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3.4 – Irmãos “apresentados”

No documento cristianooliveiradesousa (páginas 127-146)

Identificamos também 181 irmãos que, professos em outras localidades, apresentaram patentes na Ordem Terceira de São Francisco de Vila Rica para se juntar àquela instituição. Estes registros de irmão apresentados encontram-se nas últimas páginas do primeiro livro de assento de irmãos, e também no livro de patentes da Ordem. Deste total de 181 irmãos, a maioria era também de homens, sendo estes 164 e as mulheres 17. O registro dessas patentes apresentadas, assim como os registros de entradas, não é uniforme. Assim, não conseguimos identificar a origem destas patentes para todo o grupo. Apenas 83 casos possuíam informações a respeito de onde e quando o irmão apresentado tinha se professado. Com base nestas informações traçamos uma tabela com a indicação de onde vinham aqueles irmãos que desejavam se agregar à instituição vilarriquenha:

Tabela 01 – Origem dos irmãos que apresentaram patentes

Portugal

Estremadura Lisboa 6

Xabregas – Lisboa 2

Convento de Jesus - Lisboa 1

Setubal 1

Minho Porto 5

Braga 1

Guimarães 1

Viana 2

Vila de Ponte de Lima 1

N. Sra. Da Purificação 1

Vila do Conde 1

Beira Coimbra 2

Aveeiro 1

Vila de Castelo Branco 1

Sem identificação 2

Sub Total 28

Açores

Ilha do Pico 2

Vila de Eira - Ilha do Fael 1

Sub Total 3

Brasil

Minas Gerais São João del Rei 9

Mariana 8

Bom Sucesso de Minas Novas 2

Demais Rio de Janeiro 21

Parati 1 Angra 2 Bahia 3 São Paulo 3 Belém 2 Sub Total 51

Outros Colônia do Sacramento 1

Total 83

Fonte: AHPNSC, Arquivo da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Livro de Entradas e Profissões (1746-1791), MF 162, e Patentes (1758-1786) MF 213.

Pelo local de expedição das Patentes dos irmãos apresentados percebemos um grande número de homens vindos da Ordem Terceira do Rio de Janeiro. O fluxo de homens entre Vila Rica e Rio de Janeiro era bastante expressivo, pois era através do porto carioca que

grande parte das mercadorias que iriam para as Minas chegava97. Em seu estudo sobre as Ordens Terceiras cariocas, Martins aponta que, em relação à distribuição geográfica dos Irmãos da Ordem Terceira Franciscana do Rio, sobressaíam os irmãos fixados na região das Minas, dentre aqueles que declararam em seus registros de entradas como sendo moradores em regiões situadas além dos limites daquela capitania (MARTINS, 2009, p. 322).

O grande número de irmãos que apresentavam patentes do Rio para se agregarem à instituição terceira vilarriquenha não necessariamente significava que estes homens eram naturais daquela região. Martins encontra grande parte dos irmãos terceiros do Rio de Janeiro nascidos nas regiões ao norte de Portugal (MARTINS, 2009, p. 311). Assim, apesar de não constar nos registros de patentes apresentadas à Ordem de Vila Rica o local de onde estes homens eram naturais, podemos com certeza afirmar que a grande maioria era de homens vindos da região do Minho. Observando os locais das patentes apresentadas em Vila Rica, percebemos que 28 homens apresentaram patentes de Ordens Terceiras expedidas no reino, sendo a maioria delas justamente da província do Minho. Em seguida temos os irmãos vindos da Estremadura, sendo que destas, apenas 1 era da região de Setúbal, sendo todas as demais patentes expedidas por alguma das 3 instituições de terceiros existentes em Lisboa. Martins, que encontrou a maioria das patentes apresentadas na Ordem do Rio expedidas em Lisboa, afirma que:

“Chama a atenção que a maior parte dos irmãos terceiros franciscanos e carmelitas que requereram apresentação no Rio de Janeiro pleitearam-na com patentes emitidas pelas filiais de ambas as ordens em Lisboa, e não por aquelas situadas em seus locais de nascimento. Esse padrão torna-se mais intrigante com relação aos terceiros franciscanos, pois em fins do século XVII os sodalícios encontravam-se já plenamente difundidos em diversas partes do arcebispado de Braga, em cujo território tinha nascido a maioria dos irmãos que provinham do Reino. Tamanha concentração de patentes pertencentes às ordens terceiras mendicantes fundadas em Lisboa pode talvez ser atribuída ao prestígio superior gozado por tais associações face às demais filiais do Reino, cujo fato poderia facilitar no ultramar a aceitação dos documentos de apresentação” (MARTINS, 2009, p. 319).

Infelizmente não temos os locais de nascimento dos homens que apresentaram patentes expedidas nas Ordens Terceiras de Lisboa para agregar-se à Ordem de Vila Rica. Assim, não temos como afirmar se aqueles homens eram naturais ou não da capital, como feito por Martins. Porém, sabemos que muitos dos homens que emigravam para o Brasil, antes de atravessarem o oceano passavam um tempo em Lisboa. Foi este o caso de João

97

A esse respeito Furtado afirma que: “Na estratégia de expansão dos negócios, varias casas de comércio da Corte, algumas já estabelecidas no Rio de Janeiro, enviaram seus representantes para os novos achados auríferos para que vendessem mercadorias e, se possível, estabelecessem casas comerciais”. (FURTADO, 1999, p. 198).

Francisco Nogueira, homem de negócios que ocupou o cargo de Vice Ministro da Ordem Terceira de Vila Rica em 1757. Ele era natural da freguesia de Sarraquinhos, termo da Vila de Monte Alegre, Arcebispado de Braga. Em seu processo de habilitação para familiar do Santo Ofício, encontramos a informação que João teria deixado a residência dos pais e ido, “menor de idade” para Lisboa, onde viveu alguns anos antes de se “ausentar” para as Minas. Em Lisboa teria aprendido o ofício de cirurgião, ofício este que exercia nas Minas concomitantemente com “seus negócios”.98

Com certeza, casos como o de João Francisco Nogueira eram comuns, ou seja, homens oriundos das regiões do Norte do reino que, antes de se aventurarem nas Minas passavam algum tempo em Lisboa, onde aprendiam algum ofício. Assim, além da questão do prestígio que as Ordens Terceiras de Lisboa gozavam perante as demais filiais desta instituição, conforme afirmado por Martins, temos que considerar também a possibilidade de homens que, antes de partirem para as Minas, passavam um tempo na capital do Reino, onde poderiam aprender algum ofício e onde aproveitavam também para se filiar a uma das Ordens Terceiras de Lisboa.

Martins chama a atenção também para outra característica das Ordens Terceiras que as diferenciavam das demais irmandades, e que pode ter influenciado no prestígio que estas Ordens atingiram em meados do século XVIII, conforme já mostramos. Segundo Martins:

“em seus constantes deslocamentos, os povoadores reinóis e os colonos buscavam apoio nas redes de proteção formada pelas filiais das ordens terceiras franciscanas e carmelitas havidas em ambos os lados do Atlântico, de modo a suavizar um pouco as situações de crônica instabilidade a que se sujeitavam nas regiões ultramarinas” (MARTINS, 2009, 313).

Assim, tornava-se fundamental para os homens que partiam do Reino em direção a América Portuguesa sem saber ao certo o destino que os esperava, se resguardar na segurança oferecida pelas Ordens Terceiras, tanto espiritual quanto socialmente, pois a participação nelas permitia a inserção destes homens em meio às principais lideranças das localidades para onde se dirigiam. Pela análise das diversas localidades, tanto do reino quanto das demais regiões do Império Português, encontradas na tabela 01, podemos perceber que esta era uma preocupação que atingia grande parte daqueles homens.

3.5 – Ocupações

Voltando aos registros encontrados no livro de assento de irmãos da Ordem Terceira de São Francisco de Vila Rica, podemos fazer também um levantamento das ocupações dos homens que se filiavam àquela instituição. Como já afirmamos anteriormente, não temos os dados para o total dos irmãos, pois apenas alguns registros possuíam dados mais detalhados acerca dos homens que recebiam o hábito. Desta forma, só nos foi possível encontrar ocupação para 634 dos homens, o que corresponde a 26,7% do total de irmãos do sexo masculino que ingressaram na Ordem. Como as ocupações englobavam um número muito grande de ofícios diferentes, optamos por classificá-las em algumas categorias.

A primeira delas é relativa aos homens que foram catalogados como “Mineiros” em suas entradas. A segunda engloba todos os homens que foram registrados com ocupações ligadas à atividade comercial, como caixeiros, mercadores, “vive de sua loja”, comboieiros, viandantes, taberneiros, cobradores, loja de fazendas, “homem de negócios”, dentre outros.

A terceira categoria relaciona todos os homens ligados a atividades consideradas mecânicas, composta por alfaiates, carpinteiros, carapinas, ferreiros, marceneiros, sapateiros, pedreiros, seleiros, dentre outros. Esta categoria é a que engloba mais ofícios, sendo 30 as diferentes atividades encontradas. Optamos por não diferenciar aquelas ocupações consideradas “mais mecânicas” do que outras, classificando todas em uma mesma categoria.

A quarta categoria é a composta pelos homens que exerciam atividades ligadas à agricultura, como roceiros, lavrador e hortelão. Em seguida temos os homens classificados como “titulares de ofícios”, englobando aqueles que exerciam ofícios ligados a algum órgão público, como os de escrivão da Real Fazenda, tesoureiro dos ausentes, secretário de governo, abridor da casa de fundição, ou solicitador de causas.

A sexta categoria é a dos militares, onde foram arrolados os homens que possuíam patentes da tropa paga, como mestre de campo, soldado dos dragões, cadete, furriel, assim como aqueles que foram relacionados como “militar”. Em seguida temos a categoria dos “eclesiásticos”, que abrange os padres e capelães arrolados no livro de assento de irmãos. A penúltima categoria é a dos “letrados” na qual catalogamos os homens que foram arrolados como doutores, licenciados, letrados, e gramáticos. Por fim temos a categoria “outros” onde inserimos os “estudantes”, assim como aqueles que ficamos em dúvida de onde catalogar, como os que foram relacionados como “vive de seu trabalho”, e um único caso onde encontramos a classificação “mineiro e roceiro”, sem distinção de ocupação principal.

Gráfico 4 – Ocupações segundo o Livro de Entradas. – (1746-1805)

Observando o gráfico percebemos primeiramente um número bastante elevado de “militares” e “eclesiásticos” como membros da Ordem Terceira de Vila Rica. Porém, temos que fazer uma ressalva a estes números, especialmente no que se refere ao de homens classificados como “eclesiásticos”. Todos os nomes relativos a padres ou capelães presentes no Livro de Entradas e Profissões da Ordem Terceira de São Francisco de Vila Rica eram antecedidos pelo pronome de tratamento “Pe”, ou “Rvdo

Pe” em referência à condição de eclesiásticos daqueles irmãos. Assim, todos aqueles homens que possuíam aquela condição foram identificados, o que não acontecia em relação aos demais. Temos então, o número total dos “eclesiásticos” que fizeram parte da Ordem, porém em relação aos homens que tinham outros ofícios temos apenas os dados em que, no registro de entrada, essas informações apareciam.

Em relação aos “militares”, optamos por não registrar quando a referência à patente aparecia antes do nome dos irmãos, mas apenas aquelas que apareciam como referência à sua ocupação. Assim, o “Capitão Afonso Dias Pereira”, por exemplo, não foi registrado como “militar”, pois consideramos que sua patente deveria ser de Ordenanças, estando ali registrada não como sua ocupação, mas em referência à sua “qualidade”. Assim classificamos como “militares” apenas aqueles registros que possuíam na frente do nome, algum indicativo de que Fonte: AHPNSC, Arquivo da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Livro de Entradas e Profissões (1746-1791), MF 162, e Livro de Entradas e Profissões (1782-1805), MF 186

ele de fato tinha alguma ocupação militar, como por exemplo, a palavra “soldado”. Assim, o grande número de “militares” pode estar relacionado a um efetivo aumento da participação destes na Ordem, conforme veremos mais adiante, porém este aumento no número de “militares” só vai acontecer nos anos finais do século XVIII. Além disso, neste período, as ocupações já não eram mais registradas nos livros, exceto nos casos de “eclesiásticos” e “militares”. Desta forma, o grande número de “eclesiásticos” e “militares” como membros da Ordem Terceira de Vila Rica está enviesado pelas características da documentação utilizada por nós para a realização deste gráfico. Isto, porém, não inviabiliza sua utilização em relação às demais ocupações.

Percebemos que as classificações feitas por Salles e Boschi, às quais nos referimos no início deste capítulo, de que a Ordem Terceira de Vila Rica era a “irmandade dos intelectuais e altos funcionários” (SALLES, 1963, p. 69), ou que ela arregimentava “predominantemente intelectuais, militares e burocratas” (BOSCHI, 1986, p. 164), não se adequam a estes dados. Percebemos em nosso estudo uma grande presença de “comerciantes” e de pessoas que exerciam “ofícios mecânicos” como irmãos daquela instituição. O número dos “titulares de ofícios” e “letrados”, categorias estas que segundo os autores citados deveriam se mostrar predominantes, consideradas em conjunto chegam ao número de apenas 26, sendo superadas inclusive pelos homens classificados por nós como “agricultores”.

Na classificação feita por Boschi, ele inclui também os militares como sendo uma parte significativa dos irmãos terceiros, o que também nota-se no gráfico por nós acima apresentado. Porém, conforme já informamos a entrada maciça de “militares” naquela instituição não foi sentida durante todo o período analisado, além de poder estar enviesado pelas características da documentação utilizada. Se considerarmos apenas o período onde número de entrada de irmãos atinge seu auge, ou seja, entre os anos que vão de 1754 até 1760, conforme visto no gráfico 03, encontramos apenas 3 homens classificados como “militares”, sendo 2 soldados dos dragões e 1 mestre de campo. Assim, percebemos que nos primeiros anos da Ordem em Vila Rica, o número de militares que recebiam o hábito era bastante reduzido, padrão este que vai se alterar no final do século XVIII, conforme veremos mais a frente. Diante desta documentação, a classificação feita por Boschi só se revelaria pertinente caso considerássemos todos os homens que possuíam patentes, seja elas de ordenança ou milícias, como pertencentes à categoria “militares”. Porém, a historiografia já mostrou que a posse de tais patentes servia mais como critérios de hierarquização social do que efetivamente

como cargos militares.99

Voltando à análise do gráfico 04, percebemos que os “mineiros” também constituíam uma boa parte dos irmãos, com 62 homens registrados com esta ocupação, mesmo considerando que, no momento da fundação da Ordem em Vila Rica, a mineração já estava em declínio naquela região.

Se reduzirmos o período da análise apenas para os anos em que a documentação nos fornece um número maior de informações a respeito das ocupações dos homens que entravam na Ordem Terceira de Vila Rica, temos um retrato mais fiel daquele grupo. Assim, considerando apenas os anos que vão de 1746 à 1765, temos os seguintes percentuais:

Gráfico 05 – Percentual de Ocupações – Livro de Entradas (1746-65)

O gráfico 05, que reúne as ocupações encontradas para homens que entraram na Ordem Terceira de São Francisco de Assis para os anos de 1746 a 1765, período este que abrange os anos de maior fluxo de entrada de irmãos naquela instituição e no qual temos

99 Para maiores informações a respeito do papel das patentes de ordenanças como critério de hierarquização

social e poder, conf..: (COSTA, 2006).

Fonte: AHPNSC, Arquivo da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Livro de Entradas e Profissões (1746-1791), MF 162

registros do livro de entradas mais completos, nos mostra outra realidade em relação às ocupações dos irmãos. Percebemos que os “eclesiásticos” e os “militares” deixam de ser as ocupações com maior representatividade, sendo substituídos pelos homens que exerciam “ofícios mecânicos”, representando 25% das ocupações, seguido de perto pelo grupo dos “comerciantes”, com 23%. Em terceiro lugar encontramos os “religiosos” que correspondiam a 19% daqueles homens e os ocupados na “mineração”, com 16%. Estes eram os principais grupos, representando juntos 83% das ocupações registradas no livro de entradas. .O grupo dos “agricultores” com 9%, e dos “letrados”, com 4%, ocupam uma posição de segundo escalão em relação à representatividade dentro do grupo. Por fim temos o grupo dos “militares”, “titulares de ofícios”, e “outros”, que agrupados representam 4% das ocupações dos irmãos.

Para a Ordem Terceira de São Francisco de Assis do Rio de Janeiro, Martins encontra os seguintes percentuais de ocupações, para o período entre 1683 e 1811: “ofícios artesanais” representavam 49,4% dos irmãos, seguidos pelas “gentes de comércio” com 34,1%; “funcionários e letrados” com 5,2%; “ocupações marítimas” com 3,9%; “militares profissionais” com 3,6%; “ocupações itinerantes”, com 1,3%; “clérigos” com 1%; e “proprietários de terras”, com 0,6% (MARTINS, 2009, p.349).

Já para a Ordem Terceira de Braga, no período compreendido entre 1674 e 1822, Moraes encontrou o seguinte percentual de ocupação para os irmãos: 46% eram “oficiais mecânicos”, 33% “eclesiásticos”, 13% “comerciantes”, 6% “letrados” e 2% eram “militares” (MORAES, 2010, p.118). A mesma autora, em relação à Ordem Terceira de São Paulo, encontra irmãos catalogados como “eclesiásticos” com 37% como o grupo mais representativo, seguido pelos “militares” com 31%, pelos “comerciantes” com 25% e “outros” representando 7% dos irmãos para os quais foram encontradas as ocupações (MORAES, 2010, 408). Verifica-se que os valores encontrados para São Paulo diferem dos encontrados para as demais localidades. A própria autora afirma, porém, que por falta de informações disponíveis nos registros de entradas da instituição paulista, os dados apresentados são de pouca representatividade perante o total de irmãos. Isso pode explicar, por exemplo, o fato de os “oficiais mecânicos” quase não aparecerem no levantamento, sendo incluídos na categoria “outros”, ao lado dos “letrados”, “estudantes” e “lavradores” que atingem apenas 7% do total.

Percebemos que os homens que se ocupavam de ofícios relacionados ao trabalho manual, classificados em nossa análise e na de Moraes como “ofícios mecânicos”, e “ofícios artesanais” por Martins, eram a maioria dos irmãos em Vila Rica, Braga e Rio de Janeiro, seguidos pelos “comerciantes” ou “gentes de comércio” em Vila Rica e Rio de Janeiro, e

pelos “eclesiásticos” em Braga. Na Ordem Terceira do Porto, os homens ligados aos ofícios mecânicos também eram a maioria dos irmãos, destacando-se os alfaiates, sapateiros e ourives. Em segundo lugar estavam os religiosos, seguidos pelos comerciantes (REGO, JESUS, AMORIN, 2005, p. 128).

Juliana Moraes afirma que a busca de espaços que propiciavam inserção e visibilidade social explica “a atração exercida pelas Ordens Terceiras aos grupos rejeitados por outras instituições controladas exclusivamente pela nobreza, como as Santas Casas da Misericórdia ou as Câmaras municipais” (MORAES, 2010, 122). Dessa forma, a busca pela participação na Ordem Terceira por um grande número de pessoas que se ocupavam de “ofícios mecânicos” pode ser entendido como uma confirmação de que a filiação àquela instituição permitia a distinção destes homens que, mesmo sendo brancos e cristãos velhos, estavam excluídos de outras honrarias em razão de seus ofícios.

Dentre os ocupantes de “ofícios mecânicos” na Ordem Terceira de Vila Rica, os mais representativos são os Pedreiros (22), Sapateiros (17), Carpinteiros (13), Ferreiros (12), Caldeireiros (8) e Alfaiates (7). Segundo Geraldo Silva Filho, os ofícios mecânicos mais requisitados eram os “alfaiates, ferradores, ferreiros, carpinteiros, pedreiros e sapateiros”. (FILHO, 2008, p. 73). Segundo este autor, os ocupantes destes ofícios viviam sob a vigilância constante das Câmaras. Eram homens que deveriam exercer seus ofícios com maestria, para não correrem o risco de sofrer as sanções punitivas da Câmara, que poderia inclusive revogar suas cartas de ofício.

Apesar de o senso comum associar os ofícios mecânicos às atividades relegadas aos segmentos mais baixos daquela sociedade, sendo inclusive desprezadas pelos homens brancos, Filho nos mostra que a maioria dos oficiais mecânicos de Vila Rica era constituída por homens brancos, que representavam 83,55% dos oficiais mecânicos daquela localidade. Assim, Filho afirma que o referido desprezo do branco quanto à prática do oficialato mecânico não era encontrado em Minas. Segundo o autor, “os ofícios mecânicos, enquanto uma atividade manual eram exercidos por indivíduos de toda e qualquer condição social” (FILHO, 2008, p. 84). O autor ainda completa que “os indivíduos executantes do oficialato mecânico, (...) a despeito de suas especialidades profissionais, tinham cada qual o seu

No documento cristianooliveiradesousa (páginas 127-146)