• Nenhum resultado encontrado

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP TACIANA MARTINS PADILHA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP TACIANA MARTINS PADILHA"

Copied!
107
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

TACIANA MARTINS PADILHA

POLÍTICA NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO DO CONJUNTO CFESS/CRESS: ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DO CRESS-ALAGOAS

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

(2)

TACIANA MARTINS PADILHA

POLÍTICA NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO DO CONJUNTO CFESS/CRESS: ESTUDO DA EXPERIÊNCIA DO CRESS-ALAGOAS

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social com área de concentração em Fundamentos e Prática Profissional, sob a orientação da Prof.(a) Dr.(a) Rosangela Dias Oliveira da Paz.

(3)

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

__________________________________________

(4)

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, alicerces da minha vida, pelos ensinamentos, orações diárias e apoio irrestrito em todos os momentos.

À minha irmã Morgana, pelo incentivo constante para que eu me realize pessoal e profissionalmente.

À minha eterna Prof.(a) e amiga Therezinha Falcão, pelo estímulo diário, desde a Universidade até hoje, para que eu me tornasse uma profissional crítica-reflexiva na realidade social e o apoio incondicional em todos os aspectos relevantes.

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus, agradeço por ter me concebido Sabedoria Divina para conduzir minha vida pessoal e profissional.

Ao painho e à mainha, agradeço os ensinamentos, o amor incondicional e os puxões de orelhas, que me proporcionaram ser uma pessoa mais justa, solidária e educada. E, igualmente, por sempre estarem ao meu lado nos bons, e nem tão bons assim, momentos por que passei. Eu os amo incondicionalmente por serem minha vida, fortaleza e luz.

À minha amada e querida irmã Morgana, que não tenho nem palavras para escrever o que ela foi e está sendo em minha vida nesta cidade imensa chamada São Paulo. É, pois, meu alicerce, pessoal e profissional, e serei eternamente grata por seu

companheirismo na superação dos “aperreios”, sempre com Deus em nossos

corações.

Ao meu cunhado João Paulo, à quem admiro a força de vontade em vencer na vida e agradeço pela hospitalidade e carinho com que me recebeu durante o ano em que morei com ele e minha irmã.

À minha querida e amada tia Côca, segunda mãe, agradeço pelo amor, carinho e as palavras de incentivo e apoio quando mais precisei.

À orientadora Prof.(a) Dr.(a) Rosangela Paz, à Prof.(a) Dr.(a) Maria Lúcia Martinelli e demais professoras do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUC/SP, agradeço pelas orientações profissionais ao longo do mestrado.

À minha eterna professora, amiga Therezinha Falcão, agradeço pelos ensinamentos da nossa profissão e por ter sido uma das poucas professoras da UFAL que me incentivou a ser uma profissional crítica-reflexiva na realidade social. Falar da Prof.(a) Therezinha é lembrar dela nas aulas de Fundamentos Históricos, Teóricos e

Metodológicos do Serviço Social fazendo a gente “sofrer” para entender o Serviço

social. E na minha vida profissional, agradeço o convite para fazer parte da diretoria do CRESS/AL, o que considerei como reconhecimento do profissionalismo. Aprendi muito com ela e ainda estou aprendendo, porque a vida é um eterno aprendizado.

À Prof.(a) Dr.(a) Margarete Pereira, agradeço pelos ensinamentos no curso de Serviço Social da UFAL, com suas aulas de planejamento, administração e projetos sociais. Os cursos de metodologia participativa, de educação popular, como foram e são importantes em minha vida profissional. Também agradeço por confiar no meu profissional, chamando-me para fazer parte de sua consultoria e assessoria de planejamento estratégico, planos, projetos e programas sociais.

(6)

EPÍGRAFE

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob

circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se

defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado...”.

Karl Marx, em Dezoito Brumário de Louis Bonaparte (1852)

“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; mas os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução”.

(7)

RESUMO

A opção pela abordagem do tema se deu em função do grau de importância que ele exerce no tocante aos estudos sobre a Política Nacional de Fiscalização, tanto do Conselho Federal de Serviço Social quanto dos Conselhos Regionais de Serviço Social, os quais se basearam na perspectiva do seu significado histórico-social e nas dimensões afirmativa de princípios, normativas e disciplinadoras e políticas-pedagógicas. Seu alcance visou à formação de uma reflexão crítica do Projeto Ético-Político do Assistente Social em seu cotidiano profissional, uma vez que, estando bem articulados, estes elementos expressam a concepção deste profissional. Para que se chegasse a tal entendimento, apresentamos um breve histórico brasileiro articulado com o Serviço Social, desde a sua gênese (década 30) até chegar aos anos 2000. Este caminhar social e histórico se fez necessário para que se pudesse compreender a construção e a necessidade da Política Nacional de Fiscalização do conjunto CFESS/CRESS no âmbito do agir profissional do Assistente Social. Desse modo, em meados dos anos 90, surge um profissional capaz de articular as dimensões teórica-metodológica, ética-política e técnica-operativa. E é nessa perspectiva de afirmação do Projeto Ético-Político do Assistente Social que se vislumbra a necessidade da incorporação de uma atitude consciente e crítica em seu cotidiano de trabalho. A Política Nacional de Fiscalização materializa-se nas Comissões de Orientação e Fiscalização (COFI), instaladas nos Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS), levando ao avanço na defesa e valorização da profissão. Por meio disso, nasce a percepção de que a PNF permite uma maturidade teórica, ética, política e técnica no exercício profissional do Assistente Social, visando à consolidação do Projeto Ético-Político nos espaços sócio-ocupacionais, que tem como desafio se posicionar criticamente às expressões da questão social que reitera a desigualdade social, de modo a refletir às condições ética-política, técnica-operativa e teórica-metodológica. Desta feita, nossa intenção foi estimular uma discussão crítica-reflexiva da relação teoria/prática nos espaços sócio-ocupacionais, trazendo a PNF na tentativa de (re) pensar o papel dessa política no cotidiano do Assistente Social. Do ponto de vista metodológico, trabalhamos a pesquisa documental analisando relatórios de deliberações do XXVI Encontro Nacional do conjunto CFESS/CRESS, de supervisão de estágio e de atividades do Conselho Regional de Pernambuco, juntamente com pesquisas bibliográficas utilizando vários autores, tais como, Netto, Iamamoto, Martinelli, Pontes, Lyra e Ozanira. Por outro lado, recorremos também ao instrumento de entrevista oral e/ou escrita, com a elaboração de roteiro de perguntas abertas com a finalidade de colher as respostas. Após ouvi-los, passamos à transcrição das respostas, que foram lidas, relidas e, por fim, comparados com o que preconiza a Política Nacional de Fiscalização. A análise do material buscou seguir os passos da pesquisa qualitativa: descrição, análise temática e interpretação, percebendo um distanciamento do que preconiza a PNF com a relação teoria/prática no fazer profissional do Assistente Social.

Palavras-chave: Serviço Social, Política Nacional de Fiscalização do conjunto CFESS/CRESS, Intervenção Profissional.

(8)

ABSTRACT

The choice of approach to the subject was due to the degree of importance it plays in relation to studies on the National Audit of both the Federal Council of Social Service as the Regional Councils of Social Service, which were based on the perspective of its historical significance, and social dimensions of affirmative principles, regulations and policies and disciplinary and pedagogical. Its range aimed at the formation of a critical Project Ethical-Political Social Worker in their daily work, since, being well articulated, these elements express the conception of this work. In order to arrive at such an understanding, we present a brief history articulated with the Brazilian Social Services, since its genesis (decade 30) until the 2000s. This social and historical hike was necessary for people to really understand the construction and the need of the National Audit of all CFESS / CRESS under the act professional Social Worker. Thus, in the mid-90s, there is a professional able to articulate both theoretical and methodological, ethical, political and technical-operational. And it is this perspective of affirmation Project Ethical-Political Social Worker who sees the need to incorporate a conscious and critical attitude in their daily work. The National Audit Committees materializes in Guidance and Control (COFI), installed in the Regional Councils of Social Service (CRESS), leading to advances in the defense and enhancement of the profession. Through this comes the realization that allows a pop theoretical maturity, ethics, politics and art in the practice of Social Work, aimed at consolidating the Project Ethical-Political spaces socio-occupational, whose challenge to position themselves critically expressions of social issues that reiterates social inequality, to reflect the conditions ethical-political, technical, operational and theoretical-methodological. This time, our intention was to stimulate a critical discussion and reflective of the theory / practice in social and occupational spaces, bringing the pop in an attempt to (re) consider the role that policy in everyday social worker. From the methodological point of view, work desk research analyzing the reports of the deliberations of the XXVI National Meeting set CFESS / CRESS, probation and supervision of activities of the Regional Council of Pernambuco, along with literature searches using several authors such as Netto, Iamamoto, Martinelli, Bridges, and Lyra Ozanira. On the other hand, also appealed to the interview instrument oral and / or written, with the development of script open questions in order to reap the answers. After hearing them, we move to the transcript of the responses, which were read, reread and, finally, compared with calls that the National Authority. The analysis of the material sought to follow in the footsteps of qualitative research: description, thematic analysis and interpretation, noticing a gap than advocates pop with the theory / practice in the professional Social Worker.

(9)

SIGLAS

AL – Alagoas

CFAS – Conselho Federal de Assistente Social CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CLT – Consolidação da Lei do Trabalho

COFI – Comissão de Orientação e Fiscalização CRAS – Conselho Regional de Assistente Social CRESS – Conselho Regional de Serviço Social DC – Desenvolvimento de Comunidade

INAMPS - Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social LBA – Legião Brasileira de Assistência

NUTAS – Núcleo Temático de Assistência Social PNF – Política Nacional de Fiscalização

SASEAL – Sindicato dos Assistentes Sociais de Alagoas SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SESC – Serviço Social do Comércio

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

CAPÍTULO 1 ... 18

SERVIÇO SOCIAL: BASE HISTÓRICA E ORGANIZAÇÃO ... 18

1. Processo histórico e social do Serviço Social ... 18

2. Processo organizativo do Conselho Federal de Serviço Social e dos Conselhos Regionais ... 34

CAPÍTULO 2 ... 45

SERVIÇO SOCIAL EM ALAGOAS: CONTEXTO E ORGANIZAÇÃO DA CATEGORIA ... 45

1. Processo organizativo da categoria de Assistentes Sociais em Alagoas .... 45

2. Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas (CRESS/AL): categoria profissional, desafios e mudanças ... 57

CAPÍTULO 3 ... 63

SERVIÇO SOCIAL E POLÍTICA NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO: UM CONVITE PARA UMA REFLEXÃO ÉTICA E POLÍTICA ... 63

1. Ações educativa/pedagógica e coercitiva/disciplinadora ... 64

2. Procedimentos técnicos-políticos de orientação e politização ... 69

3. Lacunas na compreensão do Projeto Ético-Político ... 73

(11)

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 87

REFERÊNCIAS ... ... 93

(12)

INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem como escopo a reflexão sobre a Política Nacional de Fiscalização (PNF) do Conselho Federal de Serviço Social e do CRESS Alagoas e pretende contribuir com o aprimoramento da atuação das Comissões de Fiscalização dos Conselhos Regionais, na medida em que identifica e enfrenta os pontos frágeis no âmbito da atuação profissional e da vivência cotidiana com compromisso ético e político. Nesse sentido, o Código de Ética do Assistente Social, datado de 1993, atua como guardião dos princípios, que permitem a vinculação explícita da profissão com os usuários dos serviços sociais e com a construção de um novo projeto societário, agora afinado com as múltiplas demandas inerentes a essa direção social.

Uma vez estando respaldado por uma concepção de sociedade que preconiza o fim da dominação ou exploração de classe, etnia e gênero, constata-se a necessidade de se estar em consonância com o projeto ético-político do Serviço Social. Ademais, o profissional de Serviço Social, em sua perspectiva crítica-reflexiva de acordo com o Projeto Ético-Político, passa a desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade social e de construir propostas de trabalho criativas e propositivas, que sejam capazes de efetivar os direitos sociais a partir de demandas emergentes no cotidiano. Em outras palavras, um profissional capaz de articular as dimensões teórica-metodológica, ética-política e técnica-operativa.

(13)

que o Serviço Social desenvolve ações no mundo social, ancorado em três questões, quais sejam, a sociedade é um produto humano; a sociedade é uma realidade objetiva; e o homem é um produto social. Portanto, qualquer reflexão social que não leve em consideração estas três características será encarada como distorcida. Acreditamos que este entendimento é a dinâmica motivadora na condução do agir profissional.

Assim, relacionar a teoria com a prática vai muito mais além do que se imagina. É, pois, entender essa relação como uma questão política que articula o pensar com o agir para ultrapassar o empírico, a imediaticidade. É captar que as atribuições do Assistente Social estão nos campos investigativo, estratégico e avaliativo. E, ainda, entender que a academia forma profissionais qualificados para intervir no enfrentamento cotidiano das expressões da questão social. Logo, refletir sobre a relação teoria/prática, no bojo da ação do Assistente Social em seu cotidiano profissional, é entender que há um espaço contraditório entre a consciência e existência, ou seja, a consciência formada pelo projeto ético-político do Serviço Social e a existência do cotidiano onde se realiza a prática, no sentido de identificar a dimensão que o conjunto do referido instrumento técnico utilizado pelo Serviço Social ocupa no contexto geral das práticas assistenciais.

(14)

expressões da questão social que reitera a desigualdade social, de modo a refletir as condições ética-política, técnica-operativa e teórica-metodológica.

Desta feita, o projeto ético-político do Serviço Social pressupõe um espaço democrático de construção coletiva, permitindo que o Assistente Social, na sua intervenção profissional, não tenha um posicionamento neutro, e sim um compromisso com a classe trabalhadora. É entender, portanto, que esse projeto tem um componente pedagógico que interfere na consciência da população, reconstruindo cultura e identidade, tendo como compromisso a construção de uma sociedade justa, equitativa e livre na ótica da cidadania. Direção contrária, portanto, à discriminação, exigindo assim um conhecimento amplo e uma inserção crítica.

No que concerne ao Estado de Alagoas, faz-se necessária uma reflexão crítica do processo organizativo do Assistente Social, haja vista que nesse Estado a desigualdade social é uma expressão da questão social, que desafia a profissão. Assim, para que se chegue a um entendimento real da situação enfrentada por Alagoas, é preciso ter em mente que não somente as determinações gerais próprias do sistema capitalista influenciam a questão, mas também outro fator preponderante que se soma a isso é a cultura vivenciada nesse Estado, onde o coronelismo, ainda dos primórdios dos séculos passados, persiste em reinar. Frisem-se, sobretudo, os rincões dos interiores menos desenvolvidos e/ou mais afastados dos grandes centros urbanos, nos quais se encontram as dificuldades mais latentes em conseguir a implementação de políticas sociais condizentes com a realidade vigente, o que igualmente não deixa de acontecer na capital Maceió e nos outros centros urbanos maiores do Estado. Logo, claro e evidente está que o coronelismo retarda um avanço no campo humano, social e civilizatório, dificultando e até mesmo emperrando o trabalho do Assistente Social.

(15)

Serviço Social de Alagoas (CRESS/AL), cujos sujeitos envolvidos na pesquisa qualitativa são os membros que compõe a Comissão de Orientação e Fiscalização (COFI).

Outrossim, é bom salientar que a proposta do estudo propiciará uma reflexão crítica do cotidiano profissional dos Assistentes Sociais, sendo tal estudo realizado através de pesquisas bibliográficas, que nos permitiram uma aproximação articulada da teoria com a prática. Segundo Koche (1978), a pesquisa bibliográfica é o estudo que se desenvolve, tentando explicar um problema a partir das referências teóricas publicadas em livros ou obras congêneres, com o objetivo de conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. Ela está, pois, intimamente ligada ao instrumental técnico-operativo da entrevista oral e/ou escrita, que foca a metodologia qualitativa de pesquisa.

De acordo com Martinelli (1999, p.26-27):

[...], três considerações finais sobre a pesquisa qualitativa: a primeira é quanto ao seu caráter inovador, como pesquisa que se insere na busca de significados atribuídos pelos sujeitos às suas experiências sociais; a segunda é quando à dimensão política desse tipo de pesquisa que, como construção coletiva, parte da realidade dos sujeitos e a eles retorna de forma crítica e criativa; a terceira é que exatamente por ser um exercício político, uma construção coletiva, não se coloca como algo excludente ou hermético, é uma pesquisa que se realiza pela via da complementaridade, não da exclusão.

Ademais, far-se-á, ao longo do trabalho, a pesquisa documental das particularidades do CRESS/AL, 16ª Região, tomando como referência os Relatórios de Atividades do CRAS da 4ª Região1 e, respectivamente, 16ª Região, nas

(16)

mencionadas décadas de 70 e 80, e os Relatórios dos Encontros Nacionais de Fiscalização, da década de 90. Tudo isso, portanto, visando à compreensão dos processos de mudanças de perspectivas na relação CRESS/Categoria profissional. Ao longo do seu desenvolvimento iremos perceber que, nos anos 80, inicia-se o questionamento acerca do papel do CRESS e, de forma particular, da sua relação com a categoria, procurando romper com a perspectiva tradicional para além de uma função meramente burocrática. Com isso, sentiu-se a necessidade de se estreitar a relação com a categoria profissional através de contatos institucionais, mediante a criação da Comissão de Fiscalização (COFI), o que possibilitou abrir um canal de comunicação com as bases (XXVI Encontro CFESS/CRESS, 1997). Entendemos que a pesquisa documental tem como finalidade viabilizar um estudo através de fatos sociais, políticos, econômicos e culturais, com obtenção de informações relativas a uma determinada problemática.

A pesquisa qualitativa, por sua vez, perpassa a descrição, a análise temática e a interpretação. Sendo assim, optamos por uma discussão que recuperasse aquilo que foi legitimado historicamente no exercício profissional do Assistente Social. Por esta razão, utilizamos como referencial analítico o que podemos chamar de método histórico-crítico. Iniciamos, pois, com a análise da entrevista da gestão de 2002 a 2005, realizada com a Presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização (COFI) deste período. Em seguida, vieram as das gestões de 2008 a 2011 e de 2012 a 2015 (gestão atual), respectivamente. E, em caráter complementar, a entrevista com a COFI do CRESS/SP da gestão atual, de 2012 a 2015. No total, realizamos três (03) entrevistas orais, sendo duas (02) com a COFI de Alagoas das gestões de 2002 a 2005 e de 2008 a 20011, e uma (01) com a COFI de São Paulo da gestão atual, de 2012 a 2015.

(17)

três (03) delas, visto que estas foram propícias a percepção de uma visão da formação profissional do Assistente Social no seu cotidiano.

Outrossim, ao longo das exposições desta Dissertação, ver-se-á que na década de 90 a atenção voltada à fiscalização era uma realidade que indicava

preocupação, devido à “aproximação da categoria com o Conselho" (Encontro

Nacional de Fiscalização, 1992). No que tange a Alagoas, o CRESS procurou reestruturar a Comissão de Fiscalização por meio da reformulação do Projeto de Fiscalização. Com esse intuito, houve a elaboração do seu Regimento Interno e de mais dois questionários: um para as empresas que empregavam Assistentes Sociais e o outro para o profissional, cujo objetivo era ter o cadastro das empresas e dos profissionais no Conselho.

A estrutura da Dissertação contém três capítulos. No primeiro, que trata da base histórica e da organização do Serviço Social, descrevemos o percurso histórico e social brasileiro e do Serviço Social e o processo organizativo do Conselho

Federal de Serviço Social (CFESS) e dos Conselhos Regionais (CRESS’S).

Analisar-se-á a gênese do Serviço Social, que surgiu em um momento histórico com forte vinculação à ação da Igreja católica e com ligação da profissão ao Estado. Desta maneira, o Serviço Social acompanhou o processo de agudização econômica e social e o fortalecimento do populismo como alternativa para manipulação dos trabalhadores e da sua vinculação aos interesses dominantes. Assim, o início da profissionalização do Serviço Social está intimamente relacionado aos movimentos religiosos e estatais, que visavam à garantia de privilégios específicos de cada setor.

(18)

perspectiva técnico-burocrática, por ser esta considerada como instrumento de dominação de classe a serviço dos interesses capitalistas.

No que se refere ao segundo capítulo, o qual trata do contexto e da organização da categoria do Serviço Social em Alagoas, buscou-se demonstrar a contextualização social e política da categoria em Alagoas. Discorreu-se, portanto, sobre o processo organizativo da categoria de Assistentes Sociais no Estado e do Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas (CRESS/AL), enfatizando os desafios e mudanças no exercício profissional e sua Comissão de Orientação e Fiscalização (COFI). Por fim, o terceiro capítulo, que descreve o Serviço Social e Política Nacional de Fiscalização em um contexto de debate crítico-reflexivo no saber profissional, compreendeu uma exposição através de pesquisa bibliográfica e qualitativa, utilizando o instrumento técnico-operativo da entrevista oral e/ou escrita. Ressalte-se que esse capítulo é resultado de um processo de reflexão sobre a formação e a qualificação profissional da Assistente Social no Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas (CRESS/AL), 16ª Região, priorizando a melhoria da qualidade do exercício profissional. Diante de tudo isso, podemos afirmar que o ponto de partida do estudo foi a experiência vivenciada enquanto Agente Fiscal e membro da Diretoria desse Conselho.

(19)

CAPÍTULO 1

SERVIÇO SOCIAL: BASE HISTÓRICA E ORGANIZAÇÃO

“Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar!”

Thiago de Melo

1. Processo histórico e social do Serviço Social

No complexo quadro conjuntural da década de 30, no século XX, a crise da economia brasileira foi decisiva para a (re) definição do Estado, que passou a incluir a questão social em sua agenda, estabelecendo nas relações sociais condições e limites à venda da força de trabalho e à participação política dos trabalhadores, através dos sindicatos. De início, a questão social foi introduzida sob a perspectiva do trabalho, ou seja, da necessidade de regular a venda da força de trabalho, bem como de desmobilizar e despolitizar a classe operária através do atrelamento dos sindicatos aos interesses dos patrões. O ponto culminante dessa estratégia ocorreu em 1943, com a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT).

Paralelo ao contexto histórico brasileiro encontra-se a trajetória do Serviço Social, na qual importa ressaltar a urgência em institucionalizar o Serviço Social por meio da especialização do trabalho, que se deu nos anos 20 e 30, sob a influência católica européia. Com ênfase nas idéias de Mary Richmond2 e nos fundamentos do

2 Santos & Costa, afirma que Mary Richmond queo Serviço Social, considerado em sentido amplo,

teria como objetivo “fazer progredir a espécie humana tornando melhores as relações sociais”. O

Serviço Social não poderia ser reduzido ao Serviço Social de Casos individuais, este constituiria um dos ramos do Serviço social e manteria uma relação recíproca com outros ramos constituintes da profissão. Além do mais esse objetivo amplo seria compartilhado pelo Serviço Social com outras profissões vinculadas ao campo social. O campo específico de Ação do Serviço Social de Casos

(20)

Serviço Social de Caso. Já na década de 40, o Serviço Social inicia sua trajetória rumo à profissionalização e à sua organização enquanto profissão. Surgem, pois, grandes instituições3 no cenário nacional, que tinham objetivos claros de combater e

controlar os movimentos operários e, consequentemente, impedir o avanço do Partido Comunista.

Nesse período, o Serviço Social trabalhou sob a égide do capital, com base teórica neotomista e funcionalista4, como mostraram os estudos realizados por Iamamoto, Martinelli, Netto, entre outros. A fundamentação teórica que permeava esta década tem por base o positivismo combinado com o neotomismo, pautados na doutrina social da Igreja Católica, que procurava valorizar a pessoa humana e o bem comum. Desse modo, o Código de Ética de 1947 passa a expressar tais idéias em seus preceitos normativos.

Do ponto de vista profissional, uma vez estando institucionalizada a profissão, o Serviço Social passa por um distanciamento dos laços originários do seio do bloco católico, na medida em que a profissão se intercala no mercado de trabalho, mediante as grandes instituições assistenciais. Entretanto, os fundamentos teóricos da profissão não sofreram rupturas. E o Assistente Social aparece no cenário como classe assalariada atrelada, direta ou indiretamente, ao Estado, atuando frente às políticas sociais5.

3 Legião Brasileira de Assistência - LBA, Serviço Social do Comércio - SESC, Serviço Nacional

Industrial - SENAI, Serviço Social da Indústria - SESI e Fundação Leão XIII.

4Neotomismo é a retomada da filosofia de São Tomás de Aquino no século XIX e XX. A filosofia Tomista se baseia nos princípios metafísicos: eternos, imutáveis e inquestionáveis pelo homem. Alcançar o reino celeste. (Cf. Geraldo de Aguiar, A., Serviço Social e Filosofia: das origens a Araxá, p. 55-79).

Funcionalismo: o método funcionalista baseia-se fundamentalmente no conceito de função (cuja origem está no organicismo de Spencer que criou uma sociologia organicista, que buscou uma analogia com o organismo humano concebido como um sistema de componentes funcionalmente interrelacionados. Os fundamentos teóricos do funcionalismo estão na Teoria Positiva de Comte (ciência da ordem social). Surge na década de 1930, tendo grande expansão no Brasil, nos anos de 1960. Principais: Durkheim, Spencer, Malinowski. Merton, Parsons e Ralf Dahrendorf (YAZBEK, 2011).

5 De acordo com Faleiros (1987), as políticas sociais têm como principal função administrar a

(21)

Para Faleiros (1987, p.41), analisando esse momento da profissão e das políticas sociais, tem-se que:

As Políticas Sociais conduzidas pelo Estado representam um resultado da relação e do complexo desenvolvimento das forças produtivas e das forças sociais. Elas são resultado da luta de classes e ao mesmo tempo contribuem para a reprodução das classes sociais. [...]. Entretanto, essas mediações realizadas pelo Estado se limitam e se dinamizam pela força de dominação desta burguesia, e pelas contradições e exigências das diferentes frações da burguesia e pela força dos movimentos das classes subordinadas, de sua capacidade de obter concessões e/ou de constituir alternativas concretas ao poder existente.

Nessa perspectiva, o Estado, como instância de mediação entre as classes da burguesia e do proletariado, favorecendo o domínio burguês, fragmenta a questão social com a construção de campos nos quais são tratadas as chamadas

“anomalias” da sociedade. Para tanto, o Estado se utiliza de políticas sociais através das práticas profissionais especializadas, exercendo, com isso, o controle social. A política social passa, então, a figurar como mera administradora da questão social, aparecendo como apartadas dos interesses da classe proletariada. E é por esse motivo que, as questões políticas são convertidas em questões burocráticas e o Estado obscurece a organicidade entre as políticas sociais e o processo de acumulação e valorização do capital, negando o componente distributivo de riqueza socialmente produzida.

Assim, Faleiros explana (1987, p.46):

(22)

O Estado é, ao mesmo tempo, lugar do poder político, um aparelho coercitivo e de integração, uma organização burocrática, uma instância de mediação para a práxis social capaz de organizar o que aparece num determinado território como interesse geral. [...]. Contudo é preciso compreender que nas sociedades capitalistas avançadas a regularização a curto prazo de certas reivindicações populares, situa-se numa estratégia a longo prazo de manutenção da acumulação, sob a hegemonia da burguesia monopolista.

Dessa forma, a profissão de Serviço Social se insere na divisão social e técnica do trabalho – DSTT, adquirindo um status de administrador de conflitos sociais e executor de políticas sociais. Logo, o Assistente Social, embora pensando como técnico, exerce funções executivas, eximindo-se de uma reflexão teórica.

De acordo com Iamamoto & Carvalho (1996, p.315):

As grandes instituições assistenciais desenvolvem-se num momento em que o Serviço Social, como profissão legitimada dentro da divisão social e técnica [...] é um projeto ainda em estado embrionário; é uma atividade profundamente marcada e ligada à sua origem católica, e as determinadas frações de classes, as quais ainda monopolizam seu ensino e prática. Nesse sentido, o processo de institucionalização do Serviço Social será também processo de profissionalização dos Assistentes Sociais formados nas escolas especializadas.

Diante desse quadro, podemos dizer que a década de 40 foi um marco importante na institucionalização do Serviço Social, tendo em vista que levou a um aumento do número de profissionais. E é nesse momento que tais profissionais sentem a necessidade de se organizarem, tanto para a defesa da profissão quanto para a elevação do nível profissional.

(23)

democracia representativa no país, porém, não se livrou da oligarquia e do imperialismo, que foi muito marcante durante o seu mandato (IANNI, 1989). Todavia, é conveniente ressaltar que os mais importantes acontecimentos do governo populista varguista tenham sido a criação da PETROBRAS (Petróleo Brasileiro S. A.) e a posterior publicação da Carta Testamento de Getúlio Vargas, que foi escrita às vésperas de seu suicídio.

No ano de 1954, acaba a Era Vargas no Brasil – era o suicídio que entrava para a história do País, deixando toda população de luto por aquele que era

chamado de “Pai dos Pobres”. A partir de 1955, começa a introduzir no Brasil uma

política ideológica-desenvolvimentista de expansão econômica do sistema capitalista. Com a posse de Juscelino Kubitschek (JK) na Presidência do País, esta ideologia tornar-se uma estratégia que culminará com a internacionalização da economia brasileira6. Dentre as metas de seu governo, podemos enfatizar que o plano econômico buscava promover um crescimento acelerado da economia, cujo intuito era o de colocar o país no rumo do desenvolvimento industrial mundial. Já no plano social, visou-se o serviço de rentabilidade econômica e do crescimento industrial para oportunizar emprego.

Esta década foi essencial para reconstruir os destroços e horrores da II Guerra Mundial onde, “[...]; um clima de liberdade e um anseio de desenvolvimento contagiavam o mundo, que se movia com velocidade crescente; [...]” (BRUM 1994, p.96). Com a Europa em reconstrução, sobressai no mercado internacional os Estados Unidos, que se desenvolveu no pós-guerra transnacionalizando sua economia e, posteriormente, implantando no mundo, principalmente nos países pobres, sua ideologia desenvolvimentista.

No Brasil, esta ideologia7 atingia toda e amplamente a sociedade civil, visto que, democraticamente, a população, através do processo do populismo, teve um

6

(24)

papel importante nos interesses capitalistas. E essa sociedade civil participou, ativa e coletivamente, sob as várias formas do populismo na construção de uma nova sociedade8. No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), com sua política

modernizante, há a aceleração do processo de crescimento econômico, com o propósito de superar o atraso e o desaquecimento que a economia brasileira se encontrava desde a década anterior.

Em outras palavras, ocorre o aumento da inflação, o arrocho salarial e as reivindicações da classe trabalhadora por melhores salários e condições de trabalho. Vale ressaltar também que, nos anos 50, foram criadas a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Conselho Nacional de Desenvolvimento e a construção de Brasília, sede do Governo. Como consequência dessa política de modernização, alguns órgãos públicos tiveram que se adequar, pois as exigências aumentam em torno de uma melhor formação técnica e profissional competente, cujo intuito era a qualificação da mão-de-obra dos trabalhadores9.

Por conseguinte, nos anos 40 e 50, o Serviço Social brasileiro recebe influência norte-americana10. Marcado pelo tecnicismo, bebe na fonte da psicanálise,

bem como na sociologia de base positivista e funcionalista/sistêmica. Sua ênfase está na idéia de ajustamento e de ajuda psicossocial. Ocorre, então, o início das práticas de Organização e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens individuais e grupais. Assim, com a supervalorização da técnica, considerada autônoma e como um fim em si mesma, e baseada na defesa da neutralidade científica, a profissão se desenvolve através do

Já para Brum (1994, p.103), “ ... de acordo com a ideologia dominante na segunda metade da década de 50, o governo procura aliar, numa interação convergente, a iniciativa privada – nacional e estrangeira –com o Estado, para levar avante o seu projeto”.

8 Para ampliar o conhecimento sobre sociedade e interesses capitalistas, consultar Wanderley, 1993. 9 Para ampliar o conhecimento sobre sociedade e interesses capitalistas, consultar Wanderley, 1993. 10 Em 1897, nos Estados Unidos Mary Ellen Richmond, membro da Charity americana propõe a

(25)

“Serviço Social de Caso”, “Serviço Social de Grupo” e “Serviço Social de

Comunidade11”.

Já em 1960, inicia-se a corrida à Presidência do Brasil e Juscelino Kubitschek torna-se o primeiro Presidente da República a não eleger seu sucessor. Vence, então, Jânio Quadros a corrida pela Presidência, sendo importante salientar que, naquela época, o voto entre o candidato à Presidente e à Vice era desvinculado, ou seja, cada candidato era encabeçado por um Partido Político. Portanto, o Vice de Jânio Quadros (populista) foi João Goulart (varguista). Ressaltamos que, entre 1961 a 1964, a configuração do Estado se deu com reformas institucionais de base, propostas mais progressivas de política social12 e uma intenção deliberada de intervir nas bases de políticas e instituições estratégicas, além de mudanças no sistema eleitoral, na organização urbana, na educação superior e na relação do País com o capital estrangeiro.

Quanto ao aspecto econômico, há a passagem da economia agroexportadora para a urbano-industrial. No campo social, a questão social não foi alçada à questão política nem à questão econômica (ausência de planejamento central), ou seja, os aspectos sociais ficaram à margem do serviço de rentabilidade econômica e do crescimento industrial. No dia 1º de abril de 1964, inicia-se o golpe de Estado, instituindo o modelo político autoritário, que rompeu com a prática populista

11 O Serviço Social de Casos, tal como foi pensado na suas origens medeia sua ação sobre as consciências dos indivíduos na prestação de serviços sociais através da interpretação de sintomas patológicos no comportamento das pessoas. Os conflitos imediatos, em última instância oriundos da base material, expressos, nestes casos, por indivíduos das classes pauperizadas, como o desemprego, a degradação das famílias, o abandono de crianças e velhos, o nível de educação, as baixas condições de existência, causas reais imediatas da problemática de vida das pessoas e de suas relações, são avaliados e tratados como manifestações da inadaptação dos indivíduos à realidade social, quando na verdade é esta mesma realidade que os aliena. Neste sentido, a finalidade do conhecimento da personalidade e de sua expansão é dirigida à conservação da sociedade de classes, sob a suposta prerrogativa de ajuda aos necessitados. Portanto, não se pode dizer que favorece a expansão da personalidade, mas se trata de conter conflitos com vistas ao

“equilíbrio social” ((Pimentel, E., Macedo da Costa, G., 2002 p. 05).

(26)

desenvolvimentista. E os cargos de direção do Governo passam a ser ocupados por pessoas burocráticas, proveniente de organizações como as Forças Armadas13.

De acordo com Quirino & Montes (1978, p.65):

O golpe de Estado vitorioso daria então início à sistemática destruição da Grande Lei que regera a república liberal-democrática nascida em 1945, cujas instituições, apesar de todos os vícios da política populista a que deram lugar, haviam permitido ao povo brasileiro organizar-se e fortalecer-se na defesa e conquista de novos direitos enquanto cidadãos.

Após a instalação do golpe militar pelas Forças Armadas, foi proclamado o primeiro Ato Institucional14, suspendendo a Constituição vigente e fechando o

Congresso Nacional. Os militares, então, se auto-investiram de poderes revolucionários, instaurando assim a Ditadura Militar15. A ideologia oficial desse regime era a doutrina de Segurança Nacional, onde não poderiam existir conflitos ou movimentos sociais da população que fossem opostos a essa base ideológica. Significando, na prática, a repressão a toda e qualquer forma de oposição ou manifestação contra o regime vigente. Logo, uma vez contrário ao regime imposto, eram considerados inimigos internos. Outrossim, para recolher informações acerca do controle das atividades das pessoas e dos órgãos dentro do Governo, além de atuar nas possíveis punições, foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI). "Além desse âmbito, sindicatos, universidades e outras instituições ficaram sob intervenção militar" (SADER, 1990, p.20).

13 Cf. Brum,1994.

14 Os militares vitoriosos se auto-investem no exercício do poder constituinte invocando uma

legitimidade para estarem no poder, declaram: “Pela eleição popular ou pela revolução. Esta é a

forma mais expressiva e mais radical do poder constituinte. Assim, a revolução vitoriosa, como Poder Constituinte, se legitima por si mesma. Ela destitui o governo anterior e tem uma capacidade de construir o novo governo. Nela se contém a força normativa ao Poder Constituinte. Ela edita normas jurídicas, sem que nisto seja limitada pela normatividade anterior à sua vitória, graças à ação das Forças Armadas e ao apoio inequívoco da Nação, representam o Povo e, seu nome exerce o poder Constituinte, de que o Povo é o único titular”. (QUIRINO & MONTES, 1978, p.65).

(27)

É interessante frisar que, nesta década, predominava como fundamento teórico do Serviço Social o estrutural-funcionalista, momento em que a profissão se afasta mais da doutrina social da Igreja Católica, sem romper com o conservadorismo16. O cunho moral era menos enfatizado, diferente do neotomismo. Era uma época em que grande parcela dos profissionais estava a serviço da classe dirigente da Ditadura Militar, favorecendo o controle social e político das classes subalternas, dentro de uma política sócio-econômica dependente e excludente. Entretanto, houve uma mudança na profissão, embora sem romper com o conservadorismo, na busca pela sua cientificidade e expressa nos códigos dos Assistentes Sociais de 1965 e 1975, excluindo duas referências presentes no código de 1965, a democracia e o pluralismo.

No ano seguinte, em 1968, foi instituído pelos militares o AI-5, que para alguns historiadores foi o pior de todos os Atos Institucionais. Vejamos o que diz:

O Ato Institucional n° 5 reinveste o presidente da República dos poderes institucionais anteriores, autorizando-o a suspender as garantias institucionais da magistratura, as imunidades parlamentares e o recurso do habeas-corpus, a intervir nos Estados e municípios, cassar mandatos e suspender direitos políticos por dez anos, confiscar bens ilicitamente adquiridos no exercício da função pública, decretar estado de sítio sem audiência do Congresso, demitir ou reformar oficiais das Forças Armadas e das polícias militares, além de promulgar decretos-leis e atos

16De acordo com Yazbek (2010), “segundo Nisbet três grandes correntes de idéias marcaram o início

(28)

complementares, na ausência do poder legislativo, já que o recesso do Congresso Nacional poderia ser decretado inclusive por tempo indeterminado, como ocorreu precisamente na ocasião da promulgação do próprio Ato Institucional n° 5. (QUIRINO & MONTES, 1987, p.66-7).

Entretanto, com os vários atos institucionais que se seguiram, foi encomendada uma nova Constituição a Pedro Aleixo, que era Vice-Presidente do País. Em 14 de outubro de 1969, o recesso do Congresso foi suspenso, sendo este convocado para que se elegesse um novo Presidente da República, que tomaria posse no dia 30 daquele mês, dia em que se promulgaria a nova Constituição. Contudo, essa nova Constituição nada mais era do que um enorme remendo à Constituição de 1967, pois ela, juridicamente constituída da Emenda Constitucional n.º 1, reunia em seu texto vários pedaços das legislações que foram sendo criadas e promulgadas mediante os Atos Institucionais. "Para muitos é vista como a 'Constituição do Terror', pois o tenebroso AI-5 nela se mantém, conferindo ao Presidente da República poderes excepcionais que lhe permitem, inclusive, modificar e suspender até a própria Constituição" (QUIRINO & MONTES, 1987, p.97).

Em face das mudanças ocorridas pela conjuntura do período, no tocante aos fundamentos que regiam a profissão, o Serviço Social pautava-se numa visão estrutural-funcionalista e fenomenológica17, que consistia em uma reformulação do conservadorismo, buscando um aprimoramento profissional cada vez mais técnico e planejado. Com o caminhar dos anos, a economia brasileira prosperava18, mas também com ela surgia a grande dívida externa, culminando ainda mais num aperto salarial a classe operária. Todavia, algumas camadas da sociedade civil (movimento operário, estudantil, etc.) reorganizaram-se e se mobilizaram nas ruas,

17 Fenomenologia

– fundamentada na filosofia de Edmund Husserl, filósofo alemão 1859 – 1938, os atos sociais envolvem uma propriedade que não estão abarcados pelas ciências naturais – o significado. Ou seja, a análise descritiva das vivências da consciência, pois, a consciência é intencionalidade. É atividade constituída de atos de significar, perceber, imaginar, desejar, pensar, querer e agir (CAPALBO, 1991).

18

No que se refere à economia nacional, Brum cita que: “No final da década de sessenta já se

verifica um clima favorável aos investimentos econômicos, com estabilidade econômica e sócio-política sob a égide de um regime autoritário modernizante, reconquistando a confiança dos

(29)

demonstrando sua insatisfação e revolta, pois não mais queriam se calar enquanto povo.

Com base em Delgado (1981, p.40):

Apenas no final da década de 70 começaram a aparecer mudanças na ordem política até então vigente. Frente a uma situação insustentável no que diz respeito às condições de vida da classe trabalhadora e à falência do 'milagre' econômico [...], o Estado autoritário foi obrigado a rever a orientação política adotada, iniciando com Geisel o processo de 'distensão' política a ser continuado com a 'abertura proposta por seu sucessor: Nesse momento já não era possível ao grupo no poder conter insatisfação gerada pós-64 apenas com a repressão. O movimento operário se rearticulava e enfrentava às sansões legais que impediam suas manifestações [...], a sociedade civil reivindicava espaço de participação social e política, o movimento estudantil retomava seus canais de expressão.

Já no governo do general Ernesto Geisel, através do projeto “Brasil Potência”,

buscou-se a transformação do Brasil em uma potência mundial emergente. Contudo, a economia mundial estava abalada pela crise do petróleo (alguns autores a

expressam chamando de “choque do petróleo”), o que também atingiria o Brasil.

Esse governo foi marcado por reformas regressivas – golpe do processo de distensão política. Houve o aumento do desemprego, da pobreza, a queda real dos salários e restrição da capacidade governamental de apresentar respostas políticas às necessidades humanas básicas. Eram, pois, respostas à questão social submetida ao critério da rentabilidade econômica, negligenciando-se a satisfação das necessidades básicas, o que aumento as desigualdades sociais e o recrudescimento de movimentos sociais, que foram fortes alvos de repressão estatal.

(30)

fizeram com que os Partidos de oposição e a sociedade civil se fortalecessem no País na luta pela redemocratização. Porém, a não aprovação de eleições diretas para Presidente da República e a fatal morte de Tancredo Neves (em 1985 – último presidente eleito indiretamente) fizeram com que as forças políticas de sustentação

“sobrevivessem” até o governo de José Sarney.

Posto isto, nos anos 60 e 70, há um movimento de renovação na profissão, que se expressa em termos tanto da (re) atualização do tradicionalismo profissional, quanto de uma busca de ruptura com o conservadorismo. E, assim, o Serviço Social se laiciza e passa a incorporar, nos seus quadros, segmentos dos setores subalternizados da sociedade, além de estabelecer interlocução com as Ciências Sociais e o sindicalismo combativo e classista, que se revigora nesse contexto. Diante disso, o profissional amplia sua atuação para as áreas de pesquisa, administração, planejamento, acompanhamento e avaliação de programas sociais, ao mesmo tempo em que planeja atividades de execução e desenvolve ações de assessoria aos setores populares. E se intensifica o questionamento da perspectiva técnico-burocrática, por ser esta considerada como instrumento de dominação de classe, a serviço dos interesses capitalistas.

A transição democrática só seria completada “com as eleições presidenciais de 1989 e a posse do Presidente eleito [...] (BRUM, 1994, p.236). Neste governo, a equipe econômica lança o Plano Cruzado19, onde a moeda da época (cruzeiro) seria

substituída por uma nova, era o cruzado. É importante frisar que, este plano visava tanto combater a inflação como também canalizar recursos da esfera especulativa para a produção e iniciar um processo de redistribuição de renda20. Iniciava, assim, a corrida às denúncias e aos abusos, onde os salários e os preços das mercadorias foram congelados. Era uma utopia, “[...], como se de repente a luta contra a inflação

estivesse ao alcance da mão de todos” (SADER, 1990, p.45); contudo a euforia do

Plano Cruzado durou muito pouco para os brasileiros.

19 Em 28 de fevereiro de 1986, a equipe econômica do governo Sarney lança o programa de

Estabilização da Economia Brasileira, era o Plano Cruzado. Este programa tinha “[...], o propósito de

evitar o caos econômico e social e garantir a continuidade do processo de transição democrática, afastando o perigo de um retrocesso político” (BRUM, 1994, p.241-2).

(31)

Com o intuito de substituir a Constituição outorgada pelos militares, os partidos articulam-se pela luta de uma nova Carta Magna, através da convocação de uma Assembléia Constituinte – esta mediante eleições majoritárias. Nas eleições indiretas, a última do País, o MDB obteve maioria no Congresso Nacional, elegendo todos os Governadores no País. Nesse mesmo tempo, o Governo lança “por decreto” o Plano Cruzado 2, uma readequação do primeiro plano. Entretanto, bastaram apenas dois anos para que os brasileiros se desencantassem com o governo de José Sarney, como também com os rumos assumidos com a transição política21.

Diante da conjuntura de efervescência, o Serviço Social, aliado aos movimentos sociais da sociedade brasileira, apropria-se dos fundamentos teóricos baseados na teoria social de Marx22, que desvela a contradição existente entre as classes sociais, como também a ideologia da classe dominante, rompendo com a perspectiva tradicional que dominou a profissão desde suas origens, e passa a assumir um caráter crítico e reflexivo no cotidiano profissional e de compromisso com a classe trabalhadora.

Para Iamamoto (2001, p.11):

Vimos que o processo de produção capitalista é uma forma historicamente determinada do processo social de produção em geral. Este último é tanto um processo de produção das condições materiais de existência humana, quanto processo que, ocorrendo em relações histórico-econômicas de produção específica, produz e reproduz essas mesmas relações de produção e, com isso, os portadores desses processos, suas condições materiais de existência e suas relações recíprocas, isto é, sua forma econômica determinada.

21 Apronfundamento na transição da ditadura à democracia, ler Sader, 1991. 22

A teoria Marxista –“Marxismo é uma teoria social e uma doutrina política que se constitui por duas idéias fundamentais: uma periodização da história, concebida como um movimento progressivo através dos modos de produção antigo, asiático, feudal e capitalista moderno, e uma concepção do papel das classes sociais na constituição e transformação das estruturas sociais” (Bottomore et AL,

(32)

O ano de 1988 foi um marco histórico para o povo brasileiro, na medida em que reconhece as lutas dos movimentos sociais pela reconquista de direitos perdidos no regime militar. Como consequência, tivemos a formulação da Constituição brasileira, que consolidou os direitos sociais da população, além da primeira eleição direta ao pleito eleitoral depois do término do regime militar. Nessa década de 80, o Serviço Social, procurando normatizar e respaldar juridicamente as ações profissionais, reformula o Código de Ética profissional em 1986.

Com os “ventos democráticos” dos anos 80, inaugura-se o debate da Ética no Serviço Social, buscando-se romper com a ética da neutralidade e com o tradicionalismo filosófico, fundado na ética neotomista e no humanismo cristão. Assume-se claramente no Código de Ética Profissional, aprovado em 1986, a idéia

de “compromisso com a classe trabalhadora”. O Código traz também outro avanço: a

ruptura com o corporativismo profissional, inaugurando a percepção do valor da denúncia (inclusive a formulada por usuários). No âmbito da formação profissional, busca-se a ultrapassagem do tradicionalismo teórico-metodológico e ético-político, com a revisão curricular de 1982. Supera-se, na formação, a metodologia tripartite e dissemina-se a idéia da junção entre a técnica e o político. Há ainda a democratização das entidades da categoria, com a superação da lógica cartorial pelo Conjunto CFESS/CRESS, que conquista destaque no processo de consolidação do Projeto Ético-Político do Serviço Social.

A partir dos anos 90, período neoliberal23, o Estado passa a ser mínimo para o social, provocando alteração na articulação entre Estado e sociedade no processo de proteção social, concorrendo para o rebaixamento da qualidade de vida de parcelas consideráveis da população. O Brasil encara uma verdadeira Reforma do Estado com a descentralização do seu poder à sociedade civil, municipalizando as responsabilidades dos poderes aos municípios. E, assim, tivemos a Reforma Administrativa, que deu fim à estabilidade funcional dos servidores públicos,

(33)

empurrando-os para a demissão voluntária – PDV; a Previdenciária, que aumentou a tributação dos funcionários ativos e aposentados; além, do programa de privatizações.

Para Batista (1999, p.84):

“[...], a lógica da reforma é, desde seu primeiro momento, voltada

para privatizar os bens públicos, transferindo-os para a iniciativa privada com todas as concessões possíveis, o que, na esfera pública, construiu-se com o dinheiro público”.

Como consequência aos impactos sociais da Reforma do Estado, criam-se programas sociais como resposta às exigências da sociedade brasileira, sendo mais uma manobra do sistema neoliberal, conhecida como solidariedade. “No Brasil, a

idéia de solidariedade tem sido propagada como remédio para os males sociais, políticos e econômicos (GUSMÃO, 2000, p.93). Com esta conotação de solidariedade, o Governo enfraquece o poder por reivindicações da classe trabalhadora, buscando uma parceria com a sociedade civil e trazendo ao cenário nacional o voluntariado, que troca seus direitos trabalhistas pelo solidarismo numa determinada comunidade. Com isso, são substituídos explicitamente os direitos sociais conquistados.

(34)

Nesse contexto, o Serviço Social amplia os campos de atuação, passando a atuar no chamado Terceiro Setor e nos Conselhos de Direitos, ao mesmo tempo em que também passa a ocupar funções de assessoria.

Isto fica explicitado nas palavras de Barroco (1999, p.130), quando menciona que:

O Código de Ética de 1993 reafirma conexão entre o projeto ético-político profissional e projetos societários cuja teleologia comporta uma ética de emancipação humana, superando a ética da neutralidade, rompendo com a base filosófica tradicional e incorporando o princípio da contradição, além da superação da idéia de sociedade harmônica, fundamentada na teoria crítica marxiana.

No que concerne à instrumentalidade na trajetória profissional, tem-se o uso do instrumental técnico-operativo; e quanto à categoria teórica, a mediação24 para o alcance das finalidades, na direção da competência ética, política e teórica, vinculada à defesa de valores sócio-cêntricos emancipatórios. Partindo do pressuposto da necessidade da capacitação continuada, o Serviço Social busca a ultrapassagem da prática tecnicista, pretensamente neutra, imediatista ou voluntarista.

Nos anos 2000, esta conjuntura provoca novas disputas em torno da questão social e do papel a ser cumprido pelas políticas sociais. Verifica-se, assim, a proliferação de cursos de graduação privados de baixa qualidade e a implementação do ensino de graduação à distância, com prejuízo ao ensino presencial. Reduz-se a capacidade de mobilização em torno de projetos coletivos, o que geram novos desafios para a luta pela consolidação dos direitos da população usuária dos serviços prestados pelos Assistentes Sociais.

24 “é responsável pelas moventes relações que se operam no interior de cada complexo relativamente total das articulações dinâmicas e contraditórias entre estas várias estruturas sócio-históricas. Enfim, a esta categoria tributa-se a possibilidade de trabalhar na perspectiva de totalidade. Sem a captação do movimento e da estrutura ontológica das mediações através da razão, o método, que é dialético, se enrijece, perdendo, por conseguinte, a própria natureza dialética” (Pontes, 1995,

(35)

Do exposto, fica claro que tais elementos apontam para a necessidade de fortalecer o Projeto Ético-Politico do Assistente Social, que vem sendo construído pela categoria há mais de três décadas. Assim, o profissional de Serviço Social é chamado para intervir nas refrações da questão social, objetivando contribuir com o acesso aos direitos sociais em todos os espaços sócio-ocupacionais, inserido na instância do Estado, que tem em sua dimensão ética e política o compromisso com a justiça social. Ainda, o contexto histórico e social brasileiro e do Serviço Social nos dá elementos para a compreensão do processo organizativo do Conselho Federal de Serviço Social e dos Conselhos Regionais.

2. Processo organizativo do Conselho Federal de Serviço Social e dos Conselhos Regionais

Conforme visto anteriormente, o final da década de 40 foi importante para a profissão, especialmente em relação à prática do Serviço Social, pois a partir desse momento ela passou a receber uma nova influência, não mais européia, (principalmente a influência franco-belga), a qual tinha sido a base de formação das primeiras Assistentes Sociais do País no passado. Agora, a influência vinha do continente americano, mais precisamente a norte-americana, mediante o estreitamento das relações diplomáticas com os Estados Unidos, somado, é claro, aos interesses políticos e econômicos que esse País tinha para com a nação brasileira. Desta feita, além da institucionalização da profissão e posterior alargamento do espaço profissional, fez-se necessário um (re) ordenamento na base de recrutamento dos agentes profissionais, não sendo mais oriundos da alta burguesia, mas sim das pequenas camadas da burguesia, visto que os movimentos leigos já não mais atendiam às novas demandas profissionais.

(36)

profissionais de Serviço Social com sua organização, pelo fato de que as associações profissionais foram importantíssimas, devido à profissionalização e ao fortalecimento do Serviço Social. Segundo Vieira (1969, p.351), "No Brasil, as associações de Assistentes Sociais são de três categorias: 1) Associação de Classe; 2) os Conselhos; e 3) as Associações Sócio-culturais”.

Mediante isso, surgiram Associações Profissionais de Assistentes Sociais (APAS) e/ou Sindicatos que, "[...] têm por finalidade promover a elevação do 'status' da profissão e defender seus interesses. No Brasil, a criação, a organização e o funcionamento dessas associações são regulamentadas por lei e fiscalizados pelo Ministério do Trabalho". (Vieira, 1969, p.351). A Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABA) teve sua criação em 1946, após o 1º Congresso Pan-Americano de Serviço Social, realizado no Chile, o qual agrupou, inicialmente, somente aquelas formadas por Escolas de Serviço Social pertencentes à ABESS (Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social).

Tomando como base Vieira (1969, p.353):

A ABAS foi no Brasil o primeiro organismo a se interessar pelo 'Aperfeiçoamento e garantia do nível da profissão estudo e defesa de seus interesses do ponto-de-vista ético; possui seções regionais em vários Estados e cooperou ativamente com a ABESS para o reconhecimento do ensino do Serviço Social em nível superior e pela organização do primeiro sindicato de assistentes sociais.

Outro marco importante, na organização profissional dos Assistentes Sociais, foi a elaboração do 1º Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais um ano após a criação da ABAS. Esta instituição foi responsável pela elaboração deste Código como também pela criação do Conselho de Ética Profissional, ambos aprovados em Assembléia Geral, no dia 29 de setembro de 1947.

(37)

A promulgação do aludido Código, seguida da instalação do Conselho, como era de se esperar, foi recebida com os mais francos aplausos pela classe, por isso que os Assistentes Sociais, por dever de ofício diríamos, apreciam e valorizam devidamente as associações de caráter profissional.

Coube ao Conselho de Ética, após sua instalação, a função de zelar pela observância do Código de Ética e pela dignidade da profissão, além de julgar acusações formuladas contra o Assistente Social. As suas ações são estendidas a todos os filiados da ABAS e, caso o Assistente Social não seja filiado a ABAS e assuma ou pratique ato que prejudique a classe, em sendo a denúncia apresentada comprovada, o Conselho de Ética Profissional solicitará à Diretoria da ABAS as providências necessárias para sanar a irregularidade. E, apesar da função de "polícia" da profissão, o Conselho de Ética tinha, segundo Ferreira (1948, p.39), "predominantemente o caráter de instrumento educativo, cabendo ao Conselho oferecer soluções a conjunturas inéditas e não previstas no Código, e, sobretudo,

aconselhar a classe”.

Vieira (1969, p.352) ainda enfatiza que:

[...] associações são criadas com aprovação do governo. Os assistentes sociais são livres para pertencer ou não a uma APAS ou a um sindicato, porém para poder exercer a profissão, deve, obrigatoriamente, ser registrado no Conselho da sua região.

(38)

De acordo com Vieira (1969:352),

Os 'colégios' ou 'conselhos' são organismos encarregados de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão, elaborar o Código de Ética, zelar pela sua aplicação e impor as sansões prescritas por este código; mantém o registro dos assistentes sociais e expedem as respectivas carteiras profissionais. O Conselho serve ainda de órgão consultivo do governo em matéria do Serviço Social.

Do exposto, percebe-se a conquista alcançada pelo Serviço Social no final da década de 50 e início da década de 60, no sentido de que foi oficializado, através da Lei de Regulamentação da Profissão, o exercício profissional do Assistente Social. Portanto, torna-se uma profissão oficialmente reconhecida perante o Governo brasileiro. Não obstante, a categoria profissional conquista seu espaço estrutural, cuja competência desse Conselho Regional, dentre outras coisas, é de fiscalizar o exercício profissional da categoria. E um marco importantíssimo foi a criação de um dia específico para o profissional, que é o dia 15 de maio como sendo o Dia Nacional do Assistente Social.

Segundo Iamamoto & Carvalho (1996, p.345-6):

É na década de 1960 que se observa a existência de um meio profissional em franca expansão. No decorrer desses anos, a profissão sofrerá suas mais acentuadas transformações 'modernizando-se' tanto o agente como o corpo teórico, métodos e técnicas por eles utilizados. Há também, um significativo alargamento das funções exercidas por Assistentes Sociais, em direção a tarefas, por exemplo, de coordenação e planejamento, que evidenciam uma evolução no status técnico da profissão.

(39)

autodeterminação, subsidiariedade e participação da pessoa humana. Frise-se que este Código excluiu duas referências presentes no Código de 1965, a democracia e o pluralismo, mas expressou elementos do personalismo, incorporados à vertente fenomenológica.

No final da década de 70, a aproximação do Serviço Social com os movimentos sociais, devido ao seu trabalho desenvolvido nas comunidades, propiciou a desmistificação da neutralidade profissional, visto que esta servia aos interesses da classe dominante e que não dava conta das questões impostas pela realidade brasileira. Contudo, a tomada de consciência desses profissionais proporcionou sua reorganização, a partir da percepção de que era necessário buscarem saídas coletivas e não individuais para resolverem as questões que se apresentavam para a categoria. Estes profissionais passaram, então, a apoiar os movimentos sociais e, principalmente, o movimento dos trabalhadores na defesa de seus direitos enquanto classe. Isso culminou com a reformulação do Código de Ética Profissional de 1986, que rompia com os interesses da burguesia e passou a defender os interesses da classe subalterna.

O Código de Ética de 1986, com a reformulação ocorrida, reafirma sua dimensão política de uma prática profissional e avança eticamente através de sua crítica nos valores universais, que eram ignorados até então pelos Códigos anteriores. A categoria profissional assume um compromisso com a classe trabalhadora, voltando-se para a defesa dos direitos sociais e da cidadania, passando a questionar a ordem dominante. Desta forma, a nova legislação assegurou à fiscalização possibilidades mais concretas de intervenção na atuação profissional, especificando as competências e atribuições do Assistente Social. Além disso, ressaltou, juntamente com o Código de Ética, a Lei de Regulamentação do Assistente Social, o Estatuto do conjunto Conselho Federal de Serviço Social e Conselhos Regionais - CFESS/CRESS, o Código Processual de Ética, os

Regulamentos internos dos CRESS’S, o Código Eleitoral e as Resoluções do CFESS, que servem como disciplinadoras no exercício profissional.

Referências

Documentos relacionados

O art. 87, da OIT como bem se há de recordar, estatui que os trabalhadores têm o direito de constituir organizações que julgarem convenientes, o que implica na possibilidade

Entendemos que o estudo dos conhecimentos mobilizados pelos alunos relacionados ao valor posicional e, em particular, ao número zero no SND seja de fundamental importância para

O presente relatório, da responsabilidade do Conselho de Segurança Privada, no quadro das competências previstas no artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 35/2004, de 21 de Fevereiro,

• a família como aporte simbólico, responsável pela transmissão dos significantes da cultura boliviana, que marca o lugar desejante de cada imigrante nos laços sociais. Na

PUC-Campinas - Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo São Camilo - SP - Centro Universitário São Camilo São Judas

A pesquisa apresenta a comparação entre as diferentes regulamentações existentes relacionadas a auditoria contábil no mercado de capitais, na abertura de capital, emissão

Opcional de quarto ampliado, aqui representado, deve ser escolhido no ato da assinatura do Contrato de Promessa de Compra e Venda, e a disponibilidade de execução do mesmo

O imperativo presente da voz ativa, apenas na segunda pessoa do singular e do plural, é formado tomando-se para a segunda pessoa do singular o tema puro do verbo,