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Capítulo 1. O Acesso Aberto

1.3. O contexto nacional

Já no contexto nacional, Portugal encontra-se na vanguarda dos países que

acompanharam a implementação do Acesso Aberto desde cedo, dinamizando-o,

primordialmente, através das Universidades, que promoveram o acesso à sua produção

científica através da criação de repositórios, que tiveram como intuito não só preservar, como

aumentar o impacto da investigação levada a cabo pelas Instituições de Ensino Superior (IES).

Em 2003 surge como objetivo estratégico pela Universidade do Minho a constituição de

um Repositório institucional com o princípio de armazenar e preservar a produção intelectual

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Página oficial do projeto WWW: https://www.openaire.eu/.

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“O apoio a nível da União Europeia a atividades de Investigação e Desenvolvimento está organizado

em termos de programas multianuais designados muitas vezes abreviadamente por Programas Quadro.

O 7º Programa Quadro decorre de 2007 a 2013.” (FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia s.d.).

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Disponível em WWW: http://archive.pfwb.be/10000000208d0d1.

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desenvolvida no âmbito desta Universidade, promovendo assim o livre acesso à literatura

científica. No entanto, só a partir de 2006 é que o Movimento do AA começou a ganhar

importância (Rodrigues 2004; Rodrigues, Swan, e Baptista 2013).

Até então, o sistema português era muito limitado, com um acervo de revistas científicas

bastante reduzido publicadas em papel, acarretando consigo problemas relacionados com a

visibilidade e acessibilidade da produção científica.

Antes da década de 1990, grande parte das publicações académicas eletrónicas eram

acedidas através de bases de dados bibliográficas ou encontravam-se com apontamento para

impressão dos artigos disponíveis nas prateleiras das bibliotecas. O facto de os títulos serem

publicados em papel e o acesso às bases de dados ser extremamente caro limitava fortemente

o acesso à informação, o que levou, mais tarde, a uma alteração no sistema de publicação,

compelido pelos padrões da World Wide Web (Borges 2006, 455–57; Lamb 2004).

O contexto nacional bem como as suas características, de que é exemplo a ausência de

uma infraestrutura científica a nível nacional, limitavam a acessibilidade à literatura científica

Contudo, no ano de 2004 estes problemas acabaram por melhorar com a criação da Biblioteca

do Conhecimento Online (B-On)

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que permitiu o acesso às revistas científicas no contexto das

bibliotecas de ensino superior e das instituições de investigação nacionais. Ainda neste ano, a

Universidade do Minho continuou a demonstrar a sua vontade de implementar o Acesso Aberto,

estabelecendo uma política institucional de auto-arquivo

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da produção científica, marcando-se

como pioneira não só a nível nacional, como internacional, nos domínios do Acesso Aberto

(Saraiva e Rodrigues 2011; Moreira et al. 2010).

Apesar desta notória evolução, os problemas relacionados com a visibilidade e

acessibilidade não foram completamente resolvidos. Paralelamente, a fim de celebrar o primeiro

aniversário do Repositório da UM, o Reitor da Universidade do Minho assinou formalmente a

Declaração de Berlim.

Mais tarde, em 2005, realizou-se a 1ª conferência Open Access em Portugal pela

Universidade do Minho, com o contributo de alguns dos protagonistas mais proeminentes e

representantes de várias organizações relacionadas com o AA a nível mundial. Contudo, foi

apenas no ano seguinte que se começaram a manifestar atividades no âmbito do AA: foi

disponibilizada a primeira plataforma que agrega publicações de livre acesso em Portugal, a

Scielo

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, resultante de esforços concebidos pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação

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Disponível em WWW:https://www.b-on.pt/.

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Apenas com efeito a partir de janeiro de 2005.

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O SciELO - Scientific Electronic Library Online – “é um modelo para a publicação eletrônica cooperativa

de periódicos científicos na Internet” desenvolvido com o objetivo de responder às necessidades da

comunicação científica de países que se encontram em vias de desenvolvimento, proporcionando “uma

solução eficiente para assegurar a visibilidade e o acesso universal a sua literatura científica, contribuindo

para a superação do fenômeno conhecido como 'ciência perdida'. O Modelo SciELO contém ainda

procedimentos integrados para medir o uso e o impacto dos periódicos científicos.”. Resultante dos esforços

concebidos entre a FAFESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – a BIREME -

Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde – a CNPq - Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – que se juntou apenas em 2010, e várias instituições, foi

executado com êxito em Março de 1997 e Maio de 1998 (SciELO s.d.)

1.O Acesso Aberto

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e Relações Internacionais (GPEARI) em conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e

Ensino Superior para promover revistas científicas portuguesas de qualidade e divulgar

mundialmente as publicações científicas nacionais (Saraiva 2009).

Subsequentemente, a partir de finais de 2006 foram surgindo novos repositórios,

realizou-se a 2ª conferência Open Access e foi divulgada a declaração sobre o Acesso Livre ao

Conhecimento do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) que

demonstrou o seu apoio na adesão aos princípios de Acesso Aberto, recomendando às

Universidades a criação de repositórios com políticas próprias (Rodrigues, Swan, e Baptista

2013).

Mais tarde, foi estabelecido pelo CRUP um grupo de trabalho sobre o Acesso Aberto,

com o objetivo de promover o AA nas Universidades portuguesas, apoiando-as no

desenvolvimento dos seus repositórios, bem como na definição das políticas de auto-arquivo.

Em 2007, o presidente deste grupo acabou por assinar a Declaração de Berlim (Saraiva 2009).

Com a criação do Repositório Científico de Acesso Aberto em Portugal (RCAAP) em

2008

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, uma iniciativa da Agência para a Sociedade do Conhecimento, IP (UMIC) em conjunto

com a Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN) e com a participação da

Universidade do Minho (UM), surge um portal de acesso à literatura científica nacional que

agrega os vários repositórios construídos ao longo do tempo. Assim se torna notória a evolução

do AA em Portugal, contribuindo para o seu desenvolvimento ativo (Rodrigues, Swan, e Baptista

2013; Fonseca 2017, 84–87). A posterior incorporação do RCAAP, como representante da

produção científica em Portugal, em várias iniciativas internacionais e a sua articulação não só

com as Universidade, como com os Institutos de Investigação e financiadores, cria uma

vantagem competitiva no âmbito do Movimento do Acesso Aberto no território nacional.

Ainda no âmbito deste projeto foi, mais tarde, desenvolvido o projeto Blimunda

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,

emergindo da “constatação da dificuldade em saber qual a política das editoras e revistas

científicas portuguesas em relação ao auto-arquivo em repositórios institucionais (RIs)”. O seu

principal objetivo passou por “ fazer o levantamento das políticas das editoras e revistas

científicas nacionais em relação ao auto-arquivo em repositórios institucionais e registar as

mesmas na base de dados internacional SHERPA/RoMEO” (Pereira, Ribeiro, e Rehemtula 2012;

Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal s.d.).

Este período foi ainda marcado pelo reforço dos conteúdos científicos em Acesso Aberto,

realizando-se um projeto de colaboração na sequência do memorando de entendimento

celebrado entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal e o Ministério

da Ciência do Brasil, onde se procedeu à agregação das teses e dissertações brasileiras, bem

como a restante produção científica disponibilizada nos repositórios institucionais brasileiros.

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Apresentado publicamente aquando da 3ª Conferência Open Access, que teve lugar na Universidade do

Minho em 15 e 16 de novembro de 2008.

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Realizou-se, mais tarde, a conferência Luso-Brasileira de Acesso Aberto (Rodrigues, Swan, e

Baptista 2013).

Em maio de 2014 foi definida uma Política de Acesso Aberto da Fundação para a Ciência

e a Tecnologia em conjunto com a Fundação para a Computação Científica Nacional, onde é

adotada a “obrigatoriedade de disponibilização em Acesso Aberto das publicações resultantes

dos projetos de I&D que financia” (Fundação para a Ciência e Tecnologia 2014). Mais tarde, esta

política acabou por ser reforçada numa resolução do Conselho de Ministros

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onde foram

definidos os princípios orientadores para a implementação de uma Política Nacional de Ciência

Aberta pelo Conselho de Ministros.

Adicionalmente, em 2015 foi publicada a Portaria nº 285/2015

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de 15 de setembro,

onde foi aprovado o Regulamento Técnico de Depósito de Teses e Trabalhos de Doutoramento

e de Dissertações de Mestrado, obrigando ao depósito de uma cópia digital num repositório

integrante da rede do RCAAP, operado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, I.P.

No ano de 2016 acabou ainda por ser divulgado, pelo Ministério da Ciência, Tecnologia

e Ensino Superior, um documento de Preparação de uma Política Nacional de Ciência Aberta

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,

onde são definidas metas que levarão ao avanço do Acesso Aberto e a uma maior acessibilidade

à literatura científica nacional (Ministérios da Ciência 2016).

Em Portugal, continuam a ser desenvolvidas atualmente iniciativas que promovem ao

Acesso Aberto, como a mais recente “Open Acess week”

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, sendo esta a Semana Internacional

do Acesso Aberto, que decorreu de 22 a 28 de outubro de 2018, enquadrando-se numa iniciativa

internacional que teve como objetivo disseminar o AA ao conhecimento, promovida pela SPARC.

Sendo esta uma iniciativa também adotada a nível internacional e repetida em anos anteriores,

o seu principal objetivo passa por incentivar os repositórios institucionais e revistas a

disponibilizarem conteúdos científicos e académicos sob o tema “Planeando bases equitativas

para o Conhecimento Aberto”.

Após mais de uma década de abertura do acesso a dimensão da produção científica em

Acesso Aberto é ainda limitada, desfavorecendo a transição para um sistema que fomente a

partilha, divulgação e comunicação científica plenamente aberto.

42

Disponível

em

WWW:https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-

/search/74094659/details/maximized?print_preview=print-preview.

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Disponível em WWW: https://dre.pt/application/file/70297526.

44

Disponível em WWW: https://www.portugal.gov.pt/media/18506199/20160210-mctes-ciencia-aberta.pdf.

45

Programa nacional disponível em WWW: http://www.acessolivre.pt/semana/.

Programa internacional disponível em WWW: http://www.openaccessweek.org/.

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