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2. A mediação no processo de aprendizagem

3.1. Um gênero em destaque: O chat

O chat ou bate-papo eletrônico28 é um gênero relativamente novo em nossa sociedade. Isto se deve à dificuldade de acesso a computadores pela maioria da população, algo que de certa forma vem sendo minimizado, mas que ainda está longe de ser o ideal. O valor de um computador é altíssimo para as camadas da sociedade que vivem e sobrevivem com um salário mínimo, ou menos do que isso, e locais como cyber cafés oferecem o serviço de acesso à internet por um preço relativamente alto, sendo acessível apenas aos que possuem renda compatível para utilização desta tecnologia. No ambiente escolar, a situação não é tão diferente. Escolas particulares possuem, na maioria das vezes, um laboratório de informática razoavelmente bem equipado, no qual os alunos podem fazer pesquisas e, claro, bater papo pela internet. Contudo, escolas públicas são as que ficam à margem desta tecnologia, pois não são muitas as escolas estaduais ou municipais que possuem um laboratório equipado adequada e satisfatoriamente que atenda às necessidades dos alunos.

Além disto, existe a não familiaridade de alguns professores, da rede pública ou privada, com a tecnologia computacional como um todo, mais especificamente a internet. Muitos professores ainda não sabem usar a internet de modo eficaz, tanto em beneficio próprio quanto em benefício dos alunos i. e., com fins educacionais. Com o chat não é diferente, já que, para participar de bate-papo eletrônico, é preciso conhecimento de como navegar na internet bem como das ferramentas disponíveis para a conversação virtual.

Antes de falarmos do chat como gênero textual, é preciso que alguns aspectos relativos à utilização desta ferramenta sejam tratados, visto que é necessário que se diferencie o que vem a ser um chat realizado por meio de um software próprio e um chat em uma sala de bate-papo. A distinção se presta muito mais a esclarecimentos de como usar tal tecnologia do que propriamente descrever o seu uso, ainda que para acontecer o segundo, não seja preciso saber a respeito do primeiro.

28 De agora em diante iremos nos referir a chat e a bate-papo eletrônico como sinônimos. Não faremos distinções

Das várias maneiras existentes de se conversar pela internet destacamos as salas de bate-papo, os programas específicos para bate papo, softwares desenvolvidos para que se fale ao telefone utilizando o computador em conjunto com um kit multimídia (microfones e caixas de som) e, é claro, o próprio e-mail. Este último não permite a conversa em tempo real (conversação síncrona) ao passo que os outros permitem que conversemos como se estivéssemos diante da outra pessoa, ou como se estivéssemos falando ao telefone, caso do

software Skype (www.skype.com) ou de versões mais recentes do MSN Messenger da

Microsoft, do Yahoo! Messenger, do site de busca Yahoo! e do programa Google Talk do site de busca Google (www.google.com). Esses softwares permitem a realização de chamadas telefônicas via internet ao preço de uma ligação local, o que é uma enorme facilidade, pois podemos conversar com um parente ou amigo na Iugoslávia, pagando o valor dos pulsos gastos localmente. Inclua-se também os serviços oferecidos por alguns portais da internet que permitem a mesma forma de comunicação, tal é o caso do site UOL (www.uol.com.br).

Araújo (2004) descreve três ferramentas para conversação na web em seus aspectos operacionais: o IRC, o ICQ e as salas de bate-papo, enfatizando o processamento de um chat através de uma sala de bate-papo do portal UOL e de seus recursos de texto, som e imagem. O autor afirma que “[...] embora o chat se assemelhe muito aos gêneros primários, não podemos

rotulá-los como tal. Por outro lado, se a escrita, [...] complexifica um gênero, poderíamos também dizer que há semelhanças evidentes do chat com os gêneros secundários”. (p. 109)

Tal referência aos gêneros primários e secundários é tomada de Bakhtin (1992) como atesta o próprio Araújo (2004, p. 108). No entanto, não podemos considerar que o chat seja uma transmutação de um gênero primário que ocorre dentro do espaço virtual como afirmado por Pagano (apud Araújo, p. 109). Com o avanço das novas tecnologias na área de comunicação, o gênero chat assume características próprias que vão além da transmutação de um gênero existente a outro. Podemos, como mencionado anteriormente, incluir o chat como um dos modelos de hipertextos existentes (Xavier, 2004). Para que possamos entender melhor tal afirmação, devemos incluir aqui alguns outros pontos que elevaram o chat a um gênero particular.

Comecemos por definir as salas de bate-papos virtuais como sendo locais específicos que funcionam dentro de um website e são organizadas ou de acordo com assuntos, no caso de um portal, ou de acordo com o tema do site. No caso do site do UOL, este possui o Bate-Papo UOL, cujas as salas são organizadas de acordo com o tema: idade, assunto, fotografias, vídeos de sexo, etc. Já o site católico da Comunidade Canção Nova (www.cancaonova.com.br) possui salas de bate-papos de acordo com os assuntos relacionados ao catolicismo e serviços

oferecidos pelo portal: rádio canção nova, PHN (sigla de Por Hoje Não), TV Canção Nova, entre outros. Este tipo de comunicação não exige software próprio; é preciso apenas uma conexão à internet e um navegador qualquer, já que toda a conversação é feita por meio de uma linguagem de scripts (instruções da linguagem de programação utilizada que permite ao

software realizar a ação determinada pelo programador) que se dá no próprio servidor da

empresa. O anonimato é característico, podendo o usuário “entrar” na sala com seu próprio nome ou com qualquer um que desejar.

Em alguns portais é possível enviar sons, imagens e emoticons29 sem haver a necessidade de nenhum software instalado no computador que sirva a este fim; a própria sala de bate-papo já é responsável pela linguagem de programação que permite esses elementos semióticos.

Um outro detalhe das salas de bate-papo é que em alguns portais só é permitida a entrada na sala aos assinantes do provedor de acesso à internet. Isto limita, de certa forma, quem pode participar de que sala. Quem não é assinante, não poderá, por exemplo, entrar em uma sala exclusiva para teclar/conversar com uma personalidade convidada pelo site, contentando-se apenas em “olhar” o conteúdo da conversa por um período de tempo determinado.

No caso dos softwares específicos utilizados para chats, é preciso mais do que a conexão e um navegador. O usuário precisa possuir um endereço de e-mail e o software, não sendo necessário o navegador. No caso do MSN Messenger é preciso uma conta do Hotmail, serviço de e-mail gratuito oferecido pela Microsoft; o Yahoo! Messenger funciona do mesmo modo, como também o Google Talk. Apenas o Skype não requer um endereço de e-mail; basta apenas que se crie uma identidade, independente de endereço de e-mail. Existe uma gama de aplicativos de bate-papos além dos mencionados acima: Trillian, Odigo, Miranda, AOL, ICQ,

Gaim, aMSN, entre outros. Há ainda os que se destinam ao uso particular em intranets ou redes

internas, mais comuns em grandes empresas, cujos computadores são interligados, sem necessariamente estarem conectados à internet.

Os softwares destinados aos chats na web possuem ferramentas que incluem texto, voz,

emoticons, envio de imagens ou outros tipos de arquivos, busca de música, busca de imagens,

verificação de perfil do usuário interlocutor, jogos on-line individuais, em pares ou em grupos, acesso à web cams ou mini-câmeras. Tais ferramentas fazem parte do ato comunicativo pela

29 Emoticons são combinações de caracteres com a finalidade de se expressar emoções. Há algum tempo tal

combinação era limitada aos próprios caracteres, por exemplo: ; ) – para expressar “piscando o olho”. Atualmente, tal combinação gera figuras, chamadas emoticons como esta: - gerada pela combinação das teclas : e ). É um recurso semiótico para expressar a emoção através do texto escrito.

web, não podendo haver dissociação entre os recursos disponíveis no software e a

caracterização do gênero chat, já que todos os elementos entram no ato da conversação virtual. Temos então um gênero textual que vai além dos modelos existentes na comunicação como concebida até o momento. A única coisa que não podemos fazer ao bater papo na internet com tais programas é tocar, mas ouvir, ver e falar; enviar “beijos virtuais”, chacoalhar a janela do interlocutor, mostrar fotos, compartilhar arquivos, são possíveis nesta forma de interação verbal.

Os aplicativos mencionados acima são, em sua maioria, freeware, ou de licença livre de uso. Isto implica dizer que qualquer pessoa pode baixar e usar o software sem ter que pagar nada por isto. Isto é uma grande vantagem para a educação, visto que uma escola que possui três unidades, com 30 computadores em cada unidade, não precisa pagar nada para usar o

software, havendo uma economia considerável no que se refere ao pagamento das licenças.

Além de ser usado para o lazer, o chat pode servir para fins educacionais. Tomemos como exemplo uma franquia de cursos que deseja realizar um projeto de pesquisa envolvendo alunos de outras unidades. Pode-se realizar um trabalho entre os alunos das diferentes unidades no desenvolvimento de um projeto interdisciplinar, que envolva a discussão sobre Billy, the

Kid, personagem da História dos Estados Unidos. Muita informação pode ser encontrada em sites e assim os alunos pesquisariam na internet e depois discutiriam através do chat quais

pontos seriam mais relevantes para incluir no projeto, um dossiê, por exemplo. Discutiremos o uso dos bate-papos eletrônicos nos contextos educacionais a seguir, buscando enfatizar o desenvolvimento da habilidade escrita e do processo de transformação do gênero no processo de retextualização.