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Ações educativa/pedagógica e coercitiva/disciplinadora

As ações educativas e coercitivo/disciplinadora existente na Política Nacional de Fiscalização – PNF do conjunto CFESS/CRESS sinalizam para bases normativas, jurídicas do exercício profissional que inibem posicionamentos profissionais que violem a legislação do assistente social.

Assim, PNF (2007, p. 14) define:

A dimensão normativa e disciplinadora abrange ações que possibilitem, a partir da aproximação das particularidades sócio- institucionais, instituir bases e parâmetros normativo-jurídico reguladores do exercício profissional, coibindo, apurando e aplicando penalidades previstas no Código de Ética Profissional, em situações que indiquem violação da legislação profissional. É a dimensão que explicita o sentido regulatório e de regulamentação da profissão com conteúdo ético-político, bem como a recomposição de direitos violados à luz do Código de Ética da Profissão.

A entrevista realizada com a presidente da COFI, na gestão 2002 a 2005, trouxe elementos para as reflexões sobre as ações educativas e coercitiva/disciplinadora desenvolvidas na fiscalização do CRESS/AL onde ela relata que:

[...] o nosso foco é a dimensão educativa e, quanto a isso, nós fomos incansáveis em realização de Oficinas, Seminários, Curso de Aperfeiçoamento, Curso de Extensão, Curso de Atualização. Criamos um projeto de assessoria aos profissionais; criamos um catálogo de referência bibliográfica, que às vezes o profissional precisava acessar a livros, a estudos e não tinha aonde procurar e nem tinha quem o orientasse quais os livros. Então, nós criamos um catálogo de referência bibliográfica. E a parte coercitiva, ela ficou mais a nível de que as instituições e, também, os profissionais eles não cumpriam, descumpriam o Código de Ética, tipo questão de garantia do sigilo, espaço para o desenvolvimento dos trabalhos. Muitas vezes as instituições não queriam permitir que o Assistente Social participasse de cursos saindo no horário de trabalho. Então, era mais nesse nível assim legal mesmo do cumprimento, porque sempre que a gente tinha que punir um Assistente Social, antes de puni-lo coercitivamente, evidentemente, a gente procurava dar como punição ele participar de curso, oficina, debate, fórum, capacitação, que é para dar oportunidade dele melhorar a prática profissional. Você não pode punir antes de você favorecer, dar condições de acesso à atualização do conhecimento. Então, foi isso que a gente fez (relato da presidente da COFI, gestão 2002 a 2005).

Nessa categoria analítica, de ações educativas e coercitivo/disciplinadoras, o relato da presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização – COFI do Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas – CRESS/AL (2002 a 2005), deixa claro que

a dimensão político-pedagógica da PNF sobrepõe a dimensão

coercitiva/disciplinadora, quando há uma preocupação de articular o conhecimento científico com a atuação profissional. E, também, a clareza da importância da formação, capacitação e qualificação profissional, enquanto, instrumento de politização dos (as) assistentes sociais. Para tanto, qualificar a intervenção profissional significa se inserir enquanto trabalhadores assalariados para responder às demandas institucionais e identificar às demandas profissionais, explicitando o efetivo compromisso com o projeto profissional, sem esquecer à instância de mediação que está no campo dos direitos humanos e sociais.

Por conseguinte, relacionar a teoria com a prática é entender como uma questão política que articula o pensar com o agir para ultrapassar o empírico, a imediaticidade. É captar que as atribuições do (a) assistente social estão no campo investigativo, no campo estratégico e no campo avaliativo que academia forma profissionais qualificados para intervir no enfrentamento cotidiano das expressões da questão social.

ParaIamamoto (2005, p. 170):

Uma das condições fundantes para se garantir a adequação da formação profissional à dinâmica de nosso tempo, é implodir uma visão endógena do Serviço Social e da vida universitária, prisioneira em seus “muros internos”. Alargar os horizontes, voltados para a história da sociedade brasileira nos quadros do novo reordenamento mundial para aí melhor apreender as particularidades profissionais em suas múltiplas relações e determinações, densas de conteúdo histórico.

Diante disso, os desafios posto para o assistente social é compreender o que é o Serviço Social e ter a capacidade de decifrar a realidade para não se limitar apenas no plano teórico, sem formação política e ética.

Outra fala de nossa entrevistada, a presidente da COFI, gestão 2008 a 2011, destaca que as ações educativas e coercitivas/disciplinadoras desenvolvidas nas fiscalizações do CRESS/AL passaram por processos de discussões internas que explana:

Eu me recordo muito bem de dois momentos que foram fundamentais dentro da COFI, que foram momentos que, além de serem disciplinadores, foram momentos educativos. Foi um processo pedagógico, que foram momentos em que a gente chamou a categoria para conversar, partindo dos principais problemas identificados na COFI. Foram momentos que eu acredito que a gente teve a oportunidade de plantar dentro da Comissão e dentro dos profissionais, em especial da categoria, de qual é o papel da COFI. Então, esse momento disciplinador ele teve um ponto muito mais forte do que ser coercitivo e no sentido de avançar de qual é o papel da COFI. Momento coercitivo eu não vivenciei enquanto membro, a

não ser as situações que a gente identificou, que a gente já havia conversado, que a gente tinha esgotado todas as possibilidades de negociação dentro da COFI e encaminhar para a Comissão de Ética. Momento coercitivo eu não vivenciei essa experiência dentro da COFI. No entanto, eu considero que é necessário a gente construir isso. Acho que tem algumas coisas que a gente pode trabalhar, que a gente não precisaria chegar numa Comissão de Ética, porque a gente entende que se a gente tiver uma Comissão, se a gente tiver uma COFI que entenda qual é o seu papel disciplinador e entenda o seu papel no processo de orientação e de fortalecer aquele profissional no sentido de que a COFI vai estar disponibilizando para esse profissional uma Instância à mais dentro do seu Conselho, no sentido de dizer assim: existe um CRESS que me fiscaliza, existe um CRESS também que me defende, existe também um CRESS que é capaz sim , através das suas Comissões, em especial da COFI, de disciplinar a minha prática sem que eu tenha que ser punido, principalmente de que essa punição tem um prejuízo para o usuário, porque é menos um profissional que eu vou ter no ambiente de trabalho, é menos um profissional que eu vou ter imbuído do entendimento do que é o trabalho do profissional do Serviço Social e do acesso desse usuário ao profissional do Serviço Social para estar acessando o direito. Infelizmente, a gente ainda carece desse profissional do Serviço Social para estar garantindo o acesso aos direitos dos nossos usuários” (Relato da presidente da COFI, gestão 2008 a 2011).

A fala enfatizada a importância do assistente social compreender que a Comissão de Orientação e Fiscalização – COFI como um espaço para refletir sua prática a partir dos espaço-sócio ocupacionais. Registra, também, a necessidade do profissional se (re) conhecer como parte integrante do Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas – CRESS/AL. E que o processo disciplinador esteja respaldado na legislação profissional articulado ao projeto ético-político do Serviço Social. Entendendo que o Código de Ética, a Lei de Regulamentação da profissão e as Resoluções do CFESS são bases jurídicas e normatizadoras para proporcionar uma autonomia profissional diante da realidade.

Iamamoto explica (2007, p. 422),

[...]. na defesa de sua relativa autonomia, no âmbito dos espaços ocupacionais, o assistente social conta com sua qualificação acadêmica-profissional especializada, com a regulação de funções privativas e competências e com a articulação com outros agentes institucionais que participam do mesmo trabalho cooperativo, além

das forças políticas das organizações dos trabalhadores que aí incidem.

Pensar em autonomia relativa é saber relacionar a teoria com a prática, conseguindo entender o processo histórico-social da profissão. Com isso, se o assistente social coloca seu conhecimento científico de lado e atém, apenas, à pratica, de forma mecanicista, burocratizada ele não vai decodificar os problemas sociais, políticos, econômicos e culturais, existente na realidade. Sendo assim, a relação teoria/prática é uma questão política que nos direciona a um fazer profissional crítico-reflexivo no contexto social.

Contudo, o CRESS/AL tem que ser compreendido como uma instância de reflexão da prática a partir das demandas e necessidades sociais e humanas e as legislações profissionais do assistente social sejam ferramentas para consolidação do projeto ético-político do Serviço Social.

A resposta escrita da COFI (gestão 2012 a 2015) revela uma visão das ações educativas e coercitivo/disciplinadoras, a saber:

[...]. a partir da análise das demandas apresentadas pela fiscalização à COFI são planejadas ações político-pedagógicas objetivando a prevenção da violação à legislação profissional junto a grupos de assistentes sociais nos diversos campos sócio-ocupacionais, nos quais constatou-se ausência de planejamento da intervenção profissional repercutindo na indefinições de atribuições e competências. (resposta escrita da COFI, gestão 2012 a 2015).

Percebe-se que nessa última resposta, a COFI relata que o projeto de intervenção do assistente social repercute nas indefinições de atribuições e competência. Acreditamos que o projeto de atuação do assistente social favorece a articulação do saber científico com o agir. Ou seja, se o assistente social utiliza o projeto de atuação profissional sem articular as dimensões teórico-metodológicas, ético-político e técnico-operativo a atuação fica fragmentada e imediatista, então, a ação que tinha um cunho político-pedagógico passa a ter um cunho

coercitivo/disciplinador. Ou seja, trabalhar a prevenção da violação à legislação profissional requer um profissional com clareza quanto à função social que o profissional exerce na realidade.

A PNF (2007, p. 14) reitera que,

a dimensão normativa e disciplinadora abrange ações que possibilitem, a partir da aproximação das particularidades sócio- institucionais, instituir bases e parâmetros normativo-jurídicos reguladores do exercício profissional, coibindo, apurando e aplicando penalidades previstas no Código de Ética Profissional, em situações que indiquem violação da legislação profissional. É a dimensão que explicita o sentindo regulatório e de regulamentação da profissão com conteúdo ético-político, bem como a recomposição de direitos violados à luz do Código de Ética da Profissão.

Posto isto, a categoria analítica de ações educativas e coercitivo/disciplinadora devem estar respaldada na função pedagógica que o Serviço Social exerce em seu cotidiano, é parte constitutiva dos processos de organização e reforço da cultura que legitimam as relações hegemônicas é determinadas pelos vínculos com as classes sociais e materializadas através dos efeitos da ação profissional na maneira de pensar e agir dos sujeitos envolvidos nos processos da prática.