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Ação Direta de Inconstitucionalidade

4 ANÁLISE DO CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE NO

4.2 Ações Próprias do Controle Abstrato de Constitucionalidade

4.2.1 Ação Direta de Inconstitucionalidade

A ação direta de inconstitucionalidade (ADI) intenciona tornar sem efeito as leis e atos normativos federais, estaduais ou distritais que não se coadunam, formal ou materialmente, com a Constituição Federal. Considera-se um “instrumento de correção do sistema geral incidente”46 realizado pelo Poder Judiciário. Assim, o Supremo Tribunal

Federal pode declarar (ou não) a inconstitucionalidade dos diplomas normativos levados ao seu conhecimento.

A concepção da inconstitucionalidade decorre do princípio da hierarquia das normas jurídicas, que implica dizer que as normas inferiores encontram fundamento de validade nas normas superiores. Sendo a Constituição a norma soberana do ordenamento jurídico brasileiro, a fiscalização abstrata da lei ou ato normativo centraliza-se em torno da Constituição Federal.

A finalidade precípua da ADI é a defesa objetiva da Constituição Federal, a tutela da homogeneidade e completude do ordenamento jurídico, visando à preservação da integralidade constitucional.

Inicia-se, então, um processo de natureza objetiva, onde não há lide nem partes confrontantes. Tal ação possui o escopo de resolver suposta incompatibilidade entre uma lei ou ato normativo e uma norma da Constituição, em defesa da homogeneidade do ordenamento jurídico brasileiro. Devido a isso, a Carta Magna de 1988 elencou, taxativamente, algumas autoridades, órgãos e entidades como legitimados ativos para a propositura desta ação.

Embora a CF/88 não faça qualquer distinção entre os legitimados, a jurisprudência do STF os classificou em dois grupos: a) os legitimados neutros ou universais, que não necessitam satisfazer o requisito da pertinência temática, quais sejam: o Presidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, o Procurador-Geral

da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e o partido político com representação no Congresso Nacional, e b) os legitimados não universais ou especiais, que precisam demonstrar o interesse de agir, ou seja, a adequação temática entre a questão versada na lei ou ato normativo impugnado e os interesses defendidos por eles, quais sejam: a Mesa de Assembléia Legislativa, o Governador de Estado, as confederações sindicais e as entidades de classe de âmbito nacional.

Apesar do evidente avanço democrático trazido pela Constituição de 1988 no tocante aos legitimados, ainda não se vislumbra espaço para o povo propor uma ação direta em face de alguma lei ou ato normativo que entenda ser inconstitucional, nos moldes de uma iniciativa popular. Esta proposta, se concretizada, poderia potencializar o processo de democratização das decisões judiciais proferidas em sede de controle abstrato, haja vista que nem sempre os interesses dos legitimados ativos convergem com os interesses do povo.

Saindo em defesa do ato normativo impugnado, existe a figura do Advogado- Geral da União, verdadeiro curador da presunção de constitucionalidade da lei. A obrigatoriedade da defesa da lei ou ato só será dispensada nos seguintes casos: 1) se o STF já tiver fixado entendimento pela inconstitucionalidade da norma impugnada; e 2) se a norma ofender os interesses da União, isto é, se houver conflito entre as funções do AGU.

O Procurador-Geral da República, além de legitimado ativo, desempenha a função de custos legis, ou seja, fiscal da lei, opinando, inclusive, nas ações ajuizadas por ele mesmo. É possível que o PGR ajuíze uma ADI e, posteriormente, delibere pela constitucionalidade da lei impugnada.

Por conta da natureza objetiva do processo de controle abstrato de constitucionalidade, a Lei n. 9.868/99 veda a intervenção de terceiros. Contudo, o relator pode, levando em consideração a relevância da matéria e a representatividade do terceiro interessado, admitir por despacho irrecorrível a manifestação de outros órgãos ou entidades na condição de amicus curiae, conferindo ao processo constitucional maior abertura democrática.

Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria. Além do que, o relator poderá, ainda, solicitar informações aos Tribunais Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma impugnada no âmbito de sua jurisdição. Tais medidas têm por finalidade prover o Supremo Tribunal Federal de maiores subsídios para a formação de seu

convencimento acerca das questões constitucionais, inclusive sobre os fatos e prognoses legislativos, e propiciar uma maior integração entre a Corte e os demais Tribunais. Compõem uma espécie de instrução no processo de controle abstrato de constitucionalidade47.

A declaração de inconstitucionalidade possui efeito erga omnes e vinculante para os demais órgãos do Poder Judiciário e para a Administração Pública direta e indireta em todas as esferas, não vinculando o Poder Legislativo. O alcance da eficácia vinculante pode estender-se para além da parte dispositiva do acórdão, atingindo também os próprios fundamentos subjacentes à decisão emanada do STF. Assim, resta caracterizado o fenômeno denominado de transcendência dos motivos determinantes no controle abstrato.

A sentença resultante da ação direta de inconstitucionalidade é irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos de declaração. Também não poderá ser objeto de ação rescisória. Por fim, a decisão que declara a inconstitucionalidade implica na nulidade absoluta da lei ou ato atacado e produz efeitos ex tunc e repristinatórios, restabelecendo a legislação anterior revogada pela lei declarada nula.

Ainda assim, é possível modular temporalmente os efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Os ministros da Corte, em razão da segurança jurídica ou de excepcional interesse social e por maioria de dois terços de seus membros, podem estabelecer efeitos constitutivos ou ex nunc ou pro futuro para as decisões proferidas, restringindo os efeitos daquela inconstitucionalidade ou decidindo que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.