• Nenhum resultado encontrado

Gráfico 13 Tipos de Programas Assistidos Pelas Trabalhadoras(%)

telejornal novelas programas de auditório

outros desenhos

Fonte: Pesquisa de Campo, 2002.

Percebemos de acordo com os Gráficos apresentados, que as mulheres demonstram serem levadas pelo consumismo, ao declararem que gostam de freqüentar shoppings

centers, mas também têm procurado se interagir com o mundo, ao declararem que assistem a

telejornais e na leitura de jornais, livros, revistas, etc.

Nesse sentido, colocamos que a luta das mulheres para se inserirem no meio político, deveria vir acompanhada de embasamento teórico municiado pelos cursos de formação política sindical, no sentido de dimensionar um problema que está intimamente ligado ao cotidiano de ambos os sexos. No momento em que a mulher se insere no mercado de trabalho, esta se subordina duplamente, já que a subordinação ao trabalho doméstico e o cuidado com filhos e maridos, é fato inerente à mulher de classe social pobre, e quando busca através do trabalho assalariado, melhorar sua condição de vida e de sua família, seja como renda complementar à família ou como a fonte principal, ocorre o processo de dupla subordinação. Sendo assim, a questão da sua inserção no meio político está ameaçada pela dupla subordinação e dupla jornada de trabalho, já que no âmbito do lar não há uma divisão sexual das tarefas mais justa para a mulher.

O sindicato, como vimos por seus problemas estruturais, acaba impedindo a aproximação dos trabalhadores e sindicatos, no momento em que é a partir do Estado e independentemente da vontade dos trabalhadores que o sindicato sobrevive financeiramente. Assim, o Estado é o seu gestor, desde o caráter financeiro como organizacional, vide a existência da unicidade sindical.

Nesse caso podemos entender porque muitos sindicatos se mantêm, com baixíssima taxa de sindicalização, acomodando-se na arrecadação prescrita pela investidura sindical e receptor da contribuição compulsória sindical.

Nesse ínterim, os trabalhadores que se inserem nos trabalhos precários e informais que não são representados pelos sindicatos, cuja maioria são formados pelas mulheres, não têm a possibilidade de serem representados pelo sindicato, pela sua limitação institucional. Por outro lado, o sindicato não pode arrecadar contribuição destes trabalhadores também, lembrando que o montante arrecadado, pela parte formalizada dos trabalhadores, tem contribuído para a manutenção dos sindicatos e também para a permanência dos sindicatos de carimbo, assistencialista, etc.

O sindicato deveria buscar alternativas de discussão com sua base trabalhadora e na própria diretoria, para que a questão de gênero, possa fazer parte da pauta de discussões ordinárias. Juntamente com as questões de caráter permanente e emergencial, como as questões salariais e para além da relação de trabalho e de vínculo empregatício. Pois conforme vimos, a inserção da mulher nesse ambiente sindical é dificultada por dois motivos: a inserção em empregos precários, cuja representatividade o sindicato não abarca, e também pela reprodução das relações de gênero no meio sindical, em que cabe a mulher a função de provedora do lar, abarcando com isso a tripla jornada de trabalho.

Há a perspectiva de que essas questões possam ultrapassar o campo sindical, quando se obtiver amadurecimento de propostas que busquem igualdade do gênero nos diversos segmentos sociais.

A luta das mulheres deveria ser no sentido da emancipação da classe e avançando no questionamento da necessidade da própria inserção e subjugação ao mercado de trabalho. Nesse sentido, nos questionamos se seria por meio do sindicato que se avançaria nisso?

Seria pela inserção no mercado de trabalho, tornando-se subjugados no momento do ingresso do mercado de trabalho e portanto alienados de sua condição, o meio de

buscar melhorias da qualidade de vida ou pela inserção nos sindicatos e na luta por empregos, salários, uma luta que permanece sob a perspectiva do trabalho?

Ou seja, as reivindicações dos trabalhadores têm sido as de continuarem sendo mão-de-obra para o capital, pois somente assim o trabalhador se sente um ser social. Pois, o trabalhador, ontologicamente é um ser físico, somente se está inserido no processo de produção e através, disso, ele luta por meio dos sindicatos no qual estão filiados, em defesa de melhores condições de vida, porém dentro do esquema imposto pelo capital.

A partir do que foi exposto, podemos tecer algumas considerações a respeito do estigma que se criou em torno da mulher na sociedade capitalista, na medida em que as relações já existentes de subordinação da mulher ao homem foram apropriadas, com o capitalismo. E para que houvesse a legitimidade perante a sociedade, o sistema de metabolismo do capital tem se utilizado de seus aparelhos ideológicos para perpetuarem essas relações.

Portanto, com esses estigmas criados, a mulher interioriza sua incapacidade de ser inferior que deve receber ordens do pai, do marido e do capitalista. Dessa forma, são educadamente orientadas para servir e cuidar. As mulheres têm ocupado as funções no trabalho assalariado que exigem esses atributos que foram lapidados ao longo do seu processo de educação. O problema é que, as funções têm sido cada vez mais precarizadas, sem seguridade alguma.

Quando inseridas no sindicato, as mulheres têm sido muitas vezes alvo da subordinação do homem, quando no sentido de cumprirem a cota proposta pela CUT, as mulheres ocupam as funções secundárias de secretaria, por exemplo. Assim, mesmo sem a distribuição do poder do sindicato com a mulher, o sindicalista cumpre a cota, numa política de boa disposição à inserção da mulher nos espaços dos sindicatos, porém demonstrando que o estigma em torno da mulher, também se expressa nas configurações territoriais do sindicato. Com as mulheres ocupando cargos de secretárias nos sindicatos majoritariamente masculinos e a presidência apenas nos sindicatos formados pela maioria feminina, que são o SSM, APEOESP, SIEMACO, conforme apontado no Quadro 6.

Vemos que as poucas mulheres sindicalistas têm tentado, conquistar seu espaço, no espaço hegemônico do homem sindicalista, mas com muitas dificuldades. Dificuldade de inserção e permanência, por conta da tripla jornada de trabalho e dificuldade de fazer um sindicalismo voltado para a questão de gênero. Além da própria dificuldade de ver/fazer da tripla

jornada de trabalho, um trunfo na busca de interlocuções com as trabalhadoras da base e por meio de relações com outros mecanismos que possam auxiliar na própria politização das trabalhadoras, sobre a questão de gênero permeada com a questão de classe.

Mas da mesma forma que as mudanças nos padrões familiares com o fim da família nuclear e a crise do patriarcalismo, com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a inserção no sindicato pode desencadear o rompimento com as relações de poder do gênero masculino sobre o feminino. Na medida em que o poder de mãe-trabalhora-sindicalista, possa caminhar em um processo de construção de espaços de gênero no sindicato, no trabalho, etc.

E de emancipação do gênero, já que a emancipação da condição de classe, não pressupõe a emancipação enquanto gênero.

CAPÍTULO 3

A SUBORDINAÇÃO DE GÊNERO NA SOCIEDADE