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Tendências contemporâneas no ensino de línguas

1. Fundamentação Teórica

1.4. Tendências contemporâneas no ensino de línguas

Após a reviravolta ocorrida com a mudança de perspectiva no ensino de línguas, a abordagem comunicativa que, de certo modo, veio substituir os métodos existentes, passou a incorporar novos componentes nas suas bases filosóficas. A comunicação continua sendo o foco e a metodologia adotada na sala de aula desenvolve-se através da realização de atividades que, além de promover a comunicação, permitem uma maior interação entre alunos e professores.

Baseadas nos princípios da abordagem comunicativa com o acréscimo de componentes metodológicos ao desenvolvimento do currículo, novas abordagens surgiram. Podemos distinguir duas categorias principais dentro deste surgimento, abordagens voltadas ao desenvolvimento da comunicação, tendo como objetivo: 1. a interação entre os sujeitos do processo de ensino-aprendizagem e 2. o aprendiz e as estratégias que emprega no processo de ensino-aprendizagem.

De acordo com Larsen-Freeman (2003), incluiremos na primeira categoria as seguintes abordagens:

1. Abordagem baseada em conteúdos; 2. Abordagem baseada em tarefas e 3. Abordagem participativa;

já em relação à segunda categoria incluiremos:

4. Treinamento de estratégias de aprendizagem; 5. Aprendizagem cooperativa e

6. Teoria das inteligências múltiplas14. (tradução do autor).

A abordagem baseada em conteúdos pode ser descrita como uma abordagem transdisciplinar. Os alunos aprendem assuntos de outras disciplinas através do uso da língua em estudo, ou seja, uma aula sobre História Medieval enfatiza não somente os tópicos abordados comumente neste assunto – feudos, o clero, cavaleiros, reis – mas todo o vocabulário em conjunto com as estruturas necessárias para tal. O foco do professor é “[...]

auxiliar os alunos a processarem a língua com o intuito de entender o conteúdo acadêmico apresentado pelo professor.15” (Larsen-Freeman, 2003, p. 141) (tradução do autor)

Pode-se perceber que o uso do termo “auxiliar”, utilizado acima, demonstra uma característica que inexistia na era dos métodos. Este auxílio se dá por meio de interação verbal, seja oral ou escrita, estando o professor como o mediador principal do processo de ensino- aprendizagem.

A abordagem baseada em tarefas assemelha-se a abordagem baseada em conteúdos em relação aos procedimentos metodológicos adotados em sala de aula. Ambas incluem a participação ativa dos alunos em conjunto com o professor, ao mesmo tempo em que outros assuntos escolares são incluídos nas aulas de línguas. A maior diferença entre elas é que na primeira, uma outra disciplina e/ou assunto é ensinado através da língua em estudo, enquanto

14 Do original em inglês: 1. Content-based, 2. Task-based, and 3. Participatory Approaches; 4. Learning Strategy

Training, 5. Cooperative Learning, and 6. Multiple Intelligences. Apenas por razões estilísticas na construção textual, esta nomenclatura difere da tradução apresentada anteriormente ao serem citados Richards e Rodgers (2001). Portanto, Instrução Baseada em Conteúdos e Abordagem Baseada em Conteúdos referem-se à mesma coisa.

15 [...] on helping students process the language in order to understand the academic content presented by the

que na segunda, tarefas escolares das mais variadas (na realidade, problemas a serem resolvidos) são apresentadas pelo professor e os alunos precisam resolvê-las entre si, com a ajuda do professor.

Ainda segundo Larsen-Freeman (2003, p. 144) os alunos “[...] trabalham para

completar uma tarefa, [...] têm oportunidades abundantes para interagir. Tal interação é pensada com o propósito de facilitar o aprendizado da língua à medida que os aprendizes têm que trabalhar para entender um ao outro e para expressar o sentido16” (o que querem dizer).

(tradução do autor)

Inferimos, então, que, ao ter que entender e se fazer entender usando os próprios recursos lingüístico-cognitivos, os alunos estão ativamente participando do processo de ensino- aprendizagem de modo altamente mediado. Isto implica em dois pontos na aquisição da linguagem: 1. o professor não mais exerce a função de principal mediador, sendo os alunos co- responsáveis pelo seu desenvolvimento e 2. sendo co-responsáveis, os alunos aprendem a utilizar melhor sua capacidade de negociação de sentido durante a interação verbal.

A co-responsabilidade durante as negociações de sentido no seu discurso nos leva a uma outra abordagem: a abordagem participativa. Tal abordagem desenvolveu-se através dos trabalhos de Paulo Freire e ganhou mais notoriedade na década de 1980 (Larsen-Freeman, 2003, p. 150). A abordagem participativa consiste em se trabalhar com a realidade social dos alunos e a partir desta realidade se construir o conhecimento lingüístico e social nos alunos. O processo de construção de conhecimento se dá por meio da reflexão dos fatos ocorridos na vida dos alunos e o estudo da língua é feito por meio da análise das estruturas lingüísticas presentes no discurso dos alunos como também daquelas que se farão necessárias à resolução dos problemas ou fatos apontados.

Acreditamos que para o ensino-aprendizado de gêneros textuais, tal abordagem nos parece uma das mais adequadas. Isso por que a partir do momento que fatos sociais, pertinentes à realidade dos alunos são tratados como conteúdo das aulas e a conseqüente busca por resolução dos problemas desta mesma realidade integra-se ao estudo da língua, a inevitável produção de gêneros textuais que extrapolem o ambiente escolar acontece. Os alunos, na realidade desta abordagem, não estarão limitados às redações escolares, caracterizadas por possuírem somente o professor como interlocutor ou agente dialógico do seu discurso. O texto

16 [...] work to complete a task, [...] have abundant opportunity to interact. Such interaction is thought to facilitate

language acquisition as learners have to work to understand each other and to express their own meaning. (Larsen- Freeman, 2003, p. 144)

produzido passará a circular em esferas mais concretas da sociedade, realizando os efeitos esperados sobre as situações previamente discutidas.

Aqui podemos incluir desde o mais simples aviso sobre um bazar beneficente na comunidade, como um ofício solicitando a iluminação das vias de acesso à escola devido à violência crescente em ruas mal iluminadas. Ao verem seus próprios textos circulando e possuindo uma razão de existirem, o interesse cresce entre os alunos, já que os mesmos precisam dominar os gêneros textuais e suas formas de produção, para que seus convites sejam aceitos ou suas reivindicações sejam atendidas.

As três outras abordagens (treinamento das estratégias de aprendizagem, aprendizagem cooperativa e teoria das inteligências múltiplas) na verdade não lidam com o aprendizado de uma língua diretamente. Isso por que no ensino de línguas elas podem ser consideradas como abordagens dentro de abordagens.

O treinamento de estratégias pode ser incluído na abordagem baseada em conteúdos, visto que, ao demonstrar quais os pontos que devem ser inicialmente considerados em uma leitura sobre o sistema feudal, o professor não está lidando com estruturas lingüísticas neste momento, mas com aspectos cognitivos. Isto não quer dizer que o conteúdo sobre História e as estruturas lingüísticas envolvidas serão ignorados. Ao contrário, eles serão devidamente tratados no momento certo, podendo ocorrer antes ou depois do estudo dos conteúdos.

O aprendizado cooperativo inclui-se mais adequadamente na abordagem baseada em tarefas. Ao trabalhar em conjunto para realizarem as tarefas propostas e produzirem significados em seus discursos, os alunos precisam assumir uma postura cooperativa diante da situação-problema. Para o preenchimento de uma tabela com nomes, aniversários, telefones e

e-mails, os alunos precisam – no estudo de uma língua - dos conhecimentos lingüísticos

relacionados a cada tópico (como perguntar o nome, a data de aniversário, o telefone, etc), bem como de um modo de se ajudarem quando não houver o entendimento de endereços ou e-mails (o número da casa ou apartamento ou, ainda, como dizer “arroba” em inglês) por parte de algum componente do grupo de trabalho.

A teoria das inteligências múltiplas veio contribuir muito mais para uma elaboração mais efetiva de uma aula ou plano de aula do que propriamente se configurar como uma abordagem no ensino de línguas. Ao elaborar uma aula que considere atividades para os diferentes tipos de aprendizes, o professor terá mais chances de verificar o sucesso ou fracasso de seus alunos, como também identificar os tipos de aprendizes mais comuns em sua sala. Embora exista uma inteligência chamada lingüística, esta não deve ser a única presente no

ensino de línguas. Várias atividades sobre o mesmo tema podem ser desenvolvidas, respeitando-se os tipos de inteligência existentes e ainda abordando o estudo da linguagem.

Esta teoria seria facilmente aplicada no ensino de poesia, por exemplo, onde seria possível desenvolver a inteligência musical – ritmo e entonação; a inteligência matemática – número de sílabas poéticas; lingüística – elaboração de versos com rimas; a inteligência visual (matemática também) – a estrutura de um soneto e sinestésica – a leitura em voz alta e interpretação de poemas produzidos.

Em resumo, todas as abordagens mencionadas possuem como origem as bases da abordagem comunicativa, preconizando um ensino de línguas em contextos comunicativos, envolvendo a interação entre os participantes, produzindo sentidos dos mais variados e tendo como centro no processo de aquisição um elemento mediador. Tal elemento pode ser tomado ora como o professor ora como o próprio aluno, havendo momentos em que ambos precisam mediar a própria ação na tomada de decisões que visem a facilitar o crescimento pessoal e intelectual dos sujeitos presentes no processo educativo.

Em nosso trabalho buscaremos enfatizar a AC em seu aspecto interacionista com vistas à utilização das competências comunicativas pelos alunos tanto na produção de textos escritos como textos orais. Além disso, associaremos os conceitos da abordagem baseada em tarefas e da abordagem participativa, com as necessárias adaptações, a fim de realizar o processo de retextualização/reescrita de gêneros.