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A análise de entrevistas: Em busca dos elementos constitutivos

5. Análise dos dados

5.1. A primeira oficina de discussão via chat

5.1.2. A análise de entrevistas: Em busca dos elementos constitutivos

Embora os alunos tivessem realizado a edição do AL1 buscando seguir o modelo geral das entrevistas, alguns elementos não foram incluídos neste primeiro momento da rescrita do texto original. Elementos como abertura, contextualização dos entrevistados, introdução e citações de trechos da entrevista como apontados por Hoffnagel (2004) ainda não haviam sido observados até então.

Com base nos pressupostos da abordagem comunicativa, que assume como objetivo maior de estudo de uma língua levar os alunos a se comunicarem (Canale, 1983; Richards e Rodgers, 2001; Larsen-Freeman,2003), propusemos uma discussão sobre os elementos que normalmente eram encontrados em entrevistas de jornais e revistas através de um questionário39.

Para tanto, levamos em consideração as competências comunicativas descritas por Canale (1983) por observamos como a negociação de sentidos entre os participantes de uma interação verbal resulta em uma resposta positiva durante a análise das entrevistas.

Os resultados obtidos através do questionário indicaram que em todos os grupos a análise de textos-base teve um efeito positivo, já que o resultado foi a criação do título, da abertura, da contextualização e de citações de trechos da entrevista. Apenas um grupo incluiu um subtítulo, justificado pela presença de uma aluna graduada em jornalismo no grupo.

Destacamos, de cada grupo, estes elementos, com o intuito de apontarmos suas características composicionais, como podemos ver nas tabelas 3, 4 e 5 abaixo.

Grupo A:

Título da entrevista

Contextualização da entrevista introduzindo o conteúdo principal da mesma.

Abertura da entrevista incluindo o que houve durante a entrevista, os participantes, o instrumento utilizado e o comentário indicando que a entrevista não está na

tegra (trecho sublinhado). ín

A teacher of english interviwing his students.

Students of English talking about movies, grammar doubts and the best way to learn English.

Last Saturday, a Senac’s teacher of English, called P, and his students (An:, cfm, Lns and Apg) had a virtual class on Messenger.

The agreement was take some students’ doubts using internet, but it was a litllte bit different. They talked about movies, doubts, and the best way to learn English. Below you’ will have the best moments of the conversation.

“but do you think it´s wrong to think in Portuguese?”

Citação de um trecho da entrevista chamando atenção para uma pergunta que é comum entre os alunos estudantes de uma língua estrangeira.

Tabela 3: Elementos constitutivos da entrevista do grupo A

A observância dos elementos presentes na entrevista pelos alunos apresentou um resultado muito rico em conteúdo. Inicialmente o título nos diz que a entrevista aborda assuntos relacionados à educação, em particular o aprendizado da língua inglesa, já que é um professor de inglês entrevistando seus alunos.

A expectativa do leitor sobre o assunto é confirmada pela contextualização, pois são os alunos e o professor falando sobre filmes, dúvidas de gramática e a melhor maneira de aprender. O complemento desta contextualização é a abertura que indica o meio utilizado, a data e os participantes. O interessante neste grupo foi a indicação de que a entrevista contém apenas os melhores momentos, o que denota a consciência deste grupo sobre como as entrevistas são feitas, i. e., através da edição das partes mais importantes. De acordo com Hoffnagel (op. cit., p. 189) “[...] essas marcas são índices ou dicas que orientam a

• Grupo B:

Título e contextualização da entrevista juntos, dando a idéia geral do que houve durante a mesma.

Abertura da entrevista incluindo o que houve durante a entrevista, os participantes, o instrumento utilizado. A inclusão da data indica que este dado é relevante para situar os leitores sobre quando foi realizado o chat. Neste caso como a entrevista não é parte de uma revista que sempre traz a data de publicação, foi considerada necessária a inclusão de tal informação para este grupo.

E-class: Teacher gives grammar class by the internet software computer, MSN Messenger.

The teacher of Senac, P, has given a different class for his students. He innovates the kind of learning grammar instructions. On March, 12, the students Aq, Apg, An and Lns asked their questions using instant chatting software, the MSN Messenger.

“We have to work to get to think and speak fast in English”

Citação de um trecho da entrevista indicando uma ansiedade bastante corrente entre os alunos de uma língua estrangeira.

Tabela 4: Elementos constitutivos da entrevista do grupo B

Neste grupo, o título e a contextualização da entrevista vieram juntos. Existe a semelhança com o grupo A sobre o meio utilizado, contudo os alunos afirmam que houve uma aula, e não uma entrevista. A abertura confirma a contextualização através da repetição do termo aula. Aqui há inclusão da data, dos participantes, qual software foi usado e do conteúdo da aula.

Como para os alunos deste grupo o bate-papo foi uma aula, é justificável o trecho sobre instruções gramaticais e alunos fazendo perguntas. Neste ponto entendemos que o fato do texto ter sido tão curto foi determinante para que os alunos considerassem o bate-papo como aula. A objetividade do grupo em reduzir as 25 páginas do AL1 em apenas 3 definiu a forma como o título e os outros elementos constitutivos do gênero entrevista foram elaborados.

• Grupo C:

Título e contextualização da entrevista juntos. Apesar de vago, este indica que novas formas de aprendizado serão tratadas durante a entrevista.

Abertura da entrevista incluindo o que houve durante a entrevista, os participantes, o instrumento utilizado.Este grupo foi muito objetivo, apresentando a entrevista muito mais na forma de um resumo e não de um texto que chamasse a atenção do leitor. Contudo, obediência aos elementos da entrevista foi seguida.

Interactive class: one more way of learning

This interview was a meeting between a teacher and his students. Using Microsoft MSN Messenger, the teacher P and his students An, Cfm, Apg and Lns: took some doubts off about the English language as well as other things.

“when will we use the present continuous?” Citação de um trecho da entrevista mostrando o tipo de pergunta feita durante a mesma.

Tabela 5: Elementos constitutivos da entrevista do grupo C

O grupo C foi o que demonstrou maior objetividade durante a inserção dos elementos do gênero. Todavia, tal objetividade, para o gênero em questão é um ponto negativo, visto que não há qualquer marca textual que chame a atenção do leitor, com exceção da citação.

O título é vago e dá margens a um tipo de entendimento sobre interação que não está limitado somente ao ambiente virtual. Apenas durante a abertura podemos compreender que o termo interativo usado no título refere-se ao meio usado para a realização da entrevista, o MSN

Messenger. Os participantes e o assunto foram incluídos muito mais como um sumário do que

houve do que propriamente um encontro virtual onde pessoas estiveram interagindo sobre como aprender inglês usando um software de comunicação instantânea. A citação suscita curiosidade, mas muito limitadamente, já que em qualquer gramática da língua inglesa o leitor pode encontrar a resposta.

A “constelação de eventos possíveis, marcada por perguntas e repostas” como apontada por Hoffnagel (2004) nos permite afirmar que o objetivo da reescrita do AL1 em um outro gênero - a entrevista - teve sucesso dentro da atividade proposta. Os elementos criados a partir da discussão em sala por meio do questionário e a reescrita resultaram em três entrevistas, de estrutura e organização semelhantes às encontradas em jornais e revistas, como podemos ver nos anexos 3, 4 e 5.

Verificamos neste ponto que a mediação através da busca do desenvolvimento da competência comunicativa foi bastante eficaz. Isto por que os elementos apontados acima bem como o texto produzido foi o resultado da discussão via questionário, posterior à análise do

gênero entrevista. O processo de retextualização e reescrita incluiu a presença de um monitor, sendo este representado pela figura do outro (ou dos outros) influindo na atividade realizada pelos grupos.

O conhecimento do gênero entrevista pelos alunos foi determinante durante a sua organização geral, pois a materialização do texto final só foi possível através do conhecimento das estruturas sócio-comunicativas já conhecidas, que por sua vez é resultante, também, da experiência de leitura do gênero fora do ambiente escolar. É neste ponto que distinguimos a necessidade de um trabalho na escola que inclua a noção de gênero em uma escala crescente, partindo sempre daqueles que são mais familiares aos alunos até atingirmos gêneros mais complexos em termos de elaboração, como os artigos de opinião.

Desse modo acreditamos que não somente a prática de produção textual possa ser mais constante, mas também o trabalho de metalinguagem no momento de revisão e reescrita dos textos produzidos. O trabalho de metalinguagem torna-se relevante a partir do momento que este propicia um maior domínio da norma culta da língua por parte dos alunos.