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2.1 – A aprovação do Estatuto de

No documento cristianooliveiradesousa (páginas 68-74)

O reconhecimento do estatuto dos terceiros vilarriquenhos pelos Provinciais foi produto de uma longa disputa engendrada pela ordem, assim como aconteceu para a obtenção da licença para a construção de sua capela. O historiador Cônego Raimundo Trindade, inclusive, dedicou um capítulo inteiro de seu estudo sobre a Ordem Terceira de São Francisco de Ouro Preto para relatar com riqueza de detalhes, apresentando a transcrição de diversos documentos — muitos deles hoje em dia perdidos —, as diversas “lutas” nas quais se envolveu aquela organização27.

Segundo Trindade, o primeiro “Estatuto Particular” adotado pela ordem não era original, mas teria sido copiado do estatuto pelo qual se regia a Ordem Terceira da Penitência do Rio de Janeiro. Porém, mesmo os terceiros franciscanos do Rio de Janeiro não tinham conseguido a aprovação deste estatuto e Trindade conjectura que pelos mesmos motivos o estatuto dos terceiros vilarriquenhos também teria sido recusado. (TRINDADE, 1951, p. 25)

No arquivo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Ouro Preto encontra-se uma cópia deste primeiro estatuto. Trata-se na verdade de um livro bastante extenso e geral que compila grande parte dos “manuais” analisados até aqui. Assim como a regra da Ordem Terceira Franciscana aprovada pelo Papa Nicolau IV em 1289, ele também era constituído por 20 capítulos, que possuíam inclusive os mesmos nomes. Porém, foram acrescentados a eles, para cada determinação da regra, alguns parágrafos que aprofundavam os temas abordados, parágrafos estes retirados de obras como a do Frei Luís de São Francisco, ou da Palestra da Penitência, já aqui citadas. Além disso, ao fim do livro foi acrescentado um apêndice onde alguns dos termos tratados ao longo do estatuto são alterados como, por exemplo, os valores pagos pelos anuais, esmolas de mesa, assim como a criação do cargo de Procurador Geral, inexistente no estatuto do Rio de Janeiro do qual este havia sido copiado. O Anexo 01 ao fim desta tese, transcreve na íntegra todas estas alterações realizadas pelos irmãos terceiros vilarriquenhos.

Este primeiro Estatuto apresentado pelos irmãos terceiros conforme já dissemos, foi recusado pelos Ministros Provinciais do Rio de Janeiro. O Cônego Raimundo Trindade transcreve em sua obra o termo de reprova destes estatutos, que aqui reproduzimos:

“Nesta nossa congregação intermedia, q. celebramos nesta Caza Capitular de

S. Ant.o do Rio de Janeiro aos 24 do mês de Abril do anno de 1756, nos forão apresentados estes Estatutos da V.el Ordem 3ª da Penitencia de N. Seraphico Patriarcha S. Fran.co de V.a Rica; p.a q. os confirmasse-mos, e lhe dessemos a nossa aprovação; porém atendendo Nos ás varias cotas, e riscas, com q se achão adnotados, e que deles precizam.te ha-de nascer mais confuzão, do que aproveitam.to ás almas dos nossos Cmos. Irmãos 3.os; nem de facto o seo original, de donde forão extrahidos da V.el Orde 3ª deste Rio de Janr.o, se acha aprovado p.los Prelados mayores nossos predecessores; e so a Nos pertence dos Estatutos para se regerem, e governarem as veneraveis Ordens 3.as a Nos sugeitas; damos estes Estatutos

por nenhu vigor, p.las cauzas assima ditas; e só mandamos se rejão, e

governem os nossos Cmos Irmãos 3.os de V.a rica p.la Palestra da

Penitencia, e so esta se observe, e guarde, pois por ella se regem, e

governão, tantas e tão innumeraveis Ordens 3.as existentes em todo o mundo, sugeitas a nossa Seraphica Religião; porem os 14 Capitolos estatuídos, e

determinados p.los nossos Cmos. Irmãos da Meza da mesma Veneravel Ordem 3ª de V.a Rica, os quaes se achão a fls. 60 deste Livro, os aprovamos, e confirmamos, e mandamos se lhe de inteiro comprim.to. Em fé do q. mandamos fazer este tr.o, em q nos assignamos, e selamos com o sello menor do nosso Offício. Neste Conv.to de S. Ant.o do Rio de Janeiro aos 29 de abril do anno de 1756 .” (TRINDADE, 1951, p. 25-26)

Como podemos observar pela análise do documento acima transcrito, os Provinciais do Rio de Janeiro recusam o estatuto apresentado, assim como havia sido o original do qual o mesmo foi copiado, e recomenda à instituição vilarriquenha que se paute exclusivamente pela Palestra da Penitência. No entanto o apêndice inserido pela Ordem ao fim do estatuto que, conforme já salientamos, alterava os valores dos anuais e esmolas, e também criava o cargo de Procurador Geral, foi aprovado pelos Provinciais. Mais à frente abordaremos em detalhes as mudanças estabelecidas neste documento.

Tendo seu estatuto recusado pelo Ministro Provincial da Ordem, no Rio de Janeiro — prelados superiores imediatos à Ordem Terceira Franciscana de Vila Rica — os terceiros franciscanos redigiram um novo estatuto e, atropelando a hierarquia imediata, foram apelar diretamente ao Comissário Geral dos Franciscanos, o Frei Pedro Juan de Molina, em Madri. Segundo o Cônego Raimundo Trindade, a Ordem, através de seus procuradores em Portugal auxiliados pelos franciscanos Fr. José da Conceição Pereira, e seu Irmão Fr. Francisco de Azurara, “sobrinhos de um senhor residente em Vila Rica, irmão terceiro provavelmente” (TRINDADE, 1951, p. 27), conseguiram fácil acesso ao Frei Molina.

Este recurso ao Comissário se deu pelo fato de a Ordem Terceira vilarriquenha estar insatisfeita com seus prelados do Convento de Santo Antônio do Rio. Segundo o Cônego Trindade detalha em sua obra, a insatisfação dos terceiros vilarriquenhos teria começado em razão dos Provinciais do Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro terem instituído o Frei Manuel do Livramento, como Comissário Visitador das Ordens Terceiras da Penitência nas Minas, em 1757.

O Frei Manuel do Livramento era um frade brasileiro natural de Santos, que vivia há muitos anos na freguesia do Sumidouro, termo de Mariana, na casa de seu sobrinho, o Dr. Antônio José Ferreira da Cunha Muniz. A razão do desentendimento da ordem com este Comissário se deu em função deste último ser o responsável por fundar, na cidade de Mariana, uma Ordem Terceira Franciscana em 9 de Agosto de 1758, “desmembrando parte desta Venerável Ordem sem que para esse efeito fôssemos ouvidos, como deveríamos ser”, conforme podemos verificar em correspondência da Mesa da Ordem Terceira de Vila Rica dirigida ao Fr. Manuel do Livramento, e citada na integra na obra do Cônego Trindade.28

A essa altura, a ordem já havia se espalhado por toda a região, instalando presídias em diversas localidades e contava em seu corpo de irmãos com diversos homens e mulheres que residiam em Mariana e todo seu termo, irmãos estes que, com a fundação de uma congênere em Mariana, provavelmente passariam a se filiar naquela localidade. Segundo Gustavo Henrique Barbosa, que estudou a Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Mariana, a fundação daquela instituição teria se dado através da requisição de irmãos terceiros filiados à ordem de Vila Rica ao Frei Manuel do Livramento de “se reunirem em sua própria localidade”, devido à distância entre as freguesias (BARBOSA, 2010, p.45-46). Portanto, a fundação da Ordem Terceira em Mariana teria se dado da mesma maneira que havia acontecido em Vila Rica, ou seja, por pressão de terceiros professos que habitavam a região. Acreditamos ser esta uma constante em todo o território das Minas. Esta pressão de setores da sociedade que desejavam a fundação de um instituto de terceiros, também teria acontecido em Mariana, se utilizando da influência de importantes potentados locais. Cabe ressaltar que, em Mariana, pesou ainda mais a presença de um sobrinho do Frei Dom Manuel da Cruz, primeiro Bispo de Mariana, o padre Luciano Pereira da Costa, que, segundo Trindade, teria sido um dos homens que teriam requisitado a fundação daquela instituição junto ao Frei Manoel do Livramento. O dito sobrinho do bispo, Padre Luciano era inclusive irmão terceiro de Vila Rica, como consta no livro de assento de irmãos da Ordem Terceira vilarriquenha, onde encontramos seu nome como um dos homens que teriam participado da primeira reunião de fundação daquela instituição em Vila Rica, em 174629. Ele viria a ser o primeiro Padre Comissário da Ordem Terceira Franciscana de Mariana. (TRINDADE, 1951, p.52)

Além da questão da fundação de uma instituição em Mariana, outro fator teria pesado mais a relação entre os terceiros franciscanos de Vila Rica com seu Comissário Visitador, o

28 O cônego Trindade faz um resgate das disputas às quais a Ordem Franciscana teria entrado, citando na integra

diversos documentos. Para maiores informações conf.: (TRINDADE, 1951, Cap. II, p. 50-125)

29 Arquivo Histórico da Paróquia de Nossa Sra. da Conceição de Antônio Dias (AHPNSC), Arquivo da Ordem

Fr. Manuel do Livramento e, consequentemente com aqueles que o designaram para tal cargo, os Provinciais do Convento de Santo Antônio no Rio de Janeiro. Junto à Patente do comissariado das Ordens Terceiras Franciscanas nas Minas, o Fr. Manuel do Livramento teria também recebido dos Provinciais uma correspondência dirigida à ordem de Vila Rica com algumas recomendações relativas ao prazo de antecedência em que estes deveriam enviar os nomes dos 3 Religiosos indicados para a eleição do Padre Comissário da dita ordem, além dos oficiais eleitos para a nova Mesa, que deveria ser confirmada pelos seus prelados do Rio. Porém essa correspondência teria ficado retida na mão do Fr. Manuel do Livramento por noves meses, até enfim chegar às mãos da Mesa daquela instituição. Essa demora da carta nas mãos do Comissário Visitador foi entendida pela Mesa como um ato de má fé do Frei Livramento e acabou engendrando problemas ainda maiores na relação entre a dita Ordem e seus prelados no Rio. Segundo Trindade, o Frei Manuel do Livramento ciente dos problemas que teria com os terceiros vilarriquenhos, teria demorado para apresentar a dita carta à eles pois já tinha a intenção de fundar uma nova ordem terceira em Mariana. Trindade conjectura que:

“O astuto religioso precisava estabelecer a Ordem Terceira na cidade episcopal e, antes de realizar e consolidar essa fundação, que, bem o sabia, iria revoltar supremamente a família seráfica de Vila Rica, não lhe convinha apresentar-se ali, onde possivelmente se prenderia com relações que viriam por ventura anular os seus planos e prejudicar sua tranquilidade” (TRINDADE, 1951, p.52)

Assim, quando a carta chegou às mãos da mesa da Ordem, o prazo estipulado para a apresentação dos nomes sugeridos como Comissário, assim como dos oficiais eleitos para a Mesa do ano seguinte, estava próximo do fim, o que acabou consternando muito os Irmãos Terceiros vilarriquenhos. Àquela época, os Reverendos Comissários que atuavam junto da Mesa da Ordem Terceira Franciscana eram escolhidos pelos Provinciais do Rio, a partir de uma lista de três nomes enviados pela Mesa ao Convento de Santo Antônio. Tais Comissários indicados pela província, permaneceriam no cargo junto à ordem por 3 anos30. Em razão deste atraso, ocasionado segundo a Mesa, pela demora com que o Fr. Manuel do Livramento a reteve em suas mãos, conforme visto acima. Este fato acabou gerando mais uma discussão entre os Irmãos Terceiros Franciscanos de Vila Rica e seus Prelados do Rio, que iria perdurar até 177431. Como podemos perceber, estavam dadas as condições que levaram a Ordem

30 Este modelo de eleição dos Comissários onde as Mesas pré-selecionavam 3 dos quais os Provinciais escolhiam

o Comissário era também era realizado no Rio e em Mariana, conforme pode ser visto em (MARTINS, 2009, p. 141) e (BARBOSA, 2010, p. 51).

31 O cônego Trindade também relata, através de transcrição de cartas trocadas entre a Ordem, o Convento do Rio

Terceira a tentar um novo recurso, dessa vez atropelando a hierarquia imediata e recorrendo ao Comissário Geral dos Franciscanos, o Frei Pedro Juan de Molina, em Madri para a aprovação de seu “Estatuto Particular”. Este episódio também nos revela que a Ordem tinha entre seus membros diretores pessoas que não só compreendiam muito bem o sistema hierárquico da Ordem, como também estavam dispostos a enfrentar extensas discussões em torno da defesa de seus interesses. Certamente eram homens que já haviam se acostumado a apelações junto ao Conselho Ultramarino em requerimentos de mercês régias ou em apelações em busca da defesa de seus direitos. Em suma, deveriam ser homens que estavam habituados às praticas jurídicas e remuneratórias comuns àquela sociedade de Antigo Regime.

O caso de uma Ordem Terceira que, enfrentando problemas com seus prelados imediatos, ou seja, a Ordem Primeira a qual estavam atrelados recorre ao Comissário Geral dos Franciscanos em Madri, não é fato inédito na história destas instituições. Juliana Moraes cita o caso dos Terceiro Franciscanos de Braga que também teriam se utilizado deste mesmo procedimento em 1748, quando a Ordem Primeira de Braga tenta retirar a nomenclatura de “Venerável” da instituição terceira de Braga (MORAES, 2010, p. 149). A proximidade das datas dos recursos (1748 em Braga e 1760 em Vila Rica) nos leva a pensar na possibilidade de existir naquele tempo em Minas algum irmão apresentado com patentes de Braga, que possa ter sugerido à Mesa de Vila Rica, que recorresse ao Geral em Madri, como havia feito alguns anos antes a instituição bracarense. De fato, o grande percentual de pessoas residindo nas Minas vindas da região norte de Portugal, muitos deles provenientes do termo de Braga, já foi diversas vezes demostrado pela historiografia32.

Voltando à questão da aprovação do Estatuto Particular da Ordem Terceira, este recurso junto à Castela acabou dando resultado e os terceiros franciscanos vilarriquenhos tiveram finalmente seu estatuto aprovado em 30 de Janeiro de 1760 (TRINDADE, 1951, p.52). Além de conseguir a aprovação deste Estatuto, conseguiram também alguns privilégios, que diferenciava a Ordem de Vila Rica das demais existentes na América Portuguesa. Junto com a patente que confirmava o Estatuto, o Frei Molina, Comissário Geral dos Franciscanos, emitiu também uma patente que determinava, dentre outras coisas, que:

“Primeiramente que todas as eleições de Comissário, Vice Comissário, Ministro e mais Oficiais, que se fizerem desde o dia da confirmação dos estatutos da dita Venerável Ordem Terceira que tivemos por bem de aprovar, e confirmar, sejam em todo e por tudo conforme o previsto e mandado por

enfadonho que retratássemos aqui toda esta questão, por isso nos limitamos às considerações aqui realizadas. Para maiores informações conf.: (TRINDADE, 1951, Cap. II).

32 A este respeito conf. (BRETTELL, 1991), (RAMOS, 2008), (ALMEIDA, 2010), (FURTADO, 1999), dentre

eles, sob pena de nulidade ao que em contrário se observar (...). Que os (...) provinciais da expressada província da Conceição do Brasil (...) somente possam enviar Visitador Religioso para visitar a dita Ordem Terceira de dez em dez anos, para cujas Visitas determinamos o tempo preciso de três meses, desde sua chegada ao referido povoado de Vila Rica, os quais terminados [o tempo] fica sem faculdade nem autoridade alguma, ainda que não tenha finalizado sua Visita, que há de ser, precisamente, sobre a guarda da Regra da Terceira Ordem da Penitência de N. S. P. São Francisco, e observância dos Estatutos da dita terceira Ordem, por nós vistos, aprovados e confirmados, sem ingerir-se, nem intrometer-se em outras dependências e disposições (...)”33

Foi na posse desta patente que os terceiros vilarriquenhos se utilizaram todas as vezes que os Provinciais tentaram, por exemplo, enviar Comissários Visitadores para aquela Instituição, como veremos mais à frente. Por hora, cabe ainda deixar claro que o recurso ao Frei Molina irritou bastante os provinciais do Rio, como se pode perceber na carta enviada pelo Frei Manuel da Encarnação, provincial do convento de Santo Antônio do período de 1761 a 1764, à Mesa da Ordem Terceira datada de 3 de Março de 1761. Tal carta foi enviada em resposta à que a Mesa havia lhe remetido comunicando a aprovação dos estatutos pelo Frei Molina e transcrita pelo Cônego Trindade em sua obra, da qual cito apenas um trecho bastante significativo:

“(...) É digno de lamentar que sendo os Senhores Seculares tão propensos e inclinados ao hábito do meu Padre São Francisco (...) lhe fiquem tão adversos e opostos como a experiência o tem mostrado e em Vossas Caridades se verifica recorrendo à Castela ao nosso Reverendíssimo Padre Comissário Geral com informações sinistras e em parte menos verdadeiras só a fim de fugirem à submissão e obediência que devem a esta Província como Mãe que os criou, sem repararem que só são na realidade Terceiros, quando aos primeiros unidos, e submissos ao seu Prelado Superior. (...) Eu sei muito bem os fundamentos por que VV. CC. Fogem da sujeição dos Religiosos; sei muito melhor o estado em que está essa Ordem Venerável; de tudo darei parte ao Rmo. Pe. para que conheça a malícia em alguns

capítulos dos seus Estatutos, a qual infiro só dois que vieram pois alegam

em um a muita distância das Minas a esta Província, com o que respondo que mais longe é da capitania do Espirito Santo a esta cidade, de Itu, de São Paulo, da Colônia, de Parnaguá, etc., e de tôdas estas partes, e terras mais remotas em as ocasiões de Capítulos e congregações recorrem os Irmãos com a nominata de três para seus Comissários dos quais cá elege um o Capítulo Provincial; e por que razão não haviam de ser VV. CC. Assim sendo menor a distância de Vila Rica a esta cidade e mais a abundancia de portadores? Querendo VV. CC. Serem os singulares, ato de soberba e fins terríveis por mim não ignorados, fora os ocultos que o tempo mostrará que hão de ser bulhas e mais bulhas entre VV. CC. Mesmos, querendo uns fazer a Pedro e outros a Paulo, etc.” (TRINDADE, 1951, p.39)

Como podemos perceber pelo trecho citado, o Provincial Frei Encarnação também estava bastante insatisfeito com o que ele chama de “soberba” da Ordem, que não queria se

33 Patente de “Concessão de Faculdades”, de Frei Antônio Juan de Molina, datada de 30 de Janeiro de 1760,

sujeitar à submissão aos religiosos do Rio. Tome atenção ao trecho grifado na citação, onde o Provincial fala a respeito da “malícia” existente nos capítulos dos estatutos. Essa afirmação pode ser explicada pelo fato de, nos novos “Estatutos Particulares” da Ordem, a eleição do Padre Comissário ser definida como responsabilidade da Ordem, cabendo aos Provinciais apenas confirmar a dita eleição. Esta conquista dos Terceiros Franciscanos de Vila Rica deixou os Provinciais de mãos atadas, pois com esta disposição prevista naquele estatuto, aquela Ordem Terceira ficava quase livre da supervisão dos Religiosos Regulares. Isto decorria também da proibição dos religiosos regulares nas Minas, por nós já explicitada, que fazia com que os Comissários fossem escolhidos entre Sacerdotes Seculares, bastando que para tal fossem terceiros professos. Soma-se a isto a conquista da patente expedida pelo Frei Molina que estabelecia que as Visitações de Religiosos enviados da Província do Rio só poderiam acontecer a cada 10 anos, conforme já citado.

Portanto, conforme podemos ver até aqui, os “Estatutos Particulares” da Ordem Terceira de São Francisco de Assis de Vila Rica, aprovados graças à apelação junto ao Frei Molina em 1760, concederam àquela instituição uma liberdade e independência junto aos Provinciais do Rio que nenhuma outra instituição terceira possuía. Estes estatutos foram publicados em Vila Rica no dia 05 de fevereiro de 1761 e entraram em vigor a partir de então. (TRINDADE, 1951, p.52)

No documento cristianooliveiradesousa (páginas 68-74)