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2 a PARTE O TRABALHO EMPÍRICO

3. OS DADOS AUTOBIOGRÁFICOS

O nosso trabalho empírico utilizou os métodos quantitativos já descritos e os métodos qualitativos que passamos a analisar.

Como já referimos atrás, o método em que nos inspirámos para desenvolver o nosso estudo foi o da biografia reconstruída, que consiste na articulação entre dados hetero-biográficos e auto-biográficos que encontra a sua tradução gráfica no biograma. Contudo, depois de recolhermos os dados hetero-biográficos constatámos a impossibilidade de observarmos integralmente este método, pelo que optámos por analisar os dados hetero-biográficos, utilizando metodologias quantitativas como acabámos de descrever.

Numa segunda fase, seleccionámos um grupo de sujeitos mais pequeno relativamente ao qual procedemos à recolha de dados auto-biográficos, através da realização de uma entrevista, com vista a alcançar dois objectivos: procurar perceber o modo como o próprio recluso entende o seu percurso de vida, quais os problemas que identifica e como perspectiva o seu futuro. Por outro lado, perceber o modo como os

sujeitos encaram o cumprimento da pena de prisão, como valorizam o trabalho penitenciário e que papel lhe atribuem no seu processo de reinserção social. Pretendeu- se, ainda, que os sujeitos se pronunciassem sobre o modo como no seu processo de reinserção social se inter relacionaram os diversos contextos da sua vida, familiar, social, económico, os hábitos aditivos, o percurso profissional e a atitude do próprio sujeito.

3.1. A constituição da amostra

Analisemos o modo como se constituiu a amostra dos sujeitos que foram entrevistados.

Para concretizarmos a análise dos dados hetero-biográficos, realizámos diversas análises com base na vinculação dos sujeitos relativamente ao exercício de uma actividade profissional, parecendo-nos que aquela que define o percurso profissional integral dos sujeitos é a mais adequada para seleccionarmos os sujeitos a entrevistar, porque nos permitir, de uma só vez, analisar todo o percurso profissional do sujeito.

Assim, decidimos entrevistar um sujeito de cada um dos grupos definidos na análise do percurso profissional integral. Nos grupos mais numerosos (primeiro, segundo, terceiro, quarto e oitavo), não se verificaram dificuldades em seleccionar os sujeitos, mas nos grupos menos numerosos a selecção de sujeitos a entrevistar foi mais difícil. No quinto grupo, não foi possível contactar nenhum dos 2 sujeitos que o constituíam, porque o Instituto de Reinserção Social tinha perdido o seu contacto. Assim, em vez das 8 entrevistas previstas realizaram-se as 7 possíveis.

A selecção dos sujeitos a entrevistar dentro de cada um dos grupos obedeceu a dois critérios: a amostra deveria ser constituída por um grupo de sujeitos, cujo processo de reinserção social apresentasse sucesso e por um grupo de sujeitos, cujo processo de reinserção social apresentasse insucesso.

Tendo presente este critério, seleccionou-se um indivíduo de cada grupo, tendo em atenção a facilidade de acesso a este por parte do entrevistador. Isto porque a concretização das entrevistas teve por detrás um processo moroso: a sua realização implicou um contacto prévio do sujeito seleccionado, por parte do Técnico do Instituto de Reinserção Social, que o acompanhou com vista à obtenção do consentimento para a realização da entrevista. Posteriormente, o entrevistador efectuou um primeiro contacto

exploratório j unto do sujeito, explicando-lhe o objectivo da entrevista e garantindo o anonimato das informações recolhidas. Finalmente, realizaram-se as entrevistas.

3.2. O guião das entrevistas

Depois de definida a amostra dos sujeitos a entrevistar, foi necessário definir um guião de entrevista, tendo-se optado pela realização de entrevistas semi-estruturadas, pois estas possibilitavam orientaras entrevistaspara os nossos objectivos, ao mesmo tempo q ue c oncedem a lguma 1 iberdade a o entrevistado p ara e ste s ublinhar o s p ontos que mais lhe interessam.

Um dos objectivos definidos para a realização das entrevistas consistiu na análise e na discussão dos dados hetero-biográficos recolhidos sobre o sujeito, para ser possível d eterminar u m p ercurso d e v ida q ue a rticulasse a queles d ados com o s a uto- biográficos. Assim, elaborou-se uma representação gráfica sobre aquele percurso de vida, inspirada no biograma, através da qual se resumiram os dados recolhidos relativamente às dimensões avaliadas naquele estudo. Os sujeitos foram solicitados a pronunciar-se sobre a análise que lhes foi apresentada, o modo como se articulavam as diversas dimensões analisadas e apresentaram a sua própria versão e análise sobre o seu percurso de vida.

O outro objectivo da realização das entrevistas centrou-se na análise do período de cumprimento da pena de prisão: o modo como o sujeito viveu a prisão, os constrangimentos, a s 1 imitações, o q uotidiano, as r elações c om o s r eclusos e com o s guardas, as medidas de flexibilização da pena, etc.

Questionaram-se os sujeitos sobre o trabalho penitenciário, os períodos de actividade e inactividade durante a reclusão, no sentido de perceber a importância que aqueles atribuem ao exercício de uma actividade profissional durante o cumprimento da pena de prisão.

Os indivíduos foram de seguida interrogados sobre o seu processo de reinserção social, com vista a uma análise dos factores que mais influenciaram o respectivo processo, o modo como se relacionaram naquele momento específico, quais as dimensões da vida do sujeito que exerceram maior influência na sua reinserção social, positiva e negativamente, especialmente no que se refere ao papel que o exercício de uma actividade profissional desempenhou na vida do sujeito.

3.3. A recolha de dados

Realizámos as entrevistas junto dos sujeitos seleccionados, num processo que apresentou algumas dificuldades pela necessidade de observar vários procedimentos prévios à realização das entrevistas, à dispersão geográfica dos sujeitos e pela necessidade de obtenção de autorização para a realização de entrevistas a sujeitos reclusos por parte da Direcção Geral dos Serviços Prisionais.

3.4. O tratamento e análise dos dados recolhidos

Depois de ultrapassadas todas as fases já descritas, foi necessário proceder à análise dos dados recolhidos.

Assim, o conteúdo das entrevistas realizadas junto de cada sujeito foi analisado em duas perspectivas: analisámos o conteúdo de cada entrevista para perceber o percurso de vida de cada sujeito, as suas especificidades e as relações que se estabeleceram entre as várias dimensões que influenciaram o seu comportamento, conciliando as avaliações hetero e auto-biográfica.

Por outro lado, analisámos o conteúdo das entrevistas, tendo em conta o modo como os indivíduos se referiram ao período e às condições do cumprimento da pena de prisão, e ao papel desempenhado pelo trabalho penitenciário no período de reclusão e na sua reinserção social.