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A edição do primeiro arquivo de log (AL1)

5. Análise dos dados

5.1. A primeira oficina de discussão via chat

5.1.1. A edição do primeiro arquivo de log (AL1)

Depois de salvo e impresso, fotocopiamos e distribuímos o AL1 entre os alunos de modo a serem formados três grupos. O objetivo desta atividade foi a edição de toda a conversa para que fossem excluídas todas as partes que prejudicavam a compreensão do texto escrito, já que durante o chat o contexto de produção era familiar aos participantes, não havendo prejuízo de compreensão. Isto é o processo de retextualização em si (cf. cap. 3).

Sendo assim, foram eliminadas pelos grupos formados as pausas, os espaços em branco38, os risos, as perguntas sem respostas e/ou as respostas sem perguntas cuja referência não estivesse próxima. O resultado desta atividade foi a criação de três textos retextualizados a partir do AL, os quais denominamos de grupo A, grupo B e grupo C.

O grupo A retextualizou o AL e produziu um texto com 8 páginas, o grupo B apenas 3 páginas e o grupo C, um texto com 6 páginas (estes números já incluem os números das linhas que foram adicionados). Até então, o objetivo da tarefa para os alunos era retextualizar o texto com os colegas com vistas a transformarem o AL em uma entrevista. Para tanto, buscamos usar a experiência de mundo e de leitores dos alunos ao entenderem que as entrevistas são organizadas, basicamente, em perguntas e respostas.

Em cada texto reescrito pelo grupo, observamos pontos distintos e/ou em comum no que concerne à exclusão e/ou inserção dos turnos do chat. Os exemplos abaixo são ilustrativos neste sentido, pois apontam quais os pontos que foram mantidos a partir da edição do AL1.

38 Os espaços em branco no AL são resultantes do uso do emoticons. Como o arquivo gerado é um arquivo de

texto puro, sem formatação alguma, o computador considera qualquer emoticon como um espaço em branco a ser acrescido no AL.

• Pergunta e justificativa da ausência da aluna no dia anterior: Grupos A, B e C:

p:you didnt go to the class p:what happened?

Apg: because I fall very tired yesterday Apg: Yes, fridays are the worse to me p: just for u???

Apg: yes because my classes at university and my job

Com exceção das saudações, todos os grupos mantiveram o trecho das linhas 2 a 8 do AL1. Entendemos que este turno funciona como uma espécie de saudação também, só que neste caso mais detalhada, já que a aluna não foi à aula no dia anterior, mas participou do bate- papo e justificou sua ausência.

• Pergunta sobre a razão do e-mail ser tão diferente do nome: Grupo A e Grupo C:

p: the e mail is xxx? p: why xxx

[...]

Cfm: because was very difficult to do a e mail using cfm or cfm..or other name so i put xxx

Podemos observar que o grupo B não incluiu este trecho na sua reescrita. Dois pontos são relevantes: o primeiro diz respeito à quantidade de páginas do grupo B que foi apenas de 3 e em segundo lugar, em função do número de páginas acreditamos que o grupo achou irrelevante este tipo de informação para uma entrevista escrita.

A exemplo da contextualização (Hoffnagel, 2002) que vem sempre no início das entrevistas (discutiremos este ponto mais adiante), este trecho serviu para indicar quem era a participante do chat. Pelo fato de termos editado o arquivo a fim de preservar a identidade dos alunos, é possível que não se observe nenhum ponto relevante aqui. No entanto, no texto original a participante é identificada pelo e-mail e não pelo nome, razão pela qual foi necessária a explicação do apelido no MSN.

• Introdução do tópico sobre dúvidas de gramática: Grupo A:

An: TEACHER I HAVE ONE DOUBTS: WHEN WE USED THE PRESENT CONTINUE

[…]

p: ok, remember the doubts about grammar? p: do u have any?

An: Yes i have

Grupo B e Grupo C: 9/47. p:

10/48. ok, remember the doubts about grammar? 11/49. p:

12/50. do u have any? 13/51. An: :

14/52. Yes i have 15/53. An: :

16/54. when we will use the present continue ?

Nestes dois exemplos observamos que os turnos são iguais. No primeiro exemplo, grupo A, o aluno An introduziu o tópico na linha 104, mas só foi respondido na linha 143. Tanto o pesquisador quanto os alunos continuaram a discutir sobre o tema filmes. Já nos grupos B e C, o turno do aluno An não foi incluído, sendo a nossa pergunta responsável pela introdução ao tema.

No segundo exemplo, os primeiros números da linha (começando em 9) indicam as linhas onde os trechos estão no grupo B, os segundos números da linha (começando em 47) indicam onde foram inseridos os mesmos trechos no grupo C. A primeira diferença reside nos números das linhas de cada grupo. O grupo B, praticamente inicia a entrevista com a pergunta, enquanto o grupo C mantém outros turnos até chegarem a este trecho.

No que diz respeito à estratégia de edição, apontada por Marcuschi (2004), notamos que o grupo B foi extremamente sucinto, o que não aconteceu com os grupos A e C, já que as linhas cujo tópico é definido estão bem distantes do início da entrevista.

• Piada sobre uso incorreto do vocábulo por um aluno: Grupo A:

An: Please explain to us how to improve our audition

p: well an, audition i dont know, but listening i can tell u something:

Grupo C:

An: Please explain to us how to improve our audition

p: well an, audition i dont know, but listening i can tell u something: Cfm: an you can use cotonete for audition

An: Rsss p: good cfm

O grupo B não incluiu este trecho na reescrita enquanto os grupos A e C o fizeram. É importante notarmos aqui que o excesso de uso da estratégia de eliminação (Marcuschi, 2004) pelo grupo B não comprometeu o gênero, porém muito material lingüístico passível de análise e reescrita ficou inutilizado. Isto por que, no momento em que as outras estratégias não foram utilizadas, o processo de monitoração sobre o ato de escrever ficou comprometido.

Já no grupo A observamos que a estratégia de estruturação argumentativa foi utilizada ao descartarem a parte do comentário sobre o uso de ‘cotonete’. No grupo C este trecho foi mantido e a estratégia de substituição não foi utilizada na linha 100, pois o grupo poderia ter substituído ‘Rsss’ apenas por (risos), forma utilizada nas entrevistas.

• Aceitação do tópico sobre dúvidas gramaticais: Grupo A, Grupo B e grupo C:

An: when we will use the present continue ? An: when we will use the present continue ?

p: ok, an:, waht is ur problem with the present continuos? An: sometimes I get confused when I should use it

O exemplo acima foi tirado da edição do grupo A. Como vemos existe uma repetição nas duas primeiras linhas (AL linhas 150 a 153), o que indica que a monitoração dos alunos sobre este trecho foi falha. Já nos grupos B e C, a partir da segunda linha (AL linha 152) todo o trecho é igual, o que nos leva a crer que, neste ponto, a monitoração e a estruturação argumentativa durante a reescrita não apresentaram problemas. Todo o trecho que se segue após a última linha (AL linha 157) é a seqüência das perguntas e respostas do aluno An com o pesquisador.

Como podemos observar, os pontos em comum foram muitos. Cada grupo diferiu na quantidade de turnos que indicam saudações, nos tópicos que não tiveram uma relação seqüencial direta com os assuntos discutidos e nas despedidas. É relevante mencionarmos o fato de que embora o tópico sobre filmes, proposto no início da oficina, houvesse acontecido, este não foi mantido como foco central durante o processo de reescrita do AL1. Isto nos leva a crer que os alunos estavam conscientes de que a reescrita deveria estar relacionada com o que tínhamos combinado durante a aula, ou seja, tirarmos dúvidas de gramática na oficina. Achamos importante lembrar que os alunos só foram lembrados que deveriam discutir dúvidas de gramática durante a realização do chat. No processo de retextualização e reescrita os alunos ficaram livres para incluir/excluir os argumentos relevantes para uma entrevista, podendo haver escolhas entre o tópico filmes e/ou dúvidas de gramática.

Em todos os grupos identificamos a utilização da estratégia de eliminação apontada por Marcuschi (2004) com sucesso, visto que, das 25 páginas do AL1 original, cada grupo produziu um texto com número de páginas diferente. Ainda segundo Marcuschi e as estratégias por ele identificadas, notamos que houve deficiência na sua aplicabilidade, em particular nas estratégias de estruturação argumentativa e de condensação, como podemos observar nos exemplos 1 e 2 abaixo. • Exemplo 1 Grupo A: 1. p: 2. the e mail is xxx? 3. p: 4. why xxx 5. p:

6. apg, you missed the movie... 7. p:

8. well, we'll finish it on monday, i hope 9. Apg:

10. the movie? 11. Apg:

12. I can not believe

13. Cfm:

14. because was very difficult to do a e mail using cfm or cfm..or other name so i put xxx

15. p:

16. hey, how 'bout movies 17. p:

18. yes, movies 19. Apg:

20. II didn´t whatch the movie 21. p:

22. all of them, but drama and comedies

Durante o chat, é natural que as perguntas sejam respondidas com certo atraso, porém

no processo de reescrita seria no mínimo adequado excluir as linhas de 5 a 12, já que estas não complementam a pergunta a respeito do e-mail ser tão diferente do nome da aluna, respondida na linha 14, além das linhas 15 a 22 por não possuírem um propósito claramente identificado dentro da reescrita. Seria possível também realizar uma modificação nas linhas 13 e 14, a fim de unificar as perguntas sobre o e-mail. Ou ainda unir as linhas 9 e 10 com as linhas 19 e 20 sobre o filme exibido no dia anterior ao chat. Assim, a reescrita, ou melhor, o texto produzido estaria condensado em blocos coesos, facilitando a leitura do mesmo.

• Exemplo 2 Grupo B: 23. p: 24. hi lns 25. p: 26. is xxx ur girlfriend lns? 27. Lns: 28. yes 29. p: 30. hello an 31. Apg: 32. HELLO AN 33. Cfm: 34. hi an 35. An:

36. good afternoon to all

37. p:

38. hi sir 39. An:

40. Hi lns are you ok ? 41. Lns:

42. yes an, i´m ok 43. An:

44. Master !!!

45. p:

46. yes an

Este trecho do AL reescrito é no mínimo interessante de observarmos: das 23 linhas apontadas acima, nenhuma teve relevância argumentativa que justificasse a sua inclusão na reescrita. A inexistência da estratégia de condensação prejudica a composição do gênero entrevista, já que em nenhuma entrevista final, ou seja, a que chega em sua versão final ao leitor, existe a inclusão de saudações como as apresentadas no exemplo acima.

O que podemos observar até o momento foi o fato de que durante a edição do AL da primeira oficina, a estratégia preponderante foi a de edição, visto que inúmeros trechos foram excluídos com o intuito de dar mais coerência ao resultado da oficina. As demais estratégias apontadas por Marcuschi (cf. cap. 3) não puderam ser observadas de modo consistente até este momento da atividade. No entanto, notamos o que Flower e Hayes (1981, 1994) apontam como objetivos principais e auxiliares subsidiando o desenvolvimento da intenção dos escritores. No momento em que trechos do chat foram excluídos pelos alunos em busca de um texto que seguisse a estrutura geral do gênero entrevista, verificamos a existência de uma revisão do material escrito pelos próprios alunos naquele momento.

Assim, o planejamento, a tradução e a revisão foram controlados pelo monitor, seja este o próprio aluno ou os outros componentes do grupo, responsáveis igualmente pela edição do AL1. Tais operações assemelham-se ao modelo descrito por Meurer (1997), no qual a presença do monitor, isto é, da consciência do produtor do texto sobre o ato da (re)escrita, faz-se presente de modo mais ativo, no nosso caso, nas representações mentais e na macroestrutura textual (na organização geral da entrevista, marcada por perguntas e respostas) e outros pares adjacentes.