Capítulo 4. Estudo de Caso
4.2. Recolha e análise de dados
4.2.1. Aplicação da lei de Bradford
4.2.2.1. A atitude dos investigadores face ao depósito em Acesso Aberto
Depois de perceber a totalidade da produção científica do INESC TEC que se encontra
agregada ao repositório institucional foi também necessário entender o tipo de acesso que essa
produção dispunha. Deste modo, de um total de 2 743 publicações agregadas ao repositório
institucional, sabe-se que a sua maioria se encontra em Acesso Aberto (70%), embora ainda
exista uma percentagem significativa de publicações em Acesso Fechado (30%), sem motivo
aparente (Gráfico 13).
A categorização por tipo de publicação tornou-se também um fator importante para
perceber a atitude dos investigadores face ao Acesso Aberto: no caso das revistas científicas,
dos 1 123 artigos publicados, 718 (64%) foram disponibilizados no repositório do INESC TEC em
Acesso Aberto, contrariamente às restantes 405 (36%) publicações que se encontram,
atualmente, em Acesso Fechado. Não contrariando esta tendência, quando nos referimos a atas
em conferência, de um total de 1 620 publicações arquivadas no repositório, a sua maior
Gráfico 13 - Publicações depositadas no repositório institucional do INESC TEC,
por tipo de acesso.
70%
30%
Acesso Aberto
Acesso Fechado
Publicações depositadas no repositório institucional do INESC
TEC, por tipo de acesso
4.Estudo de Caso
76
expressividade (74%) encontra-se em Acesso Aberto enquanto a restante produção científica
(26%) apresenta-se em Acesso Restrito (Gráfico 14).
Mediante o exposto, tornou-se extremamente relevante perceber o significado da
percentagem de publicações em Acesso Fechado sem que exista um motivo aparente, isto é,
entender o porquê de estas publicações não poderem estar em Acesso Aberto porque, apesar
de a larga maioria das publicações se encontrar em Acesso Aberto, ainda existe uma
percentagem significativa de publicações em Acesso Fechado.
Partindo deste princípio, e com base na análise anteriormente realizada, pela qual foi
possível perceber que a maioria das revistas e das conferências onde os investigadores publicam
são editores Verdes, o que significa que o autor pode arquivar a versão preprint e postprint ou
Versão/PDF do editor do artigo, não sendo de qualquer forma proibido o auto-arquivo, ainda que
estas publicações possam estar sujeitas a períodos de embargo, podemos reiterar que não existe
uma justificação plausível para que os investigadores não procedam ao auto-arquivo das suas
publicações no repositório e procedam à abertura ao documento, findo período de embargo,
quando exista.
A categorização por tipo de publicação permitiu ainda concluir que existe uma atitude
distinta dos investigadores quanto ao tipo de publicação: para além de terem procedido ao
carregamento de um número mais elevado de publicações de atas em conferência, também
abriram maioritariamente o acesso neste tipo de publicação (74%), ainda que não seja muito
significativa. A princípio, de acordo com a análise realizada numa primeira fase às políticas
associadas às revistas e às conferências das publicações, este tipo de acesso poderia estar
interligado aos períodos de embargo a que as publicações estão sujeitas e uma vez que ainda
Gráfico 14 - Publicações arquivadas no repositório institucional do INESC TEC,
por tipo de acesso e por tipo de publicação.
Acesso Aberto
Acesso Fechado
36%
26%
64%
74%
0%
20%
40%
60%
80%
Artigos em
Revista
Atas em
Conferência
Publicações arquivadas no repositório institucional do INESC TEC,
por tipo de acesso e por tipo de publicação
Acesso Aberto Acesso Fechado
77
não estava completo, a publicação permanecia em Acesso Fechado. Contudo, e uma vez que
o período de análise é bastante extenso (2013-2018), de acordo com os períodos máximos de
embargo a que as publicações poderão estar sujeitas (36 meses), existem títulos que, sem
sombra para dúvidas, já ultrapassaram este período e deveriam disponibilizar o texto integral no
repositório (como é o caso de publicações do ano de 2013, 2014 e 2015) (Gráfico 15).
A título informativo, e de modo a perceber se, de facto, as publicações que estão em
Acesso Fechado no repositório institucional do INESC TEC têm uma justificação plausível para
assim estarem, foram consultadas, com recurso à base de dados SHERPA/RoMEO, as políticas
associadas a cada revista dos 405 títulos que se encontram em Acesso Fechado
102.
Isto permitiu-nos perceber que, dos artigos em revista que se encontram em Acesso
Fechado, 79% já poderiam ser disponibilizados em Acesso Aberto, uma vez que o período de
embargo a que estavam sujeitos já foi ultrapassado ou, em alguns casos, não estavam sequer
sujeitos a períodos de embargo e poderiam disponibilizar de imediato o texto integral em Acesso
Aberto (de acordo com a versão permitida pelo título ou a editora), contrapondo-se com 17% que
devem permanecer em Acesso Fechado, até que termine o período de embargo a que estão
sujeitas. Contudo, existiam ainda 4% das publicações cujos títulos não forneciam informações
precisas acerca da publicação em Acesso Aberto e do período certo de embargo.
Embora ao longo deste estudo tenha vindo a ser comprovada a existência de um
conjunto de benefícios associados à abertura e divulgação da produção científica, os resultados
apurados parecem demonstrar que continua a existir alguma inércia dos autores relativamente a
102
Cf. Apêndice D.
Gráfico 15 - Análise das publicações em revistas que se encontram em
Acesso Fechado no repositório institucional do INESC TEC.
17%
79%
4%
Análise das publicações em revistas que se encontram em
Acesso Fechado no repositório institucional do INESC TEC
Publicações que têm
de se manter em
Acesso Fechado
Publicações que
poderiam estar em
Acesso Aberto
Publicações sem
informação do
período de embargo
4.Estudo de Caso
78
esta matéria que poderá estar associada a um conjunto de problemáticas, incluindo algum
desconhecimento das vantagens do AA por parte dos autores.
A transferência do copyright para as editoras continua a ser identificado como um
obstáculo comum à difusão da informação, uma vez que os investigadores receiam quebrar os
compromissos com os editores, acabando assim, não só por não abrir o acesso aos seus
trabalhos, como por não os depositar no repositório. Para além disto, e com base no estudo
elaborado por Borges (2002), este fenómeno poderá estar também relacionado com o receio de
plágio por parte dos investigadores, optando por manter a integridade do seu trabalho.
Desta forma, apesar dos valores anteriormente apurados (Gráfico 9 - Políticas de
copyright das revistas em análise, segundo a aplicação da lei de Bradford. e Gráfico 10 -
Políticas de copyright das conferências em análise, segundo a aplicação da lei de Bradford.) já
nos permitirem perceber que, numa primeira análise, não existe qualquer tipo de restrição, depois
de cumpridos os períodos de embargo, quanto à abertura das publicações, o exemplo acima
citado reflete um desconhecimento das políticas por parte dos investigadores. A inexistência de
uma uniformização tanto das licenças como dos períodos de embargo, e apesar de serem
definidos períodos máximo pelas agências de financiamento, acabam por ser ultrapassados por
períodos mais longos determinados pelas próprias editoras
103. Esta situação gera confusão e
desconfiança por parte dos investigadores, agravada por uma sobreposição de políticas (a nível
da agência de financiamento e da editora, alargando-se muitas vezes também a indicações da
própria instituição), que tem como consequência uma baixa taxa de submissão dos artigos em
Acesso Aberto que necessita, urgentemente, de ser resolvida para que a CA possa ser tornada
uma realidade.
4.2.2.1.1. Categorização por áreas científicas do INESC TEC
Sendo o INESC TEC uma instituição cuja sua estrutura organizativa se encontra dividida
em quatro áreas científicas distintas de acordo com a área de trabalho em que cada centro incide
(NIS – Redes de Sistemas Inteligentes, PE – Energia, II – Indústria e Inovação e CS –
Informática), tornou-se importante fazer uma categorização por tipo de área, a fim de perceber
de que modo estas lidam com a abertura do acesso à produção científica.
Havendo uma distinção por área científica é importante perceber as várias diferenças que
possam existir entre estas áreas: nível de produção científica, a atitude face ao depósito das
publicações no repositório institucional e a abertura do acesso às mesmas. Assim sendo, na
análise da produção científica percebeu-se imediatamente que existem algumas divergências
103
Atente que, por exemplo, no caso da FCT são definidos períodos máximos de 36 meses enquanto em
editoras como a Elsevier adotam períodos mais longos do que os permitidos (48 meses).
79
notórias nas diferentes áreas: Informática apresenta-se como a área com mais
publicações(1891), seguindo-se Redes e Sistemas Inteligente (1186), Indústria e Inovação com
983 publicações e, por fim, Energia com 631.
Tabela 7 - Número total de publicações, por área científica do INESC TEC (2013-2018)
II
PE
CS
NIS
Nº total de
publicações
983
631
1891
1186
Com a finalidade de procurar identificar o material depositado no repositório institucional
do INESC TEC percebe-se ainda que não existem diferenças notórias entre as áreas científicas
existentes: a área de Redes de Sistemas Inteligentes é a que apresenta a maior percentagem
de artigos depositados (67%), seguindo-se Indústria e Inovação com cerca de 60% de artigos
depositados no repositório e Informática com 56%. Em oposição surge a área de Energia que
mantém 51% da sua produção científica por depositar no repositório institucional (Gráfico 16).
Imediatamente se verificou a existência de uma relação significativa entre as diferentes
áreas científicas da instituição e a abertura do acesso às publicações no repositório institucional:
destaca-se a área da informática pela abertura do acesso à maioria das suas publicações (92%
dos artigos em revista e 92% das atas em conferência), contrariamente àquilo que acontece com
a área de Indústria e Inovação, que mantém a maioria das suas publicações em Acesso Fechado
(77% dos artigos em revista e 56% das atas em conferência). Nas restantes áreas o cenário é
Gráfico 16 - Percentagem de publicações depositadas no repositório institucional do
INESC TEC, por área científica (2013-2018)
60%
49%
56%
67%
40%
51%
44%
33%
II
PE
CS
NIS
Percentagem de publicações depositadas no repositório
institucional do INESC TEC, por área científica
Publicações depositadas no repositório
institucional
4.Estudo de Caso
80
idêntico à área de informática e a maioria das publicações encontra-se em Acesso Aberto, apesar
de, na área de Energia isto apenas ser válido para as conferências (Gráfico 17).
Os resultados mostram, assim, que o Acesso Aberto tem vindo a ganhar significado na
abertura ao texto integral das publicações, ainda que com várias divergências significativas nas
diferentes áreas científicas que demonstram também como a importância das práticas
disciplinares para a adesão ao AA.
No documento
Políticas de Copyright de Publicações Científicas em Repositórios Institucionais: O Caso do INESC TEC
(páginas 99-104)