• Nenhum resultado encontrado

A situação de atividade instrumentada que melhor reproduz a situação de estudo é aquela em que a perspectiva ocupa o polo objeto1, e onde o perspectógrafo se torna um instrumento (figura 11). Para tanto, devem ser atribuídas ao sujeito algumas tarefas que serão executadas sobre o perspectógrafo.

instrum ento perspectógrafo

sujeito

objeto perspectiva

Figura 11 - Modelo SAI, situação de estudo - Sujeito/Perspectógrafo/perspectiva

Entre o sujeito e o objeto, no modelo apresentado, consideramos a ação de produção de uma perspectiva. Assim o objeto da ação é o desenho e esta ação é mediada pelo perspectógrafo que adquire então estatuto de instrumento. Nesta situação a perspectiva produzida faz referência a um objeto real, presente e colocado atras do quadro de referência em vidro. Entre o desenho que se produz e o objeto real deve existir uma relação, como entre a realidade e sua representação. O sujeito deve agir sobre seu objeto - a perspectiva -, sendo capaz de fazer as transformações necessárias nas dimensões e nas direções das linhas a partir do arranjo escolhido entre observador, plano de referência e objeto (elemento tridimensional). O efeito dos invariantes pode ser observado pelo sujeito. A perspectiva deve sempre permitir a ilusão de realidade. Se isso não acontece é porque, ou as regras não foram respeitadas ou elas não foram compreendidas. O objeto final, que nesta situação é a perspectiva, deve manter a relação com a realidade que ele representa. Esta realidade adquire o estatuto de referente.

Finalmente, como a perspectiva pode também obter o estatuto de instrumento, e no ensino da mesma o objetivo é de instrumentar o aluno neste sentido, dentro da

1

Ainda que ela possa ser considerada como um instrumento de representação gráfica. Porém isso implicaria na escolha de uma outra situação de ação.

dinâmica do ensino, através de instrumentos, o perspectógrafo ganha o estatuto de instrumento, servindo à construção de um outro instrumento. Esta é uma função transitória que permite compreender o modelo como sendo dos pólos sujeito/perspectiva/realidade, que deve ser construído a partir de um modelo sujeito/perspectógrafo/perspectiva. Isso significa que a perspectiva vai se manter no polo objeto, até o momento em que o sujeito seja capaz de utiliza-la como um instrumento. E assim vemos ainda novos índices da gênese instrumental, desta vez ligada à perspectiva. No final do processo de aprendizagem ela deve deixar o polo objeto que será ocupado pela realidade que ela tenta representar. O estatuto do perspectógrafo vai sofrer outra modificação, pois ele deixará de existir materialmente. Isso não vai significar porém que ele deixará de existir completamente. As ações que foram executadas com o aparelho, e que geraram esquemas de uso específicos, permitem que o aparelho prolongue sua existência independentemente de sua presença material. Ele continua sendo evocável dentro dos esquemas que foram construídos pelo seu uso. Ele esta presente nos esquemas que foram construídos pelos indivíduos que executaram as ações de perspectiva.

Na relação entre o sujeito e o perspectógrafo podemos encontrar duas componentes diferentes. Primeiro sua compreensão enquanto aparelho, o artefato tecnológico, o quadro em vidro, o anel para o olho, as diversas regulagens de posição que são vistas como um artefato pelo sujeito. A partir do momento que apresentamos a tarefa a ser executada, tem início a atividade com instrumentos, uma vez que o aparelho é introduzido em um uso. A segunda componente esta ligada a este uso. As possibilidades técnicas oferecidas pelo aparelho, a tarefa prescrita e a possibilidade de executar de uma maneira eficaz, são abordagens ergonômicas do ponto de vista físico. Do ponto de vista cognitivo, os resultados obtidos pelas atividade com o instrumento não são ainda os invariantes, que se deseja identificar. Será necessário construir os esquemas de ação para iniciar a aquisição de conceitos básicos. Eles podem ser construídos pela estimulação no curso da atividade e segundo as tarefas prescritas.

A relação entre o instrumento e o objeto da ação é representada, no modelo SAI para a situação de estudo, pela relação entre o perspectógrafo e a perspectiva. Na concepção do perspectógrafo, esta relação significa a concretização dos elementos abstratos, ligados ao domínio da perspectiva. Na história do aparelho podemos ver

duas situações diferentes. Primeiro aquela dos pesquisadores do século XVI. Para Dürer, da Vinci ou Lambert1, o uso do aparelho não estava ligado à aprendizagem da técnica da perspectiva, que eles dominavam perfeitamente, mas à pesquisa de efeitos e a representação do ambiente projetivo, tal como eles o viam. Na reconstrução do aparelho, feita para o estudo de sua contribuição para o ensino da perspectiva, a relação com o aparelho sofre uma mudança de estatuto.

A ação dos alunos sobre o aparelho não é a mesma de um pesquisador, e a diferença principal está no conhecimento anterior sobre o domínio da projetividade. Os pesquisadores do século XVI buscavam aprimorar suas técnicas gráficas em busca dos efeitos de deformação de superfícies especiais. Para os alunos, que executam um ato de perspectiva com o aparelho, o estatuto não é o mesmo, ele estaria mais ligado à ação da descoberta. Considerando-o como um simulador da atividade de construção de uma perspectiva, o aparelho permite a leitura das transformações, que sofreram as formas reais. A identificação destas transformações podem ser uma fonte para estimular a busca das razões, as regras e os invariantes destas transformações. Na técnica do desenho de perspectiva o trabalho de transformação das informações está sujeito a um encaminhamento preciso. Na atividade com o aparelho, estas transformações acontecem sem a necessidade de compreensão da conduta técnica. Pode-se ver nesta relação uma proximidade entre a realidade e a abstração. A perspectiva, enquanto técnica, é essencialmente abstrata e precisa. Por outro lado, o perspectógrafo traz elementos concretos, mas ele não contempla a precisão. Ele permite porém a investigação, a ação e a execução, em um campo real, de operações e de transformações que são ligadas ao campo conceptual e abstrato.