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4. Metodologia

4.3. Instrumentos para coleta de dados

Foram realizadas duas oficinas de discussão virtual fora do horário e dias de aula. Ambas aconteceram aos sábados, no período da tarde. Os arquivos de log resultantes da conversa foram gravados em CD-ROM e impressos posteriormente. Para cada AL, foram tiradas fotocópias, sendo o primeiro arquivo trabalhado em grupos de três alunos, para a edição posterior. Esta edição foi retextualizada até que os alunos chegassem à primeira versão da entrevista. O segundo AL foi fotocopiado em número igual ao número de alunos presentes no curso e, em duplas, os alunos começaram a intervir no processo de retextualização.

Para o trabalho com o primeiro AL, algumas revistas em português e inglês foram utilizadas, sem nenhum critério em especial de seleção exceto o fato de todas possuírem

entrevistas de formatos diferentes. O segundo AL teve como suporte dois textos do tipo tutorial, retirados da internet (ver bibliografia), onde um passo-a-passo de como elaborar um editorial33 era explicado.

4.3.1. A oficinas de discussão virtual: o chat

Após o convite para participar do chat, ficou determinado que o melhor horário para se discutir seria no sábado das 16h às 17h. O tema a ser discutido durante a primeira oficina seria relacionado às dúvidas de gramática que os alunos pudessem ter. Tal tema foi escolhido devido a uma necessidade do grupo em esclarecer alguns pontos de sintaxe que para eles ainda não estavam consolidados. Para tal oficina, utilizamos o software MSN Messenger da Microsoft, versão 7.0.

Durante a primeira oficina apenas quatro alunos participaram da discussão, pois o

software utilizado recusou a conta de e-mail de uma das alunas, impossibilitando sua

participação na discussão. Outros participantes, ex-alunos e colegas de trabalho do pesquisador, também participaram da discussão; porém, pelo fato de não ter sido possível uma interação coesa entre todos os participantes, os que não eram alunos saíram da conversa. Este foi um momento caótico, pois algumas regras de discussão através do chat não foram seguidas (cf. cap 3, cit. Abreu, 2001), ocasionando perda de tempo e perda do objetivo da oficina.

Esta primeira oficina resultou em um arquivo de log de 25 páginas. Após a edição do AL pelos grupos, ficaram três textos de 3, 7 e 10 páginas, no qual foram inseridos os elementos constitutivos da entrevista, estudados previamente à retextualização.

Na segunda oficina, três alunos iniciaram a discussão, mas apenas dois prosseguiram devido a um problema de conexão com a internet de um dos alunos. Como o tema também tinha sido anteriormente escolhido e não houve interferência de outras pessoas, as perguntas foram mais direcionadas assim como as respostas das duas participantes finais. O horário da discussão foi modificado por conveniência dos próprios alunos e o software que usamos foi o

Trillian da Cerulean Studios, versão 3.0. A troca de software foi necessária para evitar que a

conta de e-mail de uma das participantes fosse novamente recusada (a troca do software

33 O tutorial mostra como escrever um artigo de opinião embora o título do artigo refira-se a editorial. Preferimos

adotar o nome “artigo de opinião” ao invés de editorial por sabermos que este último relaciona-se muito estreitamente com o tipo de produção textual presente em revistas e jornais, o que de certo modo causa uma institucionalização/restrição do gênero. Para evitarmos esse estreitamento de conceitos, utilizamos a idéia de um texto dissertativo-argumentativo geral, ou seja, o artigo de opinião. Contudo, durante nossa análise, ao nos referirmos à editorial, na maioria dos casos, queremos que este seja entendido como artigo de opinião.

permitiu que esta aluna pudesse participar desta vez, algo que não foi possível na primeira oficina).

Esta segunda oficina gerou um AL de apenas oito páginas. Todos os alunos da turma receberam uma fotocópia do arquivo de log, a fim de poderem identificar os argumentos e realizarem a retextualização do AL para a produção do gênero artigo de opinião. Junto com a fotocópia, foram entregues os dois textos que serviram de base para a escrita do gênero (os tutoriais).

Na primeira versão do artigo de opinião produzido a partir dos AL, os alunos formaram duplas e então iniciaram o processo de intervenção na escrita do outro. Ou seja, cada dupla leu o trabalho do outro e a partir das sugestões e comentários, procederam a retextualização do texto inicial. Este procedimento foi realizado por duas vezes, uma em cada semana do curso.

4.3.2. A retextualização e a reescrita dos textos

Para cada oficina virtual realizada, houve um momento durante as aulas onde as características de cada gênero textual a ser produzido a partir do AL foram estudadas por meio de questões abertas e discussões a respeito de cada um, todas baseadas em um questionário, antes de ser iniciada a reescrita.

Para a primeira aula após a oficina, os alunos, em grupos de três ou quatro, observaram entrevistas em cerca de 5 revistas e fizeram um levantamento de suas características organizacionais. Os grupos discutiram as semelhanças e diferenças encontradas nas entrevistas e listaram as mais comuns em todas elas.

O questionário que mencionamos foi escrito no quadro para que os alunos pudessem se guiar ao realizarem as observações. Tal questionário teve por objetivo consolidar o conhecimento que os alunos já possuíam, mas que ainda não estavam conseguindo pôr em prática de maneira efetiva. Não houve entrega das respostas e sim uma discussão com todo o grupo a respeito das dúvidas existentes para esclarecimento. Este questionário encontra-se na seção de Anexos.

Tendo em mãos as características das entrevistas em conjunto com as respostas discutidas através do questionário, os alunos em seus respectivos grupos, editaram o primeiro AL, retirando todos os trechos que não seguiam uma seqüência adequada na elaboração de uma

entrevista, adicionando uma introdução, o título e o “olho” ou citação (Hoffnagel, 2004)34. Cada aluno então recebeu uma cópia daquilo que havia sido produzido, a fim de verificar possíveis falhas e/ou erros de gramática. Este segundo momento teve uma intervenção menor por parte do grupo e do professor-pesquisador, visto que cada um teve que proceder às correções individualmente.

Na segunda aula depois da segunda oficina, o procedimento foi diferenciado. Primeiramente os alunos receberam uma cópia do segundo AL, realizaram uma leitura superficial utilizando a técnica de skimming, e em seguida três editoriais35 foram trabalhados em sala através de transparências e de um questionário para a identificação das características do gênero. O objetivo era levar os alunos a identificarem os argumentos presentes no texto, através das características e do modo como estes estavam organizados no gênero em questão.

Feito isto, a fotocópia dos tutoriais de como escrever um editorial foi distribuída. Cada aluno teve que localizar os argumentos presentes durante o chat para organizá-los na forma de um artigo de opinião. Embora o AL desta oficina fosse bem menor em comparação com o primeiro, o nível de dificuldade foi maior, já que individualmente os alunos tiveram que se posicionar de maneira crítica fazendo uso dos argumentos dos participantes do chat. Tal procedimento está em consonância com o que indica Chevallard (1991) no tocante à transposição didática.

Depois da primeira reescrita, os alunos passaram a intervir, opinando sobre o que deveria ser modificado tanto em termos de conteúdo e forma, quanto em termos de estruturas gramaticais. Foram necessárias três aulas, uma em cada semana, para que a versão final do editorial ficasse pronta.

O número total de horas das atividades realizadas pode ser melhor visualizado nas tabelas abaixo: Chat 1 Oficina Extra Classe: discussão do tema Análise das características da entrevista Questionário sobre os elementos constitutivos da entrevista Análise do log e início da reescrita; Grupos de 3 alunos Reescrita do trabalho em grupos e produção da entrevista Reescrita final com correções dos erros identificados 1h 2h 1h 1h 1h

Tabela 1: Chat 1 com objetivo de produção de uma entrevista

34 O olho, ou citação, é uma parte da entrevista em revistas ou jornais onde uma frase do entrevistado é destacada

em uma caixa de texto à parte, normalmente entre aspas, com o intuito de chamar a atenção do leitor por meio de frases ditas chocantes. Em geral são argumentos bem fortes a respeito de um tema em discussão na sociedade.

Chat 2 Oficina Extra Classe: discussão do tema Análise de editoriais em sala de aula Distribuição dos AL juntamente com os textos sobre como escrever um editorial Identificação em pares dos argumentos do chat presentes nos artigos de opinião produzidos Reescrita dos artigos de opinião corrigidos em pares Reescrita final com correções dos erros identificados 1h 1h 1h 1h 1h 1h

Tabela 2: Chat 2 com objetivo de produção de um artigo de opinião

Como vemos, foram necessárias 12h de trabalho para a retextualização de dois gêneros textuais, incluindo a produção do gênero chat, realizado durante as oficinas extra classe. Dependendo do foco de estudo no processo de reescrita, é possível que este número de horas seja reduzido ou estendido. Ou seja, caso o professor decida trabalhar a presença de marcas da língua falada no chat, ou abreviações utilizadas, pode-se, por exemplo, dedicar 1 hora para a oficina de discussão e duas horas para a edição do AL e modificação do texto produzido, respectivamente. É importante salientarmos que esse número de encontros e de aulas destinadas à realização da atividade com foco nas marcas de oralidade é somente uma sugestão. O professor precisa planejar cuidadosamente o seu calendário para evitar a inserção de um tema no seu plano de curso que extrapole o número destinado às suas aulas.

O nosso trabalho teve o total de horas apresentado pelo fato de termos realizado a coleta dos dados dentro do currículo escolar do curso. Sendo assim, o número de horas teve que ser inserido dentro do programa do curso de modo a não atrasar o conteúdo proposto. De certo modo este foi um fator negativo, já que as aulas tiveram que ter um intervalo de tempo entre uma atividade e outra. Acreditamos que, se nosso trabalho tivesse sido realizado no período de duas semanas, com aulas seguidas, o envolvimento dos alunos na realização da atividade poderia ter sido mais significativo. Ressaltamos que isso não constitui um problema, porém a idéia de aulas seguidas para a realização da atividade parece-nos mais dinâmica por conta da participação dos alunos.