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Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas (CRESS/AL): categoria

No item anterior, buscamos explanar o processo organizativo do Serviço Social, que servirá como base para prosseguirmos na reflexão acerca das mudanças de perspectivas na relação CRESS 16ª Região e categoria profissional. É de se reconhecer que tanto a realidade social dos Conselhos Regionais da categoria de Serviço Social como o próprio perfil da categoria mudou historicamente. Desse modo, para compreendermos como se deu a mudança de perspectiva na relação do CRESS com a categoria profissional, é necessário termos sempre em mente como ocorreu o processo de institucionalização da profissão e sua organização, que culminou com a criação do Conselho Federal de Assistentes Sociais em 1962, conforme apresentado anteriormente. É importante salientar que, o processo de construção dos Conselhos se deu de forma corporativista e burocrática, sob uma linha autoritária e de controle político por parte do Estado Brasileiro, principalmente com a implantação da Ditadura Militar de 1964.

Destacamos, nos relatórios de atividades das décadas de 70 e 80, que os Conselhos têm como finalidade principal “disciplinar e fiscalizar o exercício profissional”, como também “salvaguardar os interesses éticos e zelar pela dignidade da profissão”. Com isso, o Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) busca fortalecer uma clara identidade profissional, articulada com um projeto de sociedade mais justa e democrática, tornando-se um instrumento efetivo no processo de amadurecimento político da categoria. Constitui-se, pois, como um mecanismo eficaz na defesa do exercício profissional, por meio da garantia da legalidade de seus preceitos, fornecendo respaldo jurídico à profissão.

No Relatório de Deliberações do XXVI Encontro Nacional CFESS/CRESS (1997, p.22), em que é feita uma análise da perspectiva dos Conselhos, salienta-se que:

No final da década de 70, em que se intensificam as mobilizações das classes trabalhadoras para o processo de democratização do País, definem-se grandes mudanças para as atividades da categoria, aliadas às lutas sociais em curso. Assim também os Conselhos passam a questionar sua função meramente burocrática, repensando seu aparato disciplinador, preocupando-se com as demandas

oriundas do cotidiano profissional e da sociedade brasileira (Relatório de deliberação do XXVI Encontro Nacional CFESS/CRESS, 1997).

Na década de 80, o CFESS publica a Resolução 135/80, que se constitui um marco para a estruturação da fiscalização profissional. A partir da referida Resolução, cerca de “50% dos Conselhos criam suas Comissões de Fiscalização, as

quais são compostas por Conselheiros, abrindo assim o canal de comunicação com as bases através de contatos institucionais” (Relatório de Deliberações do XXVI Encontro CFESS/CRESS, 1997, p. 23). A partir dos serviços de fiscalização instaurados e, respectivamente, das Comissões de Orientação e Fiscalização (COFI) em 1991, originam-se os Encontros Nacionais de Fiscalização, que sucederam os Encontros Nacionais "CFAS/CRAS".

Nesse contexto, inicia-se o questionamento acerca do papel do CRESS e, de forma particular, da sua relação com a categoria, procurando sair da perspectiva tradicional para ir muito mais além do que uma mera função burocrática. Com isso, sentiu-se a necessidade de se estreitar a relação com a categoria profissional através de contatos institucionais, o que veio a acontecer por meio da criação da Comissão de Fiscalização, possibilitando a abertura de um canal de comunicação com as bases (XXVI Encontro CFESS/CRESS, 1997).

O relatório do Encontro Nacional de Fiscalização, de 1992, trata a fiscalização como sendo:

...um instrumento de defesa do espaço profissional e de aproximação da categoria com o Conselho, onde tem como objetivo contribuir para o debate sobre a realidade do trabalho profissional e assegurar a dimensão política de ação, na busca pela melhoria da qualidade do atendimento do usuário (Relatório do Encontro Nacional de Fiscalização, 1992).

O Código de Ética do Assistente Social, datado de 1993, resguarda os princípios que permitem a vinculação explícita da profissão com os usuários dos serviços sociais e com a construção de um novo projeto societário, agora afinado

com as múltiplas demandas inerentes a essa direção social. Encontra-se, portanto, respaldado por uma concepção de sociedade que preconiza o fim da dominação ou exploração de classe, etnia e gênero.

No relatório do Encontro Nacional de Fiscalização de 1994, consta que o novo Código de Ética, aprovado em 1993, explicita um projeto profissional coerente com a conjuntura brasileira e os avanços da luta democrática, possibilitando, desta forma, uma discussão filosófica no Serviço Social. Este Código manteve os princípios e valores que permitiram a conexão orgânica da profissão com os setores mais progressistas da sociedade e, também, com a construção de um projeto profissional afinado com as demandas inerentes a essa direção social.

Também constam, no referido relatório, algumas demandas para consolidação do atual Projeto Ético-Político, dentro os quais destacamos:

- Necessidade do Agente Fiscal;

- Articulação com as universidades visando a formação contínua dos profissionais;

- Necessidade dos/as conselheiros/as dos CRESS aprofundarem seus conhecimentos acerca dos instrumentos de fiscalização e de intervenção (Lei de Regulamentação da Profissão, Código de Ética Profissional, LOAS, Lei da Saúde, etc);

- Necessidade dos CRESS terem um projeto de fiscalização; - Cumprimento da Lei 8662/93 no artigo 4º inciso IX;

- Proceder à seleção com critérios definidos do Agente Fiscal (relatório do Encontro Nacional de Fiscalização de 1994)

- Dentre as dificuldades apontadas pelos participantes presentes nesse encontro de 1994, destacam-se:

- A falta de disponibilidade dos/as conselheiros/as para se dedicarem ao CRESS;

- Descrédito da categoria profissional quanto ao papel político- institucional dos Conselhos;

- Demandas de ordem sindical e de aperfeiçoamento profissional nos Conselhos (Relatório do Encontro Nacional de Fiscalização de 1994).

Entretanto, o relatório da Comissão de Fiscalização de 1995, do Encontro Nacional de Fiscalização, traz a concepção de que o papel do Agente Fiscal é de "articulação, orientação, fiscalização e mediação entre a Direção do CRESS, Instituições, categoria, usuário e futuros profissionais". Contudo, compreende-se que

o trabalho a ser desenvolvido pelo Agente Fiscal é preventivo/educativo e em completa consonância com o projeto profissional do CRESS.

No que concerne ao perfil que este Agente Fiscal deve apresentar, segundo os grupos de trabalho do Encontro, ficou explicito que:

- O Agente Fiscal deve ser articulador, educador e veiculador de informação;

- Deverá ter competência técnica, política e habilidade para negociação (relatório do Encontro Nacional de Fiscalização de 1994).

Quanto às dificuldades, foram apresentadas as seguintes:

- Verificou-se quanto ao trabalho desenvolvido por alguns Agentes Fiscais uma confusão de papéis;

- Demandas inadequadas;

- Incompreensão de algumas diretorias sobre o papel do Agente Fiscal;

- Rotatividade e a não priorização da fiscalização (relatório da Comissão de Fiscalização de 1995 do Encontro Nacional de Fiscalização).

Por conseguinte, estes grupos de trabalho apontaram como possibilidades para melhoria dessas condições o seguinte:

1 - A necessidade de participação do Agente Fiscal nas reuniões da diretoria e a participação nas Comissões dos Conselhos, como mecanismo de qualificação política;

2 - Domínio sobre os instrumentos legais e outros instrumentos que possibilitem a intervenção do Agente Fiscal como LOAS, SUS, ECA, etc. (relatório da Comissão de Fiscalização de 1995 do Encontro Nacional de Fiscalização).

Ainda, nessa relação foram designadas algumas possibilidades de avanços, sendo mencionadas a seguir:

Maior articulação dos CRESS com as Unidades de Ensino, ultrapassando as exigências legais e construindo um projeto político que contemple os anseios da categoria (Relatório da Comissão de Fiscalização de 1995 do Encontro Nacional de Fiscalização)

Pois bem, os referidos grupos de trabalho manifestaram que há um déficit por parte dos Conselheiros e Agentes Fiscais e que alguns destes não têm divulgado o Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação da Profissão junto à Categoria/Instituições/Estudantes. Dentre os indicativos tirados, tais grupos de trabalho registraram o seguinte:

- Estruturação onde não houver as Comissões de Fiscalização; - Discutir com as futuras conselheiras a concepção de fiscalização, os instrumentos de fiscalização e o papel do CRESS;

- Participação do Agente Fiscal nas reuniões da diretoria do CRESS, como forma de qualificação;

- Capacitar conselheiros/as e Agente Fiscal quanto aos instrumentos de fiscalização (relatório da Comissão de Fiscalização de 1995 do Encontro Nacional de Fiscalização).

Já na década de 90, a atenção voltada para a fiscalização é uma realidade e indica a preocupação da "aproximação da categoria com o Conselho" (Encontro Nacional de Fiscalização, 1992). No Encontro Nacional de Fiscalização de 1994, mais uma vez, é explicitada a preocupação da relação dos CRESS com a categoria (base). Ao tratar das dificuldades dos CRESS, consta no relatório: "descrédito da categoria profissional quanto ao papel político-institucional dos conselhos". Desta feita, a partir de 1994 a ênfase dada ao papel da fiscalização vai se constituindo na possibilidade de se instituir um importante canal de comunicação entre o CRESS e a categoria dos Assistentes Sociais. É de se notar que esse fator, entre outros, vai interferir nas mudanças de percepção da categoria em relação ao CRESS/AL, conforme veremos no capítulo posterior.

CAPÍTULO 3

SERVIÇO SOCIAL E POLÍTICA NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO: UM CONVITE PARA UMA REFLEXÃO ÉTICA E POLÍTICA

“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente você estará fazendo o impossível”.

São Francisco de Assis

O presente capítulo é resultado de um processo de reflexão a partir das entrevistas realizadas e da experiência vivenciada como agente fiscal e membro da diretoria desse conselho. Definimos quatro categorias analíticas para o desenvolvimento do capítulo: a) ações educativa/pedagógica e coercitiva/disciplinadora, b) procedimentos técnicos-políticos de orientação e politização, c) lacunas na compreensão do projeto ético-político e, por fim, d) as dificuldades teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político.

Pensar à dimensão político-pedagógico, a dimensão afirmativa de princípios expresso no projeto ético-político do (a) assistente social e na dimensão normativa e disciplinadora, que está contida na Política Nacional de Fiscalização - PNF é compreender que o Serviço Social desenvolve ações no mundo social, ancorado em três questões: a sociedade é um produto humano, sociedade é uma realidade objetiva e o homem é um produto social. Portanto, qualquer reflexão social que não levem em conta estas três características será distorcida. Acreditamos que este entendimento é a dinâmica motivadora na condução do agir profissional.

Um desafio importante, nesta perspectiva de análise, é reconhecer que a profissão, como um tipo peculiar de trabalho, como forma de especialização do trabalho coletivo, tem uma dimensão política que lhe é constitutiva e que se expressa até no menor ato de nossa vida cotidiana.

Para isso, é preciso construir categorias que implicam desdobrar aquilo que é mais específico da realidade, é superar o nível da aparência, do senso comum, que resulta numa reflexão entre a teoria e a prática.

Um exemplo claro é a questão da identidade que é política, pois proporciona compreender a realidade dialeticamente, em movimento que pressupõe enxergar os problemas sociais na sua totalidade, ou seja, perceber que a totalidade é processual e dinâmica, ou seja, constrói e reconstrói a realidade, uma ação – reflexão – ação.