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Lacunas na compreensão do Projeto Ético-Político

O projeto ético-político é um projeto societário construído coletivamente que depende de um nível de consciência política da categoria de assistentes sociais, de uma organização, compromisso e formação dos profissionais que tem como desafio

as dimensões ética-política, teórico-metodológica e técnica-operativa. Para tal, a profissão de Serviço Social precisa captar os movimentos contraditórios da realidade que se expressam nas desigualdades sociais, políticas, econômicas e culturais. E esse projeto nos possibilita ter clareza da nossa atuação profissional nos espaços institucionais.

Segundo a PNF (2007, p. 13),

A dimensão afirmativa de princípios expressa a concretização de estratégias para o fortalecimento do projeto ético-político profissional e da organização política da categoria em defesa dos direitos, das políticas públicas e da democracia e, conseqüentemente, a luta por condições de trabalho condignas e qualidade dos serviços profissionais prestados. Portanto, representa a afirmação dos compromissos, prerrogativas e princípios profissionais.

A presidente da COFI (gestão 2002 a 2005) responde sobre há lacuna na compreensão do projeto ético-político,

Não, eu não penso que há lacuna de compreensão. O que eu penso é que o CFESS peca quando ele foca as capacitações aos agentes fiscais na ética em movimento. Então, ele foca na dimensão valorativa e a dimensão valorativa ela é quem determina, é quem explicita a concepção de homem, de mundo e o compromisso da profissão com o outro padrão civilizatório, com outro modelo de sociedade que não é capitalista. Porém, não investe numa capacitação mais aprofundada de como colocar isso na prática, de como articular essa teoria com a prática. Então, o agente fiscal ele não é fruto de uma outra formação acadêmica, ele é fruto de uma formação acadêmica de todos os Assistentes Sociais. Então, eu penso que o ponto central da fragilidade nas fiscalizações reside, justamente, nessa falta de qualificação do campo do como fazer, da metodologia, da relação da teoria/prática, que o agente fiscal deveria ter uma capacitação superior aos demais Assistentes Sociais para poder dar esse suporte à categoria e o projeto ético-político poder ser concretizado, uma vez que nós trabalhamos com a contradição. E, quem trabalha com a contradição, tem que ser mais competente do que quem trabalha numa perspectiva conservadora, fortalecendo a hegemonia vigente. Eu penso dessa forma (Relato da presidente da COFI, gestão 2002 a 2005).

O relato acima nos possibilita perceber que a relação teoria e prática se efetiva num espaço contraditório entre a consciência e existência, ou seja, a consciência formada pelo projeto ético-político do Serviço Social e a existência do cotidiano onde se realiza a prática.

O projeto ético-político do Serviço Social pressupõe um espaço democrático de construção coletiva, permitindo que o (a) assistente social na sua intervenção profissional não tenha um posicionamento neutro, e sim um compromisso com a classe trabalhadora. E entender que esse projeto tem um componente pedagógico – interfere na consciência da população, reconstruindo cultura e identidade, tem compromisso com a construção de uma sociabilidade justa, equitativa e livre na ótica da cidadania – direção contrária à discriminação – exige conhecimento amplo e uma inserção crítica.

A fala acima mostra a fragilidade da dimensão fiscalizadora do conjunto CFESS/CRESS, os agentes fiscais não entendem a fiscalização como um meio, mas sim como um fim nela mesma. O processo de fiscalização é uma atividade, uma instância motivadora para se chegar a competência técnica e qualificação teórica e política.

De acordo com a PNF (2007, p. 13),

A direção política do conjunto CFESS/CRESS pela garantia da centralidade na defesa e fiscalização do exercício profissional não supõe retorno ao corporativismo passional, ao contrário, já dá sinais evidentes de uma estratégia e necessária afirmação de atuações que concretizem a ética construída, saturem a contradições da realidade e dêem sustentabilidade política ao projeto profissional, para não sucumbir diante da possibilidade de sua inviabilização.

Para tanto, investir na qualificação e na capacitação continuada dos agentes fiscais permitirá que o processo de fiscalização tenha um direcionamento no fortalecimento do projeto ético-político baseado no reconhecimento da liberdade

como valor ético central que preconiza como princípio fundamental o Código de Ética do (a) assistente social.

Já o relato da presidente da COFI (gestão 2008 a 2011) diz,

Há sim ainda lacunas nessa compreensão em entender que o projeto ético-político fortalece a categoria e que esse projeto ético-político, no entendimento de uma categoria, antes mesmo de ser uma camisa de força, é o espaço de consolidação e de favorecimento desse profissional. E é esse entendimento de projeto ético-político que possibilita o fortalecimento da categoria, que deve ser o entendimento da COFI, dos seus membros enquanto seus membros e também da COFI enquanto Comissão que está recebendo os profissionais para estar dirimindo dúvidas, esclarecendo situações que fizeram com que esse profissional chegasse à COFI. É fundamental que a COFI, que os seus membros e que o profissional entenda qual é o projeto ético-político. E é justamente a falta desse entendimento do que é esse projeto ético-político que tem sim fortalecido esse entendimento equivocado de que a COFI é um espaço punitivo. É essa falta de entendimento que faz com que a COFI seja vista como uma categoria, como um espaço apenas de punir e de cobrar e não como espaço de fortalecimento” (Relato da presidente da COFI).

O relato acima nos permite observar que o entendimento do projeto ético- político do Serviço Social ainda é algo distante do agir profissional em seu cotidiano. Com isso, o processo de fiscalização do CRESS/AL é visto apenas como uma dimensão punitiva e assim o próprio conselho se limita a sanar as dúvidas dos (as) assistentes sociais e não possibilita a atuação nos moldes da dimensão ético- político, técnico-operativo e teórico-metodológico.

Conforme Netto (2004, p. 04),

Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais

privadas e públicas (inclusive o Estado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais).

Segundo relato acima, “falta desse entendimento do que é esse projeto ético- político que tem sim fortalecido esse entendimento equivocado de que a COFI é um espaço punitivo” (fala da presidente da COFI, gestão 2008 a 2011), que o eixo que norteia o Serviço Social tem que está atrelado a compreensão do projeto ético- político para que possa fortalecer a identidade profissional do assistente social.

A visão da categoria sobre o CRESS/AL ainda é atrelada ao processo punitivo e que o projeto ético-político se materializa no exercício profissional, refletindo o fazer profissional na realidade. Ou seja, para que a categoria entenda que o CRESS/AL é um espaço de discussão do pensar e agir profissional, é compreender que o projeto ético-político tem um direcionamento na defesa dos direitos sociais, da justiça social e da democracia.

COFI/AL (gestão 2012 a 2015),

[...]. Assim sendo as deliberações e o trabalho realizado pela COFI estão em consonância com as dimensões afirmativas dos princípios conquistados e elencados no Código de Ética Profissional do Assistente Social e é por isso que esse conjunto vem se posicionando a cada demanda social colocada pela sociedade brasileira (resposta escrita da COFI,gestão 2012 a 2015).

De acordo com a fala acima, nossa análise fica comprometida porque a resposta escrita não nos possibilita fazer uma reflexão crítica que possa contribuir para o entendimento da articulação do fazer profissional com o projeto ético-político a partir da Política Nacional de Fiscalização.

[...]. Como grupo político, porque a gente tem essa concepção que toda a ação do CRESS, da fiscalização, da formação, da ética, ela está ligada a um processo político vinculado à defesa de nosso projeto ético-político, que não é pontualmente só um momento da Gestão, ela tem que estar ligada aos nossos espaços de militância, de socialização, onde nós estamos [...]. Então, desde 2004 o grupo com o qual hoje está a Gestão e a gente foi trocando, as pessoas vieram, participando de várias Gestões, a gente tem feito o debate consistente, tentando cada vez mais mostrar para a categoria um posicionamento da defesa do projeto ético-político, mas discutindo mesmo através do projeto societário, que, por vezes, a gente percebe que até as pessoas têm a discussão do projeto ético- político, mas desvinculado da questão do projeto societário, muito para dentro da profissão. [...].Então, a gente consegue perceber que a discussão do nosso projeto ético-político, dentro da COFI, ele está um pouco mais amadurecido, mais alinhado, mas, ao mesmo tempo, a operacionalização da Política Nacional de Fiscalização, vinculada ao que nós defendemos no projeto ético-político, é um desafio. Que a nossa estrutura institucional ela é mínima. É muito difícil você falar de prevenção quando você tem que trabalhar com 7 (sete) Servidores e 18 (dezoito) Diretores num Estado para 43 (quarenta e três) mil Assistentes Sociais. Que todo dia você tem um telefone tocando, você tem concurso e eu acho que isso é um desafio para os CRESS. Quando que nós vamos conseguir vincular a estrutura institucional para a gente poder efetivar uma Política Nacional de Fiscalização e poder vincular essa estrutura à Política Nacional e acudir o que está previsto no projeto ético-político. Então, eu acho que a COFI hoje em São Paulo ela consegue unir as defesas do projeto ético-político, em todo momento está se manifestando, está presente, mas na operacionalização desta Política Nacional ainda nós temos deficiência por conta de estrutura, né? [...] (relato da COFI de São Paulo, gestão 2012 a 2015).

Contudo, acreditamos que as demandas postas na atualidade requerem uma revisão constante da prática e dos instrumentos de intervenção. A atitude de rever as ações deve ser permanentemente adotada pelo profissional, a fim de dar conta das diversas das expressões da questão social. Neste processo de estudar, pensar e agir, a postura tem que está articulada a relação teoria/prática não podendo esquecer que o projeto ético-político ele se materializa em nosso cotidiano profissional. Associado a tudo isso, é fundamental que o assistente social (re) pense sua prática a partir das dimensões teórico-metodológica, ético-político e técnico- operativo. Iremos analisar essa categoria a seguir.