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A cultura da gerbera: características edafo-climáticas

AGRICULTURA BIOLÓGICA EM AMBIENTE CONTROLADO

4.3 Caracterização de algumas culturas em estufa

4.3.2 A cultura da gerbera: características edafo-climáticas

O género gerbera pertence à família das compostas, é constituído aproximadamente por 50 espécies, das quais a maior parte são originárias da Africa central e meriodional, repartindo-se o resto das espécies entre a China, Japão, Brasil. O seu habitat original apresenta clima tropical, com uma estação seca de três meses, temperaturas que oscilam entre ao 16ºC e 21ºC, grande luminosidade e solo de origem granítica com elevada proporção de areia. Nos princípios do séc. XX, obtêm-se híbridos entre as espécies G. Viridifolia e G. Jamesonii, as quais apresentam boas características.

É uma planta herbácea, vivaz, em roseta, raiz fasciculada, apresenta um rizoma (caule subterrâneo) de onde surgem coroas de folhas, a inflorescência em capítulo e está sustentada por um pedúnculo sem folhas [Mcdonald03].

ƒ Características edáficas

A natureza do solo influencia de uma forma decisiva o êxito da plantação. A gerbera exige solos ligeiros bem drenados e não calcários, estes factores contribuem para a formação de um sistema radicular bem desenvolvido, diminuição de problemas fitossanitários (podridão do colo) e acidentes fisiológicos (clorose fénica).

0 Semanas Doenças Pragas Myzus persicae 2 4

Fusarium oxysporum f. Sp. Dianthi

6 8 10 12 14 16 Botrytis cinérea Tetranychus cinnabarinus 18 20 Frankliniella occidentalis 24

ƒ Características climáticas • Temperatura

A temperatura para a cultura da gerbera é um factor limitante na produção, uma vez que quer as altas bem como as baixas temperaturas influem na qualidade floral (diâmetro do capítulo e comprimento do pedúnculo). O ideal é que as temperaturas oscilem entre 15ºC e 21ºC: Com uma temperatura mínima de 12ºC assegura-se uma produção rentável mas a temperaturas inferiores a 8ºC, a vegetação paralisa. Nos países do Norte da Europa recorre-se ao aquecimento do solo, de 20ºC a 15cm de profundidade, desta forma assegura-se uma boa produção invernal e obtém-se um maior nível de resistência à doença Phytophora

cryptogea, causada por um fungo.

Naturalmente que a utilização de aquecimento obriga a ter em conta a relação temperatura/luminosidade. Um excesso de luminosidade (intensidade e duração), pode reduzir a duração em água da flor cortada. Nestes casos deve pois recorrer-se a variedades de pedúnculos grossos.

Recomenda-se usar rede de sombreamento no verão.

Em resumo;

Temperatura Valores Efeitos

Temperatura mínima mortal < 2 ºC Danos irreparáveis

Temperatura mínima biológica 8 ºC Interrupção da actividade biológica

Temperatura óptima 15º- 21 ºC

Temperatura óptima de germinação 16- 18 ºC

Temperatura máxima biológica > 35 ºC Interrupção da actividade biológica

• Luminosidade

A gerbera é uma planta que necessita de grande intensidade de luz nas épocas produtivas. Durante as primeiras fases de desenvolvimento são necessárias temperaturas moderadas (12ºC de noite e 17ºC de dia) e dias curtos (8 horas de luz natural), estimulando-se deste modo a produção de ramos laterais e consequentemente a produção floral.

• Humidade relativa

Os valores de humidade óptimos oscilam entre os 75% a 90%. Valores superiores podem favorecer o aparecimento de doenças como a Botrytis. Recomendando-se um controlo exaustivo da ventilação durante os meses de Inverno já que a oscilação elevada entre o dia e a noite e entre diferentes períodos podem afectar a qualidade da flor, diminuindo a sua duração em jarra.

Valores de humidades superiores a 90% podem provocar manchas e deformações nas flores durante o Inverno. Sendo de referenciar que um dos problemas maiores na produção de gerbera é o da podridão das folhas, devendo evitar-se o excesso de humidade.

• Concentração de dióxido de carbono

A aplicação de dióxido de carbono favorece o desenvolvimento da produção de gerberas assegurando que a proporção oscile entre 300 ppm a 600 ppm.

4.3.2.1 Particularidades da plantação da Gerbera

A desinfecção do solo se necessária deverá realizar-se antes de estabelecer o cultivo (cerca de um mês antes da plantação). A plantação deverá efectuar-se em canteiros elevados (de 20cm de altura), separados entre si por passeios de 40cm de largura, deve realizar-se no nosso clima no mês de Abril (fig. 4.14).

As necessidades de água no verão para a cultura da gerbera são grandes e vão diminuindo à medida que chega o tempo frio, deve regar-se imediatamente após a plantação evitando-se correntes de ar.

O desfolhamento constitui um dos trabalhos que mais mão-de-obra requer, cujo objectivo principal é o de proporcionar suficiente arejamento e luz às plantas, suprimindo regularmente as folhas velhas do contorno da planta e algumas verdes do centro. As folhas devem ser cortadas com a mão com muita precaução para não danificar outras partes da planta e deve-se evitar deixar pedaços do pecíolo pois podem constituir focos de ataque de Botrytis.

A desfolha não deve ser realizada durante o Inverno, só limpar na Primavera, e desfolhar no verão se as folhas forem demasiadas.

Cronologia das operações;

Fig. 4.14 - Cronologia das operações na cultura da Gerbera.

4.3.2.2 Pragas mais frequentes

Aranhiço vermelho (Tetranychus urticae), folhas com manchas amareladas, na página inferior surgem teias de aranha.

Mosca branca, provoca graves prejuízos, as suas dejecções líquidas fortemente açucaradas favorecem o desenvolvimento de fungos sobre as folhas e consequentes deformações, levando à queda das folhas.

Tripes (Frankliniella occidentalis), este insecto provoca nas pétalas pontos ou raios brancos, as folhas apresentam manchas cinzentas a prateadas que surge quando as temperaturas e humidades podem ser elevadas dentro da estufa (fig. 4.15)

Sema

-4 -1 0 1 4

Operações

12 Lavoura e fertilização de fundo

Desinfecção do solo

Armação do terreno Rega gota -a- gota

Colheita

28 Plantação

Rega por aspersão

Colheita Descanso

4.3.2.3 Doenças mais frequentes

O sintoma mais comum associado ao aparecimento da Phytophthora cryptogea, é o facto da planta ficar murcha repentinamente pois o colo do rizoma e a base do pecíolo apodrecem. Os esporos deste fungo libertam-se sob a influência de um choque de frio, daí a necessidade de aquecimento do solo.

Podemos combater este fungo recorrendo a medidas preventivas tais como a escolha de boa estrutura para o solo, a boa drenagem, a escolha de material são ou a rega com água tépida. Pode ainda recorrer-se a um cultivo sem solo, uma vez que este fungo tem a capacidade de resistência a grandes profundidades (50-60 cm), profundidades que dificultam as medidas de controlo por desinfecção, dado tratar-se de um grande volume de solo. É comum a utilização na plantação de materiais inertes e sãos, tais como a lã de rocha ou perlite [Vidalie92].

A Botrytis cinerea, surge quase sempre na base das folhas quando existe muita humidade e elevada densidade de plantação na estufa. Causa o apodrecimento das folhas e manchas nas flores (fig. 4.15).

Como medidas de controlo temos uma estratégia que combina o controlo ambiental com as práticas culturais, ou seja, deve controlar-se a duração da humidade das folhas e a humidade relativa, mantendo-se para isso um adequado espaçamento entre as plantas, permitindo assim a circulação do ar que melhora a ventilação.

A Verticillium é uma doença própria de épocas invernais. Esta doença provoca a obstrução dos vasos da folha, que, ao não serem alimentadas, morrem. Normalmente tem início nas folhas exteriores e ao ser detectada deverá proceder-se no mais curto espaço de tempo à eliminação das folhas afectadas.

O Oídio, Erysiphae cichoracearum, propício em condições de clima seco, ataca sobretudo no segundo ano de cultivo e manifesta-se através do aparecimento de manchas esbranquiçadas e pulverulentas na página superior e inferior das folhas.

Na fig. 4.15 estão referenciadas as épocas do ano mais favoráveis ao aparecimento de algumas doenças e pragas para a cultura da gerbera.

Fig. 4.15 - Cronologia das pragas/doenças mais frequentes na cultura da gerbera.

Nas tabelas 4.3 e 4.4 resumem-se alguns parâmetros possíveis de gerar alerta de doença ou praga para as duas culturas em estudo, o cravo e a gerbera. Também se apresentam os valores de temperatura limite biológico cujo sistema tecnológico deve sinalizar com precisão pois podem colocar em causa todo investimento associado a uma produção.

No capítulo seguinte, apresentamos uma realização tecnológica que ao interpretar todas estas questões e de acordo com a especificidade da cultura em causa (conforme cronologia associada à probabilidade de ocorrência de doenças ou pragas Fig. 4.14) poderá, conforme já referido no ponto 4.2.2, associar-se às medidas de luta cultural directa e constituir mais um factor que promova a aplicação da agricultura biológica.

Tabela resumo de alguns dos parâmetros passíveis de gerar alerta de Algumas doenças e pragas comuns ao Cravo e à Gerbera

PARÂMETROS AMBIENTAIS DOENÇAS/ PRAGAS