-mãe, da ciência síntese, a Sociologia. Tratava-se, então, de afirmar a independência da Ciência Política num ambiente intelectual em que ainda eram vigorosas as correntes de cientistas sociais tendentes a encarar a política como uma seção da Sociologia, ou da Economia.

A análise comparativa do desenvolvimento da Ciência Política permite constatar que as décadas de 60 e 70 foram extremamente favoráveis ao florescimento dessa disciplina tanto na América Latina quanto em alguns países europeus carentes de institucionalização científica na área.

Logo, com o processo e institucionalização da ciência política brasileira, observa-se a busca por se definir os contornos de uma disciplina autônoma, que percebe a esfera política como um campo particular e independente, em suas considerações sobre a organização político-institucional do país.

Isso permitiu que estudos mais sistemáticos, comprometidos inclusive com a quantificação, análise estatística, e voltados para a reflexão em torno de questões como a organização e funcionamento do sistema de governo no Brasil, as instituições legislativas, o sistema partidário e eleitoral, se desenvolvessem de uma forma ainda mais promissora. Tudo isso fruto da

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influência muito forte dos centros de pesquisa, instituições acadêmicas e intelectuais estrangeiros, principalmente, norte-americanos.

E distintamente do que se possa pensar, tal influência não resultou necessariamente no privilegiamento de uma única tendência do ponto de vista teórico ou metodológico, no que diz respeito à produção dos cientistas políticos brasileiros.

Entretanto, mesmo considerando a qualidade dos estudos e a diversidade e pluralismo definidos como característicos da ciência política brasileira. Faz-se necessário, para os fins a que o presente trabalho se propõe, avaliar alguns aspectos, principalmente do ponto de vista teórico e metodológico, que norteiam os estudos referendados no capítulo 2, os quais abrangem em sua grande maioria trabalhos que se tornaram referência na ciência política brasileira, mas também aqueles estudos que têm como foco o cenário político brasileiro e que foram realizados por autores de outros países, uma vez que estes também são considerados como extremamente representativos no cenário das análises que vêm sendo desenvolvidas sobre a democracia brasileira e suas principais instituições.

Desse ponto de vista, embora partindo de focos diferenciados ou mesmo chegando a conclusões distintas, os trabalhos até agora considerados e que têm como foco principal o papel desempenhado pelas instituições, acabam congregando pelo menos dois aspectos em comum, a sua identificação com uma concepção minimalista ou até mesmo subminimalista da democracia (Mainwaring, Brinks e Pérez-Liñán, 2001), bem como a referência aos pressupostos da teoria da escolha racional e do novo institucionalismo – principalmente em suas vertentes da escolha racional e histórica – como fundamentação às explicações que foram construídas, isso pensando do ponto vista teórico10.

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Vale ressaltar que, embora existam outros trabalhos e intuições que são contempladas pela ciência política brasileira, quando me referir à vertente institucionalista, estarei tratando prioritariamente dos trabalhos discutidos no capítulo 2 e que têm como principal eixo de suas discussões, os sistemas de governo, partidário e eleitoral.

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QUADRO 4: COMO OS PRESSUPOSTOS DA TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL E

DO NOVO INSTITUCIONALISMO APARECEM NAS ANÁLISES SOBRE O ARRANJO INSTITUCIONAL DA DEMOCRACIA BRASILEIRA?

DIMENSÃO POLÍTICO- INSTITUCIONAL (CONCEPÇÃO MINIMALISTA DA DEMOCRACIA)

QUANTO AOS

ATORES QUANTO AS INSTITUIÇÕES

1. Relação Executivo- Legislativo 2. Abranches (1988), Figueiredo e Limongi (1999), Santos (2003), Amorin Neto (2004, 2006) Atores Racionais

3. As instituições políticas criam incentivos restritivos que tentam minimizar a busca pela maximização dos ganhos pessoais, gerando assim uma situação de equilíbrio que favorece a relação entre os atores e instituições (Executivo e Legislativo).

4. Mainwaring (2001),

Ames (2003) Atores Racionais

5. As instituições políticas criam incentivos que estimulam os políticos a maximizarem seus ganhos pessoais, gerando assim uma situação de conflito permanente entre os atores e instituições (Executivo e Legislativo). 6. Sistema Partidário 7. 8. Figueiredo e Limongi (1999), Santos (2003), Melo (2007) Atores Racionais

9. Os partidos políticos são coesos e disciplinados do ponto de vista de sua atuação junto a seus membros, principalmente em relação às arenas legislativas e funcionam como mecanismos de resolução de problemas de ação coletiva. O que, por sua vez, tende a minimizar as possíveis distorções geradas em outros contextos de atuação dos partidos.

10. Mainwaring (2001) Atores Racionais

11. Os partidos políticos são frágeis do ponto de vista da coesão e disciplina que exercem sobre os seus membros, criando assim incentivos que estimulam a maximização dos ganhos pessoais e a não-cooperação, o que gera um problema de ação coletiva.

12. Sistema Eleitoral

13. Santos (2003) Atores Racionais

14. O sistema eleitoral, embora crie incentivos que estimulam os políticos a maximizarem seus ganhos pessoais, tal tendência acaba sendo minimizada pelos incentivos gerados pela atuação de outras instituições.

15. Ames (2003) Atores Racionais

16. O sistema eleitoral cria incentivos que estimulam os políticos a maximizarem seus ganhos pessoais, assim como a competição intra-institucional.

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17. Fonte: Elaborado a partir das reflexões feitas no capítulo 2.

Esses aspectos se tornam de extrema importância, na medida em que, uma vez que tais paradigmas foram incorporados normalmente de forma irrestrita, sem que nenhuma ou quase nenhuma ponderação fosse feita sobre os possíveis limites e alcances dessas, tanto em relação à concepção minimalista da democracia, como em relação às teorias mencionadas, acabam por justificarem-se alguns esforços no sentido da apresentação de algumas críticas a tais trabalhos.

Mas, para que tais questões sejam melhor compreendidas, faz-se necessária uma discussão mais pontual sobre os aspectos que envolvem tanto a concepção minimalista da democracia, como os usos da teoria da escolha racional e do novo institucionalismo, para a partir daí se poder pensar como se atribuem certas limitações as análises hegemônicas que vêm sendo desenvolvidas sobre a democracia no Brasil.

3.1. Ênfase em uma concepção minimalista da democracia: o