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3 EXPLORANDO OUTRAS NOTAÇÕES NOS MESMOS ESPAÇOS E TEMPOS:

3.3 TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

3.3.3 A análise dos resultados obtidos

A última etapa dessa situação de aprendizagem foi de análise e interpretação dos dados coletados. Essa etapa foi feita individualmente, quando cada criança concluía o registro do gráfico vinha até a professora que fazia questionamentos sobre a quantidade de votos que cada cor recebeu, qual a primeira cor que recebeu mais votos, a segunda e assim sucessivamente. Também a professora questionou quais foram as três cores escolhidas e o porquê. Lopes e Coutinho (2009, p.67), afirmam que a interpretação dos dados em uma análise estatística também é subjetiva, de acordo com o contexto e concluíram que

A leitura de um gráfico ou de um resultado obtido por um determinado procedimento pode variar, na medida em que os elementos visuais interferem na interpretação do sujeito: duas pessoas distintas podem dar leituras distintas, porém correlatas, de uma mesma representação gráfica ou numérica de um conjunto de dados.

Embora cada criança registrasse e interpretasse os dados a sua maneira, todas conseguiram compreender que a cor rosa, roxa e vermelha foram as cores escolhidas e o azul ficou de fora conforme observamos no diálogo da professora e a aluna N, transcrito da documentação pedagógica:

Professora: Qual a cor que venceu? N: Rosa!

Professora: Quantas cores combinamos de usar? N: Três.

Professora: Quem ficou em segundo?

N: Esses dois, porque são do mesmo tamanho (mostrando para o roxo e o vermelho no gráfico)

Professora: Por que não usamos o azul? N: O azul foi o último.

Com essa situação de aprendizagem, desencadeada pelo projeto sobre os dentes, realizada no espaço da sala de referência, exploramos mais uma notação matemática, o tratamento da informação. Sabe-se que são muitas as possibilidades de se explorar essa notação e aqui apresentamos apenas uma, envolvendo o desenvolvimento do pensamento estatístico. Da mesma forma, encerramos a parte empírico-teórica dessa pesquisa, sabendo que poderíamos discutir outras situações de aprendizagem nos tempos e espaços da Educação Infantil, mas tratando-se de uma pesquisa de mestrado, deixamos para outra oportunidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse momento da pesquisa, das considerações finais, constitui-se uma das mais importantes etapas deste trabalho, pois é o espaço no qual o pesquisador apresenta suas conclusões sobre a temática investigada, destacando o percurso metodológico, as escolhas realizadas e o que foi significativo nesse processo, enfim, como a pesquisa foi construída e que contribuições pode trazer para a educação.

Acreditamos que a presente investigação poderá contribuir para que o leitor compreenda o complexo processo de aprender matemática que se inicia na Educação Infantil e também possibilitará algumas perspectivas para que os educadores repensem sua prática pedagógica, ressaltando que o processo de ensino aprendizagem neste nível de ensino pode ser ressignificado, desde que seja de interesse das instituições e um compromisso dos educadores envolvidos.

Com essa perspectiva, nessa investigação apresentamos uma proposta de significação de conceitos matemáticos na Educação Infantil, nos diferentes tempos e espaços do Colégio Cenecista Sepé Tiaraju, no município de Santo Ângelo, situado no noroeste do estado do Rio Grande do Sul. Buscamos ressignificar o paradigma de que a matemática é algo a ser “ensinado” pelo professor, apenas no espaço da sala de aula e nos tempos destinados para tal.

Além disso, tivemos o intuito de mostrar que as situações de aprendizagem, para que se tornem significativas para as crianças, neste nível de ensino, podem ser contextualizadas a partir das aprendizagens por projetos, onde o assunto do projeto surge do interesse dos alunos, buscando a partir daí a interação dos alunos e dos professores com o saber matemático. Assim, o conhecimento é visto como um todo e as diversas áreas do conhecimento são exploradas de forma não fragmentada, embora nesse estudo, tivemos a intencionalidade de focar a matemática.

Com o objetivo de compreendermos essa proposta, desde que essa pesquisa era apenas um desafio, uma ideia a ser discutida com a orientadora e os professores do curso de mestrado, tínhamos a clareza de que era necessário que dados empíricos fizessem parte da investigação e que esses seriam coletados nas aulas, por mim ministradas nessa instituição de ensino e o referencial teórico seria constante e articulado. Compreender, analisar e buscar respostas para as questões a serem investigadas, envolvendo a minha própria ação docente foi um desafio para mim, pois desempenhei ao mesmo tempo o papel de professora e de pesquisadora.

O foco central dessa pesquisa foi a significação dos conceitos matemáticos pelos alunos e a aprendizagem (ou não) desses conceitos, nos diferentes tempos e espaços da escola, a partir da proposição de situações de aprendizagens significativas e contextualizadas. Dentre os tempos e espaços tiveram especial destaque ao espaço da cozinha pedagógica e do ateliê e os tempos destinados as aprendizagens por projetos.

Cabe pontuar que quando falamos em espaços, estamos nos referindo não apenas a dimensão física da escola, com seus móveis e objetos, mas também às relações que se estabelecem entre os adultos e as crianças nesse ambiente, ou seja, ao espaço construído e ao espaço social. O mesmo ocorre com relação aos tempos, que não são apenas aqueles cronometrados através do relógio e do calendário, mas também a sequência de momentos em que as atividades acontecem na escola infantil, o tempo simultâneo no qual várias situações acontecem ao mesmo tempo e o tempo subjetivo, individual de cada criança sujeito.

A tentativa de fazer com que o leitor compreenda esse nosso entendimento de espaços e tempos, a proposta pedagógica da escola, quem são os sujeitos que estavam envolvidos na pesquisa, bem como o nosso interesse pela pesquisa, tornou-se imprescindível no primeiro capítulo da dissertação.

Nessa primeira etapa contamos um pouco da nossa história como estudante e professora, os saberes disciplinares, profissionais e experenciais que fazem parte dessa trajetória e as implicações pessoais com a pesquisa, ou seja, acreditamos que a nossa formação inicial e continuada e a prática profissional como professora da Educação Infantil e de Matemática na Educação básica, provocou o desejo de buscar novos conhecimentos e de repensar nossa prática pedagógica, através dessa investigação.

Com relação a proposta pedagógica e os sujeitos dessa pesquisa, acreditamos que a escola vê a Educação Infantil como um lugar para se educar as crianças de forma global,

formando cidadãos críticos, sujeitos com direitos e deveres, que aprendem a pensar e a conhecer o mundo que os cerca, que têm voz e vez e que interagem com os adultos e crianças que fazem parte da escola. Nesse sentido, a Educação Infantil é um “lugar de aprendizagens”, com espaços e tempos diferenciados, que envolvem a interação de adultos e crianças, no complexo processo de aprender e ensinar.

A segunda e terceira parte do texto foram marcadas pela interlocução entre os dados empíricos e teóricos, buscando respostas para a nossa questão a ser investigada. Isso foi possível através da proposição de ações didático-pedagógicas, nos diferentes tempos e espaços da escola, que desencadearam situações de aprendizagem envolvendo diferentes notações matemáticas, que talvez fossem mais difíceis de serem propostas ao grupo de forma descontextualizada e ao mesmo tempo, possibilitando várias situações para que os alunos significassem um mesmo conceito.

Os dados empíricos coletados através da vídeo-gravação e de recortes da documentação pedagógica foram denominados de episódios. Após iniciarmos uma discussão teórica sobre a significação de um determinado conceito, escolhíamos um episódio que exemplificasse e nos auxiliasse a compreender o processo de ensino e aprendizagem do mesmo e analisávamos teoricamente os dados. O mesmo ocorreu com os registros realizados pelos alunos, denominados de ilustrações. Acreditamos que dessa forma, foi possível atendermos uma demanda crescente nas pesquisas em educação matemática e em educação, ou seja, tornar a sala de aula o “palco” para compreendermos o processo de aprendizagem e também tornando os professores, professores-pesquisadores da sua própria ação docente. Além disso, acreditamos que durante a pesquisa, com o entrelaçamento entre os dados empíricos e o campo teórico, tentamos responder a nossa questão de pesquisa, dentro das limitações de um trabalho de mestrado.

Cabe salientarmos que nessa pesquisa utilizamos o termo “conceitos”, no sentido que foi investigado pela teoria sócio-histórica, ou seja, acreditando que na Educação Infantil são “pseudoconceitos”, mas não deixando de destacar a importância de iniciarmos a significação destes neste nível de ensino, pois irão evoluir com o tempo, para os conceitos propriamente ditos, através de processos de generalização e abstração.

Com esse olhar sobre os conceitos, propomos também a inclusão de diferentes notações matemáticas nos tempos e espaços da Educação Infantil, ou seja, a exploração de diversos objetos conceituais. Dentre as inúmeras notações possíveis analisamos nesta

pesquisa a notação de número natural e seus diferentes usos, a qual acreditamos ser a mais explorada pelos educadores nas escolas infantis. Além dessa, acreditamos que outras notações podem ser exploradas neste nível de ensino, tais como: a introdução do número racional (alguns aspectos), as relações espaciais e as formas geométricas que são previstas em lei (RCNEI), mas muitas vezes são “esquecidas” pelos educadores. Para finalizar, abordamos o tratamento da informação, que embora não esteja previsto em lei, já faz parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) da Educação Básica e de pesquisas envolvendo educadores da área, sendo considerado importante por possibilitar a leitura e a interpretação de dados no espaço em que vivemos.

Evidenciamos que, durante a análise sistemática dos episódios, além do apoio dos autores da didática da matemática e da base legal (RCNEI), para explicitar os conceitos envolvidos, buscamos entendimentos na teoria sócio-histórica visando compreender o que são conceitos, conceitos científicos e espontâneos, o papel da atividade compartilhada, da zona de desenvolvimento proximal, da imitação, do processo de internalização e da mediação através de símbolos e da linguagem oral na aprendizagem.

Para finalizarmos, acreditamos que o trabalho pode trazer contribuições à Educação Matemática, mais especificamente as pesquisas envolvendo a Educação Infantil. Além disso, proporcionou um crescimento pessoal e profissional a pesquisadora, que se lançará a novos desafios como profissional. Podemos afirmar também, que a presente investigação aponta uma série de perspectivas para que a partir dos dados empíricos coletados e do referencial teórico, novas pesquisas possam ser realizadas pela professora/pesquisadora e que essa foi o início de uma nova caminhada, num processo crítico e reflexivo de comprometimento com o ensino de qualidade, que respeita a criança como sujeito de suas aprendizagens e que busca compreender como as crianças aprendem.

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