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2.4 Definição de agricultura biológica

2.4.4 Produtos fitofarmacêuticos

Em produção biológica, para controlo de pragas e doenças, deve privilegiar-se o recurso a meios de protecção cultural, biológicos e biotécnicos e só em último caso recorrer ao uso de produtos fitofarmacêuticos. Estes estão restringidos a alguns tipos de produtos, não estando autorizados os de síntese [IDRHa91].

Publicado em 1962, Primavera Silenciosa (Silent Spring) de Rachel Carson, foi a primeira obra a detalhar os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e insecticidas químicos sintéticos, iniciando o debate acerca das implicações da actividade humana sobre o ambiente e o custo ambiental dessa contaminação para a sociedade humana. A autora advertia para o facto de que a utilização de produtos químicos para controlar pragas e doenças interferiam com as defesas naturais do próprio ambiente natural e acrescentava: «.. "Nós permitimos que esses produtos químicos fossem

utilizados com pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre seu efeito no solo, na água, animais selvagens e sobre o próprio homem"....»

A mensagem era directamente dirigida para o uso indiscriminado do Dicloro-Difenil-Tricloraetano (DDT) barato e fácil de fazer, foi aclamado como o pesticida universal e tornou-se o mais amplamente utilizado dos novos pesticidas sintéticos antes que seus efeitos ambientais tivessem sido intensivamente estudados. Com a publicação de "Primavera Silenciosa", o debate público sobre os produtos químicos continuou através dos anos 60 do século passado, e algumas das substâncias listadas pela autora foram proibidas ou sofreram restrições.

Cabe realçar que colocar o tema da utilização dos químicos na agricultura, antes restrita aos círculos académicos e publicações técnicas, no centro do debate público, foi, sem dúvida, o maior mérito de Rachel Carson, como pioneira na denúncia dos danos ambientais causados por tais produtos.

Hoje em dia, os químicos encontram-se disseminados na agricultura convencional, como uma solução de curto prazo para a infestação de pragas e doenças e sabe-se que o veneno residual destes produtos actua sobre a membrana, o citoplasma ou sobre o núcleo da célula. A sua acção dependerá da função desta célula, que responderá alterando as suas reacções, secreções, velocidade de reacções; estimulando ou inibindo reacções específicas [AGROBIO05].

Os fertilizantes solúveis de um determinado ponto de vista são bons, pois são de fácil aplicação, as plantas apresentam rápida resposta e produzem mais, logo a área cultivada pode ser reduzida. Mas na verdade existem muito mais desvantagens que vantagens no uso desse tipo de prática pois

provocam perda de fertilidade do solo, causando acidificação, mobilização de elementos tóxicos, imobilização de nutrientes, mineralização e redução rápida da matéria orgânica, consequentemente aumento da erosão.

Ocorrem também desequilíbrios minerais no solo, pois as adubações e calagens são feitas com azoto, fósforo e potássio (NPK) e calcário respectivamente, o que promove a existência desigual de micronutrientes. Deste modo os desequilíbrios bioquímicos nas plantas são também inevitáveis.

Os alimentos obtidos têm pior qualidade nutricional e biológica, ou seja, são carentes em determinadas vitaminas, minerais, aminoácidos essenciais e substâncias que prolongam a vida de prateleira dos produtos. Sem contar que provocam excesso de água e de nitratos, entre outros. Os nitratos são convertidos pelos animais em nitrosaminas, que são substâncias potencialmente cancerígenas [MADRP00].

A aplicação desses fertilizantes deve ser constante, pois exactamente por serem solúveis (principalmente os nitratos e fosfatos), são rapidamente "retirados" do solo pela chuva, e as consequências disso são poluição e a eutrofização das águas (acumulação de nutrientes, sobretudo fósforo e azoto, que pode levar ao desenvolvimento excessivo de algas e outras espécies).

Como a grande maioria das terras cultivadas possuem sistema de monocultura e recebem adubações minerais, necessitam da aplicação constante também de químicos. As consequências disso são muito parecidas com as da adubação mineral, mas com agravantes: os químicos podem muitas vezes matar insectos polinizadores, prejudicando a produção e também os inimigos naturais das pragas e agentes patogénicos, ocasionando o seu ressurgimento em maior quantidade, tornando os prejuízos ainda maiores. Podem também causar o aparecimento de outra praga, antes secundária, a quebra da cadeia alimentar; e ainda gerar resistência na população das pragas.

Além destas consequências da utilização de químicos na agricultura e fertilizantes sintéticos, existem outras de carácter económico e social, como os altos gastos e a dependência às grandes indústrias, com a

necessidade de repetidas aplicações e o balanço energético negativo devido às grandes quantidades de produtos utilizados.

A Produção biológica é regida por normas bastante inflexíveis emitidas pela União Europeia, regulamento (CEE) n.º 2092/91 e respectivas actualizações. Existem modificações constantes, em vários domínios, como por exemplo, em matéria de fertilizantes, produtos fitossanitário, aditivos e auxiliares tecnológicos, sementes e outro tipo de material de propagação vegetativa, substâncias que podem ser usadas na alimentação animal, regras de importação entre outras.

A lei Portuguesa obriga à homologação de todos os produtos cujo objectivo seja a sua comercialização tendo em vista a protecção das culturas, Anexo II Fertilizantes e correctivos do solo, B, 2ª alteração 4.3.01 regulamento 436/01.

São muitas as razões para que no presente e no futuro as Política Europeias venham a estabelecer medidas muito concretas a nível comunitário, responsabilizando todos os intervenientes no processo da produção tendo em vista um desenvolvimento sustentável, no qual a agricultura Biológica assenta perfeitamente. Saliente-se neste caso a medida aprovada pelo governo Português de estímulo à Agricultura Biológica em Novembro de 2006 que prevê um investimento de 60 milhões de euros neste tipo de prática cultural [IDRHa06].