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1.4 TEMPOS E ESPAÇOS COMO FORMA DE ENTENDER O TRABALHO

1.4.1 Os tempos e espaços no Colégio Cenecista Sepé Tiaraju

Considerando que a coleta de dados empíricos para a pesquisa ocorreu nos tempos e espaços da Educação Infantil do Colégio Sepé Tiaraju, falaremos sobre os tempos e espaços da escola que serão abordados com mais ênfase nessa pesquisa. Iniciaremos trazendo as aprendizagens por projetos, como proposta metodológica da escola, desencadeando situações de aprendizagem em outros espaços, como no ateliê e na cozinha pedagógica9.

A palavra projeto vem do latim projectu e significa “lançado”. Em Português tem vários sentidos como: ideia, desejo, intenção de fazer algo, plano, intento10. A partir da definição pode-se pensar que a palavra projeto está ligada a previsão de algo que será realizado. Mas aqui estamos falando em projetos pedagógicos, desenvolvidos pelos educadores, visando o desenvolvimento e a aprendizagem da criança. Em nossa escola utilizamos o termo aprendizagem por projetos11 e constitui-se um dos focos centrais da nossa proposta pedagógica. Essa concepção de projeto permite trabalhar com uma proposta interdisciplinar que envolve, desde as perspectivas dos vários campos do conhecimento, a leitura de necessidades e interesses apresentados pelos alunos.

Entendemos os projetos como uma espécie de aventura com valor educativo, que implica pesquisas, manipulação de objetos e excursões em locais da comunidade. As aprendizagens são ativadas pelo professor que também se coloca como aprendiz, buscando solucionar um problema. É um método de investigação visando à significação e contextualização das aprendizagens.

Nas aprendizagens por projetos, o assunto para o projeto pode surgir com a escuta do professor, que tem a intencionalidade de, durante as atividades do cotidiano, (brincadeiras, conversas informais com os educandos, na cozinha pedagógica, nos espaços externos da

9

Para o Colégio Cenecista Sepé Tiaraju a cozinha pedagógica e o ateliê são espaços significativos para as aprendizagens na Educação Infantil.

10

Dicionário Ruth Rocha (2000, p.499).

11

Termo baseado nos estudos de D’AGORD, Marta Regina. Processos inconscientes em situações

escola) perceber o interesse do grupo. O assunto pode ser decidido também em votações (no caso de surgir mais de um problema para ser investigado) ou por decisão do grupo em assembléia.

Um projeto (...) pode iniciar através de uma sugestão de um adulto, da idéia de uma criança ou a partir de um evento, como uma nevasca ou qualquer coisa inesperada. Contudo cada projeto está baseado na atenção dos educadores àquilo que as crianças dizem e fazem (RINALDI, apud EDWARDS, 1999, p.119).

A partir da temática escolhida pelo grupo, são formuladas as hipóteses e questões para pesquisa que são organizadas pelos professores, selecionadas as fontes de pesquisa e desenvolvido o projeto. No final, ou durante o projeto, pode-se socializar os conhecimentos com outros colegas e pessoas da escola ou com as famílias.

Os educadores, durante o desenvolvimento do projeto, têm o papel de orientar os alunos durante as pesquisas, sistematizar as questões que os alunos querem pesquisar e explorar as habilidades e competências previstas no currículo; de questionar, fazendo intervenções para que avancem nas pesquisas. As crianças trabalham em grupos, buscando dar sentido a suas pesquisas e experiências, levantando e testando hipóteses, chegando às suas conclusões.

Segundo Edwards et al (1999, p.38), “Os projetos oferecem a parte do currículo na qual as crianças são encorajadas a tomarem as suas próprias decisões e a fazerem suas próprias escolhas, geralmente em cooperação com seus colegas, sobre o trabalho a ser realizado”.

A matemática como uma área de conhecimento, também trabalhada na Educação Infantil, está presente nos diferentes tempos e espaços dos projetos, contextualizada, sempre que possível com os assuntos pesquisados. Através de situações problemas criadas pelos alunos, ou pelo professor, ou por ambos, e registrada nas diferentes formas possíveis, muitas vezes, iniciamos os projetos, explorando as primeiras noções de estatística, na definição dos temas, coletando dados e elaborando gráficos.

Algumas atividades que fazem parte da rotina de uma tarde de aula na Educação Infantil podem ser desencadeadas pelos projetos: situações de aprendizagem na cozinha pedagógica, no ateliê, brincadeiras, dramatizações, aulas de Educação Física. Cabe aqui destacarmos que nem todas as atividades são possíveis de serem contextualizadas pelos projetos, pois caso contrário faríamos isso de forma artificial e forçada.

A cozinha pedagógica é um espaço mediador das aprendizagens na escola. Além de fazerem as refeições, os alunos ajudam a preparar as receitas em pequenos grupos, a arrumar a mesa para os demais colegas, lavar e descascar frutas e também utilizam alguns eletrodomésticos. Este espaço de aprendizagem conta com uma professora que trabalha com um grupo de cinco ou seis alunos em cada dia. Este grupo é organizado conforme cronograma fixado no mural das salas e inclui alunos do grupo 1, 2 e 3 da Educação Infantil ou grupos heterogêneos com 2 ou 3 alunos de cada turma.

Em algumas situações planejadas intencionalmente a professora de referência também trabalha com o grupo na cozinha, em atividades que envolvem significação de conceitos, na preparação de alguma receita para datas comemorativas e também quando a situação de aprendizagem neste espaço foi desencadeada durante os projetos.

A cada dia, juntamente com os aromas, vapores, barulhos e movimentos da cozinha pedagógica, surgem experiências de transformação dos alimentos, questionamentos e problemas são solucionados com a mediação da educadora. As diversas áreas do conhecimento são exploradas neste espaço. A linguagem oral e escrita ao lerem uma receita com a professora e ao se comunicarem com ela, por exemplo. Questões relativas à alimentação correta, hábitos de higiene, cor, forma e textura dos alimentos, regras de etiqueta para lanchar num espaço de uso coletivo, entre outras linguagens que surgirem durante as situações de aprendizagem.

Segundo o Projeto Político Pedagógico do Colégio Sepé Tiaraju (2007, p.11), a cozinha pedagógica representa um espaço de ação, interação e reflexão sobre os mais diversos conhecimentos. Estes envolvem desde a alimentação saudável, a lógica dos ingredientes, as relações com os espaços e tempos de preparação dos alimentos, com os ingredientes e as porções como também, as relações destes com o corpo e com a saúde.

Esse também é um espaço rico para formação de conceitos matemáticos. Ao fazermos uma receita, por exemplo, podemos explorar os conceitos de quantidade, de inteiro e metade, entre outros. Quando se põe a mesa para os outros colegas lancharem, estabelece-se a correspondência biunívoca - um prato e um copo para cada colega. Na preparação do suco podem surgir situações problemas: Quantas laranjas vamos utilizar? Quantas xícaras de açúcar? E de água?

O ateliê é outro espaço de aprendizagem na escola e conta com um profissional de Artes, uma arte educadora. Esta professora executa o planejamento com os grupos ou trabalha

em pares com as professoras de referência, conforme a necessidade e a abrangência do trabalho.

O leitor deve estar se perguntando o porquê da existência do ateliê, qual a diferença desses trabalhos serem realizados na sala ou nesse espaço? Podemos afirmar que neste local as diferentes linguagens das crianças podem ser exploradas, onde adultos e crianças podem experimentar modalidades, técnicas, instrumentos e materiais alternativos, desenvolvendo habilidades e fazendo descobertas. Na sala de aula, além de termos a limitação do espaço físico, não contamos com o profissional especializado.

O PPP (2007, p.11) da escola em que realizamos nosso estudo, afirma que o ateliê12 é um espaço que possibilita relações entre as crianças, permitindo combinações e possibilidades criativas entre diferentes linguagens. Ambiente rico em materiais, provocações, ferramentas e pessoas com competência profissional para documentar o que se faz, como se faz e o que desejam expressar.

Da mesma forma que na cozinha pedagógica, o trabalho no ateliê é realizado em pequenos grupos entre 5 e 8 crianças (dependendo da atividade). Os registros aí realizados são planejados em sala de aula com os grupos, a professora de referência ou com a atelierista13. Este “lugar” de aprendizagem se destaca por ter como objetivo executar os trabalhos que são desencadeados nos projetos desenvolvidos por cada turma e por explorar a singularidade dos alunos nas suas representações.

Nesse espaço, muitas situações envolvem a matemática: as formas geométricas empregadas nas construções, as cores e os espaços a serem utilizados no papel, os tamanhos e quantidades. Vigotski (2008) nos lembra que o pensamento e a linguagem operam juntos para a formação de ideias, planejamento e ação. Dessa forma, enfatizamos a importância do diálogo e das diversas funções da linguagem no desenvolvimento cognitivo.

Após trazermos os conceitos de tempo e espaço, bem como os principais tempos e espaços da escola que serão de fundamental importância na nossa coleta de dados da pesquisa, no próximo item, focaremos a atenção nas relações que a criança da Educação Infantil estabelece com a Matemática.

12

Nome dado a sala de aula de artes, onde as múltiplas linguagens são exploradas.

13

1.5 A CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS RELAÇÕES COM A