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A área costeira de Cascais

No documento Lisboa Medieval (páginas 89-98)

Marco Oliveira Borges

3. A área costeira de Cascais

No limite costeiro noroeste cascalense, há que referir o local denominado porto do Touro, o qual se encontra ladeado pelo Espigão das Ruivas, sítio arqueológico da Idade Ferro, do Período Romano e onde também foram exumados alguns fragmentos de telha do Período Islâmico121. O porto do Touro foi usado até

muito recentemente por pescadores, sendo que no Espigão das Ruivas, rochedo que o ladeia, foram detectadas as ruínas de uma estrutura pétrea que poderá ter funcionado como farol na Antiguidade122.

Penetrando no interior do concelho de Cascais, refira-se que existem topónimos que se podem ligar com a vida militar. É o caso de Alcoitão, indicado como tendo derivado de al-qayatun, “a tenda”123. António Rei refere que este termo

121 CARDOSO, Guilherme, MIRANDA, Jorge e TEIXEIRA, Carlos A. – Registo fotográfico de Alcabideche

e alguns apontamentos histórico-administrativos. Alcabideche: Junta de Freguesia de Alcabideche, 2009, p. 35.

122 Cf. BORGES, Marco Oliveira – “A importância do porto do Touro e do sítio arqueológico do

Espigão das Ruivas (Cascais) entre a Idade do Ferro e a Idade Moderna”. in História. Revista da FLUP. Porto. IV série, vol. 6 [no prelo].

123 ALVES, Adalberto – “Alcoitão”. in Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, p. 131.

Fig. 6 – Fragmentos de telhas alto-medievais/islâmicas em

terá a mesma origem que Alqueidão, razão pela qual o investigador colocou a hipótese de ali ter existido outrora um acampamento militar124. Nas proximidades,

já existia a via terrestre que seguia de Sintra para Cascais, com passagem por Alcabideche, fazendo a ligação entre o interior do território e o porto cascalense. De Cascais partia outra via para Lisboa, tal como acontecia a partir de Sintra125,

remontando ao Período Romano.

Igualmente no interior do território cascalense, mas já na fronteira com Oeiras, é de referir o topónimo Talaíde, possivelmente relacionado com a existência de uma antiga torre de vigilância com a função de observar o redor e assinalar a presença inimiga126.

Junto à linha costeira, surgem outros topónimos que podem estar associados ao passado islâmico e a um contexto defensivo, até mesmo Cascais. Entre as teorias existentes sobre a origem deste topónimo, aquela que reunia maior consenso diz que o mesmo virá do plural de cascal (monte de cascas ou conchas), estando relacionado com a possível abundância de moluscos marinhos outrora aí existentes. Esta é uma teoria que acabou por ficar associada a um contexto português em que o topónimo Cascais teria derivado, por simplificação, de uma hipotética aldeia dos Cascais127.

No entanto, mais recentemente, tem-se associado ao topónimo Cascais o nome do navegador/almirante muçulmano Khashkhash (século IX). Embora não seja nosso objectivo desenvolver aqui este assunto, até porque existem dois outros estudos em que exploramos o tema128, num deles de forma mais desenvolvida129, importa

referir alguns dados que possam servir de introdução e de enquadramento.

Ao que tudo indica, parece ter sido A. H. de Oliveira Marques quem primeiramente estabeleceu uma possível relação entre Cascais e Khashkhash, ainda que numa simples nota de rodapé e sem aduzir qualquer tipo de explicação130.

Posteriormente, outros autores viriam a debruçar-se sobre a mesma questão embora sem terem conhecimento da interrogação levantada por Oliveira Marques.

124 REI, António – “Ocupação humana no alfoz de Lisboa”, p. 36. 125 MARQUES, A. H. de Oliveira e DIAS, João José Alves – ob. cit., p. 45. 126 MARQUES, A. H. de Oliveira – “O «Portugal» islâmico”, p. 196.

127 “A tese mais verosímil aponta para a provável palavra portuguesa cascal – à semelhança de areal,

faial, funchal – identificadora de um terreno ou uma praia coberta de cascas ou conchas de mariscos. Haveria nesta zona alguns cascais e o topónimo primitivo seria porventura a aldeia dos cascais ou a dos cascais, de onde derivou, por simplificação, Cascais. Seria assim? Só a documentação nos poderá um dia responder” (cf. MARQUES, A. H. de Oliveira – “Para a História do Concelho de Cascais na Idade Média – I”. in Novos Ensaios de História Medieval. Lisboa: Editorial Presença, 1988, pp. 111-112).

128 BORGES, Marco Oliveira – “A defesa costeira do litoral de Sintra-Cascais durante a Época Islâmica. II”,

pp. 430-435.

129 BORGES, Marco Oliveira e CASTRO, Helena Condeço de – “O navegador muçulmano Khashkhash

e a possível ligação com o topónimo Cascais: problemas e possibilidades”. in Arquivo de Cascais. Cascais. N.º 14 (2015), pp. 6-29.

130 “Haverá alguma relação entre Cascais e este Hashas?” (cf. MARQUES, A. H. de Oliveira – “O

Se, nalguns casos, a associação entre Khashkhash e Cascais tem pecado por ser feita sem qualquer ligação histórica ou filológica explicativa que possa elucidar os leitores, noutros é feita através da proximidade fonética entre o nome do almirante – por meio da transliteração Kaxkax – e este topónimo, sem o apoio nas fontes muçulmanas e sem o conhecimento das problemáticas historiográficas que giram em torno desta figura, divulgando-se dados que resultam de uma imprecisão que coloca Khashkhash fora da sua época histórica mais de 250 anos depois, que o destaca infundadamente como corsário almorávida, entre outros equívocos.

Em todo o caso, e se do ponto de vista histórico acredita-se que possa ter existido um contacto entre Khashkhash e Cascais, possivelmente no âmbito das lides da defesa costeira do al-Ândalus, pelo que seria possível que o porto desta vila tivesse ganho nome através do contacto com o almirante, do ponto de vista linguístico também é possível ligar os dois étimos: através da mediação do étimo

cascal e de uma ligação à Catalunha. Já vimos que a teoria “oficial” diz que Cascais é

um topónimo que virá do plural de cascal. Contudo, mantendo à mesma o elemento

cascal, é possível pensar noutras hipóteses. Em árabe, khashkhash é a palavra

sinónima do português “papoila-dormideira”, enquanto que, no léxico do catalão, existe a palavra árabe cascall, significando precisamente “papoila-dormideira”.

Com o decorrer das investigações e da exequível ligação entre Khashkhash e Cascais, surgiu outra hipótese para a possível origem do étimo que dá nome a esta vila. Para além de cascall figurar no léxico do catalão, é também conhecida a existência de uma vila partilhando o mesmo nome, na Catalunha, anteriormente a 1097, a qual possuía uma rábita, conhecida na documentação cristã por “ràpita del Cascall”. Quando pensados em analogia com Cascais, estes dados levam-nos a pensar que a origem deste topónimo poderá mesmo estar associada ao contexto de defesa costeira do al-Ândalus e à deslocação (voluntária ou em serviço do poder central) de forças militares dessa área para a kura de Lisboa, acabando, de alguma forma, aquele porto por ganhar um nome que já existia do lado oriental do al- -Ândalus (Sharq al-Ândalus). Esta é uma hipótese que deve ser vista em paralelo com outras localidades cujo nome está associado à vinda de grupos humanos, clãs ou tribos de outras áreas do al-Ândalus e do Norte de África, como, por exemplo, Alcorvim131 (Malveira da Serra, Cascais), topónimo ligado à cidade de Cairuão

(capital de Ifríquia, no Magreb Oriental, actual Tunísia).

131 Derivação de Alquerubim, sendo que, por vezes, também surge grafado como Alcorobim.

Alquerubim pode derivar do árabe al-qarawiyin, significando “os de Qayrawan”, Cairuão, cidade situada na actual Tunísia. A sua importância religiosa assume tal importância que é vista como a “Meca do Ocidente” (cf. CORREIA, J. Diogo – Toponímia do concelho de Cascais. Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 1964, pp. 15-16; MACHADO, José Pedro – Sintra muçulmana. Vista de olhos sobre a sua toponímia arábica. Lisboa: Na Imprensa Mediniana, 1940, p. 8; idem – “Alquerubim”. in Dicionário Onomástico Etimológico, vol. I, p. 111; REI, António – “Ocupação humana no alfoz de Lisboa”, pp. 31-32 (n. 35)). Adalberto Alves faz derivar

Para reforçar esta hipótese de uma possível deslocação humana, note-se que na documentação catalã, associada às formas Kashtali, Kashki, Kashkallu, Kashkali (árabes)132 e Cascall (cristã), existem as variantes toponímicas Cascal, Cascallo,

Cascayo, Caschais, Cascai, Cascait e Cascayll. Parece-nos demasiado evidente

que o topónimo Cascais, na sua forma primitiva e podendo derivar do contexto árabe catalão descrito (ainda que a raiz daquela vila catalã e topónimo pudessem ser anteriores à ocupação muçulmana do local), tivesse, posteriormente, seguido semelhantes formas das que surgem atestadas na documentação cristã catalã até chegar à actual. Assim, importa frisar que tanto a primeira forma conhecida do topónimo (Cascays, 1282133) – pelo menos até ao momento –, como a forma actual

(Cascais), seguem sem qualquer dúvida a orientação das variantes catalãs.

A ligação de Cascais ao passado islâmico não se fica pela possível origem árabe deste topónimo nem por outros localizados mais para o interior. Situado a cinco léguas de Lisboa, último porto marítimo antes da entrada na barra do Tejo e que face a uma série de condicionantes geográficas que limitavam a navegação destinada àquela cidade e que o tornariam num local único de apoio ao movimento marítimo, acrescendo ainda o facto de que já no Período Romano tivera a sua importância, qual

o topónimo Cairuão de qayrawân, significando “campo da guarnição [militar]” (cf. ALVES, Adalberto – “Cairuão”. in Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, p. 349).

132 BRAMON, Dolors – El Mundo en el Siglo XII. Estudio de la versión castellana y del “Original” Árabe

de una geografía universal: “El tratado de al-Zuhri”. Barcelona: Editorial Ausa, [s.d.], p. 158 (n. 780).

133 ANTT – Chancelaria de D. Dinis, liv. 1, fls. 46v-47.

a utilidade do porto de Cascais durante o Período Islâmico? Haveria algum tipo de ocupação na área adjacente ao porto? Existiriam estruturas? O local estaria fortificado?

Ainda que os testemunhos arqueológicos obtidos – até ao momento – na área portuária sejam bastante residuais, situação que levou a ser dito que o local apenas havia sido ocupado de forma esporádica por pescadores e comerciantes que se abrigavam das intempéries, não é de crer que assim tenha sido durante o Período Islâmico134. Aliás, anteriormente a 1992 também era geralmente aceite

que os primórdios urbanísticos da “zona velha” de Cascais remontavam à Baixa Idade Média135, tendo essa área ganho importância com o advento das póvoas

marítimas posteriormente à “Reconquista” de Lisboa (1147)136. Mas as sondagens

arqueológicas iniciadas naquele ano de 1992, junto à torre (torre-porta) que resta da muralha da vila (geralmente chamada castelo), vieram trazer novas perspectivas à história urbana de Cascais. Se na área que hoje em dia pertence ao actual concelho já tinham sido detectadas mais de uma dezena de villae e alguns complexos industriais romanos dispersos pelo território137, foram aquelas sondagens que,

pela primeira vez, permitiram detectar estruturas romanas (cetárias) no foco portuário junto à praia da Ribeira e pensar numa ocupação continuada do local anteriormente à Idade Média.

Num estudo anterior, já havíamos tido oportunidade de tentar responder às questões atrás colocadas e de expor diversas hipóteses explicativas em ligação com as problemáticas arqueológicas, pelo que tentaremos passar por este assunto de forma breve. O primeiro testemunho documental da existência de uma edificação junto ao povoado marítimo de Cascais remonta a 8 de Abril de 1370, a saber, a carta de doação do castelo e lugar de Cascais a Gomes Lourenço do Avelar138. Porém, em

1758, o Pe. Manuel Marçal da Silveira referiu que a vila estava “sem Relógio, porque este, e sua grande Torre feita pelos Mouros, […] se fes em cinzas” após o terramoto de 1 de Novembro de 1755139. Fr. António do Espírito Santo também havia aludido à

destruição desta torre: “cahio a torre com o seu mais especioso relógio nas sonoras vozes do seu sino, que fica olhando para o Norte, e matando 22 pessoas”140.

134 Cf. a problematização desenvolvida por BORGES, Marco Oliveira – “A defesa costeira do litoral de

Sintra-Cascais durante a Época Islâmica. II”, pp. 425-428.

135 Cf. CABRAL, João Pedro e CARDOSO, Guilherme – “Escavações arqueológicas junto à torre-porta

do Castelo de Cascais”. in Arquivo de Cascais. Boletim Cultural do Município. Cascais. N.º 12 (1996), p. 127.

136 Cf. MARQUES, A. H. de Oliveira – “Para a História do Concelho de Cascais na Idade Média – I”,

pp. 108-111.

137 CARDOSO, Guilherme – Carta Arqueológica do Concelho de Cascais. Cascais: Câmara Municipal

de Cascais, 1991, p. 21.

138 ANTT – Chancelaria de D. Fernando, liv. 1, fl. 56.

139 Pub. por ANDRADE, Ferreira de – Cascais – Vila da Corte. Oito Séculos de História. Cascais:

Câmara Municipal de Cascais, 1964, p. XX (doc. 2).

A partir destes testemunhos, pode-se, desde logo, reter que a torre, sendo descrita de forma individualizada, é destacada pela sua grande dimensão, por conter o relógio da vila e por estar voltada a Norte. O facto de Cascais ter então um amuralhamento com várias torres (geralmente chamado castelo) remete automaticamente para a ideia de que a torre moura pudesse ser uma das torres dessa estrutura, uma das que estava voltada a Norte. Foi neste sentido que Carlos Callixto afirmou que a dita torre moura fazia parte do castelo de Cascais141, ou seja, do recinto amuralhado que surge

representado na gravura de Georg Braun e de Frans Hogenberg (Fig. 8) publicada em 1572142, bem como nas plantas da vila de Cascais de finais do século XVI, se bem que

o investigador não tenha arriscado uma localização exacta.

Apenas dez anos depois, por intermédio de Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral, foi teorizada a sua localização exacta. Com efeito, os arqueólogos avançaram com a ideia de que a torre estava localizada “a nascente da torre porta [do geralmente chamado castelo], conforme a planta de Terccio143 e era de configuração

circular, uma vez que a torre ao cimo da R. Marques Leal Pancada estava ainda de pé em 1964, e na outra que dava para o Largo da Assunção, pouca serventia teria um relógio naquele local”144.

Em 1953, Manuel A. P. Lourenço referia que “se alguns monumentos impor- tantes deixaram os mouros em Cascais, não os respeitou o tempo”, aludindo aos terramotos para o aceleramento da sua ruína145. Quanto à suposta torre moura,

o investigador local fazia notar que até poderia ser anterior ao Período Islâmico, visto que o povo, sem saber exactamente a que épocas pertencem determinadas estruturas e vestígios, sejam romanos, mais antigos ou não, acaba por remeter quase sempre as obras como tendo sido “executadas pelos árabes, por ser destes que as notícias são mais vivas e recentes”146. Porém, a verdade é que a suposta

antiguidade e origem islâmica da torre não foi tida em conta nas décadas seguintes, isto porque se usou de forma inversa o argumento atrás invocado por Manuel A. P. Lourenço. Ou seja, desvalorizou-se a hipótese da antiguidade da torre e de esta

141 CALLIXTO, Carlos – “A Praça de Cascais e as Fortificações suas dependentes”. in Revista Militar.

Lisboa. N.º 5 (1978), p. 326.

142 Embora o seu arquétipo possa remontar a finais do século XV ou a inícios do seguinte (cf. DIAS,

João J. Alves – “Cascais e o seu termo na primeira metade do século XVI – aspectos demográficos”. in Arquivo de Cascais. Boletim Cultural do Município. Cascais. N.º 6 (1987), p. 67; idem – “Lisboa Medieval na Iconografia do século XVI”. in Ensaios de História Moderna. Lisboa: Editorial Presença, 1988, p. 120).

143 A planta onde vem representada a torre a que os investigadores aludem é de autoria desconhecida.

A planta da vila de Cascais da autoria de Filipe Terzio, embora também de 1594, é outra (vide infra, n. 151).

144 CARDOSO, Guilherme e CABRAL, João Pedro – “Apontamentos sobre os vestígios do antigo castelo

de Cascais”. in Arquivo de Cascais. Boletim Cultural do Município. Cascais. N.º 7 (1988), pp. 86-87.

145 LOURENÇO, Manuel A. P. – “História de Cascais e do seu Concelho”. in A Nossa Terra. Cascais. N.º

43 (1953), p. 10.

poder remontar ao Período Islâmico porque “o povo diz que todas as construções antigas são do tempo dos mouros”147.

Seja como for, a década de 1990 iria trazer novidades que fizeram repensar a antiguidade da dita torre, até para uma época anterior à islâmica. Em 1996, resultado dos trabalhos arqueológicos de emergência iniciados em 1992 junto à torre-porta do castelo de Cascais – a poucos metros do sítio onde existiu essa torre de suposta origem islâmica – e que vieram a revelar a existência das referidas cetárias romanas, foi publicado um outro estudo de João Pedro Cabral e Guilherme Cardoso onde foi colocada a hipótese da dita torre moura poder ter tido origem romana148. A ter sido uma torre de origem romana ou islâmica que subsistiu até

1755, algo que só seria possível confirmar ou desmentir mediante escavações arqueológicas, não podemos deixar de pensar em evidentes transformações que terá sofrido ao longo do período medieval e até exequíveis danos verificados com os sismos ocorridos na primeira metade do século XVI (1504-1505, 1512, 1528 e 1531), os quais terão provocado estragos na torre que D. João II mandou construir na ponta Sul de Cascais e no próprio recinto amuralhado da vila149. Aliás, pensa-se que

essa suposta torre moura surge numa planta de Cascais datada de 22 de Janeiro de 1594 (de autoria desconhecida150), sendo representada com uma cúpula semelhante

à usada nos faróis151. Portanto, diferente daquilo que teria sido inicialmente.

Quanto ao (geralmente designado) castelo de Cascais, qual a data da sua construção? Para Manuel A. P. Lourenço, apresentando duas imprecisões cronológicas, a época de construção do castelo deveria situar-se algures após a tomada de Lisboa aos Mouros e 1373. Com maior probabilidade, o investigador admite que a construção deverá ter ocorrido entre 1189 e inícios do século XIII152.

Carlos Callixto, interrogando-se se a estrutura havia sido construída entre a data da elevação de Cascais a vila e a criação do seu senhorio (1364-1370), vincou que seria muito improvável que a sua construção pudesse remontar ao Período

147 Cf. CALLIXTO, Carlos – ob. cit., p. 326; seguido por CARDOSO, Guilherme e CABRAL, João Pedro

– ob. cit., p. 86.

148 CABRAL, João Pedro e CARDOSO, Guilherme – “Escavações arqueológicas junto à torre-porta do

Castelo de Cascais”, p. 133.

149 BORGES, Marco Oliveira – O porto de Cascais, pp. 186 (n. 695) e 193-194; idem – “A torre defensiva

que D. João II mandou construir em Cascais: novos elementos para o seu estudo”. in História. Revista da FLUP. Porto. IV série, vol. 5 (2015), pp. 106-108.

150 BOIÇA, Joaquim Manuel Ferreira; BARROS, Maria de Fátima Rombouts de; RAMALHO,

Margarida de Magalhães – As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais. Cascais: Quetzal, 2001, p. 41.

151 Cf. CABRAL, João Pedro; CARDOSO, Guilherme – ob. cit., p. 133.

152 Cf. LOURENÇO, Manuel – “História de Cascais e do seu Concelho”. in Jornal da Costa do Sol.

N.º 262 (1969), p. 19. O ano de 1189 é a altura em que o autor pensava que tinha sido feita uma suposta confirmação de um primeiro foral outorgado por D. Afonso Henriques a Cascais, o qual não foi outorgado àquela aldeia mas sim a Sintra (1154). Sobre a problemática do foral de Cascais, cf. BORGES, Marco Oliveira – O porto de Cascais, pp. 84-85 (n. 268); idem – “A defesa costeira do litoral de Sintra-Cascais durante a Época Islâmica. II”, p. 422 (n. 79).

Islâmico. Referindo, ainda, ser pouco provável que pudesse ser uma obra do reinado de D. Fernando e que deveria remontar a uma época anterior ao emprego da artilharia, o investigador deixou em aberto a possibilidade de o castelo poder remontar ao reinado de D. Afonso IV ou até mesmo ao de D. Dinis. Carlos Callixto lembrou que, durante estes reinados, várias fortificações foram edificadas ou restauradas153. Por sua vez, Guilherme Cardoso e João Pedro Cabral referiram “que

ao momento da conquista de Lisboa e Sintra não existiria qualquer fortificação em Cascais, pois não se conhecem referências”154. Na senda da interrogação colocada

por Carlos Callixto, os investigadores admitem que a construção do castelo se tenha verificado num período entre 1364, data da elevação de Cascais a vila, e 1370, data da primeira doação do lugar e castelo de Cascais, ficando assim o tempo de construção circunscrito a seis anos155. Mais recentemente, José d’Encarnação

referiu terem “sido, sem dúvida, razões de ordem militar e estratégica aquelas que, desde os primórdios da nacionalidade portuguesa, deram importância ao castelo de Cascais, nomeadamente como «sentinela da barra do Tejo», o primeiro reduto a atacar por quem quisesse apoderar-se de Lisboa”156.

No entanto, o que era o castelo de Cascais? Qual a sua configuração primitiva? Está, ainda, por esclarecer o que era realmente o castelo de Cascais: toda a cinta de muralha que vemos na gravura de 1572 (Fig. 8) e nas plantas de Cascais de finais do século XVI, ou apenas um dos edifícios adossados a essa estrutura? Se a historiografia não é consensual quanto ao que era o castelo157, se a documentação existente não

revela respostas às questões que surgem e, muito menos, a época da construção do amuralhamento de Cascais, a verdade é que a arqueologia também ainda não trouxe

No documento Lisboa Medieval (páginas 89-98)