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3 EXPLORANDO OUTRAS NOTAÇÕES NOS MESMOS ESPAÇOS E TEMPOS:

3.2 AS FORMAS GEOMÉTRICAS

3.2.3 Comparando formas geométricas

Smole et al (2003, p.20) esclarece que “A linguagem geométrica, no que diz respeito a nomes de formas e termos geométricos específicos, desenvolve-se e é assimilada na ação,

principalmente através de atividades escolares”. A partir dessa afirmação fica claro que a proposição de situações de aprendizagem diversas, nos tempos e espaços da escola, auxilia a criança a desenvolver esses conceitos incorporando ao seu vocabulário uma linguagem geométrica. A mesma autora defende que esses conceitos/palavras sejam explorados com a criança a partir de uma contextualização, como por exemplo, o contexto das aprendizagens por projetos – Projeto estudando sobre os dentes.

O episódio 14 nos auxilia a compreender essa contextualização e, ao mesmo tempo, aborda a exploração dos mesmos conceitos trabalhados em outra situação de aprendizagem, a comparação entre as formas geométricas e suas propriedades. Esse episódio foi recortado da aula do dia 9/7/2009, que foi desencadeada pelo projeto “Estudando sobre os dentes” e desenvolvida no espaço do ateliê. Neste dia as meninas foram para a aula de balé clássico e os meninos ficaram responsáveis de confeccionar o dado, para que fosse possível jogarmos o “jogo dos dentes” construído pelo grupo. O dado seria utilizado para sabermos quantas casas avançar ou voltar na trilha dos dentes. Essa aula teve a participação das professoras 1 e 3 e dos meninos A, F, G, L e V.

Episódio 14: A construção do dado

(1) Prof.ª 1: O que vamos fazer com essa caixa? (mostrando uma caixa de papelão no formato de um cubo)

(2) V: Um quadrado gigante. (3) F: Um dado.

(4) Prof.ª 3: Essas faces são iguais ou diferentes?

(5) G: São iguais, menos o desenho (identifica os lados da caixa que possuem desenho).

(6) Prof.ª 1: O V falou que essas faces se chamam quadrados? (7) A: Porque é quatro linhas.

(8) (Professora e alunos contam o número de lados) (9) Prof.ª 1: Por que não se chama retângulo? (10) G e F tentam explicar...

(11) V: Retângulo é assim oh (desenhando com o dedo na mesa).

(12) Prof.ª 1: Você quer dizer que tem lados mais compridos. Esses lados são do mesmo tamanho?

(13) A: Sim, né G. (14) G: aha.

(15) Prof.ª 3: Trouxe uma cordinha para nós medir se são do mesmo tamanho. (16) (Prof.ª 3 começa a medir e pede o auxílio das crianças. Prof.ª 1 solicita que L também participe, medindo um dos lados. Constatam que todos os lados têm o mesmo tamanho).

(17) Prof.ª 1: Então, quantas linhas do mesmo tamanho tem o quadrado? (18) G: Quatro.

(19) Prof.ª 1: Antes de jogar como dado, o que está faltando? (20) F: Pintar.

(21) G: Tem que por um pano.

(22) (G levanta e pega o TNT preto que está recortado na forma de quadrados e diz: - tem que ser preto igual)

(23) Prof.ª 1: Quantos quadrados vamos precisar? (24) Grupo: seis.

(25) Prof.ª 1: O que mais precisamos colocar no dado? (26) Grupo: Números

(27) Prof.ª 1: O grupo dois pode jogar e não saber ler os numerais. O que mais tem num dado que podemos colocar?

(28) G: As bolinhas.

(29) Prof.ª 1: L, como se chamam as bolinhas? (30) L: Círculo.

(31) Prof.ª 1: Vamos fazer círculos grandes como aquele dia? (32) Grupo: Pequenos.

O episódio inicia com a professora 1 questionando o que iriam fazer com a caixa que trouxe para a aula. O aluno V identificou que as faces eram quadradas e então disse que era um quadrado gigante, mas F afirmou que iriam fazer um dado, pois fora planejado na sala de aula. Observamos que o aluno V (linhas 6 e 11) após a aula anterior no ateliê e as atividades desenvolvidas na sala de aula, demonstrou que significou o conceito de quadrado e retângulo bem como, algumas diferenças entre eles, pois identificou as faces do dado como quadrados e mostrou através de gestos o que era um retângulo, justificando o que afirmamos anteriormente a respeito da importância da significação dos conceitos ocorrer em situações de aprendizagens diversas em diferentes tempos e espaços.

Juntamente com o aluno V, o restante do grupo também foi desafiado a pensar porque o quadrado não era um retângulo, através dos questionamentos das professoras e observamos que um colega tenta auxiliar o outro com as explicações (linhas 9 a 14). Vigotski pesquisou sobre o papel da interação social na aprendizagem e no desenvolvimento das funções mentais, inicialmente em relação ao adulto (professoras) e a criança, mas seus seguidores continuaram seus estudos e incluíram na atividade grupal também as interações entre os grupos de alunos. Rivina, um de seus seguidores após uma pesquisa com crianças concluiu que

(...) o sucesso da aprendizagem escolar depende, em grande parte, da possibilidade de se levar os alunos a realizar atividades compartilhadas. (...) o que se desprende de todos esses estudos é que a atividade compartilhada ativa o desenvolvimento cognitivo e favorece a aquisição do conhecimento. (1991, apud MOYSÉS, 2007, p.57).

Cabe aqui esclarecer que não se trata de qualquer atividade em grupo, pois é necessário que a atividade proposta desafie e envolva o grupo. Pensando nisso, a professora 3 propôs ao grupo um novo desafio, medir com uma cordinha se realmente os quatro lados do quadrado tem medidas iguais (linhas 15 e 16) e concluíram que um quadrado tinha quatro lados do mesmo tamanho. Após essa discussão surgiu outro problema, tapar os desenhos que apareciam na caixa de papelão em forma de cubo e para isso utilizaram novamente o conceito de quadrado e argumentaram o porquê de sua utilização e contaram o número de faces quadradas necessárias para colar no dado (linhas 19 a 24).

Smole et al (2003), acredita que “A maneira como propomos o desenvolvimento do trabalho com geometria permitirá também a formação de várias habilidades pelos alunos, entre elas as visuais, (...) e de argumentação lógica”. As habilidades visuais envolvem as observações e explorações visuais levando a tirar conclusões sobre as propriedades dos objetos. Ao desenvolver as habilidades visuais as crianças começam a perceber as propriedades dos objetos, analisando e comparando as figuras e sendo capaz de produzir uma argumentação lógica a respeito dessas propriedades e resolver problemas. Podemos perceber no decorrer das discussões sobre figuras e formas a evolução dessas habilidades nas crianças, sendo que no parágrafo anterior já foram capazes de argumentar porque era necessário utilizar um quadrado e não um retângulo para cobrir as faces do cubo.

Na parte final desse recorte de uma aula (linhas 25 a 32), observamos que outro conceito já explorado anteriormente surge quando o grupo decide utilizar círculos para representar as quantidades no dado e estabelecem comparações entre o tamanho do círculo confeccionado para o jogo dos dentes e o que vai ser utilizado para o dado. Assim, na Educação Infantil, as crianças podem explorar os conceitos envolvendo as formas geométricas, fazendo comparações entre elas e identificando suas propriedades.

Neste capítulo, nos propomos a explorar outras notações que não somente as envolvendo o número, nos diferentes tempos e espaços da escola. Escolhemos as notações que foram surgindo no decorrer das aulas filmadas e transcritas, para serem discutidas e analisadas teoricamente e, além das notações de espaço e forma, traremos para finalizar o tratamento da informação.