• Nenhum resultado encontrado

2.6– A Interação Base/Diretoria

A partir da década de 1970, até início dos anos 1980, o setor industrial, passou por mudanças profundas, especialmente, no perfil da força-de-trabalho das mulheres, ou seja, na sua distribuição, pelos diversos setores, principalmente em segmentos da indústria metalúrgica e em outros setores como plástico, química, farmacêutica, material elétrico e eletrônico.

A entrada crescente das mulheres no mercado de trabalho se deu, segundo ROY (1999), em função da necessidade de aumentar o rendimento familiar, já então defasado pela falta de estabilidade financeira e por outro lado, houve uma modificação na organização do trabalho, com a decomposição das tarefas se tornando mais rotineiras, simples e menos qualificadas.

Esses fatores facilitaram a entrada da mulher no trabalho assalariado, sendo este trabalho, marcado por algumas características peculiares, como salários inferiores aos masculinos mesmo exercendo função semelhante, sendo que essa diferença se acentua com o aumento da idade.

Outra característica desse processo é o fato de haver concentração das mulheres em atividades não-qualificadas ou semiqualificadas, encimadas em tarefas monótonas e repetitivas, mas que requerem menos destreza e habilidade, conforme já apontado anteriormente.

A maior especificidade da questão da mulher trabalhadora, está no fato dela ser explorada duplamente, como já visto e as mulheres se subordinam ainda mais ao capital, ao se empregarem em trabalhos precários, pois a sua polivalência e multiatividade são apropriadas sem serem remuneradas adequadamente.

Essa incorporação da mulher no mercado de trabalho foi acompanhada pela crescente taxa de sindicalização, segundo ARAÚJO (2000) no período de entre 1970 e 1978 entre as mulheres o aumento foi de 176% enquanto que o aumento na PEA foi de 123%, sendo que para os homens o crescimento foi de 87% e 67% respectivamente. Porém a mesma autora aponta que na década seguinte o aumento da sindicalização entre as mulheres não foi tão expressivo como foi no mercado de trabalho e nem significou aumento qualitativo nas organizações sindicais, continuando sub-representadas.

A baixa participação das mulheres nos sindicatos, se deve ao fato de se sentirem

outsiders, ou seja, do lado de fora. Para ARAÚJO (2000) a militância das mulheres tem

esbarrado nos problemas de organização dos sindicatos e na própria posição das mesmas no mercado de trabalho. Assim, de um lado sempre existiu uma grande dificuldade em organizar as mulheres que estão em funções de baixa qualificação, onde a rotatividade é maior, sujeitas às demissões e controle das chefias. Por outro lado, o fato dos sindicalistas não reconhecerem as especificidades das mulheres, conduzindo a luta das mulheres como complementar a luta dos

homens, além do fato dos sindicatos se negarem a discutir a questão de gênero, já que isso poderia “quebrar a unidade da classe”41.

Concomitante a isso é possível afirmar que o sindicato é excludente em relação às trabalhadoras por não levar em conta suas responsabilidades domésticas. Pois segundo as próprias trabalhadoras, o sindicato tem oferecido todo tipo de assistência médica, dentária, etc, sem no entanto, colocar em discussão a questão de gênero e das responsabilidades que isso implica, particularmente para as mulheres. (Gráfico 10).

E por fim, existem as convenções sociais que ditam que sindicato não é lugar de mulher.

Desta forma, sobrepõe-se à questão de gênero na sociedade capitalista a própria inserção dos sindicatos na luta de classes, o que evidencia a necessária articulação entre duas esferas analíticas, de um lado a mulher e suas especificidades construídas historicamente e de outro os sindicatos surgidos no âmago do desenvolvimento contraditório do capital, através de sua contraparte dialética, os trabalhadores organizados, evidenciarão a capacidade (e a forma) de encampar a emancipação feminina. Conforme verificamos, a inserção da mulher no mercado de trabalho e as repercussões daí resultantes, tem significados diversos, pois como parte da classe trabalhadora, vivencia as transformações ocorridas nas formas do trabalho e no seu caso específico, como integrante “privilegiada” da economia informal e part-time e o sindicato, não tem sido eficiente na condução de suas demandas.

Além, é claro, no caso da dupla e tripla jornada de trabalho, não houve por parte dos sindicatos ou das empresas, mecanismos para aliviar essa jornada, como creches para seus filhos, durante o exercício do trabalho assalariado, da mãe trabalhadora.

Dessa forma, o elemento diferente, para ser aceito no meio masculino deve, então, anular suas especificidades de dupla e tripla jornada de trabalho? Assim se explica o fato de muitas mulheres sindicalistas se encontrarem desquitadas, separadas ou solteiras, pois na maioria das vezes, a vida de militante toma muito tempo da trabalhadora, que acaba tendo que optar por uma de suas tarefas, na medida em que o sindicato não tem tido disponibilidade de recursos e estruturas para a mulher-mãe-trabalhadora.

O sindicato, então, acaba reproduzindo a divisão sexual do trabalho ao hierarquizar as funções segundo o sexo, atribuindo as funções de secretaria para as mulheres.

Sendo dessa forma que, muitas vezes os sindicatos acabam cumprindo a cota de 30% de mulheres, com a especificidade de que as ocupações são caracterizadas como secundárias. Haja vista que, as funções ocupadas pelas mulheres nos sindicatos dirigidos pela maioria masculina, como vimos não são voltadas para tomadas de decisões políticas de grande envergadura, como as funções de secretaria.

Nesse sentido ANTUNES (1999), coloca que a luta das mulheres contra as formas históricas e sociais da opressão masculina, será, além disso, uma luta pós-capitalista, pois o fim da sociedade de classe não significa o fim da opressão de gênero, pois esta é pré-capitalista. Assim seria possível o sindicato caminhar no sentido de emancipação da classe trabalhadora, levando em consideração as especificidades de gênero?

Ou seja, o sindicato poderia trabalhar a falta de habilidade da mulher com as funções políticas, pois foram educadas a verem o espaço público e político como sendo ocupado pelos homens, reforçado pela própria divisão sexual das funções, que designou à mulher o exercício da dupla jornada de trabalho. Ao contrário disso, o sindicato designa na maioria das vezes às mulheres, funções que reforçam a questão de gênero e que tendem a impedir o desenvolvimento de suas potencialidades, como a função de secretárias. (Quadro 6)