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CAPÍTULO III:POR DENTRO DA TEMPORADA DO AÇÚCAR

3.1. O Açúcar e Seus Efeitos na Saúde

Antes de realizar a análise dos programas dos seis vídeos da Temporada do Açúcar, é importante refletir sobre o consumo do açúcar e seus efeitos no organismo humano. Responsável por deixar nossos alimentos mais doces e saborosos, o açúcar é objeto de intensos estudos e debates científicos. É um dissacarídeo composto por uma molécula de glucose e uma de frutose, sendo uma das principais fontes de energia para o bom funcionamento e manutenção do corpo humano. Está presente nos produtos industrializados e nos naturais, como no caso das frutas e verduras (AMABIS, et al 2004).

Entre os tipos de açúcares comumente encontrados em nossa alimentação estão os monossacarídeos e os dissacarídeos. Os monossacarídeos são compostos orgânicos, sendo carboidratos simples que não sofrem hidrólise42. Possuem de 3 a 6 átomos de carbono, formando uma molécula de açúcar. Os dissacarídeos são formados pela união de dois monossacarídeos (Tabela 7).

Tabela 7: Fonte: Print screen do vídeo “Quanto açúcar você come?

Monossacarídeos Frutose Presente em frutas e também no mel Glicose Presente em frutas e também no mel Galactose Presente na lactose (açúcar do leite)

Dissacarídeos

Sacarose Glicose + frutose Presente

Lactose Glicose + galactose Presente no leite Maltose Glicose + glicose Presente nos vegetais

Fonte: SIQUEIRA, Á. C. Adaptação de AMABIS, et al 2004

Usado com bom senso, em quantidades pequenas, este carboidrato contribui para o fornecimento de energia para nossas células e também como estimulo à produção de serotonina, neurotransmissor responsável por gerar sensação de prazer, bem-estar e bom humor. Porém, o açúcar deve ser ingerido com moderação, pois, presente em excesso no nosso organismo, passa a ser armazenado na forma de gordura corporal, se alojando principalmente na região abdominal e entre os órgãos, podendo levar à ocorrência de aumento de peso e potencializando o surgimento de vários problemas de saúde.

O consumo exagerado de açúcar, é apontado como um dos principais contribuintes para o surgimento de algumas Doenças Crônicas não Transmissíveis - DCNTs. Entre as mais prevalentes estão as doenças bucais como a Carie dentária, o Diabetes, o Sobrepeso, a

42Hidro (água) e lise (quebra), ocorre quando uma reação química sofre quebra de molécula por meio da ação da molécula de água.

Obesidade, problemas no fígado, desregulações hormonais, problemas cardiovasculares, hipertensão, danos na retina, impotência sexual e acidentes vasculares cerebrais, problemas que levam inúmeras pessoas a passarem por tratamentos complexos e dispendiosos.

As doenças bucais, por exemplo, fazem com que os países industrializados invistam entre 5% e 10% dos seus orçamentos em Saúde. Além de chamar atenção para a ocorrência destes problemas, a OMS almeja com uma orientação de redução do consumo diário de açúcar, provocar um olhar mais atento por parte de gestores de programas de saúde, planejadores de políticas públicas para o consumo de açúcar.

Outros setores alvos da OMS são as industriais e setores governamentais dos países, para que planejem meios de minimizar a utilização do açúcar em produtos industrializados como também melhorar a rotulagem nutricional. A legislação brasileira não exige que nos rótulos haja a diferenciação entre os tipos de açúcares naturais e os adicionados ao produto industrializado, e assim, acabam sendo inseridos todos juntos na categoria de “carboidratos”, em prejuízo direto dos consumidores. Em alguns países como EUA e Portugal, é exigida a descrição da quantidade de açúcares contidos no alimento, na tabela nutricional produto.

Os ketchups, os vinagres balsâmicos, os refrigerantes, os pães e os cereais matinais, salgadinhos, pizzas, entre outros produtos, são exemplos de alimentos que possuem uma quantidade de açúcares ocultos, ou seja, são produtos que não são considerados doces, porém em sua lista de ingredientes encontramos açúcar. Devido a estes fatores, os consumidores devem não apenas ser protegidos pelos governos, como também serem mais educados e habituados a ter cuidado com os ingredientes dos alimentos que consomem.

Caloria Vazia

Açúcar é considerado pelos nutricionistas como uma caloria vazia por não possuir valor nutricional e assim deve ser tratado como uma forma de prazer. Os seres humanos possuem naturalmente grande disposição por ingerir açúcares, pois eles, atuarem sobre os neurotransmissores cerebrais de forma semelhante ao que ocorre com dependentes de drogas levando a um certo nível de dependência. (AVENA et al., 2008).

Com base em novas pesquisas científicas, sobre a relação de consumo de açúcar e saúde, e a diretriz da Organização Mundial de Saúde – OMS, de 04 de março de 2015, a recomendação é que agora seja reduzido o consumo de 10% para 5%, de ingestão diária de açúcar. O novo

padrão recomendado equivale, hoje, a 25 gramas de açúcar ou seis colheres de chá para uma dieta de 2.000Kcal/dia.

A recomendação atual da OMS não se aplica apenas à ingestão de açúcares presentes em frutas e vegetais frescos, nem à lactose do leite. As evidencias são relacionadas a ingestão de açúcares extras ali acionados em produtos industrializados, pelo próprio consumidor, como mel e xaropes.

Quando ingerimos açúcar, a digestão os transforma em glicose, que é o principal combustível das células. Nosso cérebro, por exemplo, não vive mais de cinco minutos sem glicose. É o seu combustível essencial. Sua ausência ocasiona desagradáveis sintomas de hipoglicemia: tremedeira, suor frio, tonturas, enjoo, moleza, sensação de desmaio ou até o desmaio propriamente dito. Recém-nascidos sem glicose podem até ter uma crise convulsiva.

O açúcar, portanto, é essencial à vida. Por isso, vale de novo a pergunta: por que a OMS nos orienta restringir o uso de açúcar a uma quantidade mínima? Simples assim: porque não é o açúcar que faz mal. É a quantidade que ingerimos. Em excesso, prejudica a saúde. A ingestão média de açúcar dos brasileiros está em torno de 150 g por dia. Isso é muito. O ideal, como já dissemos, situa-se abaixo de 50 g por dia, ou seja, um terço do consumo médio. Idealmente, deveríamos consumir um sexto do consumo diário médio, o equivalente a 25 g, como recomendado pela nova diretriz da OMS, preferindo evitar o consumo de açucares refinados.

Como já apresentado anteriormente, o açúcar é um dos principais ingredientes presentes nos produtos industrializados, como chocolates, refrigerantes, etc, em quantidades elevada. A intenção é tornar o produto “hipersaborizado”, ou seja, com o sabor realçado para que se tornem extremamente gostosos e/ou induzir o hábito de consumo, por meio da dependência (BRASIL, 2014). A inserção crescente de alimentos industrializados na mesa dos brasileiros, a publicidade intensa, a ausência de educação alimentar e o excesso de informações precárias sobre alimentação; são os fatores influenciadores no processo de desenvolvimento de obesidade e DCNT. Adquirir consciência sobre as escolhas alimentares, nem sempre são suficientes para a garantia da saúde e boa forma de alguns indivíduos.

Assim como outras dependências químicas, o vício em açúcar é um problema presente, porém, não é tratado com a seriedade necessária. O vício por açúcar é romantizado e naturalizado pela sociedade, apropriado pelo marketing e penoso para os obesos e diabéticos. Como podemos ver mais adiante, nas análises da “Temporada do Açúcar”, é perceptível a dificuldade no processo de mudança de hábitos de consumo do açúcar, vivenciado pelos

internautas pois, a dependência do açúcar vai além do ato de comer ou não sobremesas. Abrange questões sociais, psicológicas, econômicas e de hábitos de vida.

Algumas pessoas não conseguem diminuir o consumo de açúcar, por estarem dependentes desta substância o que demonstra uma necessidade de um olhar multidisciplinar para apoiá-las, como também políticas públicas voltadas para a minimização deste problema, envolvendo regulamentações mais rígidas para os produtos industrializados que utilizam açúcar em demasia, focados apenas no lucro.