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A ACTIVIDADE PROFISSIONAL DURANTE A RECLUSÃO

CAPÍTULO II ANÁLISE DOS DADOS HETERO-BIOGRÁFICOS

8. A ACTIVIDADE PROFISSIONAL DURANTE A RECLUSÃO

8.1. As actividades profissionais

• Os sujeitos iniciaram a l.a actividade profissional, em média, aos 31,6 anos. Trabalharam nas limpezas 35% dos casos, 19% nas obras, 11% na agricultura, 6% na cozinha 6% na formação profissional e os restantes 23% em actividades diversas. Contudo, importa reter que se trataram de actividades profissionais indiferenciadas e na esmagadora maioria ligadas à própria organização do estabelecimento prisional.

Em 92% dos casos as actividades foram exercidas a tempo parcial, em 6% a tempo inteiro e em 2% dos casos de forma intermitente.

O tipo de escolha da actividade profissional obedeceu a critérios de oportunidade, na quase totalidade dos casos.

Os salários foram sempre inferiores ao salário mínimo nacional.

• Os sujeitos iniciaram a 2.a actividade profissional aos 45 anos.

As actividades profissionais estão ligadas à construção civil em 28% dos casos, 24% actividades de limpezas, 14% de formação profissional, 10% actividades agrícolas e 24% executaram actividades indiferenciadas.

Relativamente ao tipo de escolha da 2.a actividade profissional, 78% dos sujeitos fizeram-na por oportunidade e 12% por escolha própria.

Quanto aos níveis salariais, verificou-se uma evolução positiva relativamente ao 1.° emprego, registando-se 87% de salários inferiores ao salário mínimo e 11% de salários equivalentes e 2% de salários superiores a esse referencial.

• Os sujeitos iniciaram a 3 .a actividade profissional durante a reclusão aos 31,8 anos.

Mantiveram o exercício de actividades profissionais indiferenciadas ligadas à construção civil, limpezas, formação profissional e agricultura.

No que se refere à duração da jornada de trabalho durante o exercício da 3a actividade profissional observou-se que 56% dos sujeitos trabalhou a tempo parcial enquanto que 44% o fez a tempo inteiro.

O exercício da actividade profissional aconteceu em 89% dos casos por oportunidade.

Os salários são inferiores ao salário mínimo para 72% dos sujeitos e equivalentes a esse salário para 28% dos sujeitos.

8.2. As situações de inactividade durante a reclusão

• Em média, a l.a situação de inactividade profissional aconteceu aos 27,9 anos. Em 62% dos c asos, a situação de inactividade profissional relacionou-se com a execução da pena de prisão, nomeadamente a transferência de estabelecimento prisional ou o cumprimento de castigos. 21% dos casos foram motivos de ordem pessoal, como

doença e desmotivação. O consumo de estupefacientes esteve na origem de 11% das situações de inactividade, verifícando-se 6% de casos diversos.

• A 2.a situação de inactividade, surgiu em média aos 32,7 anos.

Os motivos para a 2.a situação de inactividade relacionaram-se em 65% dos casos com situações relativas à própria reclusão (transferência de estabelecimento prisional ou castigos), enquanto que os restantes 35% das situações tiveram na sua origem motivos diversos.

• A 3.a situação de inactividade, surgiu quando os reclusos tinham em média 30,5 anos.

Verificaram-se 4 situações, das quais 75% estão relacionadas com a própria reclusão e 25% com o consumo de estupefacientes.

• Sintetizando os dados mais relevantes relativamente à situação jurídico-penal e à actividade profissional durante a reclusão, parece-nos importante salientar que relativamente às penas não privativas de liberdade, 18% dos sujeitos foram condenados nestas penas 1 vez. Só 4 sujeitos sofreram 2 condenações neste tipo de penas.

Relativamente ao cumprimento da pena de prisão há dados relevantes a destacar e que mais uma vez vão proporcionar a distinção dos grupos que temos vindo a considerar:

Quanto aos sujeitos em liberdade condicional sublinhe-se que se trata de indivíduos que iniciaram o cumprimento da pena de prisão com uma média de idade de 30 anos.

A esmagadora maioria dos crimes foi contra a propriedade e de tráfico de estupefacientes, tendo sido sancionados com penas de prisão com a duração média de 57 meses.

Durante a l.a pena de prisão, 36 sujeitos em liberdade condicional trabalharam como faxina, 28 beneficiaram de RAVI, 6 de RAVE e a 37 sujeitos foi concedida a liberdade condicional.

- Os sujeitos reclusos iniciam o cumprimento da pena de prisão aos 25 anos, ou seja, 5 anos mais cedo do que os do grupo anterior, o que nos dá uma ideia muito nítida relativamente à precocidade da actividade criminosa neste grupo de sujeitos.

Tal como no grupo dos sujeitos em liberdade condicional, verifíca-se a preponderância dos crimes de tráfico de estupefacientes e dos crimes contra a propriedade, que mereceram condenações de cerca de 57 meses de prisão.

Durante a 1." pena de prisão, 28 dos sujeitos reclusos trabalharam como faxinas, 16 beneficiaram de RAVI e 2 de RAVE, tendo sido concedida a liberdade condicional a 25 sujeitos.

Se compararmos os resultados entre os dois grupos de sujeitos verificamos que, durante o cumprimento da pena de prisão, os libertados condicionais apresentaram uma maior vinculação ao exercício de uma actividade profissional e beneficiaram de mais medidas de flexibilização da pena que sujeitos reclusos.

No que se refere à execução da 2.a e 3.a pena de prisão, não se verificam diferenças significativas entre os grupos que temos vindo a observar, tanto mais que o número de sujeitos que integram o grupo dos libertados condicionais é residual nestas novas penas. Contudo, importa registar um fenómeno que nos parece importante: à medida que os sujeitos vão cumprindo mais penas de prisão, diminui o investimento do sistema prisional na sua ocupação profissional e na concessão de medidas de flexibilização da pena de prisão.

Relativamente à 2.a pena de prisão, a maioria dos crimes praticados foram contra a p ropriedade e, e m m enor p roporção, d e t ráfico d e estupefacientes. As p enas t êm a duração média de 57 meses de prisão.

Dos indivíduos que cumpriram uma 2.a pena de prisão, só cerca de metade desempenhou alguma actividade de faxinagem, cerca de 35% beneficiou de RAVI e nenhum de RAVE, enquanto 30% dos sujeitos beneficiaram de liberdade condicional.

Registaram-se 9 sujeitos que cumpriram a 3a pena de prisão, tratando-se de um número muito reduzido. Os principais crimes registados foram contra a propriedade, com penas médias de 25 meses, apenas 2 sujeitos foram colocados em faxina e nenhum beneficiou de RAVI, RAVE ou liberdade condicional.

• Relativamente às actividades profissionais exercidas durante a reclusão, importa concluir que começam por estar intrinsecamente ligadas ao quotidiano do estabelecimento prisional, nomeadamente às actividades de limpezas, obras, agricultura e cozinha, ainda que com o tempo os reclusos se esforçassem em melhorar a sua situação profissional. As actividades profissionais começaram por ser exercidas quase

exclusivamente a tempo parcial, mas à medida que os reclusos progrediram obtiveram melhores colocações profissionais, aumentando o número de sujeitos que trabalharam a tempo inteiro.

O tipo de escolha da actividade profissional obedeceu a critérios de oportunidade.

As remunerações começaram por ser inferiores ao salário mínimo e à medida que evoluíram, no exercício da sua profissão, os salários melhoraram.

Relativamente às situações de inactividade durante a reclusão, a maioria dos casos relacionaram-se com o cumprimento da pena de prisão ou com o consumo de estupefacientes.