Capítulo 4. Estudo de Caso
4.1. Políticas de copyright e auto-arquivo
4.1.1. Via Verde
A publicação em Acesso Aberto torna o acesso ao trabalho desenvolvido pelos
investigadores imediato e permanente, disponível online para todos, permitindo-lhes arquivar os
seus trabalhos diretamente em repositórios. Não obstante a variedade de opções de publicação
existentes, com o desenvolvimento crescente dos repositórios desde finais dos anos 80, tem-se
implementado cada vez mais a obrigatoriedade de depósito dos resultados de investigação em
repositórios de Acesso Aberto. Isto ocorre através do impulso dado pela FCT, aquando da
definição desta obrigatoriedade em trabalhos resultantes de projetos financiados por fundos
públicos (Fonseca 2017, 52; Vega 2018, 40).
Esta via de acesso, baseada em repositórios, intitula-se por Acesso Aberto Verde. Esta
opção permite ao investigador depositar num repositório em AA os seus trabalhos, mesmo que
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No intitulado “modelo híbrido” os autores têm duas possibilidades de escolha: proceder ao pagamento de
uma taxa que possibilite a todo e qualquer leitor o acesso imediato e gratuito à publicação ou,
contrariamente a isto, a publicação ficará disponível apenas para os assinantes, de acordo com o modelo
tradicional, sem que o autor proceda a qualquer pagamento adicional (Fonseca 2017, 42–43).
4.Estudo de Caso
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já anteriormente publicados noutros meios de disseminação, quer seja a versão aceite ou a
versão já publicada, permitindo assim agregar as várias versões dos trabalhos (preprints ou
postprints), tornando “públicas” as publicações frequentemente divulgadas por revistas
científicas. Contudo, à luz dos vários mandatos publicados a nível europeu, o Acesso Aberto
Verde permite apenas o depósito de artigos publicados, estando estes consequentemente sob
Direitos de Autor ou licenças Creative Commons, excluindo, deste modo, os preprints (Fonseca
2017, 52–53; Vega 2018, 40; University of California Libraries 2018, 2). Apesar do esforço
desenvolvido em torno da promoção do livre acesso, os elevados valores cobrados em algumas
bases de dados, que disponibilizam informação de qualidade, não permitem garantir um acesso
igualitário devido aos valores que são cobrados e que nem sempre podem ser suportados por
todos. Neste sentido, o depósito em repositórios, promovido através da via Verde, permite que
se caminhe progressivamente para o fim da desigualdade no acesso (Borges 2006, 183–84).
Os modelos de Acesso Aberto Verde, nos quais os períodos de embargo e os requisitos
de publicação variam de acordo com as editoras, atribuem responsabilidade às instituições e aos
autores de fazer o acesso funcionar livremente através dos repositórios online disponíveis,
frequentemente geridos pelas próprias instituições. Apesar dos desafios surgidos no âmbito da
transferência do copyright do próprio autor para a editora que, muitas das vezes, renunciam os
direitos necessários para a partilha da publicação, muitas editoras, de acordo com a via Verde,
fornecem aos autores das publicações permissões para realizar o depósito dos seus trabalhos,
bem como às instituições de hospedar o trabalho do seu corpo docente (University of California
Libraries 2018, 2).
A via Verde de AA traduz os esforços realizados para conseguir com que os
investigadores arquivem nos repositórios institucionais os seus trabalhos. Contudo, esta opção
continua a não ser devidamente usufruída, acabando por ser até desfavorecida através do papel
desempenhado pelas editoras que, muitas das vezes, restringem as regras de embargo para o
auto-arquivo em RI’s, tornando a via Verde muito menos atraente (Vega 2018, 40–41). Isto acaba
por se traduzir numa reduzida taxa de depósito voluntário por parte dos investigadores em RI’s,
comparativamente à taxa de depósito mandatado, justificada pela ausência de esclarecimentos
sobre esta via. Neste seguimento, Suber (2012) defende que:
“One of the most persistent and damaging misunderstandings is that all OA is gold
OA. Authors who can’t find a high-quality, high-prestige OA journal in their field, or
whose submissions are rejected from first-rate OA journals, often conclude that they
must give up on OA or publish in a second-rate journal”.
Deste modo, a falsa impressão de que as políticas que exigem o AA Verde requerem,
simultaneamente, o AA Dourado acaba por limitar a liberdade do próprio autor e fazer com que
este não considere esta opção. No entanto, a maioria dos periódicos já permite o arquivo em
Acesso Aberto Verde, o que tem contribuído para um aumento do interesse dos investigadores
por esta via, tornando a via Verde compatível com altos níveis de prestígio de publicações (Suber
2012, 54–55).
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No âmbito académico, quando falamos em Acesso Aberto segundo a via Verde, são
referidas três tipologias de mandatos Verdes (Suber 2012, 79–81):
• Mandato de Lacuna: é exigido o Acesso Aberto Verde, excetuando quando a
editora não o permite;
• Mandato de Depósito: é exigido o depósito do artigo em repositório AA, após a
publicação do mesmo, com um período de embargo definido pela editora;
• Mandato de Retenção de Direitos: é exigido o depósito do artigo em repositório
AA, assim que este seja aceite para publicação, bem como os mandatos de
depósito. Contudo, neste caso, é adicionado um método de forma a garantir a
permissão para ser feito o depósito em AA: segundo o Wellcome Trust e o NHI,
mantendo sob o autor o direito não-exclusivo de autorizar o AA através de um
repositório ou, segundo Harvard e MIT, atribuir um direito não-exclusivo
permanente à instituição.
Contudo, nenhuma das três tipologias de mandatos requer absolutamente o Acesso
Aberto. Se, por um lado, as tipologias no mandato de Lacuna e de Depósito são impostas às
editoras, no mandato de Retenção de Direitos obtém-se a permissão do autor antes da
transferência dos direitos para as editoras, transformando este mandato no mais eficaz (Suber
2012, 80–81; Fonseca 2017, 88–89).
No entanto, quando falamos em eficácia é necessário avaliar várias perspetivas. É
importante não só analisar o ponto de vista das várias tipologias de mandatos, como do ponto
de vista do investigador, responsável pelo cumprimento das políticas impostas. No ato de
publicação em AA Verde, os investigadores acabam por demonstrar alguma incerteza derivada
das preocupações sobre os termos e condições estabelecidos com as editoras para transferência
do copyright, tornando-se um obstáculo para o arquivo em repositórios, enquanto que outros
associam os artigos publicados em repositórios como artigos de baixa qualidade (Lourenço e
Borrel-Damian 2014).
De facto, a abordagem do Acesso Aberto Verde apresenta um conjunto de benefícios
estratégicos, entre os quais a redução de custos, tratando-se de uma opção gratuita, e a possível
criação de oportunidades para utilizar os RI’s como fonte de dados (University of California
Libraries 2018).
Esta prática encontra-se, no momento, fortemente enraizada no panorama da
comunicação académica, acreditando-se no crescimento contínuo dos repositórios institucionais,
considerando que, inicialmente, esta prática não foi devidamente alcançada, uma vez que as
instituições não tornaram o depósito da produção científica obrigatória, acrescentando isto à
ausência de um claro sistema de incentivos ou de sanções. Contudo, acredita-se que estas
práticas sejam modificadas, caminhando-se aos poucos para a introdução de um sistema de
sanções por parte dos financiadores (Caruso, Nicol, e Archambault 2013).
4.Estudo de Caso
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4.1.1.1.
Períodos de Embargo
Contrariamente ao acesso imediato possibilitado pela via Dourada, as publicações em
Acesso Aberto Verde estão, maioritariamente, sujeitas a um acesso retardado, que implica,
muitas das vezes, períodos de embargo longos implementados para proteger as próprias
editoras. Deste modo, as publicações deverão ser depositadas o mais cedo possível para que o
Acesso Aberto seja assegurado rapidamente
89(Suber 2012, 60;155; Borges 2006, 85).
No caso de se tratar de um artigo de revista em AA ou revistas de assinatura que não
exijam qualquer período de embargo, o acesso é imediato. Contrariamente a este cenário, para
publicações em revistas de assinatura que exijam períodos de embargo, este poderá variar de 6
a 36 meses, de acordo com a cadência de obsolescência
90das diferentes áreas em questão, isto
é, o período de tempo necessário, que contribui para a seleção de informações qualitativamente
importantes (Fonseca 2017, 54–55; FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, sem datab;
Arao et al. 2015):
• 6 a 12 meses para publicações que abranjam todas as áreas científicas;
• 12 a 24 meses para publicações inseridas nas áreas de ciências sociais e
humanidades;
• 18 meses para livros, capítulos e monografias;
• 36 meses para teses de doutoramento.
Após a conclusão do período de embargo as revistas poderão ceder o acesso aos artigos
através das suas próprias plataformas ou permitir ao investigador o depósito em repositórios.
Embora a maioria das grandes editoras (tais como a Elsevier e a Springer) não assuma um
embargo para a via Verde, das que o exigem, o embargo ronda períodos de 12 meses. Este
período assume forma de um compromisso das editoras, como uma tentativa de afastar o AA
Verde imediato. O resultado esperável é o acesso Verde imediato onde os autores publicarão os
rascunhos finais aceites para publicação (postprint) sendo que as revistas por assinatura se
tornarão insustentáveis (Harnad 2013).
Deste modo, como prevenção de perda de controle sobre o conteúdo, cada vez mais
autores estão a adotar o intitulado, segundo Harnad (2013), “Delayed Gold”, um modelo que, tal
como o acesso Híbrido, não se encontra alinhado com a definição de AA, que permite aos
investigadores publicar em títulos que não queiram cobrar APC’s nem descartar o modelo de
subscrição. Este modelo permitirá às próprias editoras fornecer o acesso gratuito que, após um
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Em oposição ao termo ‘Open Access’, Harnard (2005) definiu o acesso imediato para maximizar o uso,
impacto e progresso das pesquisas como “Back Access”.
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“The half-life and literature obsolescence is an indicator that uses citation analysis to investigate the time
when the literature in a particular knowledge area becomes rarely used, in other words, they investigate the
decline of the use of a particular literature.” (Arao et al. 2015).
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ano de embargo, o livre acesso seria inevitável, possibilitando às mesmas exercer algum
controlo sobre as publicações (arquivo, acesso, reutilização, etc) (Harnad 2013; Fonseca 2017,
56).
A preferência pelo sistema Diferido (do inglês Delayed Gold) associado a títulos com
uma reputação maior, vem a ser justificada pela necessidade constante de evolução de carreira
dos investigadores e a posterior reputação académica, ainda que estes se tratem de títulos em
Acesso Fechado, sobrepondo-se “o dever moral de contribuição para um bem coletivo” (Fonseca
2017, 56). O mesmo se sucede com as revistas de acesso via subscrição que continuam a
sobrepor-se às revistas de Acesso Aberto, justificado pelo elevado número de revistas com um
Fator Impacto superior a 1. O prestígio académico continua assim a ser um fator extremamente
importante no ato de publicação para a escolha do título onde publicar e faz com que as revistas
de Acesso Fechado se sobreponham aos títulos de Acesso Aberto (Scheufen 2015, 59–60).
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Políticas de Copyright de Publicações Científicas em Repositórios Institucionais: O Caso do INESC TEC
(páginas 81-85)