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1.4.1 A Atuação da Mulher no Mercado de Trabalho

Nesse contexto de transformações no mundo do trabalho e de mudanças na materialidade e na subjetividade da classe trabalhadora, intentamos compreender o papel desempenhado pela mulher na sua inserção no mercado de trabalho e, conseqüentemente, na luta de classes.

Vemos que as atividades desempenhadas no lar, conforme apontado no início do texto, não são em decorrência de processos naturais, mas foram moldadas ao longo da vida das mulheres, para o cuidado com os filhos e com a casa, enfim isso faz parte do processo social que historicamente delegou as mulheres essas responsabilidades.

Para SAFFIOTI (1987) o espaço privado do lar reduz as potencialidades da mulher. Além do mais, ao se inserir no trabalho assalariado, a mulher acaba exercendo determinadas atividades, ditas femininas e são também menos remuneradas.

FARIA e NOBRE (1998) ainda colocam que grande parte da identidade de gênero é adquirida na família, onde se fazem os primeiros aprendizados para a divisão sexual do trabalho. Para as autoras o lar serve mesmo é para baratear os custos de reprodução e na escola é que se reforça essa desigualdade entre homens e mulheres.

Essa idéia é reafirmada por ANTUNES (1999) e HIRATA (1998), quando colocam que há uma construção social sexuada no mundo produtivo e reprodutivo, onde os homens e mulheres são desde a escola e a família qualificados diferentemente para o mercado de trabalho e o capitalismo tem sabido se apropriar disso.

A dominação de classe pressupõe a dominação do gênero, este segue sendo estigmatizado ao longo do tempo e tanto homens como mulheres são explorados. Porém no caso da mulher, há uma diferencialidade, pois além da especificidade de prover a sociedade de força-de-trabalho, existe a divisão sexual do trabalho, que impõe a ela somente, a administração da casa. Há também a perpetuação na sociedade, de que ela é o

sexo frágil, por isso não possui capacidade de exercer funções até então exclusivas aos

homens, como as de chefes e os cargos políticos.

As mulheres que avançam no espaço público, é por conta de outras que fazem as tarefas domésticas por ela, e dessa forma ocorre outro problema apontado por SAFFIOTI (1987), que aponta que, como à mulher cabe a socialização dos filhos, essa

função somente deve ser delegada à outra pessoa, se houver legitimidade. Ou seja, quando for necessária a mãe ganhar seu sustento, porém nos segmentos sociais mais aquinhoados a mulher não precisa dessa legitimação. Assim, não existe apenas o problema da dupla jornada que a impede de participar das atividades políticas, mas uma cobrança para que a mulher não deixe o ambiente culturalmente destinado a ela, pois, como vimos, deve existir uma boa causa para que a mulher destine suas funções a outra pessoa.

Outro problema decorre do fato de que, as mulheres que conseguem se sobressair no meio político necessitam da subordinação de outra para que isso ocorra, ou seja, enquanto uma mulher geralmente de uma categoria melhor remunerada, consegue se livrar da dupla jornada de trabalho e atuar na vida política, na tripla jornada de trabalho, uma outra mulher fica no seu lugar, sendo não somente subordinada, mas alienada da sua condição, pois esta não terá, quem faça os serviços domésticos por ela.

MENDONÇA (1998) coloca que, a questão da responsabilidade do lar para a mulher é tão inculcado que, quando esta sai a público acaba interiorizando a culpa por deixar muitos de seus afazeres em função do trabalho assalariado.

Essa idéia de incapacidade e fragilidade da mulher perpassa a sociedade, porém é essencial entendermos que a estrutura social fundamentada na divisão sexual e social do trabalho e em classes sociais, portanto, segue as delimitações de uma classe hegemônica, que está no poder, com o aval do Estado.

Portanto, a hegemonia enquanto dominação se infiltrou no pensamento e na forma de ser de homens e mulheres. Estas por “aceitarem” comportamentos exigidos e o estabelecimento das funções sexualizadas e aqueles pelo sentimento de superioridade, que faz com que exijam da mulher respeito e submissão. Porém, ambos são fruto de uma sociedade, ancorada nos princípios moralistas defendidos pela Igreja Católica e apropriados pela classe hegemônica, criando obstáculos para a identidade de classe.

O sindicato tem perpetuado isso por meio da divisão em categorias, além da estanquização por município, por meio da unicidade sindical, o que reforça o trabalhador a não se enxergar um no outro como trabalhadores. Do ponto de vista da sua organização a classe hegemônica se coloca em vantagem, facilitada como já visto, pelo seu poder territorial de transnacionalização.

... a direção política do movimento sindical apresenta-se variada e só compreendendo a hegemonia burguesa, enquanto capacidade de constituir-se num bloco histórico, ou seja, de manter unida a estrutura e superestrutura sob a direção que lhe é conveniente, é que podemos, enfim compreender que a despeito de se encontrarem no movimento sindical, indícios de insatisfação com a classe dominante, ainda não se forjou a constituição de um novo bloco histórico hegemonizado pelo proletariado, pois grosso modo, a grande maioria das lideranças sindicais encontram-se submetidas à ideologia burguesa. (CARVALHAL 2000a, p.29)

Enquanto os trabalhadores não conseguem vislumbrar em sua territorialização a própria dominação, pois segundo GRUPPI apud CARVALHAL (2000a, p.33), o principal papel exercido pelas classes hegemônicas - ou o papel da hegemonia - é a capacidade de unificar através de um bloco social o que não é homogêneo, de não permitir que as diferenças e contrastes entre as diferentes forças sejam expostas, provocando uma crise na ideologia dominante.

A não-identidade da classe também é reforçada pela própria divisão sexual do trabalho, pois esta reforça a divisão não somente das funções, mas dentro da própria classe trabalhadora. Essa mesma divisão sexual das funções, reproduzida no trabalho assalariado, impõe a mulher à realização de tarefas como veremos, minuciosas, que exigem muita atenção e destreza, porém muitas vezes, tarefas que a isolam do convívio com outros trabalhadores.

Porém concomitante a alienação que o trabalho assalariado realizado pelas mulheres, também tem proporcionado a valorização enquanto pessoa, que pode e tem capacidade de realizar funções exercidas também por homens ou que já foram realizada por estes, e isso tem um peso muito forte para elas.