• Nenhum resultado encontrado

2 RÉQUIEM PARA UNIVERSIDADE DO RECIFE: GOLPE E

2.4 A ASSESSORIA ESPECIAL DE SEGURANÇA E INFORMAÇÕES DA

O estudo da comunidade de informações e suas seções universitárias ganhou força no início deste século com a abertura dos arquivos do SNI e com a instalação da Comissão Nacional da Verdade. Neste sentido, os arquivos secretos das ASIs universitárias receberam cuidados diferentes de preservação. Nos casos excepcionais da UNB e da UFMG os documentos foram quase totalmente preservados e, a partir dos anos 1980, disponibilizados para pesquisadores e para requerentes de reparações judiciais. Em outras situações foram recuperados parcialmente após levantamento cuidadoso dos arquivos gerais e setoriais da universidade à semelhança da UFES (FAGUNDES, 2013; ALMEIDA, 2015). No entanto, a maioria da documentação produzida pelas agências de espionagem dos campi foi parcialmente ou totalmente destruída e extraviada como, verbi gratia, da USP, UFAM, UFMA, UFPI, UEL (MOTTAa, 2014). Possivelmente o arquivo da AESI/UFPE recebeu o mesmo tratamento ou ainda aguarda trabalho de investigação semelhante ao da UFES para ser recuperado. Nessa perspectiva, o presidente da CNV, Pedro Dallari, definiu a destruição de arquivos secretos como um dos principais problemas enfrentados por este órgão temporário33.

Do período correspondente à instalação das primeiras AESIs em 1971 até sua extinção nos anos 1980, os arquivos da UFPE apenas preservaram 59 documentos oficiais referentes à comunicação entre o reitor Geraldo Laffayette (1979-1983), Pró-reitores34e outros órgãos da comunidade de informações. As comissões de sindicâncias, os inquéritos sumários e os inquéritos policiais militares que compuseram o expurgo político deixaram os primeiros vestígios destas relações perigosas entre a elite universitária e a repressão. Tais operações também contaram com a liderança direta de autoridades militares, como recorda o professor e gestor na época, Moreira Reis: “Logo depois do início do governo do triunvirato de Costa e Silva e antes da posse de Castelo Branco, teve um coronel do Exército que andava pela reitoria controlando certas atividades” (SANTOS, 2012, p. 49).

Ao longo do governo do marechal Castelo Branco surgem novos rastros oriundos das manifestações que marcaram a retomada do movimento estudantil livre no ano de 1965. Por

33 Disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,destruicao-de-arquivos-secretos-dificultou-

trabalho-da-comissao-diz-dallari,1604902; Acesso em 17 jan. 2018.

84 exemplo, os ofícios trocados entre os dirigentes da EEP, da reitoria da UFPE e da 7ª Região Militar mostram a articulação entre as Forças Armadas e a elite acadêmica para reprimir o movimento estudantil. Tais ações resultaram na suspensão do DA da EEP em 1965 e em 1966, assim como na prisão e na tortura de Alexandre Magalhães da Silveira e de Ruy Frazão Soares (Ofício nº 862-E2; Processo 6.150/66; Processo UFPE 8.126/66; ofício EEP/UFP – Ofício 234/ 1966; Atas do Conselho Universitário da UFPE, 7ª sessão, 29/04/1966; 10ª sessão, 29/07/1966; MACHADO, 2008).

Por outro lado, havia aqueles professores, administrativos e estudantes que por motivos variados desempenhavam a posição de informantes. Apesar da natureza confidencial deste ofício, os gestos dos delatores muitas vezes despertavam a atenção da comunidade universitária, talvez pelo comportamento político da pessoa em relação ao governo ou pelo círculo de amizade. Neste sentido, o professor Marcionilo Lins é citado como possível informante em entrevistas com antigos quadros do movimento estudantil35.

A ação destes “elementos de ligação” evoluiu entre 1960 e 1970 para as operações do DSI/MEC e, depois, das AESIs universitárias. Um exemplo pode ser lido num documento “confidencial” do DSI/MEC, datado de 22 de julho de 1969, destinado ao chefe da Comissão Geral de Inquérito Policial Militar36 e difundido pelo SNI - Agência do Rio de Janeiro (SNI/ARJ), que informava do mandado de segurança concedido aos estudantes da FCE da UFPE suspensos por três anos pelo 477. Em matéria anexa do Jornal do Commércio se encontram dados sobre os estudantes e o advogado Carlos Moreira, responsável pelo mandado. Ademais, linhas sublinham os equívocos do diretor Nelson da Costa Carvalho que motivaram o indeferimento do processo (Arquivo Nacional: BR DFANBSB AAJ.0.IPM.429). Diante dos fatos, o chefe do DSI MEC, o General Waldemar Raul Turula, enviou um telegrama (RETEMEC nº 493/69), datado de 25 de julho, solicitando ao reitor Murilo Guimarães “com máxima urgência” informações sobre o processo e o procurador responsável pela contestação daquela peça jurídica, o qual foi respondido pelo dirigente da UFPE em telegrama datado de 30 de julho (Arquivo Nacional: BR DFANBSB AAJ.0.IPM.467).

Num outro documento da Secretaria Geral da CSN (Ofício nº 10 – SG -1/2109/69), para o DSI/MEC, datado de 26 de setembro de 1969, o chefe de Gabinete da CSN, coronel José Machado Bellas, apresenta carta recebida de “informante digno de crédito, de Pernambuco” com o seguinte conteúdo:

35 Projeto Marcas da Memória. Entrevistas com Socorro Ferraz Barbosa (2011) e Carmem Chaves (2011). 36 A CGI fora reaberta por ocasião da publicação do AI-5 e do 477.

85

Grande foi a decepção dos estudantes e professores democratas do estado de Pernambuco, ao receberem a notícia da nomeação do Prof. Hélio Mendonça para o cargo de Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal e Pernambuco, a que reúne maior número de professores e alunos. O referido professor é um daqueles pais que não sabe orientar seus filhos para uma democracia ordeira e feliz, como pretende o Governo do Exmº Sr. Costa e Silva, haja visto que dois dos seus filhos pertenceram aos movimentos

estudantis contra-revolucionários e ativadores de campanhas

desmoralizadoras das nossas autoridades. O prof. Hélio Mendonça tomou parte ativa nas manifestações que se fizeram sentir quando da morte do Padre Henrique e ainda acompanhou o enterro-passeata que se realizou em Pernambuco (Arquivo Nacional: BR DFANBSB N8.0.PSN, EST.304).

O oficio confidencial para inscrever o signo da “subversão” no professor “suspeito” mescla elementos morais e políticos concernentes à educação paterna e à militância estudantil dos filhos, assim como à participação no protesto contra o assassinato do padre Henrique Pereira por agentes de segurança e do CCC. Após o período de pressão velada, o professor Hélio Mendonça renunciou da direção da FMR, assumindo na ocasião o vice Arthur Coutinho, doravante reconfirmado por lista sêxtupla para o cargo (Diário de Pernambuco – 29/12/1971, p. 3).

Como recorda a professora e dirigente Maria Antônia Mac Doweel sobre o primeiro “elemento de ligação” e a institucionalização da AESI/UFPE:

Aquele era um peste. E sei, muita gente soube, que lá para as tantas – não levou muito tempo, ainda foi na rua do Hospício – Dr. Murilo [reitor] chamou- o ao gabinete, passou-lhe uma descompostura em regra e demitiu-o (tratava- se de alguma coisa envolvendo denúncia de estudantes, ou pior, aliciamento de estudantes como informantes, lá para o lado de engenharia). Veio outro, depois, que nunca entendi bem: ele fazia lá direitinho o trabalho da 2ª Seção (era o órgão de segurança do Exército) e com a Pró-reitoria as relações eram tensas. Mas de vez em quando deixava escapar alguma informação para uso nosso – por exemplo, dizer na frente do Teophilo ‘Fulano vai ser preso em tal e tal dia e lugar’, sabendo que Teophilo iria direto avisar o Fulano. E houve caso de uma admissão de docente, que a 2ª seção vetou, e ele se ofereceu para levar a documentação a Brasília e tentar obter a liberação: levou e obteve. Então não sei bem qual era a dele (SANTOS, 2012, p. 245).

Quando Marcionilo Lins tomou posse como reitor em agosto de 1971 nomeou, em seguida, para a chefia da AESI/UFPE um professor “sobre o qual tinha influência decisiva”, desse modo evitando que um “conhecido agente policial, não membro do corpo docente, embora funcionário da Universidade, viesse a ser o ocupante do cargo”, como recorda o

86 professor Heraldo Souto Maior37 (2005, p. 60), que narra o momento inusitado no qual cruzara com o espião durante uma reunião com o Reitor:

No meio da conversa entra pela sala, um tanto excitado, o responsável pelo setor de segurança da Universidade, um professor um tanto ingênuo, com alguns papéis na mão. Pergunta o Reitor: “O que houve, Fulano?”, obtendo a seguinte resposta: “O coordenador do mestrado em Sociologia comprou um livro comunista para a biblioteca de Economia e apreendi este cartaz anunciado uma conferência de Fernando Henrique Cardoso [...] o Reitor apontou para o coordenador e disse: “O coordenador é esse aí” [...] indaga: “qual foi o livro adquirido?”. Resposta: “Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado.” Devolve o coordenador: “Não compro livro para essa biblioteca, esse livro já existe lá faz algum tempo e, ao que me consta, este não é um livro comunista.” Intervém o reitor com ironia não percebida pelo agente de segurança: “é Fulano, quando Celso Furtado escreveu esse livro não era comunista”. “É?”. Retira-se após algumas palavras e o Reitor comenta: “Para você ver o que tenho que aguentar aqui” (SOUTO 2005, p. 59).

Ainda sobre o professor e chefe da AESI/UFPE acrescenta a então Pró-reitora de Assuntos Acadêmicos, professora Mac Dowell:

Marcionilo [Lins] pôs naquela Assessoria um professor – imagino que devia ser politicamente correto, mas no que diz respeito à universidade, era um cão fiel: para ele, o que a UFPE fizesse, em princípio estava certo, e sua principal função na Assessoria era fazê-lo ver a 2ª seção. Veio algumas vezes à Pró- reitoria colher subsídios e, um dia, apareceu-me com: “eles estão falando muito das reprovações na Área II; Eu já disse que não é culpa da Universidade, mas se a senhora pudesse ir lá explicar melhor”. Os índices, nas matemáticas, eram mesmo muito altos e já estávamos pensando no que fazer; daí, porém, a ir dar satisfações à 2ª seção... Mas vi a aflição dele e fui. Recebeu-me um capitãozinho, que se pôs a falar na superioridade da Escola Militar e de seus métodos, mostrou um gráfico, explicando-me que aquilo era “uma curva de Bell” na qual se viam os bons resultados obtidos pelos cadetes, etc. quando terminou, eu disse: “Capitão, para Escola Militar, vocês selecionam os alunos no país inteiro, os que entram têm todos a mesma base. Na área II entram alunos que não sabem resolver equações do 2º grau, outros que não resolvem as do 1º e outros que não dominam as quatro operações com frações ordinárias. Em termos desse seu gráfico, o eixo das abscissas, com que nós trabalhamos, não é uma reta, é um ziguezague”. A conversa não foi muito adiante. Mas o nosso assessor saiu satisfeito: “Não lhe disse capitão? A Universidade sabe o que faz!”. E, convencido, ou não, o capitão não se meteu mais conosco (SANTOS, 2012, p. 244-245).

37 Professor do ICH e naquele momento coordenador do Programa Integrado de Mestrando em Economia e

87

Como a UFPE, outras universidades também nomearam professores como chefes de suas AESIs ou ASIs naquele ano: UFMG, UNB, UFES, UFF, UFRJ, UFAM, UFMT e UFMA. Ao passo que possuíam normalmente chefias militares a USP, a UFC, a UFRRJ, UFRGS e a UFRN. Aqueles agentes duplos ou triplos (MOTTA, 2014a), espiões, docentes e dirigentes acadêmicos (como se verá mais adiante) ofereciam uma vantagem às reitorias na difícil relação com o SNI, mas ficavam longe de neutralizar o trabalho das OIs de vigiar e de pressionar a “administração supervisionada”.

Para tanto, a AESI/UFPE dispunha de um espaço na reitoria que ficava no “fim do corredor do segundo andar, onde tinha a sala de acesso reservado; e, dentro dessa sala reservada, havia a sala secreta, na qual ninguém podia entrar” (SANTOS, 2012, p. 237). Visando aprimorar seu trabalho, o chefe da AESI/UFPE participou de um estágio na ESNI entre 27 de novembro e 15 de dezembro de 1972. A atividade contava com 43 estagiários dos quais 27 ficaram alojados no bloco “J” da ESNI.

Uma lista final com todos os participantes da atividade da ESNI revela, finalmente, a identidade secreta do chefe da AESI/UFPE e de mais outros 30 profissionais vinculados ao MEC: Djair de Barros Lima (UFPE), Arsênio Canísio Becker (DSI/MEC), Amyr Santos (DAC/MEC - GB), Aristóteles Pinheiro de Oliveira (FENAME/MEC – GB), Arminak Cherkezian (ARSI SP-MT/MEC), Augusto Ribas Maciel (UFSM), Carlos de Carvalho Craveiro (UFGO), Carlos Eugênio Pires de Azevedo (UFAL), Ediláudio Luna de Carvalho (UFPB), Eurico Borges Cortes (DSI/MEC – GB), Fernando Antônio Medeiros Beck (UFSC), Geraldo Nogueira Diógenes (UFCE), Gabriel Lino Lopes Maia (DSI/MEC), Hélio de Sousa Leão (UFS), Hebert Moreira Moraes (UFJF), Hebert Pinheiro de Abreu (IGF/MEC), João Aragão Coutinho (SDI/MEC), José Francisco Borges de Campos (UFF), José Liberato Costa Póvoa (MEC), José Nastri Filho (UFSCAR), Joselito Eduardo Sampaio (UNB), Luiz Veme Venturoso de Araújo (MEC), Luiz MarceloPon-Gondry Ferreira (UFRPE), Mânlio Garibaldi Fischer Filizzola (UFRRJ), Natalício da Cruz Correa (UFRGS), Sidney de Castro Véras (DEB/MEC), Theobaldo Pedro Geovani (DSI/MEC), Waldir Bortoluzzi (DSI/MEC), Waldir de Lima Castro (SER/MEC) e Zacheu Luiz Santos (UFRN – Arquivo Nacional: Fundo BR - DFANBSB - AA1.0.LGS.5 – grifos do autor).

Djair de Barros Lima era professor da FCE da UFPE e chefe de gabinete do reitor Marcionilo de Barros Lins (1971-1974). Durante o estágio na ESNI, o espião dividiu o quarto, o “Apt. Nº 9”, com os colegas Carlos Eugenio Pires de Azevedo, da AESI/UFAL, e Ediláudio Luna de Carvalho, da AESI/UFPB. Naqueles dias pôde estreitar os laços de fraternidade e de

88 cumplicidade com os demais agentes de informações do MEC e aprimorar o trabalho de espionagem que desenvolvia há mais de um ano na UFPE a partir de conteúdos voltados para história, conceitos, princípios, classificação, produção, processamento e difusão da informação. Participou durante o estágio de um grupo de trabalho chefiado pelo companheiro da AESI/UFAL e, igualmente, integrado por Waldir Bortoluzzi e Theobaldo Pedro Geovani, ambos do DSI/MEC (Arquivo Nacional: Fundo BR - DFANBSB - AA1.0.LGS.5).

Ao que tudo indica, Djair Barros Lima nasceu em 10 de outubro de 1931 (Diário de Pernambuco 26/08/1952, p. 10). Quando estudante da FCE da UFPE, fazia parte do grupo de direita liderado pelo estudante da FDR da UFPE, Marcos Antônio Maciel. Os estudantes em defesa da ordem e do status quo se organizavam em grupos autointitulados “Unidade”, “Estudantes Democratas”, “Democratas” ou “Vanguarda Independente Reformista (VIR)”. Mesmo tendo perdido espaço político no movimento estudantil no início dos anos 1960, estes grupos conquistaram algumas eleições38 do DCE de 1961, 1962 e 1963 e dos DAs da FDR e da

FCE por meio de fraudes e do apoio político-econômico do complexo empresarial IPES/IBAD (DREIFUSS, 1981; BRAYNER; BARBOSA, 2017). Durante o ciclo repressivo de 1964 lideranças destas tendências anticomunistas foram nomeadas como interventores dos principais órgãos de representação estudantil do estado, especialmente da UEP e do DCE da UFPE, sendo derrotados, doravante, nos principais pleitos do ano de 1966.

Consolidado o golpe, o estudante egresso Marcos Antônio Maciel foi nomeado assessor do governador Paulo Guerra, enquanto Djair Barros Lima se tornou interventor da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP). Como interventor da entidade, fez circular uma nota de esclarecimento nos jornais denunciando os ditos “panfletos mimeografados [...] de politiqueiros universitários” e conclamando seus colegas a comparecerem à entidade para “trabalhar pelo movimento universitário de Pernambuco”. Ao mesmo tempo, atacava os adversários progressistas: “O mundo estudantil de Pernambuco já conheceu esses maus colegas que vivem à custa de fazer politicagem. Tenham certeza de que conosco não terão vez” (Diário de Pernambuco – 22/10/1964, p. 5). O interventor da UEP, após rápido impasse com o secretário de educação Moury Fernandes, aceitou a decisão do governo de intervir na expedição de carteiras de estudantes: “a toda e qualquer medida que vise a controlar a expedição das referidas carteiras, com a finalidade de evitar o ‘falso estudante’” (Diário de Pernambuco, 04/11/1964, p. 4; 02/12/1964, p.8; 24/12/1964, p. 6).

89 Após a extinção formal da UEP pela Lei Suplicy39, o estudante de economia se tornou presidente do DCE num pleito esvaziado pela repressão e no qual desfrutara do apoio do Conselho Universitário (UFPE, 1964)40. Denunciando a chapa derrotada traiçoeiramente, afirmava que “seu grupo, composto de autênticos representantes da Vanguarda Independente Reformista (VIR), lutou contra um verdadeiro esquema traçado pelas esquerdas que tentaram na união com ex-candidato da UEP, Ricardo Araújo Lima, uma retomada da direção do DCE” (Diário de Pernambuco, 13/12/1964, p. 13).

O então diretor do DCE se declarava “independente”, apesar da reconhecida militância de direita, conforme declarava aos jornais: “ainda sobre política no meio universitário faço questão de frisar que sempre fui um discípulo da escola independente, que se impôs entre os universitários pernambucanos, criada pelo nosso ex-presidente Marcos Antonio Maciel”. Compunham, assim, a chapa da VIR: presidente, Djair Barros Lima (FCE/UR); vice-presidente, Jarbas Araújo (EBAPE/UR); 1º secretário, Marcelo José Lavra (Faculdade de Farmácia da UR); 2º secretário, Eni Maria Ribeiro (Faculdade de enfermagem da UR); tesoureiro, Francisco Castelo Branco Rebouças (ESQ/UR); e como representantes discentes no Conselho Universitário: Guilherme Pereira de Albuquerque e Dilson de Albuquerque, ambos da Faculdade de Odontologia (Diário de Pernambuco, 13/12/1964, p. 13).

No decurso da conferência com o presidente marechal Castelo Branco realizada em 1965 no palácio Campo das Princesas, o DCE da UFPE representou os estudantes do estado. Na ocasião o presidente da entidade reivindicou o controle da anuidade das escolas e a criação pelo governo de um órgão de representação dos estudantes secundaristas (02/02/1965, p. 5). A defesa das anuidades suscitou críticas da resistência estudantil por meio do DA da EEP, contra as quais os membros e os simpatizantes das tendências conservadoras publicaram no jornal um “manifesto de solidariedade” com o presidente do DCE da UR41 (Diário de Pernambuco,

10/03/1965, p. 14).

39O órgão seria reorganizado de forma clandestina pelo movimento estudantil de oposição. 40 Ver 3.3.3

41 Assinam a nota: Luiz Coutinho (FCE/UR), Júlio Magalhães Barros Jr. (EBAP/UR), Dílson Siqueira Magalhães

(Faculdade de Odontologia da UR), Paulo Leitão de Andrade (Faculdade de Administração da UR), Gilson Maia Fonseca (ESQ/UR), Luiz Rodrigues (DCE da UCP), Marcelo José Viana Lavra (Faculdade de Farmácia da UR), Guilherme Pereira de Albuquerque (Faculdade de Arquitetura da UR), José Roberto Braga (Faculdade de Direito da UCP), Edir Pinto Perez (Faculdade de Ciência Econômicas da UCP), Antônio Geraldo Pinto Maia (Escola Politécnica da UCP), Marcos A. Meira (FDR/UR), José Pestana de Araújo (Escola de Agronomia da URPE), Margarida Maria Fernandes (Faculdade de Biblioteconomia da UR), Bruno Muniz de Albuquerque (Faculdade de Odontologia de Pernambuco), Fernando Menezes (Faculdade de Filosofia da UCP), Aluísio de S. Sales (FAFIPE/UR), Anastácio Rodrigues (Faculdade de Direito de Caruaru), Otávio Araújo (Faculdade de Odontologia de Caruaru) e Francisco Conte (Faculdade de Ciências Médicas) – Diário de Pernambuco, 10/03/1965, p. 14.

90 O futuro espião seguiu defendendo nos jornais a emissão da carteira de estudante por um órgão misto formado pelo governo, empresários e estudantes, a cobrança de anuidades na universidade, bem como justificando o aumento de passagens e das refeições nos restaurantes universitários. Em uma longa entrevista publicada no Diário de Pernambuco ratificava sua posição e suas pautas políticas: “sou apenas um democrata por convicção. Isto é, para mim, houvesse ou não revolução, continuaria combatendo a corrupção demagógica dos comunistas e os estudantes políticos ‘profissionais’” (Diário de Pernambuco, 14/03/1965, p. 7). Ao passo que indagado sobre a UNE, destacava ser “favorável [...] à entidade máxima dos estudantes”, o combate dos “estudantes democratas” contra “os seus antigos dirigentes, que montaram ali o QG de subversão e de corrupção [...]”, assim como o desejo desses de dirigir a entidade (naquela época funcionando na clandestinidade). Concluiu a entrevista criticando o protesto realizado durante o trote da FMR/UR: “Os trotes estão sendo desvirtuados e a culpa cabe a cada presidente de Diretório que por medo ou omissão, não orienta os seus liderados como deve ser feito o trote. [...] não concordo com estudantes que procuram exibir cartazes imorais e subversivos” (Diário de Pernambuco, 14/03/1965, p. 7).

Diante da reorganização da resistência estudantil, Djair Barros Lima vai aos jornais rebater um panfleto que reivindicava eleições estudantis e denunciar o DA da EEP e outros diretórios como “foco de subversão e de agitação”:

A respeito da nota de protesto de alguns presidentes dos Diretórios Acadêmicos contra a realização das eleições para o DEE, acho que ela morre no nascedouro, por falta de apoio e não representar o pensamento da maioria dos Diretórios, que são em número de trinta. Não é preciso dizer-se que movimento desta espécie só pode partir e ser dirigido pelo Diretório de Engenharia, frisando, porém, que disto não participaram os verdadeiros estudantes daquela conceituada Escola. Isto é, daqueles que vão para a Faculdade com a finalidade de estudar e sim de certos “políticos profissionais” que ali estão com o propósito único de agitar como o fazem os estudantes Rui Frazão, Alexandre, Renato, José Maria, o vice-presidente do DA, Mardo e o seu presidente Cristóvão [...] Poderia citar outros que preferem ficar na corda bamba, querendo ser agradáveis a Deus e ao diabo. Estes são mais numerosos. E para demonstrar que são apenas meros agitadores, quero lembrar, que esses são os mesmos que vinham lançando panfletos anônimos exigindo eleições na UEP e que chegando o momento oportuno de realizá-las, se insurgem contra a sua realização (Diário de Pernambuco, 23/03/1965, p. 5).

Durante o aniversário da “revolução”, os “estudantes democratas” do DCE da UR e da UCP lançaram uma declaração celebrando “um ano que o Brasil marcou nova data de independência”. O texto recheado de ufanismo, anticomunismo e moralismo, linhas básicas da

91 cultura conservadora, reconhecia que diante da ameaça de “subversão”, “corrupção”, “anarquia”, “libertinagem”, dentre outras, “era tarde demais para se assegurarem os direitos democráticos. Só mesmo a força poderia conter os nossos inimigos” (Diário de Pernambuco, 31/03/1965, p. 6).

De resto, ainda insatisfeito com o misto de denúncia e ameaças que resultaram na prisão e na tortura de Alexandre Magalhães e Ruy Frazão, o presidente do DCE da UFPE formalizou sua denúncia no dia 21 de maio de 1965 ao delegado Álvaro da Costa Lins (denunciado como torturador) da SSP/PE. No processo Djair Barros Lima afirmava ser alvo de ameaças devido à sua posição governista e contrária à greve e outros atos da resistência estudantil (BRAYNER; BARBOSA, 2017).

Todo embate com o movimento estudantil livre deve ter repercutido negativamente para