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A Tecnologia como Auxiliar na Agricultura Biológica em Estufa

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Departamento de Engenharias

A TECNOLOGIA COMO AUXILIAR NA

AGRICULTURA BIOLÓGICA EM ESTUFA

Magda Alina da Costa Duarte Simões

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Dissertação submetida por Magda Alina da Costa Duarte Simões à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para a obtenção do grau de Mestre em Tecnologias das Engenharias, sob a orientação do Prof. Doutor Salviano Filipe Silva Pinto Soares, Professor Auxiliar do Departamento de Engenharias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e a co-orientação do Prof. Doutor Carlos Manuel José Alves Serôdio, Professor Auxiliar do Departamento de Engenharias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de Agradecer ao Professor Doutor Salviano Filipe Silva Pinto Soares, na qualidade de orientador deste trabalho pela sua inteira disponibilidade pelos seus ensinamentos científicos pelo incentivo sempre constante pela confiança ao longo deste trabalho, que em muito contribuíram para que este fosse possível.

Ao Professor Doutor Carlos Manuel José Alves Serôdio agradeço todo o apoio prestado no decorrer do trabalho.

Ao Professor Doutor Raul Morais agradeço todas as facilidades concedidas para a realização deste trabalho.

Ao Eng. Miguel Fernandes agradeço a simpatia com que sempre me atendeu quando foi solicitado

Aos Professores Luís e Anabela Aguiar agradeço as sugestões no sentido de melhorar o texto do trabalho.

Aos meus pais, marido e irmãs obrigada por todo o incentivo apoio e carinho que mantiveram no decorrer deste trabalho

Finalmente gostaria de agradecer a todas as pessoas que de uma forma indirecta contribuíram para o meu trabalho, o meu sincero obrigada.

Vila Real, Julho de 2007 Magda Alina da Costa Duarte Simões

(5)

Quando se fala de agricultura biológica, entende-se uma forma de produzir que respeita ao máximo os ciclos biológicos, exclui a quase totalidade de produtos químicos de síntese como adubos, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos alimentares para animais e utiliza a luta biológica como um auxiliar no combate contra pragas e doenças. Trata-se de uma forma de produção onde o solo é entendido como um sistema vivo que desenvolve as actividades de organismos úteis, organismos esses em interacção com as plantas que tanta importância têm também na manutenção da própria estrutura e dos equilíbrios micro orgânicos dos solos. Podemos, numa perspectiva holística, encarar a agricultura biológica como um meio de enfrentarmos o problema do relacionamento do Homem com a Natureza.

Nesta dissertação pretende-se demonstrar como a ciência pode ser também um auxiliar de inegável importância no contexto da actual agricultura, nomeadamente na forma de produzir biológica. O objectivo consiste em proporcionar um suporte tecnológico que facilite a produção em ambiente controlado. Tratando-se de produção biológica, a opção pela tecnologia como auxiliar tem suma importância, uma vez que se por um lado se privilegia a prevenção em detrimento dos tratamentos, por outro admite-se uma abordagem não intrusiva, ideal em ambientes agrícolas.

São estudadas duas culturas em estufa, nomeadamente as do Cravo e da Gerbera, e é apresentado um sistema de estações sem-fios com acesso remoto que vai permitir ao produtor biológico monitorizar parâmetros ambientais, tais como, a temperatura ou a humidade. A avaliação de todos estes parâmetros gera um sistema de alertas que ao auxiliar a decisão do produtor pode condicionar a aplicação modulada a realizar nas culturas, quando as referidas condições ambientais se revelarem propícias ao aparecimento de pragas ou doenças, ou coloquem em risco quer a sustentabilidade

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cultura em causa.

ABSTRACT

When we talk about organic agriculture, we must understand it as procedure that respects biological cycles, rejects all kinds of chemical products like fertilizers, pesticides, growth regulators and alimentary additives for animals and uses biological processes to help fight plagues and diseases. This procedure develops useful organisms’ activities, which interact with plants of extreme importance to maintain the soil’s own structure and its micro organic balances. We may consider, in a holistic perspective, biological farming as a manner to address the problem: the relationship between Man and Nature.

It is our intention to show how science can also be helpful to modern farming, particularly as far as biological farming is concerned.

The purpose is to offer a technological support that facilitates the production in a controlled environment. In biological production technology is a useful and important option, because on the one hand prevention is preferred to treatment, on the other hand a non intrusive action is also possible, ideal in farming environments.

Two greenhouse productions were studied: the Dhianthus sp, and

Gerbera sp, and we will introduce a wireless system with remote

access that will allow the biological farmer to use environmental elements as temperature or humidity. The evaluation of all these elements help an alert system to make decisions, which may condition the modulated application in the productions when the given environmental conditions turn out to be favourable to plagues or diseases, or may endanger the energetic maintenance of the system itself or the production, as for instance when we achieve the biological minimum and maximum of the farming we are studying.

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Índice

ÍNDICE DE FIGURAS vi

ÍNDICE DE TABELAS viii

CAPÍTULO.1 - INTRODUÇÃO 1

1.1 Enquadramento 1

1.2 Motivação 3

1.3 Objectivo do trabalho 4

1.4 Estrutura do trabalho 4

CAPÍTULO 2 - AGRICULTURA BIOLÓGICA 6

2.1 A Política agrícola comum e a preservação do ambiente 6

2.1.1 O modo de produção biológico 10

2.2 Perspectiva histórica 14

2.3 A agricultura biológica versus agricultura convencional 19

2.4 Definição de agricultura biológica 22

2.4.1 O que indicam as estatísticas 25 2.4.2 O que indicam as estatísticas em Portugal 27 2.4.3 Legislação, certificação e controlo 31

2.4.4 Produtos fitofarmacêuticos 34

CAPÍTULO 3 - SENSORES EM ESTUFAS 38

3.1 Definição de um sensor: classificação 38

3.2 Características dos sensores 41

3.2.1 Características estáticas 42

3.2.2 Características dinâmicas 50

3.2.3 Condições ambientais 52

3.3 Grandezas físicas a controlar 54

3.4 Sensores de temperatura 54

3.4.1 Expansão de um liquido, de um gás ou de um sólido (sistema termométricos de enchimento)

56

3.4.1.1 Termómetros bi-metálicos 56

3.4.2 Métodos baseados no potencial eléctrico produzido por materiais diferentes em contacto (ou pares termoeléctricos)

56

3.4.2.1 Efeito termoeléctrico 57

3.4.3 Métodos de radiação 60

3.4.3.1 Pirómetros ópticos 60

3.4.4 Alteração da resistência eléctrica com a temperatura 61

3.4.4.1 RTD 61

3.4.4.2 Termístores(Thermal Resistores) 63 3.4.4.2.1 Negative Temperature Coefficient (NTC) 64

(8)

3.5 Sensores de humidade 67

3.5.1 Mecânicos 67

3.5.2 Bolbo húmido e bolbo seco 68

3.5.3 Sensores por condensação 69

3.5.4 Sensores capacitivos 70

3.5.5 Sensores resistivos 72

3.5.6 Sensores de húmidade do solo 72

3.6 Sensores para medida da radiação solar 73

3.6.1 Fotoresistências 76

3.6.2 Fotodíodo 77

3.7 Sensores de Medição da Concentração de Dióxido de Carbono 78

3.8 Estação meteorológica 80

CAPÍTULO 4 - AGRICULTURA BIOLÓGICA EM AMBIENTE

CONTROLADO 82

4.1 Produção em ambiente controlado 83

4.1.1 Tipos de estufas agrícolas – sua classificação 84 4.1.2 Crescimento e desenvolvimento das plantas num ambiente

controlado

86 4.2 Aparecimento de doenças e pragas nas culturas 91 4.2.1 Luta biológica – Organismos auxiliares das culturas 93 4.2.2 Medidas para combater o aparecimento de doenças e pragas nas

culturas

96 4.3 Caracterização de algumas culturas em estufa 98 4.3.1 A cultura do cravo: características edafo-climáticas 99 4.3.1.1 Práticas culturais numa plantação de cravos 100 4.3.1.2 Doenças e pragas na cultura do cravo 105 4.3.1.2.1 Pragas mais frequentes 105 4.3.1.2.2 Doenças mais frequentes 109 4.3.2 A cultura da gerbera: características edafo-climáticas 113 4.3.2.1 Particularidades da plantação da gerbera 115

4.3.2.2 Pragas mais frequentes 116

4.3.2.3 Doenças mais frequentes 117

CAPÍTULO 5 - A TECNOLOGIA COMO AUXILIAR NÃO INTRUSIVO NA AGRICULTURA BIOLOGICA

120

5.1 Solução tecnológica de apoio à decisão 121

5.2 Alertas de sobrevivência 123

5.3 Alertas de doença 125

5.3.1 Alertas de Doença- Caso do Cravo 125

5.3.2 Alertas de Praga- Caso da Gerbera 126

CAPÍTULO 6 - RESULTADOS 128

Conclusões e trabalho futuro 128

ACRÓNIMOS 128

(9)

Índice de Figuras

Figura 2.1 - Direcções do desenvolvimento da agricultura 20 Figura 2.2 - Percentagem de área ocupada pela agricultura biológica na União

Europeia 27

Figura 2.3 - Números da Agricultura Biológica afecta à Agricultura Biológica em Portugal Continental

28 Figura 2.4 - Percentagem da área ocupada pela agricultura Biológica em

Portugal Continental por regiões

28 Figura 2.5 - Evolução da área afecta à agricultura Biológica em Trás-os-Montes 29 Figura 2.6 - Evolução das áreas das culturas de produção Biológica em

Trás-os-Montes

29 Figura 2.7 - Símbolo Europeu de Agricultura Biológica 34 Figura 3.1 - Diagrama funcional generalizado de um sensor 38 Figura 3.2 - Diagrama de blocos da estrutura de um sensor 41 Figura 3.3 - Relação entre a entrada/saída de um sensor ideal e real 43 Figura 3.4 - Curva característica ideal de um sensor e erro de sensibilidade 43

Figura 3.5 - Precisão de um sensor 44

Figura 3.6 - Erro de calibração de um sensor 45

Figura 3.7 - Curva de histerese 46

Figura 3.8 - Curva característica ideal de um sensor em função da curva medida mostrando o erro de lineridade

46

Figura 3.9 - Saturação num sensor 47

Figura 3.10 - Repetitibilidade 48

Figura 3.11 - Resolução 48

Figura 3.12 - Impedância de saída de um sensor 49 Figura 313 - Tempo de subida(esquerda) e descida(direita) 50

Figura 3.14 - Damping 52

Figura 3.15 - Princípio da temperatura 57

Figura 3.16 - Coeficiente de Seebeck dos termopares mais comuns 58 Figura 3.17 - Protecções das resistências de platina 62 Figura 3.18 - Variação da resistência em função da temperatura num NTC 64

Figura 3.19 - Símbolos usuais de NTC 64

Figura 3.20 - Exemplo de um NTC 64

Figura 3.21 - Variação da resistência em função da temperatura num PTC 65

Figura 3.22 - Símbolos usuais de PTC 65

Figura 3.23 - Exemplo de um PTC 65

Figura 3.24 - Função de transferência dos PTC e dos NTC comparadas com os RTD

66

Figura 3.25 - Psicrómetro 68

Figura 3.26 - Sensores de humidade por condensação 69

Figura 3.27- Sensor capacitivo de humidade 71

Figura 3.28 - Sensores capacitivos de humidade 71 Figura 3.29 - Sensores capacitivos de humidade 72 Figura 3.30 - Sensores C-Probe: da esquerda volumétrico, da direita

tensiométrico

(10)

Figura 3.31 - LDR típica e respectiva característica resistência R(Ω) vs iluminação Ev (lux)

77

Figura 3.32 - Característica corrente (µA) vs irradiação (mW/cm2) típica de um fotodíodo

78 Figura 3.33 - Ilustração do sensor-transmissor de CO2 GMP 111 da Vaisala

(versão difusão)

80

Figura 4.1 - Joaninha de 7 pintas adulta 94

Figura 4.2 - Ovos de joaninha amarelos acabados de nascer canto esquerdo e larvas acabadas de nascer no canto superior esquerdo, no meio dos afídeos em folha de malva

94

Figura 4.3 - Joaninha de 7 pintas (larva) comendo um piolho da macieira 94 Figura 4.4 - Diagrama representativo dos compassos de plantação escolhidos na cultura do cravo

101 Figura 4.5 - Sistema de tutoragem aplicado numa estufa de cravos 103 Figura 4.6 - Cronologia das operações culturais do craveiro 104 Figura 4.7 - Estrago causado numa flor do cravo por Tripes (Frankliniella

occidentalis)

106

Figura 4.8 - Ciclo da vida dos Tripes 106

Figura 4.9 - Ciclo de vida de Tetranychus sp 108

Figura 4.10 - Corte transversal do caule do cravo afectado pelo Fusarium 110 Figura 4.11 - Sintomas iniciais causados pelo fungo Fusarium oxysporum f. Sp.

dianthi

110 Figura 4.12 - Flores do cravo afectadas por Botrytis cinerea 112 Figura 4.13 - Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura do

craveiro

113 Figura 4.14 - Cronologia das operações culturais da gerbera 116 Figura 4.15 - Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura da

Gerbera

118 Figura 5.1 - Aspecto genérico da interface gráfica do sistema 122 Figura 5.2 - Máximo biológico para a gerbera ultrapassado 123 Figura 5.3 - Máximo biológico para a gerbera ultrapassado: geração do alerta

pelo sistema

124 Figura 5.4 - Alerta “Limites Biológicos para o Cravo” 124 Figura 5.5 - Alerta de Fusarium 125 Figura 5.6 - Risco de ocorrência de doença Fusarium: geração do alerta pelo

sistema

126 Figura 5.7 - Alerta de Tetranychus urticae gerbera 126 Figura 5.8 - Risco de ocorrência de doença Tetranychus: geração do alerta pelo sistema

(11)

Índice de Tabelas

Tabela 3.1 - Subdivisão do espectro da radiação óptica de acordo com o standard DIN5031, parte 7

74 Tabela 3.2 - Resumo das principais grandezas energéticas e fotométricas 75 Tabela 3.3 - Dados técnicos do IRGA GMP111 8fornecido pelos fabricantes) 80 Tabela 4.1 - Temperaturas óptimas para a cultura do cravo 100 Tabela 4.2 - Resumo das temperaturas e seus efeitos na gerbera 114 Tabela 4.3 - Resumo dos parâmetros passíveis de gerar alerta de doenças e

pragas no cravo e na gerbera

118 Tabela 4.4 - Alerta para o mínimo biológico para o cravo/gerbera 119

(12)

C

APÍTULO

1

INTRODUÇÃO

Quando se fala de agricultura, não se trata apenas de falar dos problemas técnicos como sejam, fertilizar os campos, que produtos escolher ou como combater os insectos nocivos às culturas de forma a tornar rentável as produções. Trata-se sim de falar de uma forma de estar perante a vida, perante a natureza, com a energia, com o trabalho, com toda engrenagem que move o sistema de quem decide e organiza o futuro da humanidade, que é também o nosso futuro. É pois importante saber qual o caminho a seguir, sabendo que se torna crucial uma nova relação com o equilíbrio biológico do planeta, baseado no respeito e na reciprocidade, ao contrário da exploração unívoca dos recursos por parte do homem.

É possível, hoje em dia, encontrar na ciência uma aliada neste tipo de desenvolvimento quer pelas tecnologias que existem ao dispor bem como das aplicações que se podem fazer dessas mesmas tecnologias. O desenvolvimento exponencial da indústria electrónica a partir de meados do século passado conduziu, não só, à miniaturização dos dispositivos de medida bem como tornou possível realizar sistemas computacionais evoluídos com capacidades de comunicações sem-fios tornando possível uma visão inovadora sobre questões eternas, como é caso da relação da Homem com a Natureza.

1.1 Enquadramento

A interdependência das várias formas de vida torna-se fundamental, influencia os equilíbrios do planeta, determinando todas as relações existentes na natureza. Por exemplo, uma lagarta não come certas plantas porque estas foram capazes de sintetizar venenos

(13)

que as matam, por outro lado, existem insectos que se tornaram resistentes a tais venenos e continuam a comer essas plantas. Nesse processo não se inclui apenas o mimetismo animal, os espinhos das plantas, entre outros, mas também as harmoniosas relações mantidas entre polinizadores e plantas, entre insectos que defendem certas plantas em troca de hospitalidade e de alimento.

O homem depende da evolução paralela de outras espécies. Apesar de não se encontrar na situação de parasita, sobrevivendo portanto mesmo no caso em que se extingam algumas espécies animais ou vegetais, ele é indubitavelmente um predador, conseguindo destruir para além das suas necessidades efectivas.

Embora a extinção de uma espécie não seja julgada moralmente como um facto condenável, esta pode representar um problema quando se trata de uma espécie representativa para um determinado equilíbrio. A proximidade de centrais nucleares que pode provocar mutações genéticas em determinadas plantas ou a existência de vários insecticidas que acabaram por eliminar insectos úteis deixando assim os nocivos livres para destruir as colheitas, constituem apenas dois factos que contribuem para a perturbação dos equilíbrios evolutivos que pode perfeitamente voltar-se contra nós.

Podemos mesmo dizer que se cultivar biologicamente, poupar energia e pensar de um modo eficiente pode ser nos nossos dias uma questão de opção de vida, de gosto ou mesmo de clarividência, chegará certamente a altura em que se tornará uma irrefutável necessidade e uma obrigatoriedade. Aliando deste modo o conhecimento actual da tecnologia apropriada podemos poupar os nossos recursos ainda existentes.

Podemos efectivamente reverter a situação actual conseguindo produzir de uma forma sustentável e rentável produtos com o auxílio das novas tecnologias, informatizando as explorações com recurso a sensores que monitorizam os factores ambientais e permitam a prevenção de doenças e pragas maximizando assim a produção, sem recorrer a uma produção agressiva e destrutiva em termos futuros.

(14)

1.2 Motivação

A agricultura biológica encontra-se em crescimento: cinco por cento da área agrícola útil do país já é ocupada com produção biológica, o que revela um interesse crescente pelas culturas amigas do ambiente. Apesar da produção biológica não se encontrar ainda vocacionada para a floricultura existe já um despertar para a importância de produzir de forma biológica nomeadamente as aromáticas. Segundo dados divulgado pela Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (AGROBIO) em 2005, para a expansão da superfície biológica no Algarve contribuíram muito as plantas aromáticas que de três hectares em 2004 passaram a ocupar em 318 em 2005. Dados como estes permitem-nos pensar que existe receptibilidade em termos de mercado para a “floricultura biológica” [Marques 06].

Depois dum século profícuo em realizações tecnológicas e de acordo com as preocupações ambientais das sociedades desenvolvidas na manutenção da biodiversidade como garante da sustentabilidade dos ecossistemas, recorre-se hoje com naturalidade à monitorização ambiental já possível em tempo real. O auxiliar provido pela disponibilidade tecnológica e os avanços na área das telecomunicaçoes digitais pode constituir a mais valia importante para a geraçao de sistemas de alerta que auxiliem a aplicação modulada às culturas em produção.

Poderemos no entanto colocar a seguinte questão:

“Como poderão as novas tecnologias auxiliar a agricultura

biológica?”.

De diversas formas, no trabalho apresentado em concreto as tecnologias utilizadas, permitem auxiliar nomeadamente na prevenção de doenças em agricultura biológica em estufa uma vez que nesta forma de produção é norma não se recorrer a químicos de síntese mais

(15)

generalizados na produção em estufa convencional e dado que as condições específicas de um ambiente de estufa propiciam o aparecimento de doenças e pragas. É pois importante actuar na prevenção das doenças e das pragas que atacam as culturas. O uso de redes de sensores agregados a estações sem-fios, permitem uma leitura de alguns parâmetros ambientais que influem no crescimento saudável das plantas e o seu posterior envio para um computador preparado que recebe toda a informação pode enviar sinais de alerta por Short Message Service (SMS).

O utilizador pode conhecer as condições dos parâmetros ambientais da sua estufa à distância, bem como antecipar possíveis aparecimentos de doenças em ambiente de estufa o que, para quem pratica agricultura biológica é de bastante utilidade, já que nesta forma de produzir existe uma restrição grande de produtos fitofarmacêuticos.

1.3 Objectivo do trabalho

O objectivo principal deste trabalho consiste em apresentar um sistema, que de um modo automático permita identificar antecipadamente o conjunto de premissas ou regras (Temperatura, Humidade, por exemplo), passíveis de gerar um ambiente susceptível ao aparecimento de doenças e pragas em estufa. Este sistema, ao permitir ao utilizador uma economia em tratamentos preventivos bem como curativos, é um auxiliar tecnológico valoroso permitindo obter uma melhor gestão de todos os recursos existentes na forma de produzir biológica.

A caracterização do estado da arte será realizada sob a perspectiva da epidemiologia, obtendo-se assim uma caracterização das principais doenças que condicionam o processo de produção/qualidade da produção em estufa de duas culturas específicas: o Cravo e a Gerbera.

1.4 Estrutura do trabalho

Este trabalho está dividido em 6 capítulos. No primeiro capítulo é feita uma introdução ao trabalho propriamente dito.

(16)

No segundo capítulo, faz-se uma abordagem da agricultura biológica, sua evolução ao longo dos tempos, legislação organização e controlo, sendo referenciada a sua importância num desenvolvimento sustentável.

No terceiro capítulo, são estudados os vários tipos de sensores utilizados na monitorização dos factores ambientais em estufa.

No quarto capítulo, é feita uma abordagem generalizada dos diferentes tipos de estufas mais utilizados em agricultura, bem como da produção de agricultura biológica em estufa. É referido também as condições passíveis de gerar o aparecimento de pragas e doenças bem como algumas das formas existentes para através da prevenção as evitar ou minimizar. É também neste capítulo que é realizada uma caracterização de duas culturas, nomeadamente a cultura do Cravo e da Gerbera.

No capítulo quinto, é focada a tecnologia como um auxiliar não intrusivo no ambiente de uma estufa agrícola.

No sexto capítulo são apresentadas as conclusões, perspectivando-se outros trabalhos que poderão desenvolver-se dentro desta mesma temática.

(17)

AGRICULTURA BIOLÓGICA

A agricultura é uma actividade económica que se caracteriza por um

processo produtivo que depende dos ciclos naturais, mas que os influencia ao utilizar um vasto leque de elementos livremente existentes na própria natureza. Ao domesticar espécies animais e vegetais selvagens e ao recorrer a um conjunto de processos naturais que envolvem o aproveitamento de energia solar e do ciclo hidrológico, a agricultura utiliza como factores de produção um conjunto de recursos naturais que lhe são essenciais: o solo, a água, o ar e o património genético.

Estes recursos ao contrário do que se possa imaginar não existem de uma forma ilimitada na natureza, pois por exemplo, 1cm de solo pode levar até 100 anos a formar-se, apenas 2% da água do planeta é doce, o oxigénio que respiramos é produzido por plantas e todas as variedades de plantas e raças de animais que produzimos derivam de espécies existentes na natureza que se vão extinguindo a um ritmo acelerado [MADRP00].

2.1 A Política agrícola comum e a preservação do ambiente

A Política Agrícola Comum (PAC) foi criada em 1961, sustentada pela França, que desempenhou um papel preponderante na sua criação e desenvolvimento. Os seus princípios assentavam, na unidade dos mercados, preferência comunitária, solidariedade financeira [Fontaine96]. No entanto ao longo da sua história, a PAC foi obrigada a evoluir consideravelmente, para enfrentar os novos desafios a que foi sendo confrontada. Primeiro, atingir os objectivos do 39º artigo do Tratado [CCE87]: melhorar a produtividade, garantir um nível de vida equitativo à população agrícola bem como a segurança do abastecimento a preços adequados e depois controlar os desequilíbrios quantitativos. Por último,

(18)

tomou uma direcção nova, baseada na combinação de descidas de preços e de ajudas compensatórias.

Naturalmente que o mundo em que vivemos hoje, passados 46 anos é notoriamente diferente. Numa análise sumária, poderíamos dizer que a PAC, no que diz respeito ao objectivo da auto-suficiência alimentar da comunidade, foi uma política demasiadamente bem sucedida tendo originado uma produção excedentária, mas logicamente bem sucedida, ao originar elevadas produções devido à incapacidade de escoar esses produtos no mercado, o que torna um aspecto que poderia ser sinónimo de desenvolvimento num questão bastante actual e que tem originado diversos problemas em todas as áreas da produção agrícola. Desta acumulação de excedentes resultaram naturalmente custos elevados para a comunidade, esforço orçamental que apesar de tudo não impediu que os rendimentos agrícolas continuassem a diminuir e que um elevado número de agricultores abandonasse a terra.

Em Fevereiro de 1991, a Comissão Europeia lançou um debate em toda a comunidade acerca da PAC, e em consequência foram apresentadas propostas legislativas para uma reforma que vieram a ser aprovadas em Conselho, em 1992, sobre a presidência portuguesa. A Comunidade apresentou propostas concretas com vista a promover uma melhor orientação da produção agrícola tendo em conta as exigências relativas ao ambiente, bem como a necessidade de assegurar ao mundo rural condições favoráveis para a manutenção do equilíbrio entre os objectivos económicos e de conservação do meio rural.

A reforma da PAC, teve por objectivo aprofundar e ampliar a reforma de 1992, [Fontaine96] substituindo as medidas de apoio dos preços por ajudas directas e acompanhando esse processo através de uma política rural coerente. Surgiram deste modo novos desafios, tanto internos como externos:

• O mercado mundial agrícola apresentava perspectivas de crescimento intenso, com preços compensadores. Os preços da PAC ao frisar níveis demasiado elevados para incorporar os compromissos internacionais e tirar partido da expansão do mercado mundial, corriam o risco de ver reaparecer

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excedentes, com custos orçamentais insuportáveis e de perder quotas do mercado mundial e comunitário;

• O apoio agrícola sendo repartido desigualmente, segundo os produtores e as regiões, resultava num ordenamento deficiente do espaço rural e o respectivo declínio da actividade agrícola em certas regiões, enquanto que noutras, práticas agrícolas demasiado intensivas induziam poluição e uma segurança alimentar reduzida.

A agricultura europeia repousa na sua diversidade: recursos naturais, métodos de exploração, competitividade, rendimentos e tradições. Com os alargamentos sucessivos, a gestão da PAC tornou-se demasiado complexa, burocrática, e por vezes de difícil compreensão. Equacionam-se novos mecanismos de modo a criar modelos descentralizados, que concedam maior grau de liberdade aos Estados-Membros, sem distorcer a concorrência, sem risco de nacionalização da PAC, mas com critérios comuns claros e medidas de controlo rigorosas [IDRHa04]. Em relação à política rural as medidas visam:

• o reforço do sector agrícola e florestal, procurando promover produtos agrícolas de qualidade. Prevêem-se também, acções relativas ao estabelecimento dos jovens agricultores e às condições de reforma antecipada;

• o melhoramento da competitividade das zonas rurais, sobretudo com o objectivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade rural e criar novas fontes de rendimento para os agricultores e as suas famílias;

• a preservação do ambiente e do património rural europeu através de medidas agro-ambientais, tais como a Agricultura

Biológica.

Para reforçar a integração das questões ambientais na PAC, previu-se igualmente estender os pagamentos compensatórios, tradicionalmente a favor das zonas menos favorecidas, às zonas onde a agricultura é limitada, devido a condicionantes ambientais específicas [IDRHa04].

(20)

A economia portuguesa tem vindo a atravessar um ciclo fraco, por vezes de crescimento nulo. Dos três motores ditos clássicos do crescimento económico, Investimento, Exportações, Consumo interno, são os dois primeiros que falham, [CONFAGRI05]. Na agricultura portuguesa eles também têm falhado, e no consumo interno, os nossos agricultores são confrontados com uma concorrência cada vez mais intensa. Para citar apenas um exemplo, segundo dados da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola (CONFRAGRI), de Janeiro a Dezembro de 2003 o nosso défice da produção agrícola nas trocas intracomunitárias atingiu 1.935,4 milhões de euros. No mesmo período o nosso défice agro-alimentar foi de 473,5 milhões de euros. No total um défice de 2.408,9 milhões de euros.

Esta contribuição negativa da nossa agricultura para a Balança Comercial tem ainda uma outra faceta: a dependência alimentar externa. Esta é, no campo da produção agrícola de 73,1 % das necessidades, no nosso caso. Se incluirmos as indústrias agro-alimentares este défice alcançou, em 2000, a ordem dos 81%. Uma simples comparação com Estados-Membros mais próximos ou da mesma dimensão territorial é elucidativa: Espanha 46,5 %; Grécia + 48, 7% (exportador líquido); Irlanda 51,9%; Dinamarca + 7,0 % (exportador líquido).

O nosso problema alimentar tem assim, uma vertente financeira, trata-se de diminuir a despesa, e uma rural, pois ao pretendermos detrata-senvolver a nossa agricultura estaremos concerteza a assegurar um desenvolvimento rural. Mas a redução da componente dependência alimentar através do aumento da competitividade interna, ajuda apenas a diminuir as importações para um patamar aceitável e só por si não é suficiente para o objectivo principal do reequilíbrio da Balança Comercial.

Teremos portanto, que actuar ganhando competitividade externa para as nossas exportações agrícolas. Um dos caminhos será o de concentrar os programas dos Quadros Comunitários de Apoio (QCA), nas principais potencialidades da nossa agricultura (produtos, regiões e empresas). Neste campo podemos referir a importância de todos os trabalhos desenvolvidos na área agrícola que envolvam os diferentes ramos da ciência, como é o caso da utilização da tecnologia na Agricultura Biológica, como forma de

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desenvolvimento de uma agricultura que necessita de um incentivo para aumentar a sua produtividade e competitividade.

Aumentar as exportações e diminuir as importações deverá constituir uma das facetas do nosso objectivo principal que permitirá por em marcha os dois motores já referenciados anteriormente, exportações e consumo interno, o que propiciará o terceiro motor, o investimento.

A Agricultura Biológica, como um dos desígnios da PAC, aliada ao desenvolvimento tecnológico, apresenta grandes potencialidades a nível económico, uma vez que não se trata apenas de produzir de uma forma diferente da convencional, mas sim de uma forma de produzir que tem já um mercado muito próprio e em expansão [Eurostat02] e que com as devidas medidas comunitárias poderá permitir incrementar as potencialidades regionais aos agricultores que optem por produzir de forma biológica mais competitiva em contraste com a agricultura tradicional de subsistência. Pretende-se desta forma reeducar as pessoas para uma forma de alimentação saudável que ao mesmo tempo preserve o meio ambiente.

2.1.1 O modo de produção biológico

No âmbito da agricultura europeia tem vindo crescentemente a impor-se o Modo de Produção Biológico de produtos vegetais e animais [IDRHa05]. A sociedade em geral, no seu dia a dia, começa a dar maior atenção e importância às questões relacionadas com o ambiente e à sua contribuição para a qualidade de vida que pretendemos sempre melhorar.

Admite-se que a utilização intensiva de produtos químicos na agricultura quer para fertilização dos solos, quer para tratamentos, influenciou a procura crescente de alguns consumidores mais atentos à preservação e protecção do ambiente à procura de produtos alimentares mais naturais e sem resíduos químicos pois observa-se um interesse cada vez maior por, produtos de

qualidade, onde se abrangem realidades tão diversas como os produtos

regionais, os com marca de qualidade e também os de origem produção biológica [AGROBIO05].

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Seguindo esta tendência, a reforma da PAC, aprovada no âmbito da Agenda 2000, reforça o papel que a agricultura deve desempenhar na preservação do ambiente, e na protecção dos recursos naturais em particular [MADRP00]. Estes recursos são essenciais a todos os processos que sustentam as formas de vida na terra e são, evidentemente determinantes para o equilíbrio e qualidade do meio em que vivemos. Protege-los é, não só uma condição para a viabilidade técnica e económica da actividade agrícola como também, uma forma de garantir a prazo a qualidade ambiental que nos é essencial. Deste modo a forma como a agricultura usa os recursos naturais pode ter efeitos negativos sobre os mesmos, sendo a escolha dos sistemas de produção e das práticas culturais que os caracterizam fundamental para evitar a sua degradação.

No domínio ambiental, a prática de uma agricultura intensiva tem contribuído para a poluição das águas e para o esgotamento dos solos [Moreno91]. Neste contexto, o mundo agrícola deverá efectuar profundas modificações na sua maneira de trabalhar, em especial nas zonas agrícolas menos competitivas, que necessitariam de desenvolver mercados e sectores economicamente rentáveis para as explorações, confrontadas com as naturais desvantagens estruturais em relação às explorações modernas do tipo industrial. Esta problemática afecta um grande número de explorações familiares para as quais o desenvolvimento e a valorização de produções específicas podem constituir uma alternativa economicamente interessante tanto do ponto de vista da diversificação dos produtos, como na investigação das características próprias da região, nos métodos de preparação dos produtos ou na introdução de novos métodos de produção.

Apesar de se falar muito de agricultura biológica a sua prática não resulta tão actual como possa parecer, remonta já desde a antiguidade, Catão 234-149 AC. Senador do Estado Romano [Pereira89]. No entanto, não existe ainda a nível governamental uma atitude concreta nesta matéria, mascarando-se o assunto, entregando-se a “mão alheia“ a grande responsabilidade de educar, ajudar e incentivar as boas práticas agrícolas.

Deste modo, os conceitos, princípios e objectivos da agricultura biológica têm sido discutidos e definidos por organismos privados do sector,

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nomeadamente a nível mundial através da International Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), [IFOAM04].

A IFOAM foi fundada em 1972 em Versailles, França por cinco organizações pioneiras: Nature et Progrès (França), Soil Association (Inglaterra), Swedish Biodynamic Association (Suécia), Soil Associacion of South Africa (África do Sul) e Rodale Press (USA).

A IFOAM integra mais de 700 organizações em 104 países e publica periodicamente para todo o mundo as normas básicas de agricultura biológica. Representa um movimento mundial de agricultura biológica, que propõe uma plataforma de intercâmbio global e de cooperação, através de inúmeras conferências internacionais, continentais e regionais e as publicações Ecology&Farming bem como os resumos das conferências, cujo objectivo principal reside em coordenar o conjunto de movimentos de agricultura biológica em todo o mundo.

A Agricultura Biológica aparece assim como uma possível solução para os problemas ambientais e económicos que efectivamente já existem. Procurando adaptar-se respeitando os ritmos da natureza, embora sob ponto de vista alimentar mantém-se afastada das regras ditadas pela produção industrial que apenas procura produzir rápido sem pensar nas consequências futuras.

Destaca-se actualmente o revirar de uma página e o interesse cada vez mais notório de pensar de uma forma sustentável. Apesar do alerta já ter sido lançado nomeadamente na Cimeira do Rio, quando as autarquias de todo o mundo foram desafiadas a iniciar Agendas 21 Locais, definida como uma

estratégia de envolver as pessoas e instituições de uma região na identificação dos seu próprios problemas ambientais, sociais e económicos, bem como das soluções mais eficazes para responder a esses mesmos problemas [O.E.03].

Podemos já verificar no terreno casos concretos em Portugal como é exemplo o projecto do pelouro do Ambiente da Câmara Municipal do Porto, no sentido de criar Hortas Comunitárias junto de alguns bairros municipais, tendo como objectivo, citando um dos responsáveis pelo projecto,

“motivá-los para o cultivo de produtos hortícolas biológicos“ [Marques06]. De um

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Moita aderiu ao projecto designado Horta Biológica na Escola. Trata-se de uma iniciativa da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (AGROBIO), patrocinada pelo programa Ciência Viva do Ministério da Ciência e Tecnologia, este projecto envolve vinte escolas. Projectos como estes permitem ter esperança num futuro melhor, pois para além do aspecto educativo podemos contar com todos os alunos que participaram no projecto para se tornaram eles próprios, agentes da mudança.

Não se trata, como por vezes se admite, em readaptar velhas técnicas de produção, mas sim da união de esforços, quer ao nível político, quer ao nível local bem como ao nível científico, para trazer o conhecimento, a ciência ao campo, onde a sua ajuda será preciosa.

Ao nível académico, têm-se desenvolvido trabalhos que permitem optimizar factores de produção integrando-os de uma forma ainda mais rentável na produção biológica. Exemplo disso resulta o projecto

Fertilização de Culturas em Agricultura Biológica e Avaliação do Processo Pós-colheita dos Produtos [UTAD05]. Este projecto tem como objectivo

avaliar a produção e a aquisição de materiais orgânicos nas explorações de horticultura biológica da região de Entre Douro e Minho, inventariar práticas correntes de fertilização e demonstrar processos de compostagem de resíduos agro-florestais para utilização na agricultura biológica que minimizem as perdas de azoto por volatilização ou por lixiviação durante o processo de compostagem.

Este projecto é financiado pelo programa PO AGRO Medida 8.1.A parceria deste projecto é constituída por algumas entidades como por exemplo, a Universidade do Algarve a Universidade do Porto e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com vista à apresentação de uma solução, ambientalmente correcta, para o aproveitamento dos matos e de outros resíduos agro-florestais e ainda para a diminuição dos fogos florestais.

Começam hoje em dia a proliferar outras actividades que permitem um maior contacto dos consumidores com os produtos de produção biológica, como são exemplo as feiras biológicas, onde os produtores levam directamente ao consumidor os seus produtos [AGROBIO06].

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No que diz respeito à certificação ambiental, existe ainda uma lacuna neste processo, não havendo uma rigorosa fiscalização. A iniciativa de certificar tem partido quase que exclusivamente de organizações não governamentais, que estabelecem os seus critérios próprios de certificação, o que para a agricultura, refere-se a produtos biológicos. Em Portugal esse controlo e certificação fica a cargo de dois organismos privados que são a: SOCERT - PORTUGAL, CERTIFICAÇÃO ECOLÓGICA, LDA e a SATIVA - DESENVOLVIMENTO RURAL, LDA [Ferreira02].

2.2 Perspectiva histórica

A preocupação com a agricultura remonta desde a antiguidade onde homens de Estado e intelectuais em vez de um laboratório altamente tecnicista apoiavam-se apenas na sabedoria do bom senso, que recorria fundamentalmente a três estratégias: terreno inculto, estrume orgânico e adubos verdes [Pereira89].

Naturalmente que desde essa época muitos factores vieram a contribuir para todas as vertentes que surgiram na agricultura no decorrer dos tempos. No entanto, a preocupação com a produção não se colocava no passado como factor primordial, uma vez que o impacto que o homem podia desenvolver nos seus confrontos com a terra e com os seus trabalhos estava muito ligado à tracção exercida pelos animais ou seja a forças que provinham directamente da natureza.

O aparecimento das máquinas foi o primeiro passo para a presente capacidade do homem de modificar uma paisagem sem ter em atenção a sua origem, o segundo passo está inteiramente ligado à Revolução Industrial que foi a introdução dos químicos para todo e qualquer fim na produção agrícola [Carson62].

Os métodos tradicionais pareciam não bastar para tornar produtiva a terra aos níveis de crescimento do número de bocas a alimentar. Por outro lado a nascente química agrícola parecia capaz de fornecer ritmos muito mais rápidos que os normais ciclos de fertilidade natural, exercendo a sedução de uma ciência nova capaz de produzir efeitos rápidos.

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O uso maciço dos produtos químicos para o combate quer às infestantes quer aos insectos bem como a utilização exaustiva dos terrenos, criam efeitos colaterais de tal maneira negativos [Ferreira02], que cada vez mais pessoas se encontram a combater essa tendência e a estudar, formulando e questionando as diversas hipóteses de colocar os conhecimentos científicos em harmonia com o equilíbrio natural.

Ao analisar-se a expansão da agricultura biológica, torna-se evidente que os elementos de ordem sociológica foram determinantes no período inicial, passando mais tarde os factores de ordem económica a assumir um papel mais relevante.

Verifica-se essencialmente na década de 60 do séc. XX, uma grande adesão por movimentos intelectuais, influenciada por movimentos de pensamento espiritualistas, por vezes mesmo esotéricos, inspirados em elementos de filosofias orientais onde a relação homem/natureza é considerada mais de um ponto de vista de complementaridade e simbiose do que agressão e opressão [Indrio95].

Boussingault (1802-1887), tornou-se conhecido pela contestação às teorias da lei da restituição de Liebig, no que diz respeito ao princípio enunciado na sua teoria mineral que defende que todo o vegetal se nutre de alimentos inorgânicos ou minerais [Pereira89]. Justus Von Liebig difundiu a ideia de que o aumento da produção agrícola seria directamente proporcional à quantidade de substâncias químicas incorporadas ao solo.

No início do século XX, Louis Pasteur (1812-1895), Serge Winogradsky (1856-1953) e Martinus Beijerinck (1851-1931), precursores da microbiologia dos solos, entre outros, contribuíram com mais fundamentos científicos que fizeram uma contraposição às teorias de Liebig ao provarem a importância da matéria orgânica nos processos produtivos agrícolas. Contudo, mesmo com o aparecimento de factos científicos a respeito dos equívocos de Liebig, os impactos das suas descobertas tinham extrapolado o meio científico ganhando força nos sectores produtivo, industrial e agrícola, abrindo um amplo e promissor mercado: o de fertilizantes artificiais ou seja de síntese [Indrio95].

Na medida em que certos componentes da produção agrícola passaram a ser produzidos no meio industrial, ampliaram-se as condições para o

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abandono dos sistemas de rotação de culturas e da integração da produção animal à vegetal que passaram a ser realizadas separadamente. Tais factos deram início a uma nova fase da história da agricultura, que ficou conhecida como Segunda Revolução Agrícola [Indrio95].

São também parte desse processo o desenvolvimento de motores de combustão interna e a selecção e produção de sementes. Estas inovações foram responsáveis por sensíveis aumentos nos rendimentos das culturas [Indrio95].

Albert Demolon (1881-1954), presidente da academia de Agricultura Francesa é referenciado como sendo pioneiro da agricultura biológica [Pereira89]. Os seus estudos efectuados sobre solos permitiram levá-lo a afastar-se das teorias de Justus Von Liebig e a insistir no papel fundamental do húmus e na importância do estrume orgânico na manutenção da fertilidade do solo. André Voisin, (1902-1964), dedicou-se ao estudo da influência dos oligo-elementos no desenvolvimento das plantas. Ehrenfried Pfeiffer (1897-1961), sob a orientação de Rudolf Steiner implementou o método agronómico chamado biodinâmico.

A agricultura biodinâmica ou biológico-dinâmica nasceu sob a inspiração de Rudolf Steiner [Indrio95], em resultado das oito conferências que proferiu em Koberwitz em 1924. A biodinâmica distingue-se de forma nítida no campo da agricultura biológica propriamente dita. Na realidade quem a pratica não está propriamente interessado nos métodos biológicos de produção agrícola mas é geralmente um seguidor da doutrina fundada por Rudolf Steiner, a antroposofia, a teoria do corpo vital de Steiner exprime a necessidade de introduzir na ciência, que preside hoje à actividade agrícola um sopro de vida espiritual. Defende uma harmonia entre a terra e o cosmos restituindo um equilíbrio mais natural ao mecanismo de visão moderna da vida. O termo Biodinâmico é a composição de duas palavras; Biológico e Dinâmico:

• Biológico, referindo-se a uma agricultura inerente à natureza, que impulsiona os ciclos vitais, seja através de uma adubação verde, consórcios e rotações de culturas, agrossivicultura e integração das actividades agrícolas com a natureza.

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• Dinâmico, refere-se ao conhecimento e aplicação pelo produtor dos ritmos formativos e de crescimento da Natureza o que na prática agrícola ocorre através da utilização dos preparados, do estudo dos ritmos astronómicos e da estruturação da paisagem agrícola.

No curso de agricultura de Rudolf Steiner relata que “adubar consiste em

vivificar a terra”. Steiner descreve a forma de produzir preparados a partir

de plantas medicinais, minerais, estrume, explicando os seus efeitos. Os preparados são substâncias, designadas por Rudolf Steiner, que são usadas em proporções “dinâmicas”, “dinamizantes”, ou seja em pequenas quantidades, considerando-se que uma parte mesmo pequeníssima de uma determinada substância em determinadas condições, activará com a sua energia uma quantidade de matéria imensamente maior se nela for mergulhada. Os preparados constituem o ponto da máxima diferenciação entre a biodinâmica e a agricultura biológica [Indrio95].

Sir Albert Howard, agrónomo inglês ex-director do instituto da Indústria Vegetal, estudou os efeitos da adubação nos rendimentos em quantidade e em qualidade de culturas e aperfeiçoou uma técnica de adubação. Os seus trabalhos resultam na base do método inglês agrobiológico e do método francês conhecido por método Lemaire-Boucher.

No Japão, Mokiti Okada introduz o conceito de agricultura natural em 1935, tendo iniciado os seus trabalhos de experimentação em 1936 data também do seu primeiro artigo. Sobre o assunto, em 1948, Okada defende que a prosperidade dos seres humanos e de todas as formas de vida podem ser assegurados pela preservação do ecossistema, respeitando as leis da natureza e sobretudo respeitando o solo. Okada declarou que “a própria

natureza no seu estado puro e original é a ’verdade‘ assim os seres humanos ao tentarem fazer algo na vida, deveriam tomar a natureza como modelo, a aprendizagem deste princípio é a base do sucesso de todo o empreendimento”.

Quer no Japão como no Brasil, a Fundação - Centro Internacional de Pesquisas e Desenvolvimento da Agricultura Natural dá continuidade às ideias e trabalhos desenvolvidos por Okada [Ferreira02].

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Kervran, membro da Academia das Ciências de Nova Iorque, candidato ao prémio Nobel em 1975, publica desde 1962 os resultados dos seus trabalhos sobre transmutações. Em 1989, o Conselho Nacional de Pesquisa (NRC), um órgão formado por representantes da Academia Nacional de Ciências, da Academia Nacional de Engenharia e do Instituto de Medicina, todos dos Estados Unidos da América, dedicou-se a um estudo detalhado sobre a agricultura alternativa. Este trabalho culminou com a publicação do relatório intitulado Alternative Agriculture um dos principais reconhecimentos da pesquisa oficial a esta tendência da produção agrícola [Pereira89].

Em Portugal, Luís Alberto Vilar, agricultor, foi das primeiras pessoas que em 1976, começou a divulgar a agricultura biológica através dos seus artigos que publicava no O Século e na colecção Agro-Sanus [Ferreira02].

Em 1985 é fundada a associação de produtores, consumidores e ambientalistas (AGROBIO), a partir dessa data começaram a surgir associações de âmbito regional, iniciou-se na Beira Interior (ARABBI), depois no Algarve (SALVA) e nos Açores (NATURA), entre muitas outras que existem hoje em dia.

Em 1992, com a Conferência Mundial da ECO92, conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, Brasil, ressurge o conceito de sustentabilidade, este conceito de desenvolvimento sustentável, foi apresentado em 1987 no relatório O Nosso

Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial para o Ambiente e

Desenvolvimento (presidida pela Noruega), que manifestou uma nova ordem mundial que expressa a vontade das nações de conciliar ou reconciliar o desenvolvimento económico e o meio ambiente, em integrar a problemática ambiental ao campo da economia.

Mais do que um conceito que orienta de maneira imediata acção e decisão, a sustentabilidade manifesta em primeiro lugar uma problemática de aspectos múltiplos (científico, político, ético) oriunda da emergência de problemas ambientais em escala planetária e principalmente da percepção do risco subjacente [O.E. 03].

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2.3 A Agricultura biológica

versus

agricultura convencional

A agricultura que tem vindo a ser praticada até aos dias de hoje, visa acima de tudo a produção deixando para segundo plano a preocupação com a conservação do meio ambiente e a respectiva qualidade dos alimentos.

Ao falarmos de agricultura biológica, convém desmistificar um pouco o termo, que para muitas pessoas ainda significa, a ausência de químicos na produção, e produção de menor qualidade, nomeadamente em termos de aparência (“fruto com bicho”).

Outra ideia que surge frequentemente é que a agricultura biológica já era a praticada pelos nossos antepassados, apenas pelo facto de não usarem os ditos químicos. A agricultura biológica é bem mais do que isso, na verdade ela apenas não utiliza os químicos de síntese, pois pretende utilizar os que a própria natureza fabrica, como recorre a técnicas que utilizam conhecimentos científicos, de forma a conseguir integrar a agricultura no ecossistema, tentando não alterar a biodiversidade existente, produzindo obviamente frutos de excelente qualidade.

Poderíamos enumerar uma lista exaustiva de problemas que advêm de más práticas agrícolas, com consequências nefastas para o ambiente e consequentemente para o próprio ser Humano, no entanto serão abordados apenas alguns, que permitirão referenciar a necessidade de uma mudança.

O sistema de monocultura referenciado na Fig.2.1 [Indrio95], praticado pela agricultura convencional (Agricultura Industrializada), favorece o aparecimento de pragas, doenças e ervas invasoras, contribuindo assim para que o agricultor tenha que utilizar produtos químicos para conseguir produzir. Esse sistema, também provoca uma rápida perda de fertilidade do solo, pois facilita a erosão, reduz a actividade biológica e esgota a reserva de alguns nutrientes [Indrio95, Ferreira02]. Os produtos agrícolas utilizados são na sua maioria derivados directa ou indirectamente do petróleo, o que resulta num alto custo energético para sua obtenção, ocasionando um balanço energético negativo, ou seja, a energia produzida pela cultura é menor que a energia gasta para sua produção.

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Fig. 2.1 – Direcções do desenvolvimento da agricultura

Assim sendo, o agricultor estará sempre dependente das grandes empresas, para comprar sementes, fertilizantes, insecticidas ou herbicidas, e quem acaba por ficar com a maior parte do lucro são estas grandes estruturas empresariais.

De um modo semelhante, na produção animal também ocorrem os mesmos problemas. Os animais são vistos como mini indústrias de produção de alimentos e não como seres vivos, sofrendo muitas vezes maus-tratos pelos produtores.

Ficam confinados a locais minúsculos, às vezes no escuro, sendo alguns alimentados à força, ou mesmo mutilados. Os animais para crescerem e engordarem mais rápido, produzirem mais leite, tomam antibióticos em grandes quantidades, afectando grandemente a qualidade dos alimentos

ECOLOGICAMENTE ECONOMICAMENTE E SOCIALMENTE ESTÁVEL MERCADOS LOCAIS E REGIONAIS- AUTONOMIA TECNOLÓGICA POUCOS DESPERDÍCIOS (EM. SOLAR, EÓLICA) BASEADA EM

PROCESSOS NATURAIS PARA UMA LONGA FERTILIDADE VARIANTES RÚSTICAS CONSOCIAÇÕES AGRICULTURA BIOLÓGICA POLICULTURA DIRECÇÕES DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA MODERNA AGRICULTURA INDUSTRIALIZADA MONOCULTURA BASEADA EM COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS E EM PRODUTOS QUÍMICOS VARIEDADES SELECCIONADAS PARA ALTO RENDIMENTO

ECOLOGICAMENTE ECONOMICAMENTE E SOCIALMENTE INSTÁVEL

MERCADOS DISTANTES TECNOLOGIAS COM GRANDES DESPERDÍCIOS, ENERGIAS NÃO RENOVÁVEIS (PETRÓLEO) GRANDES EMPRESAS INDUSTRIAIS, MÃO-DE-OBRA ASSALARIADA

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obtidos, que podem conter resíduos dessas substâncias e prejudicar a saúde de quem os consome.

Em resumo, a agricultura convencional utiliza muitas práticas prejudiciais ao ambiente, tais como a queima dos restolhos e a mobilização de inversão (reviramento do solo), que se efectuam para controlar as infestantes e preparar a cama de sementeira. Estas técnicas aumentam consideravelmente a erosão e a compactação do solo [Ferreira02], contaminando as águas superficiais com sedimentos, fertilizantes e pesticidas. Para além disso ao diminuírem o conteúdo em matéria orgânica e fertilidade do solo, e aumentarem a emissão de dióxido de carbono (CO2)

para a atmosfera, contribuem não só para o aquecimento global do planeta, mas também para a diminuição da biodiversidade [MADRP00].

A agricultura biológica por sua vez, reage a esta realidade atacando o problema nos seus pontos fundamentais, ou seja, a relativa autonomia em relação aos grandes mercados, a variedade das culturas (em contraste com a monocultura), o respeito pelo equilíbrio biológico, bem como a conservação da fertilidade do solo, Fig.2.1.

Numa empresa, como é normal, o factor económico é importante. No entanto, actualmente há que pensar que não importa apenas quadruplicar a produção se para isso se está a colocar em risco a fertilidade do solo, uma vez que isso trará consequências a médio e longo prazo nas futuras produções. Estamos pois a falar de um recurso natural, limitado, perecível, de recuperação possível mas lenta, o solo [Costa91]. Ao falarmos de fertilidade estamos de facto a abordar a questão central entre o problema que separa em grande parte as duas formas de produzir.

A fertilidade pode ser definida, como a capacidade do solo para alimentar, no sentido mais amplo as culturas nele instaladas [Santos91].

Se reflectirmos um pouco, tudo na natureza acontece através de lentos processos que transformam, elaboram, decompõem e repõem, e não apenas por acrescento ou subtracção de elementos. Como referiu, Lavoisier, “na

Natureza nada se perde nada se cria tudo se transforma” [Lavoisier74].

Deste modo, o processo químico intervindo sem respeitar os ritmos da natureza na sua tentativa de a substituir, limita-se a fornecer ao terreno substâncias, ou seja, acrescenta elementos que rapidamente se dissolvem na

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água os quais, de facto, vão exercer momentaneamente a sua função, mas rapidamente desaparecerão.

Se pensarmos então na outra forma de produzir, na agricultura biológica, o agricultor intervém também sobre a natureza, só com uma grande diferença, existe por parte deste um respeito pelos seus ciclos, seus processos, respeitando os tempos que ela lhe impõe: a diversidade das culturas, as rotações e o adubamento com estrumes tratados, demonstrando bem a permuta que este faz com o meio, e não a sua substituição.

2.4 Definição de agricultura biológica

A Agricultura Biológica, também é conhecida como “Agricultura

Orgânica” no Brasil “Organic Agriculture”, “Organic Farming” em países

de língua inglesa, “Agricultura Ecológica” em Espanha, “Nature Farming” no Japão e na Dinamarca.

Pode ser definida de diversas maneiras devido à multiplicidade das características envolvidas. Segundo a Food and Agricultural Organisation (FAO), “Agricultura biológica é um sistema holístico, que promove e

melhora a saúde do ecossistema agrícola, ao fomentar a biodiversidade, os ciclos biológicos e a actividade biológica do solo. Privilegia o uso de boas práticas de gestão da exploração agrícola, em lugar do recurso a factores de produção externos, tendo em conta que os sistemas de produção devem ser adaptados às condições regionais. Isto é conseguido, sempre que possível, através do uso de métodos culturais, biológicos e mecânicos em detrimento da utilização de materiais sintéticos.” (Codex Alimentarius

Comission, FAO/WHO (Food and Agricultural Organisation/World Health organisation, 1999) [AGROBIO04].

A agricultura biológica engloba sob um ponto de vista ambiental, social e económico, todos os sistemas que promovem a produção de alimentos e fibras sãos. Estes sistemas baseiam-se na fertilidade do solo a nível local como chave para uma produção de sucesso. Ao respeitar a capacidade natural das plantas, animais e paisagem, visa optimizar a qualidade em todos os aspectos da agricultura e do ambiente. A Agricultura Biológica reduz substancialmente a utilização de factores de produção externos, através da

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não utilização de fertilizantes e pesticidas químicos de síntese, nem produtos fitofarmacêuticos.

Em vez disso, permite às poderosas leis da natureza aumentar os rendimentos agrícolas e a resistência às doenças, e está de acordo com princípios globalmente aceites, enquadrados em contextos culturais, geoclimáticos e socio-económicos locais [IDRHa90].

A base para o sucesso do sistema biológico é um solo sadio, bem estruturado, fértil (macro e micronutrientes disponíveis às plantas em quantidades equilibradas), com bom teor de húmus, água e ar e boa actividade biológica, pois é o solo e não o adubo que deve nutrir a planta [Costa91]. O solo deve estar sempre coberto para evitar erosão [Ferreira02].

No sistema de produção biológico recorre-se ao cultivo múltiplo e à rotação de culturas, tornando-as menos susceptíveis ao aparecimento de pragas e agentes patogénicos dificultando também o aparecimento de plantas invasoras, devido à diversidade dos organismos do agro-ecossistema desenvolvido [Ferreira02].

O controlo de ervas invasoras, pragas e doenças é feito através de controlo biológico recorrendo à solarização (desinfecção do solo pelo calor produzido pelo sol), e à criação e largadas de inimigos naturais e/ou armadilhas.

Deve utilizar-se de forma adequada todas as máquinas de uso agrícola para não se danificar a estrutura e a vida do solo.

A integração da agricultura com a criação animal na propriedade é de extrema importância, pois o estrume pode ser transformado em composto, normalmente designado por húmus, muito importante para a agricultura biológica. Os animais devem preferencialmente consumir ração produzida na própria propriedade, ter instalações adequadas e optarem por um pastoreio livre [Ferreira02].

Podemos resumir algumas das vantagens da Agricultura Biológica:

• Ausência de poluição do solo e dos lençóis freáticos pelos pesticidas;

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• Aumento da diversidade biológica tanto ao nível botânico como zoológico;

• Manutenção da estrutura e dos equilíbrios microrgânicos do solo;

• Redução da perda dos elementos minerais graças ao papel privilegiado atribuído à matéria orgânica;

Prioridade dos equilíbrios naturais que permitam proteger as culturas através de métodos de defesa naturais, em vez de uma utilização regular dos pesticidas;

Máxima utilização dos recursos naturais locais e de recursos renováveis;

Redução do conteúdo energético dos factores de produção e logo da dependência externa da agricultura;

De um ponto de vista económico este tipo de produção menos intensiva e menos orientada para a obtenção de elevados rendimentos, pode permitir um melhor controlo das superproduções.

Por outro lado a agricultura biológica pode necessitar de mais mão-de-obra, o que no actual contexto económico, em que se verifica um elevado índice de desemprego, resulta numa mais valia tendo em conta o quadro de defesa do espaço rural, e o facto de numerosas regiões estarem ameaçadas pela desertificação. A reconversão de uma exploração agrícola tradicional para a agricultura biológica representa uma operação necessária envolvendo conhecimentos técnicos [IDRHa04].

De uma forma resumida podemos dizer que a agricultura biológica, é ecológica uma vez que se baseia no ecossistema agrário recorrendo a práticas culturais tais como, rotações de culturas, adubos verdes, consociações, luta biológica contra pragas e doenças, fomentando o equilíbrio e a biodiversidade. É um tipo de agricultura holistica, uma vez que fomenta a interacção dinâmica entre o solo, as plantas, os animais e os seres humanos, considerados como uma cadeia indissociável, em que cada elo afecta os restantes. A agricultura biológica é sustentável, uma vez que procura manter a fertilidade do solo a longo prazo, preservando os recursos naturais, minimizando todas as formas de poluição que possam advir de práticas agrícolas, recicla restos de origem vegetal ou animal de forma a devolver nutrientes à terra, minimizando o uso de recursos não renováveis,

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defende a ideia de depender de recursos renováveis em sistemas agrícolas organizados a nível local, deste modo exclui quase na totalidade a utilização dos produtos químicos de síntese como adubos, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos alimentares para animais. Podemos definir a agricultura biológica, também como sociavelmente responsável, uma vez que une os agricultores e os consumidores na responsabilidade de produzir alimentos e fibras de forma ambiental, social e economicamente sã e sustentável, preserva a biodiversidade e os ecossistemas naturais, permite aos agricultores uma melhor valorização das suas produções e uma dignificação da sua profissão, garantindo aos consumidores a possibilidade de escolherem consumir alimentos de produção biológica, sem resíduos de pesticidas de síntese e consequentemente melhores para a saúde humana e para o ambiente.

2.4.1 O que indicam as estatísticas

A apreensão do consumidor, provocada pelas crises no sector alimentar e pelo progresso tecnológico, nomeadamente a modificação genética e a irradiação dos alimentos, deram lugar a preocupações sérias acerca da segurança alimentar e a uma exigência cada vez maior de garantias de qualidade e de informações pormenorizadas acerca dos métodos de produção. Além disso, a consciência dos prejuízos ambientais irreversíveis, resultantes de práticas que provocaram a poluição do solo e das águas, a depauperação de recursos naturais e a destruição de ecossistemas frágeis, levaram a opinião pública a exigir uma atitude mais responsável relativamente ao património natural comum. Neste contexto, a agricultura biológica, antes considerada como actividade de interesse marginal ao serviço de um mercado reduzido, surge agora como um sistema de exploração, não só capaz de produzir alimentos sãos, mas também respeitador do ambiente.

Apesar dos alimentos resultantes da produção biológica atingirem, quase sempre, preços superiores aos dos produzidos de modo convencional, o número de consumidores dispostos a pagar mais caro por garantias de

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qualidade e segurança aumentou [Eurostat02]. Os alimentos biológicos, antes dificilmente disponíveis fora das lojas especializadas e de mercados locais, encontram-se agora mais frequentemente nas prateleiras das principais cadeias de supermercados, em toda a Europa. A variedade de produtos disponíveis aumentou também de tal modo que o consumidor pode agora, razoavelmente, esperar encher o seu cabaz de compras semanal exclusivamente com produtos biológicos, quando à escassos anos a gama se limitava a produtos hortícolas, carne, produtos lácteos e avícolas, e fruta. A expansão do mercado de consumo constitui, assim, para os agricultores, um dos principais estímulos para a conversão das suas explorações ao modo de produção biológico.

O número de explorações que produziam segundo este modo de produção, ou que se encontravam em período de conversão, e que em 1985 era de 6300, tinha, em 1998, excedido as 100000 [Eurostat02]. A situação difere, no entanto, de Estado-Membro para Estado-Membro. Existem factores relevantes que permitem o crescimento da agricultura biológica, nomeadamente a crescente consciencialização por parte dos consumidores que algo está errado, na forma de produzir quer dos vegetais como dos animais, e nas crescentes preocupações ambientais.

Apesar de representar apenas cerca de 3 % da superfície agrícola útil (SAU) em 2000, a agricultura biológica constitui, na realidade, um dos mais dinâmicos sectores agrícolas na União Europeia. Entre 1993 e 1998, o sector da agricultura biológica desenvolveu-se a uma taxa anual de cerca de 25 %, calculando-se que desde então essa taxa tenha aumentado para cerca de 30%, Fig. 2.2.

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Fig. 2.2- Percentagem de área ocupada pela agricultura biológica na União Europeia em 2000

2.4.2 O que indicam as estatísticas em Portugal

A criação de Associações de Agricultura Biológica, em Portugal, a partir de 1985, teve um importante papel na defesa e desenvolvimento da produção biológica, mas foi sobretudo a partir de 1997 que se verificou uma maior adesão dos agricultores a este modo de produção, em consequência não só das medidas agro-ambientais, com ajudas directas aos agricultores, mas também como resposta a uma maior procura, pelos consumidores, de produtos provenientes da agricultura biológica.

Portugal tinha, no final do ano 2000, cerca de 50000 ha em produção biológica, em que 41% da área era ocupada pelo olival. A produção biológica envolvia, à data, um total de 763 operadores certificados, como se pode verificar pela análise da Fig. 2.3 [IDRHa02].

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Fig. 2.3- Números de Agricultura Biológica e Área Afecta à Agricultura Biológica em Portugal Continental

Existem diferenças significativas nas áreas ocupadas pela agricultura biológica em Portugal como se pode observar pela análise da Fig. 2.4, onde se verifica que a maior percentagem de área ocupada de agricultura biológica se situa no Alentejo, e que a menor percentagem constitui a área correspondente ao Entre Douro e Minho.

Fig. 2.4 - Percentagem da área ocupada pela Agricultura Biológica em Portugal Continental por regiões 73 2799 240 9182 278 12193 564 29622 750 47974 763 50002 983 70857 1059 85912

0

10000

20000

30000

40000

50000

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80000

90000

1993 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

TOTAL NACIONAL DE OPERADORES BIOLÓGICOS ÁREA AFECTA Á AGRICULTURA BIOLÓGICA( ha)

(40)

A evolução do sector em Trás-os-Montes tem sido crescente, notando-se um aumento verificado a partir de 1994, com a aplicação das Medidas Agro-Ambientais (Regulamento CEE n.º 2078/92 e um decréscimo em 1996 devido à mudança do sistema de controlo, Fig. 2.5

Fig. 2.5 - Evolução da área afecta à Agricultura Biológica em Trás-os-Montes

No que diz respeito às culturas envolvidas, a evolução apresenta-se positiva ao longo dos anos na área (ha) ocupada pelo olival, apresenta-seguida pelas pastagens e pelos frutos secos, menos significativa no entanto, apesar de presente encontram-se as produções de Plantas aromáticas, hortícolas, fruticultura, culturas arvenses, Fig. 2.6.

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Fig. 2.1 – Direcções do desenvolvimento da agricultura
Fig. 2.2- Percentagem de área ocupada pela agricultura biológica na União Europeia em  2000
Fig. 2.3- Números de Agricultura Biológica e Área Afecta à Agricultura Biológica em  Portugal Continental
Fig. 2.6 - Evolução das áreas das Culturas de Produção Biológica em Trás-os-Montes
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Referências

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