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A Agricultura biológica versus agricultura convencional

A agricultura que tem vindo a ser praticada até aos dias de hoje, visa acima de tudo a produção deixando para segundo plano a preocupação com a conservação do meio ambiente e a respectiva qualidade dos alimentos.

Ao falarmos de agricultura biológica, convém desmistificar um pouco o termo, que para muitas pessoas ainda significa, a ausência de químicos na produção, e produção de menor qualidade, nomeadamente em termos de aparência (“fruto com bicho”).

Outra ideia que surge frequentemente é que a agricultura biológica já era a praticada pelos nossos antepassados, apenas pelo facto de não usarem os ditos químicos. A agricultura biológica é bem mais do que isso, na verdade ela apenas não utiliza os químicos de síntese, pois pretende utilizar os que a própria natureza fabrica, como recorre a técnicas que utilizam conhecimentos científicos, de forma a conseguir integrar a agricultura no ecossistema, tentando não alterar a biodiversidade existente, produzindo obviamente frutos de excelente qualidade.

Poderíamos enumerar uma lista exaustiva de problemas que advêm de más práticas agrícolas, com consequências nefastas para o ambiente e consequentemente para o próprio ser Humano, no entanto serão abordados apenas alguns, que permitirão referenciar a necessidade de uma mudança.

O sistema de monocultura referenciado na Fig.2.1 [Indrio95], praticado pela agricultura convencional (Agricultura Industrializada), favorece o aparecimento de pragas, doenças e ervas invasoras, contribuindo assim para que o agricultor tenha que utilizar produtos químicos para conseguir produzir. Esse sistema, também provoca uma rápida perda de fertilidade do solo, pois facilita a erosão, reduz a actividade biológica e esgota a reserva de alguns nutrientes [Indrio95, Ferreira02]. Os produtos agrícolas utilizados são na sua maioria derivados directa ou indirectamente do petróleo, o que resulta num alto custo energético para sua obtenção, ocasionando um balanço energético negativo, ou seja, a energia produzida pela cultura é menor que a energia gasta para sua produção.

Fig. 2.1 – Direcções do desenvolvimento da agricultura

Assim sendo, o agricultor estará sempre dependente das grandes empresas, para comprar sementes, fertilizantes, insecticidas ou herbicidas, e quem acaba por ficar com a maior parte do lucro são estas grandes estruturas empresariais.

De um modo semelhante, na produção animal também ocorrem os mesmos problemas. Os animais são vistos como mini indústrias de produção de alimentos e não como seres vivos, sofrendo muitas vezes maus-tratos pelos produtores.

Ficam confinados a locais minúsculos, às vezes no escuro, sendo alguns alimentados à força, ou mesmo mutilados. Os animais para crescerem e engordarem mais rápido, produzirem mais leite, tomam antibióticos em grandes quantidades, afectando grandemente a qualidade dos alimentos

ECOLOGICAMENTE ECONOMICAMENTE E SOCIALMENTE ESTÁVEL MERCADOS LOCAIS E REGIONAIS- AUTONOMIA TECNOLÓGICA POUCOS DESPERDÍCIOS (EM. SOLAR, EÓLICA) BASEADA EM

PROCESSOS NATURAIS PARA UMA LONGA FERTILIDADE VARIANTES RÚSTICAS CONSOCIAÇÕES AGRICULTURA BIOLÓGICA POLICULTURA DIRECÇÕES DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA MODERNA AGRICULTURA INDUSTRIALIZADA MONOCULTURA BASEADA EM COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E EM PRODUTOS QUÍMICOS VARIEDADES SELECCIONADAS PARA ALTO RENDIMENTO

ECOLOGICAMENTE ECONOMICAMENTE E SOCIALMENTE INSTÁVEL

MERCADOS DISTANTES TECNOLOGIAS COM GRANDES DESPERDÍCIOS, ENERGIAS NÃO RENOVÁVEIS (PETRÓLEO) GRANDES EMPRESAS INDUSTRIAIS, MÃO-DE-OBRA ASSALARIADA

obtidos, que podem conter resíduos dessas substâncias e prejudicar a saúde de quem os consome.

Em resumo, a agricultura convencional utiliza muitas práticas prejudiciais ao ambiente, tais como a queima dos restolhos e a mobilização de inversão (reviramento do solo), que se efectuam para controlar as infestantes e preparar a cama de sementeira. Estas técnicas aumentam consideravelmente a erosão e a compactação do solo [Ferreira02], contaminando as águas superficiais com sedimentos, fertilizantes e pesticidas. Para além disso ao diminuírem o conteúdo em matéria orgânica e fertilidade do solo, e aumentarem a emissão de dióxido de carbono (CO2)

para a atmosfera, contribuem não só para o aquecimento global do planeta, mas também para a diminuição da biodiversidade [MADRP00].

A agricultura biológica por sua vez, reage a esta realidade atacando o problema nos seus pontos fundamentais, ou seja, a relativa autonomia em relação aos grandes mercados, a variedade das culturas (em contraste com a monocultura), o respeito pelo equilíbrio biológico, bem como a conservação da fertilidade do solo, Fig.2.1.

Numa empresa, como é normal, o factor económico é importante. No entanto, actualmente há que pensar que não importa apenas quadruplicar a produção se para isso se está a colocar em risco a fertilidade do solo, uma vez que isso trará consequências a médio e longo prazo nas futuras produções. Estamos pois a falar de um recurso natural, limitado, perecível, de recuperação possível mas lenta, o solo [Costa91]. Ao falarmos de fertilidade estamos de facto a abordar a questão central entre o problema que separa em grande parte as duas formas de produzir.

A fertilidade pode ser definida, como a capacidade do solo para alimentar, no sentido mais amplo as culturas nele instaladas [Santos91].

Se reflectirmos um pouco, tudo na natureza acontece através de lentos processos que transformam, elaboram, decompõem e repõem, e não apenas por acrescento ou subtracção de elementos. Como referiu, Lavoisier, “na

Natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma” [Lavoisier74].

Deste modo, o processo químico intervindo sem respeitar os ritmos da natureza na sua tentativa de a substituir, limita-se a fornecer ao terreno substâncias, ou seja, acrescenta elementos que rapidamente se dissolvem na

água os quais, de facto, vão exercer momentaneamente a sua função, mas rapidamente desaparecerão.

Se pensarmos então na outra forma de produzir, na agricultura biológica, o agricultor intervém também sobre a natureza, só com uma grande diferença, existe por parte deste um respeito pelos seus ciclos, seus processos, respeitando os tempos que ela lhe impõe: a diversidade das culturas, as rotações e o adubamento com estrumes tratados, demonstrando bem a permuta que este faz com o meio, e não a sua substituição.