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Gráfico 1 Nível de Escolaridade das Mulheres Trabalhadoras 16%

8% 4% 30% 10% 27% 1% 4%

Analfabeto Ensino Fundamental Incompleto Ensino Fundamental Completo Ensino Médio Incompleto Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo Pós-Graduação

Fonte: Pesquisa de Campo, 2002

Tendo em vista o Gráfico 1 vemos que, de forma geral há uma maior proporção de mulheres escolarizadas, sendo que apenas 1% delas são analfabetas. Em contrapartida a esse quadro de escolaridade alta das mulheres encontrado em Presidente Prudente, não se parece com os dados apontados pelo Boletim Quinzena18 nº 255. Neste boletim, são apresentados alguns dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que coloca que dos quase 1 bilhão de analfabetos adultos de todo o mundo, dois terços são mulheres, representando na opinião da organização que a discriminação no ensino é uma das causas principais da pobreza e do subemprego da mulher. O boletim ainda aponta que nos países em desenvolvimento da África, 90% das mulheres com 25 anos ou mais são

18 Quinzena, publicação do Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro, que apresenta um conjunto de

analfabetas e dos 100 milhões de menores que não tem acesso ao ensino primário em todo o mundo, 60% são meninas. Segundo o artigo, apesar das meninas em países pobres, terem maiores probabilidades do que os meninos, de abandonarem os estudos, para a realização de tarefas domésticas, tem-se observado que a cada ano a entrada de mulheres na escola cresce 15%, enquanto que a taxa entre os homens é de 11%. Nesse caso também não coincide com os dados apresentados em relação ao Brasil, já que conforme vimos, os meninos é que abandonam a escola em função no ingresso no mercado de trabalho.

Segundo a OIT apud DIEESE, mais de 45% da população feminina entre 15 e 64 anos é economicamente ativa atualmente e nos países industrializados esse percentual chega a 50% das mulheres e na América Latina passou de 22% a 34%. Para a organização, não basta aumentar a oferta de emprego, mas criar ações que melhore as condições desse emprego, já que as mulheres se inserem demasiadamente nos empregos informais, onde geralmente o salário é menor.

Além do que as atividades realizadas, acabam sendo aquelas “tipicamente femininas”, isso porque segundo a OIT apud DIEESE, quando as mulheres conseguem ter acesso a educação, as instituições continuam oferecendo às meninas qualificações como datilografia, enfermagem, costura, restauração e hotelaria, limitando a oferta de conhecimentos científicos e técnicos.

Assim, contraditoriamente, a busca pela maior independência financeira e menor subjugação ao homem, têm colocado para as mulheres novas situações de dominação e subjugação. Ou seja, além da subordinação direta ao capital, ao se assalariar, outra forma bem comum de dominação a que muitas mulheres têm se submetido, por conta da própria confusão da idéia de independência conquistada e pelo alto valor recebido, muitas mulheres acabam expondo seu corpo em revistas, filmes, etc.

Isso tem sido para muitas mulheres uma forma de conseguir autonomia, mas pode por outro lado, reafirmar sua subordinação, na medida em que ela continua a fazer o jogo da sociedade patriarcalista e machista. Pois segundo essa concepção, as mulheres seriam incapazes de realizarem tarefas que exigem muito esforço de seu intelecto, sendo assim, suas atividades devem estar sob o comando do homem, cabendo à mulher lhe servir e isso inclui se submeter também aos seus desejos físicos.

As mulheres da sociedade capitalista são estigmatizadas na figura de

Maria ou Eva, a primeira como sendo Maria, a santa mãe dos homens e por isso deve servir

ao homem nos afazeres domésticos ou então se não seguem esse ordenamento devem então dar prazer aos homens, tomando o papel de Eva. Sendo que em ambas as situações, a função da mulher é a de sempre servir ao homem.

SAFFIOTI (1987) coloca que para o homem, foi destinado segundo a ideologia dominante, o poder de macho e caçador e por isso, sempre em busca de sua presa e a mulher deveria por outro lado, estar sempre disposta a lhe servir, seja marido ou pai.

Nesse sentido, com todas essas determinantes permeando a questão da mulher na sociedade, nos propomos a investigar como isso se reflete no órgão representante da classe trabalhadora, ou seja, como ocorrem essas relações de gênero no meio sindical, seja na elaboração de propostas para melhorar a condição da mulher na sociedade, devido a sua crescente inserção no mercado de trabalho, seja na avaliação de propostas de inserção no próprio sindicato. Pois temos como pressuposto que, como representante da classe trabalhadora, o sindicato deve estar sintonizado com as necessidades e anseios dos trabalhadores de maneira geral.

Dessa forma, através da relação de gênero, permeada pela relação de classe, nos colocamos a entender a configuração das mulheres trabalhadoras em Presidente Prudente, internamente ao sindicato, com o objetivo de desvendarmos como se dá esse processo de incorporação da mulher na luta por melhores condições de vida, pois enquanto mulher-mãe-trabalhadora, lhe é reservada as responsabilidades das tarefas domésticas e cuidados com os filhos. Ou seja, como trabalhadora a mulher é duplamente subjugada pelo capital, na esfera da produção de mercadorias e na esfera da reprodução, como provedora de força-de-trabalho, com precárias condições, de forma geral, pois não há o que garanta auxílio à reprodução, como creches e escolas infantis.

Sendo assim, com essa tripla jornada de trabalho da mulher militante, nos esforçamos para entender por meio das entrevistas realizadas, qual o nível de entendimento das mulheres nessa questão e o que tem sido feito no sentido de aliviar esse “fardo” das trabalhadoras de forma geral, além da própria consciência política dessa condição da mulher militante e sindicalista.

Lembrando que a condição da mulher, existe graças à divisão sexual do trabalho que define as funções segundo o sexo e que na sociedade patriarcalista e monogâmica, designa à mulher o espaço privado do lar e ao homem o espaço público. Para ENGELS (1991), a monogamia passou a surgir como uma escravização da mulher em relação ao homem. Isso porque, a monogamia passou a vigorar com o intuito de preservar a herança da família e para isso era necessário que a mulher tivesse um único parceiro, indo contra a antiga liberdade de relações sexuais.

... o primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o aparecimento do antagonismo entre a mulher e o homem na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo sexo masculino. (ENGELS, 1991, p.70)

Assim, pelo viés da Geografia temos tentado desvendar as máscaras configuradas no espaço, representadas pelas relações estabelecidas no sindicato, ou seja, nos propomos entender a atuação da mulher no sindicato e com as atenções voltadas para o ponto de vista dos sindicalistas, como também das trabalhadoras da base e através das próprias sindicalistas.

Percebemos que a forma de inserção nesse espaço do sindicato, majoritariamente masculino, tendo em vista as relações estabelecidas, não somente por ser um reduto masculino, mas pelas relações patriarcalistas criadas na sociedade, faz com que a inserção nesse meio político, torna-se mais oneroso para a mulher.

Lembrando que quando falamos em relação de gênero, é no sentido das conotações criadas pela sociedade para designar o homem e a mulher, sendo que a condição do homem é aquela apoiada nos estereótipos onde cabe a ele, a função de provedor da casa e por isso detentor do poder econômico do lar, enquanto que a mulher deve obediência e arcar com as funções domésticas e cuidado com os filhos.

Através de questionários aplicados junto às trabalhadoras dos oito sindicatos pesquisados, pudemos dimensionar a condição vivenciada pela mulher-mãe- trabalhadora, bem como a percepção sobre sua condição de dupla jornada de trabalho e como resolvem essa questão para atuarem no mercado de trabalho. Já que do total de 135 questionários aplicados, temos um percentual de 59,2% das mulheres casadas, conforme Gráfico 2, sendo que somente 28,1% delas não possuem filhos. Assim além das casadas,

existem as separadas, as viúvas, as desquitadas e as solteiras que possuem filhos e exercem a dupla jornada de trabalho.