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CAPÍTULO II ANÁLISE DOS DADOS HETERO-BIOGRÁFICOS

6. FAMÍLIA CONSTITUÍDA

• Os sujeitos constituíram família pela 1." vez em 60% dos casos, o que ocorreu em média aos 21,3 anos de idade.

Os sujeitos em liberdade condicional constituíram família em 75% das situações, em média aos 22,3 anos, enquanto que só 45% dos sujeitos reclusos o fizeram, em

média aos 2 0 anos. Das primeiras famílias constituídas resultou o nascimento de 1,5 filhos.

• Na amostra total, 18% dos sujeitos constituíram família pela 2.a vez, o que ocorreu em média aos 30,2 anos.

Dos sujeitos que constituíram a 2a família, 57% encontrou-se no grupo dos sujeitos em liberdade condicional e fê-lo aos 33,2 anos. Os restantes 43% dos sujeitos que constituíram a 2a família pertenciam ao grupo dos sujeitos reclusos e fizeram-no, em média aos 26,3 anos.

Os sujeitos mais vinculados ao trabalho constituíram a 2a família mais tarde do que os sujeitos menos vinculados ao exercício de uma actividade profissional. Destas famílias, resultou o nascimento de 1,5 filhos por casal.

Trata-se de resultados muito interessantes, que se repetem na constituição das 1." e da 2.a famílias. Demonstram que os sujeitos em liberdade condicional autonomizaram- se muito mais frequentemente da família de origem do que os sujeitos reclusos, ainda que o tenham feito em idades mais avançadas que estes.

• Relativamente à profissão das cônjuges/companheiras dos sujeitos, apurou-se que 53% dos casos eram domésticas, 36% exerceu actividades indiferenciadas e só 11% realizou actividades diferenciadas.

• As cônjuges/companheiras dos sujeitos apresentaram adições em 10% dos casos. Destas, 8%, consumiu drogas duras e 2% álcool.

Relativamente a esta variável observou-se que o caso de consumo de álcool surgiu no grupo dos sujeitos mais vinculados ao trabalho, enquanto que os casos de consumo de drogas apareceram nos grupos menos vinculados ao trabalho. As adições das cônjuges/companheiras dos sujeitos representaram um valor relevante.

• Em 15% das famílias constituídas, verificou-se o envolvimento das cônjuges/ companheiras dos sujeitos na prática de crimes.

Este valor distribuiu-se pelas famílias dos sujeitos em liberdade condicional com 2% e pelas famílias dos sujeitos reclusos com 13%.

Também as famílias mais vinculadas ao trabalho apresentaram uma percentagem de 2% dos crimes e as menos vinculadas ao trabalho de 13%.

Assim, importa considerar que as cônjuges/companheiras dos sujeitos tiveram um envolvimento significativo na prática de crimes, especialmente no que se refere às famílias dos sujeitos reclusos e dos sujeitos menos vinculados ao exercício de uma actividade profissional.

• Relativamente aos indivíduos, que não os da família nuclear, que integraram o agregado familiar das famílias constituídas analisadas, 32% apresentaram indivíduos que não os da família nuclear, que integraram o agregado familiar, o que em média acrescentou a cada família 3 membros.

• Em cerca de 8% destas famílias, constatou-se que os indivíduos, que não os da família nuclear, apresentaram consumos de álcool ou drogas.

• Em 13% das famílias, constatou-se a presença de indivíduos que não os da família nuclear envolvidos na prática de crimes, tratando-se de um valor significativo.

• No que se refere ao ambiente familiar e relativamente à afectividade, 57% das famílias apresentou resultados médios, 33% fracos e 10% bons.

Os sujeitos que integraram o grupo dos libertados condicionais eram provenientes de famílias com laços afectivos mais fortes do que os sujeitos reclusos.

Observou-se também que os sujeitos que pertenceram a grupos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional apresentaram níveis de afectividade mais positivos do que os sujeitos menos vinculados.

As diferenças significativas registaram-se repetidamente, o que demonstra bem a relação entre as duas variáveis.

No que se refere à estruturação do ambiente familiar, 71% dos resultados apurados são fracos, 25% são médios e somente 4% são bons.

Os sujeitos em liberdade condicional integraram agregados familiares com resultados melhores que os sujeitos reclusos.

Os resultados dos sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional são melhores do que os dos sujeitos menos vinculados ao exercício de uma actividade profissional.

O cruzamento destas variáveis apresentou diferenças significativas, que se repetiram várias vezes, o que permitiu estabelecer uma relação forte entre ambas.

Quanto à supervisão familiar, 76% dos resultados obtidos são fracos e 24% são médios.

Os sujeitos em liberdade condicional apresentaram melhores resultados do que os sujeitos reclusos. Por outro lado, os sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional também apresentaram melhores resultados que os sujeitos menos vinculados ao exercício de uma actividade profissional.

Por último, no que se refere à integração familiar, observou-se que 63% dos sujeitos apresentou valores fracos, 33% médios e 4% bons.

Os valores da integração familiar foram mais positivos nos sujeitos em liberdade condicional do que nos reclusos.

Por outro lado, os resultado obtidos pelos sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional foram, de igual modo, mais positivos do que os dos sujeitos menos vinculados.

Relativamente à c aracterização do ambiente familiar das famílias constituídas, observou-se que apesar da existência de laços afectivos entre os seus membros, os resultados alcançados relativamente à estruturação, supervisão e integração familiares foram fortemente negativos.

Verificaram-se sempre diferenças significativas que tornaram evidentes que as famílias dos sujeitos em liberdade condicional e dos sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional apresentaram resultados menos negativos do que os sujeitos reclusos e os sujeitos mais desvinculados do exercício de uma actividade profissional.

Comparando os resultados relativos à família de origem e da família constituída, em ambas as situações são detectáveis problemas na dinâmica familiar, sendo certo que nas famílias de origem esses problemas repartiram-se homogeneamente por todos os grupos. Nas famílias constituídas notaram-se diferenças muito significativas que permitiram concluir pela existência de um ambiente menos negativo nas famílias dos libertados condicionais e dos sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade

profissional, em contraponto com as famílias dos sujeitos reclusos e dos mais desvinculadas ao exercício de uma actividade profissional que apresentaram resultados claramente mais negativos.

• A comunidade em que a família esteve inserida mereceu avaliações médias em 73% dos casos e fracas nas restantes 27% das situações.

Os sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional integraram comunidades com avaliações mais positivas do que os sujeitos menos vinculados ao exercício dessa actividade profissional.

• Relativamente à integração da família na comunidade, 67% dos resultados foram fracos, 29% médios e 4% bons.

Os sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional apresentaram valores de integração da família na comunidade mais positivos do que os sujeitos menos vinculados.

• As famílias constituídas apresentaram uma situação económica fraca em 67% dos casos, média em 14% das situações e 19% boas.

Os sujeitos em liberdade condicional tiveram níveis salariais muito superiores aos sujeitos reclusos.

Os que mais trabalharam foram melhor remunerados do que os sujeitos que aqueles que não trabalharam com tanta regularidade. Trata-se de diferenças estatísticas que se repetem várias vezes, estabelecendo uma forte ligação entre as duas variáveis.

• A situação residencial mereceu avaliações fracas em 43% das situações, médias em 39% e em 18% dos casos boa.

Os sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional apresentaram uma situação habitacional melhor do que os sujeitos menos vinculados. Importa sublinhar que 21% das famílias constituídas residem em barracas.

• No que toca à propriedade da habitação, 67% dos sujeitos residiu em casa arrendada, 25% em casa própria, 4% em casa emprestada e 4% em situações diversas.

Os proprietários da sua própria habitação pertenceram ao grupo dos sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional.

• No que se refere à família constituída, há algumas conclusões que importa destacar, tendo-se constatado diferenças muito significativas nas várias análises efectuadas, que reforçaram a distinção entre os grupos que já definimos anteriormente:

Os sujeitos mais vinculados ao exercício de uma actividade profissional, pelo menos relativamente à 2a família constituída, iniciaram a relação mais tarde, o que revelou alguma estabilidade familiar. As cônjuges foram maioritariamente domésticas ou exerceram actividades profissionais indiferenciadas. Revelaram alguns hábitos de consumo de álcool e só excepcionalmente se envolveram na prática de crimes.

As famílias integraram diversos indivíduos, que não os da família nuclear que apresentaram consumos da álcool e drogas e que se envolveram na prática de crimes.

O ambiente familiar destas famílias, caracterizou-se pela existência de laços de afectividade entre os seus membros, tratando-se de um ambiente familiar com fracos resultados ao nível da estruturação, supervisão e integração familiar.

As famílias integraram-se em comunidades com avaliações positivas, as quais, por sua vez, também as avaliaram positivamente.

Os sujeitos auferiram salários razoáveis, residiram em habitações com algumas condições de habitabilidade, muitos deles em casa própria.

Os sujeitos menos vinculados ao exercício de uma actividade profissional constituíram famílias com características bem diferentes das anteriores, tratando-se de famílias com alguma instabilidade familiar, porque, pelo menos quando constituídas pela 2a vez, o foram em idades precoces.

As cônjuges foram, na sua maioria, domésticas ou exerceram profissões indiferenciadas. Uma percentagem relevante das cônjuges apresentou consumos de estupefacientes e envolveu-se na prática de crimes.

As famílias integraram diversos indivíduos que não os da família nuclear, alguns dos quais com problemas de toxicodependência e envolvimento na prática de crimes.

O ambiente familiar caracterizou-se pela existência de laços afectivos ténues, e ambientes familiares desestruturados, sem supervisão parental e com uma integração familiar deficiente.

A caracterização da comunidade onde se inseriram estas famílias obteve resultados médios, ao passo que a comunidade avaliou negativamente a maioria das famílias.

Os salários foram baixos e apresentaram fracas condições habitacionais.

- Os sujeitos em liberdade condicional constituíram família, em 75% dos casos por volta dos 22,3 anos, tratando-se de um grupo de sujeitos que se autonomizou da família de origem numa idade em que já apresentava alguma maturidade. As famílias constituídas são pouco numerosas. Um número significativo de sujeitos constituiu uma 2.a família.

A maioria das cônjuges/companheiras dos sujeitos assumiu-se como domésticas ou exerceu actividades indiferenciadas. Uma percentagem relevante apresentou adições e uma pequena percentagem envolveu-se na prática de crimes.

Os indivíduos que não os da família nuclear, que integraram o agregado familiar dos sujeitos em liberdade condicional, tiveram problemas de consumo de estupefacientes e envolveram-se na prática de crimes.

O ambiente familiar caracterizou-se pela existência de laços afectivos significativos, ainda que os resultados alcançados ao nível da estruturação, supervisão e integração do ambiente familiar sejam maioritariamente fracos.

As famílias constituídas integraram comunidades avaliadas positivamente, mas as comunidades não avaliaram aquelas muito positivamente.

A situação económica destas famílias é média e a situação residencial é fraca na maioria das situações.

Os sujeitos reclusos só constituíram família em 45% dos casos, mas fizeram-no bem mais cedo do que os sujeitos em liberdade condicional, demonstrando tratar-se de um grupo de sujeitos com dificuldade em se autonomizar da família de origem, mas que tende a fazê-lo em idades que revelaram alguma imaturidade, bem ao contrário do que observámos, relativamente aos sujeitos em liberdade condicional. Alguns destes sujeitos constituíram família pela 2.a vez.

As cônjuges/companheiras dos sujeitos dedicaram-se maioritariamente às actividades domésticas e quando trabalharam, exerceram actividades indiferenciadas.

Uma percentagem elevada apresentou adições e cerca de 13% envolveu-se na prática de crimes.

Os indivíduos que não os da família nuclear que integraram o agregado familiar, enfrentaram problemas significativos ao nível do consumo de estupefacientes e álcool, envolvendo-se frequentemente na prática de crimes.

O ambiente familiar caracterizou-se pelos maus resultados alcançados a todos os níveis sendo certo que as famílias constituídas dos sujeitos reclusos apresentaram resultados significativamente piores do que as famílias dos sujeitos em liberdade condicional o que é elucidativo sobre a qualidade destas estruturas familiares.

As famílias estavam inseridas em comunidades que mereceram avaliações médias, mas as comunidades não as consideraram muito positivamente.

A situação económica das famílias é média, sendo certo que a dos reclusos é pior do que a dos sujeitos em liberdade condicional.

A situação residencial é razoável, na maioria dos casos.