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Procedimentos técnicos-políticos de orientação e politização

A segunda categoria que iremos iniciar refletindo são os procedimentos técnicos-políticos de orientação e politização contidos na dimensão político- pedagógico da Política Nacional de Fiscalização – PNF do conjunto CFESS/CRESS.

A dimensão político-pedagógico compreende a adoção de procedimentos técnicos-políticos de orientação e politização dos assistentes sociais, usuários dos serviços relativos às políticas sociais, instituições e sociedade em geral, acerca dos princípios e compromissos éticos-políticos do Serviço Social, na perspectiva de violação da legislação profissional.

Na entrevista oral com a presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização – COFI, na gestão, de 2002 a 2005, do Conselho Regional de Serviço Social de Alagoas – CRESS/AL, percebe-se a preocupação na dimensão educativa no sentido de aproximar a academia dos (as) assistentes sociais nos avanços teóricos do Serviço Social, com intuito de melhorar a qualidade no fazer profissional, relato:

Olhe, a Política Nacional de Fiscalização tem como predominância a dimensão educativa. A partir disso, a nossa primeira gestão teve como foco aproximar o profissional das novas produções, dos novos pensamentos, uma vez que o departamento de Serviço Social da UFAL distanciou-se da Academia porque mais de 50% de seus profissionais estavam em Pós-Graduação. E, assim sendo, não tinha condições de se aproximar da categoria e socializar o que havia de novo. Então, o nosso foco, o nosso objetivo de gestão era aproximar a categoria dos avanços teóricos do Serviço Social e assim contribuir com a melhoria da qualidade do trabalho desenvolvido (Relato da presidente da COFI, gestão 2002 a 2005).

Na fala acima, observa-se a preocupação com a dimensão pedagógica no exercício profissional, trazendo a importância do processo educativo na valorização da potencialidade na atuação do assistente social. É entender que a prática é uma ação política que está ligada diretamente com a realidade e essa ação direta é política porque só se dá na realidade, por isso, que a intervenção profissional está fundamentada no processo crítico-refletivo.

A entrevista realizada com a presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização – COFI, na gestão do CRESS/AL de 2008 a 2011, ressalta o procedimento técnico-político de orientação e politização da Política Nacional de Fiscalização – PNF como:

Eu vou começar a resposta falando da politização. Eu acho que isso ainda é um processo. Nós ainda estamos em processo da politização das Comissões de fiscalização. A gente ainda trás, tanto dos membros quanto da própria categoria, a concepção de punir. Tem muita cultura de punir. Entende muito que a COFI tem papel de punir. A gente precisa avançar muito na perspectiva da COFI no processo de orientação e esse entendimento tem que avançar nos dois sentidos, tanto dos membros da COFI quanto da própria categoria, porque ela tem sempre um receio muito grande e sempre um medo muito grande de quando recebe as convocações. Quanto aos processos ético-político, eles também avançam na perspectiva de que esses membros da Comissão entendem a necessidade de compreender o que é a COFI no sentido amplo de processo ético- político do profissional, tanto avançar na perspectiva quanto no entendimento de que cada instrumento, cada política pública ela requer uma demanda de orientação própria da política, por exemplo, você não pode usar o mesmo instrumento para trabalhar com o profissional da área de Saúde que você trabalha com o profissional da área de Educação. Então, a gente precisa avançar muito nos instrumentos que a gente tem. Os instrumentos de uma forma geral, lógico, eles vão ter a compreensão da formação da categoria, dos gargalos e das dificuldades que esse profissional vivencia no seu ambiente de trabalho, no seu cotidiano, mas a gente não pode usar esse instrumento de forma padrão para a área da Saúde, para a área da Assistência Social, para a área da Habitação, porque cada política tem suas especificidades. Há linhas gerais vivenciadas pela categoria, mas há linhas que são específicas de cada política. Então, é necessário que a gente avance. Agora, o avanço no entendimento da COFI depende exclusivamente, talvez exclusivamente seja uma palavra muito forte, mas ela depende do entendimento de que COFI não é um processo de punição, única e exclusivamente de punição. Ele é, sobretudo, um processo de entendimento da formação do profissional e da qualificação desse profissional e da garantia desse profissional no seu ambiente de trabalho. Então, a gente vai sim ter avanço nos instrumentos, nos procedimentos, na politização tanto dos Assistentes Sociais, dos usuários e dos membros se a gente avançar na concepção de fiscalizar. A gente vai avançar muito se entender que ali é um espaço onde a gente vai estar garantindo um processo de avanço da categoria. Lá, ele é um espaço onde a gente identificou os gargalos para avançar, mas a gente depende ainda desse entendimento de categoria, de usuários e de membros de não punir, mas de evitar que toda demanda levantada pela COFI chegue na Comissão de Ética” (Relato da presidente da COFI, gestão 2008 a 2011).

Nessa segunda parte da entrevista oral, percebe-se a preocupação do COFI com a visão que os assistentes sociais têm do CRESS/AL, ou seja, a “cultura do punir” (fala da presidente da COFI/AL, gestão 2008 a 2011), entendendo que o

CRESS/AL é para punir o profissional que não estiver exercendo suas atribuições conforme preconiza o Código de Ética, com isso, o assistente social tem um “receio muito grande e sempre um medo muito grande de quando recebe as convocações” (fala da presidente da COFI, gestão 2008 a 2011). Está claro na fala acima, que o assistente social não se (re) conhece como partícipe do CRESS/AL, tendo um olhar, apenas, como punitivo e não como um espaço político de discussão do exercício profissional.

Outro ponto a ser analisado é quando ela relata que “você não pode usar o mesmo instrumento para trabalhar com o profissional da área de Saúde que você trabalha com o profissional da área de Educação” (relato da presidente da COFI, gestão 2008 a 2011), a mesma levanta o questionamento do instrumental que a fiscalização utiliza em seu cotidiano, o qual ressalta que cada política social tem sua especificidade e que não pode ser analisada pelo único instrumento. Decorre que a PNF nos possibilita a compreensão do pensar com o agir, porém, os instrumentos de fiscalização limitam um olhar nas especificidades da cada política social. Conseguimos visualizar as condições técnicas no exercício profissional, mas limita articular a legislação profissional com o nosso projeto ético-político, deixando uma lacuna na compreensão de que a formação e qualificação profissional têm que está, intrinsecamente, relacionada com a identidade profissional.

De acordo com Martinelli (2007, p.02),

As identidades se constroem se objetivam na práxis, pela mediação das formas sociais de aparecer na profissão. Tais formas sociais expressam as respostas construídas profissionalmente pelo Serviço Social para atender às demandas que incidem em seu campo de ação. Condensam largos percursos identitários, longas trajetórias históricas de diferenciação e reconhecimento. São síntese, sempre provisórias porque históricas, de múltiplas identificações. Afinal, assim como as pessoas, as identidades nunca estão prontas, transformam-se na mesma medida em que se transformam também as condições sócio-históricas em que se deu o seu engendramento.

Portanto, para intervir na questão social, nas diferentes facetas que se apresentam, tem que ter amplo conhecimento dos fundamentos teórico- metodológico, ético-político e técnico-operativo que embasam a atuação. Entender que o assistente social precisa fortalecer o campo democrático, trabalhando na perspectiva da articulação, favorecendo espaços coletivos de discussões sobre a formação e qualificação profissional. Para que possamos dá respostas qualitativas no nosso cotidiano profissional.

A COFI (gestão 2012 a 2015) respondeu por escrito sobre a compreensão de procedimentos técnicos-políticos de orientação e politização acerca dos compromissos ético-político do Serviço Social. Essa fala condiz como o que preconiza na Política Nacional de Fiscalização – PNF, limitando nossa análise da entrevista, tratando-se de uma entrevista por escrito:

[...]. Apesar dos desafios cotidianos o trabalho de orientação e politização da categoria profissional, dos usuários e sociedade em geral se constitui um momento imprescindível para a materialização do projeto ético-político do Serviço Social (resposta escrita da COFI, gestão 2012 a 2015).

Essa categoria analítica nos permitiu perceber que a dimensão político- pedagógica vislumbra a possibilidade de um caminho voltado para a formulação de instrumento de fiscalização, na qual se articule a Política Nacional de Fiscalização – PNF com o exercício profissional, fortalecendo a identidade profissional.